Manchas Foliares no Milho: Guia Visual para Identificação e Manejo

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Manchas Foliares no Milho: Guia Visual para Identificação e Manejo

O termo “mancha foliar” é um nome geral para diversas doenças que atacam a cultura do milho. Elas representam um sério risco econômico, pois estão espalhadas pelas principais regiões produtoras do grão no Brasil. O principal prejuízo é a redução significativa no potencial produtivo da sua lavoura.

Neste guia completo, vamos detalhar como identificar e manejar as cinco principais manchas foliares que afetam o milho: cercosporiose, helmintosporiose, mancha-branca, mancha-de-bipolaris e mancha-de-diplodia. Entender as diferenças entre elas é o primeiro passo para um controle eficaz.

As 5 Principais Manchas Foliares que Ameaçam sua Lavoura de Milho

As doenças que causam manchas nas folhas do milho são um grande desafio. As mais comuns e que exigem maior atenção são:

O dano principal dessas doenças é a redução da área foliar que a planta usa para fazer fotossíntese. Com menos “fábrica de energia”, a planta produz menos, o que interfere diretamente na produtividade e na qualidade dos grãos. A seguir, vamos ver em detalhes como identificar cada uma delas no campo.

1. Cercosporiose

A cercosporiose, também conhecida como mancha-cinzenta, é causada pelo fungo Cercospora zeae-maydis. Ela é uma das doenças mais fáceis de identificar por suas características únicas.

Sintomas Principais:

  • Localização: Os primeiros sinais aparecem nas folhas mais baixas da planta.
  • Formato: As manchas são alongadas e têm um formato retangular, pois seu crescimento é delimitado pelas nervuras da folha. Esta é a principal característica para diferenciá-la.
  • Cor: Inicialmente, as lesões possuem bordas amareladas. Em condições de alta umidade, elas ficam com uma cor acinzentada devido à produção de esporos do fungo.
  • Efeito Secundário: Em ataques severos, a doença enfraquece a planta, tornando-a mais vulnerável ao acamamento e ao ataque de outros fungos que causam podridão no colmo.

Condições Favoráveis:

  • Umidade: Alta umidade relativa do ar, acima de 90%.
  • Temperatura: Clima quente, com temperaturas entre 25°C e 30°C.
  • Disseminação: Ocorre pelo vento, que carrega os esporos, e pela presença de restos culturais contaminados da safra anterior.

close-up de uma folha de milho verde, que está visivelmente afetada por uma doença foliar. A superfície da Sintomas característicos da cercosporiose, com lesões retangulares delimitadas pelas nervuras da folha de milho. (Fonte: NC State Extension)

2. Helmintosporiose

A helmintosporiose é causada pelo fungo Exserohilum turcicum e costuma ter maior incidência em lavouras de milho safrinha. Suas lesões são grandes e bastante distintas.

Sintomas Principais:

  • Formato: As lesões são necróticas e têm um formato alongado, parecido com um charuto.
  • Cor: A coloração varia de verde-acinzentada a marrom.
  • Crescimento: Diferente da cercosporiose, o crescimento das lesões não é limitado pelas nervuras, podendo atravessá-las.
  • Avanço da Doença: Conforme a doença avança, as manchas crescem e se unem, podendo tomar toda a folha e causar sua morte prematura.

Condições Favoráveis:

  • Umidade: Alta umidade relativa (acima de 90%) e presença de orvalho prolongado.
  • Temperatura: Temperaturas mais amenas, entre 20°C e 25°C.
  • Disseminação: O vento transporta os esporos do fungo a longas distâncias. Os restos culturais também servem como fonte de inóculo, pois o fungo sobrevive neles por muito tempo.

close-up detalhado de uma folha de milho (Zea mays) afetada por uma doença foliar. Na superfície verde da f Manchas em formato de charuto, que não respeitam as nervuras, são características da helmintosporiose. (Fonte: Crop Protection Network)

3. Mancha-Branca ou Mancha Foliar de Phaeosphaeria

A mancha-branca é causada pela bactéria Pantoea ananatis, embora por muito tempo tenha sido associada ao fungo Phaeosphaeria maydis. Também é conhecida como feosféria ou pinta-branca, sendo uma das doenças mais comuns nas lavouras.

