Manejo de Caruru: Herbicidas e Estratégias para Soja e Milho

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de plantas daninhas. Atualmente professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
Manejo de Caruru: Herbicidas e Estratégias para Soja e Milho

As diversas espécies de caruru, também conhecidas como Amaranthus, representam um grande desafio no campo. Elas competem por recursos e podem causar perdas significativas na quantidade e na qualidade da sua produção.

Uma das principais recomendações para um controle eficaz é o manejo integrado de plantas daninhas. Dentro dessa estratégia, é fundamental rotacionar os mecanismos de ação dos herbicidas para evitar o surgimento de plantas resistentes. No entanto, colocar isso em prática pode ser uma tarefa complexa.

Para ajudar você a tomar a melhor decisão, este artigo apresenta um guia prático sobre as opções de herbicidas disponíveis para o controle de uma das espécies mais comuns: o caruru-roxo (Amaranthus hybridus).

Herbicidas Registrados para o Controle de Amaranthus hybridus

Atualmente, existe uma grande variedade de produtos registrados no mercado para controlar o A. hybridus. A tabela abaixo organiza esses herbicidas de acordo com seus respectivos mecanismos de ação, oferecendo uma visão geral das ferramentas disponíveis.

Herbicidas registrados para o manejo de Amaranthus hybridus

Como a tabela mostra, temos nove diferentes mecanismos de ação para o manejo do Amaranthus hybridus, o que oferece flexibilidade para a rotação de produtos.

A escolha do herbicida ideal dependerá, principalmente, da cultura que você irá semear. A seguir, vamos detalhar o posicionamento correto dos herbicidas para as culturas da soja e do milho.

manejo de Amaranthus hybridus Caruru (Amaranthus hybridus var. patulus) e caruru-roxo (Amaranthus hybridus var. paniculatus) (Fonte: Arquivo da autora)

Manejo de Amaranthus hybridus na Cultura da Soja

Para a lavoura de soja, os principais herbicidas registrados para o controle do caruru são:

  • 2,4-D
  • Clomazone
  • Clorimurom
  • Dicamba
  • Fomesafen
  • Glifosato
  • Lactofen
  • Trifluralina
  • Sulfentrazone
  • S-metolachlor
  • Metribuzin
  • Imazamox
  • Glufosinato
  • Imazetapir

Alguns desses herbicidas não são seletivos para a cultura da soja. Por essa razão, eles são excelentes ferramentas para a dessecação pré-plantio e para o controle de plantas daninhas durante a entressafra. Os mais comuns nessa etapa são o glifosato, o 2,4-D e o glufosinato.

Realizar uma boa dessecação e plantar no “limpo” é um passo fundamental. Essa prática garante que a soja comece seu desenvolvimento com vantagem competitiva, enquanto as plantas daninhas são suprimidas desde o início.

Agora, vamos detalhar como posicionar os herbicidas aplicados em pré-emergência.

caruru-roxo Caruru-roxo (Amaranthus hybridus var. paniculatus) (Fonte: Arquivo da autora)

Herbicidas Pré-Emergentes para Manejo de Amaranthus hybridus em Soja

Sulfentrazone

  • Quando aplicar: Na soja, o sulfentrazone é aplicado logo após o plantio, mas antes da emergência da cultura e das plantas daninhas.
  • Dose: Para solos de textura média e leve, a recomendação para o controle de A. hybridus é de 0,8 L/ha.

S-metolachlor

  • Quando aplicar: Em pré-emergência das plantas daninhas. A aplicação pode ser feita até o estádio de “palito de fósforo” da soja (com os cotilédones ainda fechados).
  • Dose: 1,5 a 2,0 L/ha.

