A lavoura de soja enfrenta diversas doenças causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus. Entre as doenças fúngicas, a mancha olho-de-rã se destaca por atacar a cultura principalmente no final do seu ciclo.
Essa doença foi identificada pela primeira vez no Brasil na década de 1970. Felizmente, graças ao desenvolvimento de cultivares resistentes, ela está, em grande parte, sob controle.
Ainda assim, é fundamental que você conheça as características da mancha olho-de-rã e saiba como diagnosticá-la corretamente na sua lavoura. Entender as formas de manejo é crucial para agir a tempo e evitar perdas econômicas significativas.
Neste artigo, você vai aprender em detalhes sobre os sintomas da mancha olho-de-rã, como ela se espalha pela cultura da soja, as condições ideais para seu desenvolvimento e as melhores estratégias de controle. Boa leitura!
O que é a Mancha Olho-de-Rã e Como Identificar os Sintomas
A mancha olho-de-rã é uma doença foliar causada pelo fungo Cercospora sojina. Este fungo tem uma alta variabilidade genética, o que significa que ele pode se adaptar e criar novas “versões”. Prova disso é que no Brasil já foram identificadas 25 raças diferentes dele. A doença pode se manifestar em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura.
Contudo, a ocorrência mais comum é no período reprodutivo da soja, começando a partir do florescimento. Os sintomas podem ser vistos em toda a parte aérea da planta: folhas, hastes, vagens e até nas sementes.
Sintomas nas Folhas
Nas folhas, os sintomas começam como pequenos pontos com uma aparência “encharcada”, como se estivessem úmidos. Conforme a doença avança, essas marcas evoluem para manchas arredondadas, com um tamanho que varia de 1 mm
a 5 mm
de diâmetro.
É comum que esses primeiros sinais apareçam primeiro nas folhas mais novas da soja.
- Na parte de cima da folha (face superior): O centro da mancha fica castanho-claro, com uma borda castanho-avermelhada bem definida.
- Na parte de baixo da folha (face inferior): As manchas ganham uma cor acinzentada. Isso acontece porque é ali que o fungo está produzindo e liberando seus esporos para se espalhar.
Com o tempo, as manchas nas folhas podem se juntar, formando grandes áreas necrosadas e causando a queda prematura das folhas (desfolha). Essa desfolha precoce, junto com as lesões, reduz a área da planta capaz de fazer fotossíntese, o que prejudica diretamente o peso e a qualidade dos grãos.
Lesões características da mancha olho-de-rã na soja
(Fonte: Mian, 2008)
Sintomas nas Hastes, Vagens e Sementes
Nas hastes e vagens, os sintomas costumam aparecer mais tarde, no final da fase de enchimento de grãos. O processo é similar ao das folhas: surgem pequenas lesões com aspecto aquoso que depois se transformam em manchas maiores.
- Nas hastes: As manchas têm um formato mais alongado ou elíptico. O centro da lesão fica acinzentado, enquanto a borda é castanho-avermelhada.
- Nas vagens: As manchas são circulares, de cor castanho-escuro e com o centro deprimido (levemente afundado).
Sintoma de mancha olho-de-rã em vagem de soja
(Fonte: Crop Protection Network)
As sementes de soja infectadas pelo fungo Cercospora sojina também mostram sinais, como rachaduras e manchas de cor variando entre castanha, parda ou cinza. Se essas sementes contaminadas forem plantadas, as novas plântulas já podem nascer com lesões necróticas (tecidos mortos).
Como Diagnosticar a Mancha Olho-de-Rã na Lavoura
Identificar a mancha olho-de-rã na soja diretamente no campo pode ser um desafio. Seus sintomas podem ser facilmente confundidos com os de outras doenças ou até com fitotoxicidade, que é o dano causado por alguns herbicidas.
Sintomas iniciais da mancha olho-de-rã em folha de soja
(Fonte: Universidade de Nebraska – Lincoln)
Diante dessa dificuldade, a atitude mais segura é enviar amostras das plantas com sintomas para um laboratório de fitopatologia. Através da análise foliar, os especialistas poderão confirmar a presença do fungo. Em caso de dúvida, sempre procure o suporte de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).
