Mancha Parda: Identificação e Controle na Soja, Arroz e Outras Culturas

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.
Mancha Parda: Identificação e Controle na Soja, Arroz e Outras Culturas

Claro, assumindo meu papel como especialista em conteúdo agrícola, farei a transformação do texto. O objetivo é aumentar a clareza e a legibilidade para um público experiente no agronegócio, preservando integralmente todas as informações técnicas, dados e recomendações.

A mancha parda é uma doença foliar traiçoeira, causada por diferentes tipos de fungos que variam conforme a cultura. É fundamental entender que não se trata de um único problema, mas de vários com nomes parecidos.

Na lavoura de soja, o responsável é o fungo Septoria glycines. Já na plantação de arroz, o principal causador é o Bipolaris oryzae.

Esses fungos são altamente adaptáveis, se espalham com facilidade em nosso clima tropical e conseguem sobreviver de uma safra para outra em restos culturais, sementes já infectadas e solos com manejo inadequado.

Para entender melhor: [Restos culturais] significa a palhada e outros detritos vegetais que ficam no campo após a colheita. Eles podem abrigar fungos e outras doenças.

Presente em praticamente todas as regiões agrícolas do Brasil, a mancha parda causa estragos sérios se não for controlada a tempo. Ela ataca principalmente no final do ciclo, resultando em:

  • Redução na qualidade e no rendimento dos grãos;
  • Queda precoce das folhas (desfolha);
  • Amadurecimento forçado da planta;
  • Diminuição no peso final dos grãos.

Em situações mais graves, as perdas de produtividade podem chegar a 30% da lavoura. Por isso, embora o nome “mancha parda” seja comum, é crucial lembrar que o fungo, os sintomas e as estratégias de controle mudam dependendo da planta.

Como identificar a mancha parda na soja?

Na soja, a mancha parda, também chamada de septoriose, costuma ser uma das primeiras doenças a dar as caras na lavoura, estando presente em quase todas as áreas produtoras do país.

O fungo Septoria glycines sobrevive nos restos da cultura anterior e é disseminado principalmente pelo vento e pelos respingos da chuva.

Os primeiros sinais aparecem cerca de duas semanas após a infecção, começando pelas folhas mais baixas da planta (trifólios inferiores). A evolução dos sintomas acontece da seguinte forma:

  1. Início: Aparecem pontuações pardas muito pequenas, com menos de 1 mm.
  2. Evolução: Elas se transformam em manchas com halos amarelados ao redor. O centro da mancha fica pardo na parte de cima da folha e com um tom rosado na parte de baixo.
  3. Tamanho Final: As manchas crescem até atingir entre 1 e 3 mm de diâmetro, com contornos bem definidos e de formato angular.

A doença se agrava a partir do estádio R5 (início do enchimento de grãos), que é quando a planta está mais vulnerável.

Em anos de alta umidade e temperaturas acima de 25 °C, a infecção avança rapidamente, causando uma intensa queda de folhas na base da planta. Isso prejudica a fotossíntese e, consequentemente, a formação dos grãos.

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Como identificar a mancha parda em outras culturas?

Embora seja muito associada à soja, a mancha parda também atinge outras culturas importantes, cada uma com seus próprios sintomas e impactos. Reconhecer esses sinais é o primeiro passo para um controle eficaz.

1. Mancha parda no arroz

Causada pelo fungo Bipolaris oryzae, a mancha parda no arroz é mais comum em lavouras irrigadas, especialmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso. As lesões podem aparecer nas folhas, colmos (caules), bainhas, glumelas (cascas) e nos próprios grãos.

  • Sintomas nas folhas: Começam como manchas pequenas, ovais ou arredondadas, de cor marrom-avermelhada e com o centro cinza ou esbranquiçado.
  • Sintomas nos grãos: As manchas são escuras e com aparência aveludada, o que compromete o rendimento no beneficiamento (engenho) e o valor de mercado.

A infecção é favorecida por temperaturas entre 25 °C e 30 °C e umidade relativa do ar acima de 89%. Períodos de orvalho intenso e irrigação mal planejada aceleram o avanço da doença, sendo que os grãos ficam mais vulneráveis durante a floração e a fase de enchimento leitoso.

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2. Mancha parda no café

No café, a doença com sintomas parecidos é a mancha olho-pardo. Embora causada por outros fungos, ela também provoca lesões foliares.

As manchas são circulares, com um centro claro e uma borda escura, lembrando o formato de um “olho” – daí o nome. Assim como nas outras culturas, o resultado é a queda precoce das folhas, o que reduz a fotossíntese e prejudica o enchimento dos frutos, afetando diretamente o volume e a qualidade da sua colheita.

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3. Mancha parda na cana-de-açúcar

A mancha parda na cana-de-açúcar é menos comum, mas aparece principalmente nas folhas mais velhas.