Trifluralina

  • Quando aplicar: Pode ser utilizado em pré-emergência (após o plantio) ou em pré-plantio incorporado (antes do plantio).
  • Dose (produto Premerlin 600 CE):
    • Pré-emergência: Utilize 3,0 a 4,0 L/ha em solos de textura média e pesada. A dose maior é indicada para solos com teor de matéria orgânica acima de 5%.
    • Pré-plantio com incorporação normal (10 a 12 cm): 0,9 a 1,2 L/ha em solo leve; 1,2 a 1,5 L/ha em solo médio; e 1,5 a 1,8 L/ha em solo pesado.
    • Pré-plantio com incorporação superficial (2,0 cm): 1,5 a 2,0 L/ha em solo médio e pesado.

Clomazone

  • Quando aplicar: É uma ótima opção para o sistema “plante-aplique”, onde a semeadura e a pulverização ocorrem na mesma operação.
  • Dose: 1,6 L/ha para o manejo de A. hybridus (produto Gamit).

Atenção: Não é recomendado aplicar clomazone a menos de 800 metros de distância de lavouras sensíveis, como milho, girassol, hortas, pomares, videiras e jardins.

manejo de Amaranthus hybridus Caruru-roxo (Amaranthus hybridus var. paniculatus)

Manejo de Amaranthus hybridus na Cultura do Milho

Para a cultura do milho, os herbicidas registrados para o controle do caruru incluem:

  • 2,4-D
  • Atrazina
  • Mesotrione
  • Nicosulfuron
  • Glifosato
  • Glufosinato
  • S-metolachlor
  • Trifluralina

Controle de Amaranthus hybridus em Milho com Herbicidas Pré-Emergentes

Atrazina

  • Quando aplicar: Em pré-emergência ou em pós-emergência precoce das plantas daninhas.
  • Dose (produto Atrazina Nortox 500 SC): Após a semeadura, usar 3,0 L/ha em solo leve, 5,0 L/ha em solo médio e 6,5 L/ha em solo pesado.
  • Observação: Existem vários produtos comerciais à base de atrazina. Sempre consulte a bula para verificar a dose recomendada para sua realidade. A atrazina pode ser usada no sistema “3 em 1”, onde a adubação, o plantio e a aplicação do herbicida são feitos na mesma operação.

S-metolachlor

  • Quando aplicar: Deve ser aplicado em pré-emergência tanto da cultura do milho quanto das plantas daninhas.
  • Dose: 1,5 a 1,75 L/ha.
  • Observação: A aplicação pode ser realizada até a fase de “charuto” do milho, mas sempre antes da emergência das plantas daninhas.

Trifluralina

  • Quando aplicar: Em pré-emergência, após o plantio.
  • Dose (produto Premerlin 600 CE): Para os estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná, use 3 L/ha em solo leve, 3,5 a 4,0 L/ha em solo médio e 4 L/ha em solo pesado. O milho deve ser semeado a uma profundidade mínima de 5 cm.

lavoura de milho com pulverizador (Fonte: Christoffoleti et al., 2015)

Controle de Amaranthus hybridus em Milho com Herbicidas Pós-Emergentes

Nicosulfuron

Este herbicida já foi muito utilizado no manejo de plantas daninhas no milho. No entanto, seu uso exige atenção a alguns detalhes para não prejudicar a lavoura.

  • Quando aplicar: Na pós-emergência do milho, quando a cultura estiver com 2 a 6 folhas (entre 10 cm e 25 cm de altura).
  • Dose: 1,25 a 1,5 L/ha. A dose menor é indicada para plantas daninhas com 2 a 4 folhas, e a maior para plantas com 4 a 6 folhas.

Pontos de Atenção com Nicosulfuron:

Mesotrione

É uma excelente alternativa para o controle de plantas daninhas de folhas largas no milho.

  • Quando aplicar: Aplique de 2 a 3 semanas após a semeadura do milho, sobre as plantas daninhas em pós-emergência precoce (com 2 a 4 folhas).
  • Dose: 0,3 a 0,4 L/ha para o controle de A. hybridus com 2 a 4 folhas.

