O Manejo Integrado de Pragas (MIP) na soja é uma técnica com resultados comprovados, que ajuda a otimizar e reduzir significativamente os custos na lavoura. Embora possa ser aplicado em qualquer cultura, o sucesso depende da execução correta.
Para se ter uma ideia do impacto, você sabia que o MIP pode reduzir em até 50% a aplicação de defensivos?
Na safra 2013-2014, o Brasil utilizou aproximadamente 140 milhões de litros de inseticidas apenas na cultura da soja. Isso representou um custo de US$ 2,5 bilhões. Um estudo da Embrapa demonstrou que é perfeitamente possível diminuir o número de aplicações adotando as práticas do MIP.
(Fonte: Embrapa)
Já está claro que a prática de MIP ajuda a cortar despesas, o que contribui diretamente para aumentar a rentabilidade do produtor. Mas como aplicar isso de forma prática?
Neste artigo, vamos responder às principais perguntas sobre o Manejo Integrado de Pragas, mostrando como você pode implementá-lo na sua fazenda.
Quer entender melhor seus custos? Leia: Entenda os custos de produção agrícola e esteja no comando de sua fazenda
Como integrar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) na minha lavoura de soja?
Primeiro, vamos alinhar o conceito.
O MIP é um sistema que combina diversas práticas para controlar as pragas de forma mais inteligente e sustentável. Ele não se baseia apenas em uma única solução, mas em um conjunto de estratégias, como:
- Controle químico: Uso racional de inseticidas, herbicidas e fungicidas.
- Agentes biológicos: Utilização de predadores e inimigos naturais das pragas.
- Inseticidas naturais: Produtos derivados de plantas ou microrganismos.
- Rotação de culturas: Alternar as espécies plantadas para quebrar o ciclo das pragas.
- Nutrição adequada das plantas: Plantas bem nutridas são mais resistentes a ataques.
- Variedades resistentes: Escolha de cultivares geneticamente mais fortes contra certas pragas.
Muitas vezes, sem saber, você já adota parte do MIP na sua lavoura ao usar alguma dessas práticas. O segredo está em integrá-las de forma planejada.
De qualquer maneira, o pilar fundamental do MIP é o monitoramento constante da área ao longo de todo o ciclo da cultura. É com base nesse acompanhamento que você construirá o histórico da sua lavoura e tomará as melhores decisões.
Para saber mais, leia: Tudo o que você precisa saber sobre Manejo Integrado de Pragas [Infográfico] e Manejo integrado de pragas: 8 fundamentos que você ainda não aprendeu
Como fazer o monitoramento de forma eficiente?
Ao longo do ciclo da cultura, você notará que certas pragas da soja aparecem com mais frequência em fases específicas.
No caso da soja, é preciso atenção especial em quatro fases principais. A figura abaixo resume o que é mais provável de se encontrar em cada etapa, servindo como um calendário de monitoramento.
Se você também enfrenta problemas com a ferrugem-asiática, veja como combatê-la neste artigo: 9 curiosidades que você não sabe sobre ferrugem-asiática da soja e como combatê-la
Para a cultura do milho, o raciocínio é o mesmo. A figura a seguir ilustra as principais pragas agrícolas que podem ser observadas durante o ciclo, ajudando no planejamento do manejo integrado de pragas (MIP) na cultura do milho.
No início do desenvolvimento da cultura, pragas de solo, como a lagarta-do-cartucho, costumam ser mais recorrentes.
(Fonte: Pionner)
Para aprofundar, recomendo estes dois guias ilustrados sobre pragas nas culturas do milho e da soja.
Falando em milho, veja como atingir altas produtividades: Como produzir 211 Sacas de Milho por hectare com Gestão Agrícola
Como realizar o monitoramento na prática?
O ideal é que o monitoramento seja feito em todas as fases do ciclo da cultura. Um método muito utilizado, simples e eficaz, é a batida de pano.
Veja o passo a passo:
- Prepare o material: Você precisará de um pano branco com
1 metro
de largura por1 metro
de comprimento. - Posicione o pano: Estenda o pano no solo, entre duas fileiras da cultura.
- Agite as plantas: Incline as plantas de uma fileira sobre o pano e agite-as vigorosamente para derrubar os insetos.
- Conte os insetos: Faça a contagem e identificação dos insetos (pragas e inimigos naturais) que caíram sobre o pano.
Com esta ficha da Embrapa, você pode anotar os resultados e definir se já atingiu o nível de controle.
No entanto, preencher fichas de papel semanalmente, interpretá-las e guardá-las em um local seguro pode tornar o monitoramento confuso e demorado.
Com um software de gestão agrícola como o Aegro, você registra todas as informações de forma organizada, segura e visual, facilitando a análise e a tomada de decisão.
Até aqui, vimos como identificar e monitorar as pragas. Mas como saber a hora certa de agir?
Quando e como devo tomar a decisão de controlar?
A decisão de controle deve ser baseada no nível de dano econômico. Esse nível depende de qual inseto foi encontrado no monitoramento e em que quantidade (ou o dano que ele já causou).