As manchas têm formato elíptico (alongado com pontas arredondadas) e cor pardo-avermelhada. Com o tempo, elas podem se unir e formar grandes áreas de tecido morto (necrosadas).

Essa doença na cana está fortemente ligada a desequilíbrios nutricionais, especialmente o excesso de nitrogênio e a falta de potássio. Isso reforça como um bom manejo nutricional é uma ferramenta de prevenção.

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Como controlar a mancha parda?

O controle eficiente da mancha parda depende de um plano integrado, baseado em três pilares: manejo cultural, nutricional e químico. Usar apenas uma estratégia raramente funciona, principalmente em anos com clima favorável à doença.

1. Manejo cultural

A rotação de culturas é uma das práticas mais eficazes para quebrar o ciclo dos fungos, reduzindo sua sobrevivência no solo e na palhada.

  • Em áreas de soja, rotacionar com milho é uma ótima opção.
  • No arroz, alternar cultivos e usar sementes certificadas e sadias são medidas que diminuem a chance de infecção.

Além disso, o manejo correto da palhada, a eliminação de plantas daninhas e a escolha de cultivares menos suscetíveis à doença ajudam a reduzir o inóculo inicial.

Para entender melhor: [Inóculo inicial] significa a quantidade de fungo presente na área antes do plantio, pronta para iniciar a infecção.

2. Manejo nutricional

O equilíbrio dos nutrientes é chave. O excesso de nitrogênio, por exemplo, pode aumentar a severidade da mancha parda no arroz.

Por outro lado, o potássio desempenha um papel fundamental na resistência da planta, pois fortalece as paredes celulares e ajuda a combater o estresse.

Portanto, é essencial basear a adubação em análises de solo e seguir recomendações técnicas. Na soja, uma boa adubação potássica, combinada com o manejo da matéria orgânica, aumenta a tolerância da planta à doença.

3. Manejo químico

O uso de fungicidas para mancha parda é recomendado em áreas com histórico da doença, especialmente em anos úmidos ou com muita palhada contaminada.

Os melhores resultados vêm de aplicações preventivas, que começam no florescimento e continuam até a fase de enchimento dos grãos.

  • Para o arroz: Estudos mostram que fungicidas com triazóis e estrobilurinas (como azoxistrobina, tebuconazol, epoxiconazol e trifloxistrobina) alcançam eficiência superior a 80% no controle do B. oryzae, com aumento comprovado na produtividade.
  • Para a soja: Produtos à base de protioconazol + picoxistrobina, clorotalonil, flutriafol e ciproconazol são eficazes, principalmente quando usados preventivamente.

Atenção: A rotação de ingredientes ativos é obrigatória. Usar sempre o mesmo grupo químico seleciona fungos resistentes, o que diminui a eficácia dos produtos e compromete o manejo a longo prazo.

Como proteger a lavoura da mancha parda de forma definitiva?

A melhor defesa contra a mancha parda é um ataque bem planejado. A base do sucesso está em uma abordagem integrada que combina vigilância e ação técnica no momento certo.

  • Monitoramento constante: Acompanhe a lavoura de perto para identificar os primeiros sintomas.
  • Diagnóstico precoce: Assim que suspeitar da doença, confirme o diagnóstico para agir rápido.
  • Intervenção correta: Use as ferramentas certas, nas doses certas e no tempo certo.

O uso de uma boa tecnologia de aplicação, respeitando as condições de clima para a pulverização, é decisivo. Em áreas com histórico severo, combine o uso de cultivares mais resistentes com tratamentos de sementes e fungicidas aplicados no início do ciclo.

No caso do arroz, o bom manejo da irrigação e o ajuste da época de semeadura são cruciais para evitar que a planta esteja em sua fase mais sensível durante o período de maior risco de infecção.

Quais culturas a mancha parda ataca?

A mancha parda afeta diversas culturas de grande importância econômica. As principais são:

  • Soja: Causa queda de folhas (desfolha) e reduz o peso dos grãos. O fungo responsável é o Septoria glycines.
  • Arroz: Compromete a qualidade e o rendimento industrial dos grãos. O fungo é o Bipolaris oryzae.
  • Café: A chamada “mancha olho-pardo” diminui a fotossíntese e prejudica o enchimento dos frutos.
  • Cana-de-açúcar: Os sintomas nas folhas se agravam em solos com desequilíbrio de nutrientes.
  • Tomate: É afetado pelo Septoria lycopersici, com sintomas parecidos aos da soja, ocorrendo principalmente em estufas.

Lembre-se: mesmo que o nome seja igual, o fungo e o manejo variam. Fique atento às particularidades de cada cultura.

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Glossário

  • Desfolha: Queda prematura das folhas da planta, causada por doenças, pragas ou estresse nutricional. A desfolha reduz a capacidade de fotossíntese, impactando diretamente o enchimento dos grãos e a produtividade.