Apenas com a identificação correta do problema é possível definir as melhores estratégias de manejo para a sua lavoura.
Quais Condições Aumentam o Risco da Mancha Olho-de-Rã?
A incidência e a gravidade de uma doença dependem da interação de três fatores: a presença do fungo, a suscetibilidade da cultivar de soja e as condições ambientais favoráveis.
No caso da mancha olho-de-rã, as condições que mais favorecem o desenvolvimento do fungo são:
- Alta umidade: Acima de 90%.
- Temperatura ideal: Entre
25°C
e30°C
. - Outros fatores de risco: Formação de orvalho constante e temperaturas noturnas que permanecem acima de
20°C
.
Sistemas como a monocultura da soja (plantar soja todo ano na mesma área) e o plantio direto podem, sem o manejo correto, beneficiar o desenvolvimento da doença. Isso acontece porque o fungo Cercospora sojina consegue sobreviver muito bem em tecidos mortos da cultura anterior que ficam sobre o solo.
Como a Doença se Espalha na Lavoura (Ciclo da Cercospora sojina)
O fungo da cercospora sobrevive principalmente nos restos culturais da safra anterior e nas sementes de soja contaminadas. Essas são as fontes de contaminação inicial, que os técnicos chamam de inóculo primário. Durante o período da entressafra, o patógeno também pode sobreviver em plantas de soja tiguera (voluntárias).
A infecção das sementes é uma forma muito eficiente para o fungo sobreviver e se espalhar por longas distâncias. Nas sementes, a cercospora pode permanecer viável por um período de 6 a 7 meses.
Uma vez na lavoura, os esporos do fungo são espalhados principalmente por gotículas de água (chuva ou irrigação) e pela ação do vento.
Ciclo da doença mancha olho-de-rã em soja
(Fonte: Danelli, 2010)
Estratégias de Manejo: Como Controlar e Prevenir a Mancha Olho-de-Rã
A estratégia mais eficiente, barata e segura para o manejo da mancha olho-de-rã é o plantio de cultivares de soja resistentes. Utilizar um material genético que não é suscetível à doença evita gastos com defensivos e protege o meio ambiente.
Para lavouras onde são usadas cultivares suscetíveis, é importante que, após a colheita, os restos vegetais sejam incorporados ao solo. Essa medida acelera a decomposição da palhada e diminui a quantidade de fungo que sobrevive para a próxima safra.
Outra técnica fundamental para o manejo é o tratamento químico das sementes com fungicidas específicos. Essa tática evita a entrada de fungos na lavoura junto com as sementes e protege as plântulas no início do desenvolvimento. O resultado é um melhor estabelecimento inicial da cultura e um estande de plantas mais uniforme.
Para o tratamento de sementes de soja, a recomendação é usar fungicidas do grupo químico benzimidazol associados a fungicidas de contato. Além disso, o manejo da doença deve incluir um conjunto de boas práticas agronômicas, como:
- Adequado preparo de solo;
- Plantio de sementes certificadas e de boa qualidade;
- Densidade de semeadura correta, sem exageros;
- Adubação equilibrada, baseada na análise de solo;
- Rotação de culturas com plantas não hospedeiras, como milho ou braquiária;
- Controle eficiente de pragas da soja e plantas daninhas.
Essas técnicas integradas melhoram o desempenho geral da lavoura e ajudam a aumentar a produtividade.
Quando a doença já é detectada no campo, o controle precisa ser feito pela aplicação de fungicidas via pulverização. Os produtos registrados no Brasil para o controle da mancha olho-de-rã na soja incluem os seguintes ingredientes ativos:
- Carbendazim;
- Carboxina + Tiram;
- Difenoconazol;
- Fludioxonil;
- Tiram.
Conclusão
A mancha olho-de-rã é uma doença de final de ciclo da cultura da soja, causada pelo fungo Cercospora sojina, que exige atenção do produtor.
Os sintomas podem aparecer em toda a parte aérea da planta, começando com pequenas manchas de aspecto encharcado que evoluem para lesões maiores e características. As principais fontes de contaminação para uma nova safra são as sementes infectadas e os restos culturais deixados no campo.