Pragas agrícolas com maior potencial de dano exigem mais atenção, e por isso seus níveis de controle são mais baixos. A Escala Davis, por exemplo, nos ajuda a quantificar os danos causados pela lagarta-do-cartucho no milho:
(Fonte: Biogene)
Se você tem problemas com a lagarta-do-cartucho, é fundamental monitorar e planejar o controle para evitar perdas significativas.
Afinal, o que é Nível de Dano Econômico e Nível de Controle?
Para tomar a decisão correta, é essencial entender dois conceitos-chave:
- Nível de Dano Econômico (NDE): é o ponto em que o prejuízo causado pela praga se iguala ao custo da aplicação do defensivo. A partir daqui, você já está perdendo dinheiro.
- Nível de Controle (NC): é a densidade da praga em que a ação de controle deve ser iniciada para evitar que o NDE seja atingido.
Como o gráfico abaixo ilustra, o controle deve ser feito sempre que a população da praga atingir o Nível de Controle. Agir nesse momento impede que a infestação chegue ao Nível de Dano Econômico, onde os prejuízos à produtividade se tornam realidade.
O monitoramento regular e o uso de armadilhas com feromônios ajudam a avaliar a flutuação populacional da praga, permitindo que você aja no momento certo. Os feromônios são sinalizadores químicos que podem ser usados em três técnicas:
- Coleta massal: Uma grande quantidade de insetos é atraída para a armadilha, o que ajuda a reduzir a população da praga na área.
- Atrai-e-mata: A armadilha combina o feromônio com um inseticida. O inseto é atraído e eliminado ao entrar em contato com o produto.
- Confusão sexual: O ambiente é saturado com o feromônio da fêmea, o que impede que os machos a encontrem para acasalar, resultando na queda da população.
Agora que você já identificou, monitorou e decidiu que precisa controlar a praga, qual o próximo passo?
Reduza drasticamente suas aplicações utilizando o Manejo Integrado de Pragas
Qual método de controle de manejo integrado de pragas utilizar?
No MIP, todos os métodos de manejo são bem-vindos, desde a aplicação seletiva de inseticidas até o controle biológico. A escolha deve ser baseada no inseto presente na lavoura e na sua densidade populacional.
(Fonte: Entomol)
(Fonte: Canal Rural)
O controle biológico é um dos métodos mais promissores. Ele consiste no uso de fungos, bactérias e insetos benéficos (produzidos em laboratório) para combater pragas e doenças no campo. O uso de biodefensivos cresce em média 15% ao ano e deve representar 10% do setor até 2026.
Um exemplo prático é o Trichogramma sp., uma pequena vespa que parasita ovos de muitas lagartas consideradas pragas.
(Fonte: Frutíferas)
As cartelas com ovos da vespa são distribuídas na lavoura assim que se observa a presença de mariposas-praga na área. A melhor parte? O custo é de 30% a 45% mais barato que o controle químico convencional.
A Helicoverpa armigera, uma das pragas que mais causou preocupação nas últimas safras em soja, milho e algodão, também pode ser manejada de forma integrada.
(Fonte: AMTec Bio-agrícola)
O melhor método contra a Helicoverpa é o cultural: tornar o ambiente desfavorável para a praga e favorável aos inimigos naturais. Isso inclui rotacionar culturas e destruir plantas voluntárias (tiguera), evitando que a praga tenha alimento constante.
O manejo com culturas-armadilha é outra técnica física e fácil de aplicar. Veja o passo a passo:
(Fonte: AMTec Bio-agrícola)
- Plante a cultura principal e, nas bordaduras ou em faixas, semeie uma cultura-armadilha (uma planta que seja mais atrativa para a praga).
- Na cultura-armadilha, você pode aplicar açúcar ou feromônios para aumentar a atratividade.
- Os insetos adultos preferirão colocar seus ovos na cultura-armadilha, concentrando a infestação ali.
- Antes que as lagartas se tornem pupas, realize o controle focado nessa área, que pode ser feito com o bioinseticida Bacillus thuringiensis (Bt).
A bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) pode ser usada tanto como bioinseticida pulverizado quanto em plantas geneticamente modificadas que já expressam suas toxinas.
Lembre-se também de aliar aos métodos de controle o uso de plantas que atraem inimigos naturais. Isso ajuda a manter o equilíbrio do ecossistema e a atrair predadores naturais das pragas.
(Fonte: Insecta News)
Conclusão
O Manejo Integrado de Pragas na soja é uma abordagem estratégica essencial para quem busca garantir a produtividade e a rentabilidade da lavoura.
Em vez de depender de uma única solução, o MIP combina diversos métodos, como o uso racional de inseticidas, o controle biológico e as práticas culturais. A chave para o sucesso é o monitoramento constante para tomar decisões baseadas em dados.
Lembre-se sempre de rotacionar os mecanismos de ação dos inseticidas para evitar a pressão de seleção e o surgimento de pragas resistentes.