  • Estádio R5: Etapa fenológica da soja conhecida como “início do enchimento de grãos”. É um período crítico em que a planta está vulnerável a doenças foliares, pois sua energia é direcionada para a formação das vagens.

  • Glumelas: Estruturas que formam a casca protetora do grão de arroz. Lesões ou manchas nas glumelas, como as causadas pela mancha parda, comprometem a qualidade e o rendimento no beneficiamento.

  • Inóculo inicial: Refere-se à quantidade de patógenos (como esporos de fungos) presentes na lavoura no início do ciclo da cultura. Quanto maior o inóculo inicial, maior a pressão da doença e o risco de perdas.

  • Restos culturais: Material vegetal, como palha e caules, que permanece no campo após a colheita de uma safra. Esses restos podem abrigar fungos e outras doenças, servindo como fonte de contaminação para o plantio seguinte.

  • Rotação de ingredientes ativos: Prática de alternar o uso de fungicidas com diferentes mecanismos de ação. Essa estratégia é fundamental para prevenir o surgimento de populações de fungos resistentes aos produtos químicos.

  • Trifólios inferiores: Conjunto das folhas mais baixas e antigas da planta de soja. São geralmente o primeiro local onde os sintomas da mancha parda (septoriose) se manifestam.

  • Triazóis e Estrobilurinas: Grupos químicos de fungicidas sistêmicos amplamente utilizados no controle de doenças em diversas culturas. São frequentemente combinados em formulações para ampliar o espectro de controle e manejar a resistência.

Como a tecnologia pode simplificar o manejo da mancha parda

Controlar a mancha parda exige um plano integrado que vai desde a rotação de culturas e o manejo nutricional até o registro preciso das aplicações de fungicidas. Gerenciar todas essas informações no papel ou em planilhas separadas é um desafio que pode levar a erros, como a repetição de ingredientes ativos, e dificultar a análise do que funcionou em safras passadas.

Para superar essa complexidade, um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o planejamento e o acompanhamento das atividades em tempo real. Nele, é possível programar a rotação de culturas, registrar cada aplicação de defensivos e insumos, e manter um histórico detalhado por talhão. Isso não apenas garante o controle correto da doença, mas também transforma dados operacionais em decisões mais inteligentes e lucrativas para o futuro da fazenda.

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Perguntas Frequentes

A mancha parda que ataca a soja é a mesma doença que afeta a lavoura de arroz?

Não. Embora o nome popular seja o mesmo, são doenças causadas por fungos diferentes. Na soja, o agente causador é o Septoria glycines, enquanto no arroz é o Bipolaris oryzae. Essa distinção é crucial, pois os sintomas e as estratégias de controle químico e cultural variam para cada cultura.

Qual o momento ideal para iniciar a aplicação de fungicidas para controlar a mancha parda na soja?

As aplicações mais eficazes são as preventivas, iniciadas no florescimento e continuadas durante a fase de enchimento de grãos (estádio R5). Em áreas com histórico severo da doença ou em anos muito chuvosos, o monitoramento deve ser intensificado para decidir a entrada no momento certo e proteger o potencial produtivo da lavoura.

Como a adubação da lavoura pode influenciar na severidade da mancha parda?

A nutrição das plantas tem um impacto direto. Desequilíbrios, como o excesso de nitrogênio, podem deixar as plantas mais suscetíveis, especialmente na cana-de-açúcar e no arroz. Por outro lado, uma adubação equilibrada com potássio (K) fortalece as paredes celulares da planta, aumentando sua resistência natural contra a infecção por fungos.

Por que a rotação de culturas é uma prática tão recomendada para o manejo da mancha parda?

A rotação de culturas é fundamental porque quebra o ciclo de vida do fungo. O patógeno sobrevive nos restos culturais (palhada) de uma safra para a outra. Ao introduzir uma cultura não hospedeira, como o milho após a soja, a fonte de alimento e abrigo do fungo é eliminada, reduzindo drasticamente o inóculo inicial para o próximo plantio.

É possível controlar a mancha parda apenas com manejo cultural, sem usar fungicidas?

Apenas o manejo cultural raramente é suficiente, especialmente em anos com clima favorável à doença (alta umidade e temperaturas amenas). A abordagem mais eficaz é o Manejo Integrado de Doenças (MID), que combina práticas culturais (rotação, sementes sadias) e nutricionais com o uso criterioso e preventivo de fungicidas químicos para garantir a proteção da lavoura.

Qual o principal risco de não alternar os ingredientes ativos dos fungicidas no controle da mancha parda?

O principal risco é o desenvolvimento de resistência do fungo ao fungicida. O uso repetido do mesmo mecanismo de ação seleciona populações de patógenos resistentes, o que torna o produto ineficaz ao longo do tempo. A rotação de ingredientes ativos é uma prática obrigatória para preservar a eficiência das ferramentas químicas e garantir um controle sustentável a longo prazo.

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