O manejo eficiente da mancha olho-de-rã começa pela escolha de cultivares de soja resistentes. Para complementar, práticas como o tratamento de sementes, a rotação de culturas e, quando necessário, a aplicação de fungicidas, são essenciais para proteger o potencial produtivo da sua lavoura.
Glossário
Cercospora sojina: Nome científico do fungo que causa a doença mancha olho-de-rã na cultura da soja. Conhecer o agente causador é fundamental para entender seu ciclo de vida e definir as estratégias de controle.
Cultivar: Variedade de uma planta que foi desenvolvida por meio de melhoramento genético para apresentar características específicas, como alta produtividade ou resistência a doenças. A escolha de uma “cultivar resistente” é a principal forma de prevenir a mancha olho-de-rã.
Fitotoxicidade: Efeito tóxico que um produto químico, como um herbicida ou fungicida, pode causar a uma planta. Os sintomas, como manchas ou queima das folhas, podem ser confundidos com os de doenças, exigindo um diagnóstico cuidadoso.
Inóculo primário: Refere-se à primeira fonte do patógeno que inicia a doença em uma lavoura. Para a mancha olho-de-rã, o inóculo primário são os esporos do fungo presentes nos restos culturais da safra anterior e em sementes contaminadas.
Monocultura: Prática de cultivar a mesma espécie de planta, como a soja, na mesma área por vários anos seguidos. Este sistema pode favorecer a sobrevivência e o aumento de patógenos específicos, como o fungo Cercospora sojina.
Restos culturais: Material vegetal (palhas, caules, folhas) que permanece no campo após a colheita. Esses restos podem servir de abrigo para o fungo da mancha olho-de-rã, permitindo que ele sobreviva de uma safra para a outra.
Rotação de culturas: Prática de alternar o plantio de diferentes espécies vegetais na mesma área ao longo do tempo. Plantar milho após a soja, por exemplo, ajuda a quebrar o ciclo de vida de doenças que atacam especificamente a soja.
Variabilidade genética: Refere-se à diversidade de genes dentro de uma população de organismos, como um fungo. Uma alta variabilidade permite que o patógeno se adapte e crie novas raças, capazes de superar a resistência das cultivares de soja.
Como a gestão agrícola simplifica o controle da mancha olho-de-rã
O manejo eficiente da mancha olho-de-rã, como vimos, depende de um conjunto de boas práticas, incluindo o monitoramento constante e a aplicação correta de defensivos. No entanto, registrar cada operação no papel ou em planilhas separadas pode gerar falhas e dificultar a análise dos custos de produção.
É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. Com ele, você registra todas as atividades e pulverizações diretamente do campo pelo aplicativo, criando um histórico completo por talhão. Isso não só ajuda a monitorar a eficácia dos tratamentos, mas também vincula automaticamente o custo dos insumos ao seu controle financeiro. Dessa forma, fica muito mais fácil entender o impacto real do manejo na sua lucratividade e tomar decisões baseadas em dados precisos.
Quer transformar a maneira como você gerencia sua lavoura?
Experimente o Aegro gratuitamente e tenha o controle total das suas operações e finanças na palma da mão.
Perguntas Frequentes
Qual é a forma mais eficaz e econômica de prevenir a mancha olho-de-rã na soja?
A estratégia mais eficaz, barata e segura é a utilização de cultivares de soja geneticamente resistentes à doença. Essa medida preventiva evita a necessidade de aplicações de fungicidas, reduzindo custos de produção e o impacto ambiental, sendo a principal recomendação para o manejo da mancha olho-de-rã.
Como posso diferenciar a mancha olho-de-rã de outras doenças foliares no campo?
A mancha olho-de-rã se caracteriza por lesões com centro castanho-claro e bordas castanho-avermelhadas bem definidas, principalmente nas folhas mais novas. No entanto, os sintomas podem ser confundidos com outras doenças ou fitotoxicidade por herbicidas. Para um diagnóstico preciso, é altamente recomendável enviar amostras para análise em um laboratório de fitopatologia.