Importante: Herbicidas aplicados em pós-emergência geralmente exigem a adição de um adjuvante para melhorar sua eficácia. Sempre leia a bula com atenção para verificar qual adjuvante e qual dose são necessários.

Resistência do Caruru a Herbicidas no Brasil e no Mundo

Atualmente, já existem casos de resistência confirmados no Brasil para quatro espécies do gênero Amaranthus: Amaranthus hybridus, Amaranthus palmeri, Amaranthus retroflexus e Amaranthus viridis a diferentes herbicidas.

Para o A. hybridus, o primeiro caso de resistência no Brasil foi relatado em 2018, envolvendo os herbicidas chlorimuron e glifosato. Este é um caso de resistência múltipla, que significa que a mesma planta daninha é resistente a dois ou mais herbicidas com mecanismos de ação diferentes.

Globalmente, já são 32 relatos de biótipos de A. hybridus resistentes a herbicidas. Os países com casos relatados incluem:

  • Argentina
  • Bolívia
  • Brasil
  • EUA
  • Canadá
  • França
  • Israel
  • Itália
  • Espanha
  • África do Sul
  • Suíça

Na Argentina, por exemplo, existem 5 casos de resistência de A. hybridus documentados:

  • 1996: Resistência a chlorimuron e imazethapyr.
  • 2013: Resistência a glifosato.
  • 2014: Resistência múltipla a glifosato e imazethapyr.
  • 2016: Resistência múltipla a 2,4-D, dicamba e glifosato.
  • 2016: Resistência múltipla a 2,4-D e dicamba.

Conclusão

Existem muitas opções de herbicidas para realizar um manejo eficiente do Amaranthus hybridus, tanto em pré-emergência quanto em pós-emergência.

Neste artigo, você viu o posicionamento correto de alguns dos principais produtos para as culturas da soja e do milho. É fundamental conhecer essas ferramentas para planejar a rotação de mecanismos de ação e evitar o avanço da resistência.

Lembre-se que o uso de herbicidas é uma ferramenta complementar dentro de um sistema de manejo integrado. Combine a aplicação química com outras práticas, como a rotação de culturas e o controle mecânico, para garantir a sustentabilidade e a produtividade da sua lavoura a longo prazo.


Glossário

  • Adjuvante: Substância adicionada à calda de pulverização para melhorar a eficácia do herbicida. Ele pode ajudar o produto a aderir melhor às folhas da planta daninha ou a ser absorvido mais rapidamente.

  • Dessecação pré-plantio: Aplicação de herbicidas antes da semeadura para eliminar toda a vegetação existente na área. Essa prática, conhecida como “plantar no limpo”, garante que a cultura comece a se desenvolver sem a competição inicial das plantas daninhas.

  • Herbicida: Produto químico utilizado para controlar ou eliminar plantas daninhas. Eles podem ser seletivos (matam apenas certas plantas) ou não seletivos (matam a maioria das plantas com que entram em contato).

  • L/ha (Litros por Hectare): Unidade de medida que indica a dose de um produto líquido a ser aplicada por hectare. Um hectare corresponde a 10.000 metros quadrados, área similar a um campo de futebol oficial.

  • Manejo Integrado de Plantas Daninhas: Estratégia que combina diferentes métodos de controle (químico, cultural, mecânico) de forma sustentável. O objetivo é evitar a dependência de uma única ferramenta, como o uso repetido do mesmo herbicida.

  • Mecanismo de Ação: Refere-se à forma bioquímica específica como um herbicida atua para matar a planta. Rotacionar produtos com diferentes mecanismos de ação é fundamental para prevenir o surgimento de plantas resistentes.

  • Pós-emergência: Momento de aplicação do herbicida quando tanto a cultura quanto as plantas daninhas já germinaram e estão visíveis acima do solo. O alvo do produto são as plantas em estágio inicial de desenvolvimento.