Agora que você conhece as respostas para as principais dúvidas sobre o MIP, é hora de colocar em prática. Utilize menos defensivos agrícolas, proteja o meio ambiente e mantenha sua alta produtividade
Glossário
Bacillus thuringiensis (Bt): Bactéria utilizada como bioinseticida natural, principalmente contra lagartas. Pode ser pulverizada na lavoura ou ter suas toxinas expressas em plantas geneticamente modificadas (como soja e milho Bt).
Batida de pano: Método de monitoramento para estimar a população de insetos. Consiste em sacudir as plantas sobre um pano branco estendido no chão para derrubar e contar as pragas e seus inimigos naturais.
Controle Biológico: Estratégia do MIP que utiliza organismos vivos, como insetos predadores, vespas parasitoides, fungos e bactérias, para diminuir a população de uma praga na lavoura. É uma alternativa ao controle exclusivamente químico.
Cultura-armadilha: Técnica de manejo que consiste em plantar uma espécie vegetal mais atrativa para a praga nas bordaduras da lavoura principal. A praga se concentra nessa área, permitindo um controle localizado e mais eficiente.
Feromônios: Substâncias químicas usadas pelos insetos para comunicação, especialmente para o acasalamento. Na agricultura, são utilizados em armadilhas para monitorar a população da praga ou para causar “confusão sexual”, impedindo a reprodução.
Manejo Integrado de Pragas (MIP): Sistema que combina diversas táticas de controle (químico, biológico, cultural) de forma racional e sustentável. As decisões são baseadas no monitoramento constante da lavoura para manter as pragas em níveis que não causem prejuízos econômicos.
Nível de Controle (NC): Densidade populacional da praga em que as medidas de controle devem ser aplicadas para evitar que se atinja o Nível de Dano Econômico. É o “gatilho” para a ação.
Nível de Dano Econômico (NDE): Ponto em que o prejuízo financeiro causado pela praga se iguala ao custo de controlá-la. A partir desse nível, o produtor já está perdendo dinheiro.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O Manejo Integrado de Pragas é poderoso, mas seu sucesso depende de um monitoramento constante e organizado, algo que pode ser um desafio com anotações em papel. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, digitalizam esse processo. Ao registrar as batidas de pano e infestações diretamente no aplicativo, você cria um histórico confiável e visual da sua lavoura, facilitando a decisão de quando e como agir. Além disso, ao vincular as aplicações de defensivos aos custos, é possível comprovar em relatórios simples o quanto o MIP está realmente reduzindo suas despesas e aumentando a lucratividade.
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Perguntas Frequentes
Qual é o primeiro e mais importante passo para implementar o Manejo Integrado de Pragas (MIP)?
O passo fundamental é iniciar o monitoramento constante e sistemático da lavoura. Utilizando técnicas como a batida de pano, você coleta dados sobre a população de pragas e inimigos naturais, o que serve de base para todas as outras decisões de manejo, evitando aplicações desnecessárias de defensivos.
O MIP significa abandonar completamente o uso de defensivos químicos na soja?
Não, o MIP não elimina o controle químico, mas o racionaliza. Os defensivos são utilizados de forma seletiva e somente quando a população da praga atinge o Nível de Controle (NC). A ideia é integrar o controle químico com outras táticas, como o controle biológico e cultural, para um manejo mais sustentável e eficiente.
Qual a diferença prática entre Nível de Controle (NC) e Nível de Dano Econômico (NDE)?
De forma simples, o Nível de Controle (NC) é o seu ‘sinal de alerta’ para agir, indicando que uma medida de controle precisa ser tomada para evitar perdas. Já o Nível de Dano Econômico (NDE) é o ‘ponto de prejuízo’, onde o custo do dano causado pela praga já se iguala ao custo do controle. O objetivo do MIP é sempre agir no NC para nunca atingir o NDE.
Com que frequência devo realizar o monitoramento de pragas na minha lavoura de soja?
O ideal é que o monitoramento seja feito semanalmente, desde a emergência da cultura até a pré-colheita. A frequência pode ser ajustada dependendo do estágio de desenvolvimento da soja, das condições climáticas e da presença histórica de pragas na área. A consistência é chave para identificar o aumento populacional das pragas a tempo de agir.
O controle biológico é eficaz para todas as pragas da soja?
O controle biológico é muito eficaz para diversas pragas importantes, como lagartas e percevejos, utilizando inimigos naturais como vespas e fungos. No entanto, sua eficácia depende da praga-alvo e das condições da lavoura. Por isso, o MIP o combina com outras estratégias, como o uso de variedades resistentes e o controle químico seletivo, para garantir a proteção completa da cultura.
É possível usar o MIP em pequenas propriedades ou é apenas para grandes fazendas?
Sim, o MIP é perfeitamente aplicável e vantajoso para propriedades de todos os tamanhos. Técnicas como a batida de pano, rotação de culturas e o uso de inimigos naturais não exigem grandes investimentos. O pilar do MIP é o conhecimento e o monitoramento, que são acessíveis a qualquer produtor comprometido em otimizar seus custos e aumentar a sustentabilidade.
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