Por que a rotação de culturas é importante para o controle da mancha olho-de-rã?
A rotação de culturas é fundamental porque o fungo Cercospora sojina sobrevive nos restos culturais da soja. Ao plantar uma cultura não hospedeira, como o milho ou a braquiária, quebra-se o ciclo de vida do fungo, reduzindo a quantidade de inóculo (fonte de contaminação) presente na área para a próxima safra de soja.
O tratamento de sementes com fungicida é suficiente para proteger a lavoura durante todo o ciclo?
Não necessariamente. O tratamento de sementes é uma tática crucial para proteger as plântulas nos estágios iniciais, garantindo um bom estabelecimento da cultura. Contudo, em condições climáticas muito favoráveis à doença ou ao usar cultivares suscetíveis, pode ser necessário realizar pulverizações com fungicidas foliares mais tarde no ciclo para proteger as plantas.
Em que fase da soja a mancha olho-de-rã costuma causar mais danos?
A doença pode se manifestar em qualquer estádio, mas seus danos mais significativos ocorrem quando a infecção é severa durante o período reprodutivo da soja, a partir do florescimento e enchimento de grãos. Nessa fase, a desfolha precoce causada pela doença reduz a capacidade de fotossíntese da planta, impactando diretamente o peso e a qualidade dos grãos.
Quais condições climáticas favorecem o desenvolvimento da mancha olho-de-rã?
As condições ideais para o desenvolvimento do fungo são períodos de alta umidade relativa (acima de 90%) e temperaturas amenas a quentes, entre 25°C e 30°C. A ocorrência frequente de orvalho e noites com temperaturas acima de 20°C também aumenta significativamente o risco de epidemias da doença.
Artigos Relevantes
- Todas as orientações para tratamento de sementes de soja: Este artigo aprofunda uma das principais estratégias de manejo preventivo citadas no texto principal: o tratamento de sementes. Ele transforma uma recomendação teórica em um guia prático e detalhado, explicando os tipos de produtos, métodos (on farm vs. industrial) e cuidados essenciais, agregando um valor acionável e direto para o produtor que busca proteger seu estande inicial.
- Como livrar a lavoura da mancha-púrpura na soja (crestamento foliar de cercospora)?: Este artigo é um complemento direto e de alto valor, pois aborda a mancha-púrpura, causada por outro fungo do mesmo gênero (Cercospora kikuchii). Ele enriquece o conhecimento do leitor sobre o complexo de doenças de final de ciclo e reforça a importância do diagnóstico diferencial, um ponto de dificuldade explicitamente mencionado no artigo principal sobre a mancha olho-de-rã.
- Cultura da soja no Brasil: Guia Completo do Plantio à Industrialização: Este artigo oferece o contexto macro da cultura da soja, posicionando a mancha olho-de-rã como um dos vários desafios fitossanitários. Ele é valioso por apresentar um panorama completo do ciclo da soja e listar outras doenças importantes, permitindo que o leitor entenda onde o manejo específico da cercosporiose se encaixa em uma estratégia de gestão integrada da lavoura.
- O que é a mancha alvo do algodoeiro e como ela pode afetar a sua lavoura: Embora o título mencione algodão, o conteúdo é crucial para o produtor de soja, pois a mancha-alvo (Corynespora cassiicola) é uma doença foliar chave na soja. Este artigo serve como um excelente guia para o diagnóstico diferencial, ajudando a distinguir os sintomas em anéis concêntricos da mancha-alvo das lesões da mancha olho-de-rã, resolvendo uma dúvida comum no campo.
- 3 causas mais comuns das sementes esverdeadas em soja e o que fazer para evitá-las: Este artigo expande as consequências do estresse na lavoura, um tema abordado pelo artigo principal. Enquanto o texto sobre a mancha olho-de-rã foca no controle da doença, este detalha um resultado prático e econômico do estresse (seja por doença ou clima): a perda de qualidade dos grãos. Ele conecta o manejo fitossanitário com o resultado final na colheita e no armazenamento, fechando o ciclo de preocupações do produtor.