  • Pré-emergência: Momento de aplicação do herbicida sobre o solo, após o plantio, mas antes que as plantas daninhas (e, em alguns casos, a cultura) germinem. O produto cria uma barreira química no solo que impede o desenvolvimento das sementes das invasoras.

  • Resistência Múltipla: Fenômeno que ocorre quando uma população de plantas daninhas se torna resistente a dois ou mais herbicidas com mecanismos de ação diferentes. Isso torna o controle químico extremamente desafiador.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

O controle eficaz do caruru, como vimos, exige um planejamento cuidadoso: escolher o herbicida certo, aplicá-lo no momento ideal e, o mais importante, rotacionar os mecanismos de ação para evitar a resistência. Manter o controle de todas essas informações no papel ou em planilhas separadas é um grande desafio. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o planejamento e o registro de todas as atividades do campo. Nele, você pode programar as aplicações de herbicidas para cada talhão, registrar os produtos e doses utilizadas, e criar um histórico completo que facilita a rotação de ativos na safra seguinte.

Além de garantir um manejo agronômico mais eficiente, essa organização se reflete diretamente nos custos de produção. Ao registrar cada aplicação, você acompanha os gastos com defensivos em tempo real e pode tomar decisões mais inteligentes para otimizar o uso de insumos e proteger a rentabilidade da sua lavoura.

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Perguntas Frequentes

Por que é tão crucial rotacionar os mecanismos de ação dos herbicidas no controle do caruru?

Rotacionar os mecanismos de ação é fundamental para prevenir o surgimento de plantas de caruru resistentes. O uso contínuo do mesmo tipo de herbicida seleciona indivíduos que sobrevivem à aplicação, os quais se multiplicam e criam uma população resistente. Alternar os produtos com diferentes modos de ação dificulta esse processo, garantindo a eficácia do controle a longo prazo.

Qual a principal diferença entre aplicar um herbicida em pré-emergência e em pós-emergência?

A aplicação em pré-emergência é feita no solo, após o plantio, mas antes que o caruru germine, criando uma barreira química que impede seu desenvolvimento. Já a aplicação em pós-emergência ocorre quando a planta daninha já nasceu e está visível, atuando diretamente sobre ela. A primeira é uma estratégia preventiva, enquanto a segunda é curativa.

O que significa ‘plantar no limpo’ e qual sua importância no manejo do Amaranthus hybridus?

Plantar no limpo significa realizar a dessecação da área para eliminar todas as plantas daninhas, como o caruru, antes de semear a soja ou o milho. Essa prática é crucial porque garante que a cultura principal comece seu desenvolvimento sem a competição inicial por luz, água e nutrientes, o que lhe confere uma vantagem competitiva essencial para um bom estabelecimento e maior produtividade.

A dose do herbicida para controlar o caruru pode mudar de acordo com o tipo de solo?

Sim, a dose de vários herbicidas, especialmente os pré-emergentes como Atrazina e Trifluralina, deve ser ajustada conforme o tipo de solo. Solos de textura pesada ou com maior teor de matéria orgânica geralmente exigem doses maiores para garantir a mesma eficácia. É essencial consultar a bula do produto para a recomendação específica para sua área.

O que é a resistência múltipla do caruru e por que ela é tão preocupante?

Resistência múltipla ocorre quando uma população de caruru se torna resistente a dois ou mais herbicidas com mecanismos de ação diferentes, como glifosato e chlorimuron. Isso é extremamente preocupante porque limita drasticamente as opções de controle químico disponíveis para o produtor, tornando o manejo mais complexo, caro e dependente de outras práticas integradas.

Além de Nicosulfuron, que outro cuidado geral devo ter ao aplicar herbicidas em pós-emergência?

Um cuidado essencial é verificar na bula a necessidade de adicionar um adjuvante à calda de pulverização. Muitos herbicidas pós-emergentes, como o Mesotrione, requerem o uso de adjuvantes para melhorar a aderência e a absorção do produto pelas folhas do caruru, o que é um passo crítico para garantir a máxima eficácia da aplicação.

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