Sintomas Principais:

  • Localização: Os primeiros sintomas surgem nas pontas das folhas e, com o avanço, se espalham até a base da folha.
  • Formato: As lesões são circulares ou ovais.
  • Aparência: Inicialmente, têm cor verde-clara e um aspecto encharcado (anasarca). Com o tempo, o centro da lesão necrosa e fica com cor de palha.
  • Impacto: Pode causar a seca prematura das folhas e da planta inteira. Os sintomas geralmente se tornam mais severos após o pendoamento do milho.

Para entender melhor: Anasarca significa uma aparência de inchaço ou encharcamento, como se a folha estivesse cheia de água naquele ponto.

Condições Favoráveis:

  • Umidade: Umidade do ar acima de 60% e períodos chuvosos.
  • Temperatura: Noites com temperaturas amenas, entre 15°C e 20°C.
  • Disseminação: Ocorre principalmente por respingos de água da chuva e pelo vento.

composição de duas fotografias que exibem folhas de milho afetadas por doenças foliares. Na imagem à esquerda, Sintomas típicos da mancha-branca no milho, com lesões circulares de centro claro e aspecto encharcado. (Fonte: Embrapa – Circular Técnica 167)

4. Mancha-de-Bipolaris (Bipolaris maydis)

Causada pelo fungo Bipolaris maydis, esta doença pode ser confundida com a cercosporiose, mas existem diferenças claras na aparência das lesões.

Sintomas Principais:

  • Formato: As lesões são necróticas, com formato oval, alongado e estreito.
  • Bordas: As manchas não possuem bordas bem definidas, sendo mais irregulares.
  • Orientação: Elas se desenvolvem seguindo a orientação das nervuras, mas não são estritamente limitadas por elas.

Como Diferenciar da Cercosporiose?

A confusão é comum, mas a avaliação cuidadosa das lesões resolve a dúvida:

  • Cercosporiose: Lesões retangulares, estreitas, com bordas bem definidas e limitadas pelas nervuras.
  • Mancha-de-Bipolaris: Lesões mais ovais, com bordas irregulares e menos definidas.

Condições Favoráveis:

  • Umidade: Ambientes úmidos.
  • Temperatura: Clima quente, com temperaturas entre 22°C e 30°C.
  • Disseminação: Ocorre pelo vento e por respingos de chuva. O fungo também sobrevive nos restos culturais e nos grãos de milho.

close-up de uma folha de milho sendo segurada pela mão de uma pessoa, provavelmente um agricultor ou agrôno Sintomas da mancha-de-bipolaris em folha de milho, com lesões de bordas mais irregulares. (Fonte: Crop Protection Network)

banner da planilha de produtividade da lavoura de milho

5. Mancha-de-Diplodia

A mancha-de-diplodia é causada pelo fungo Stenocarpella macrospora. Além de atacar as folhas, ela também pode causar podridão no colmo e nas espigas, aumentando seu potencial de dano.

Sintomas Principais:

  • Formato: As lesões são alongadas e grandes, podendo chegar a 10 centímetros de comprimento.
  • Outros Danos: Causa também a podridão do colmo e das espigas, um sintoma grave que pode passar despercebido inicialmente.

Como Diferenciar da Helmintosporiose?

As lesões grandes podem ser confundidas com as da helmintosporiose. A principal diferença é um detalhe sutil:

  • Mancha-de-Diplodia: As lesões apresentam um pequeno círculo escuro no centro, que é o ponto de infecção do fungo. Esse ponto fica mais visível quando a folha é observada contra a luz.
  • Helmintosporiose: As lesões em formato de charuto não possuem esse ponto central de infecção.

Condições Favoráveis:

  • Umidade: Alta umidade do ar.
  • Temperatura: Temperaturas entre 25°C e 30°C.
  • Disseminação: Ocorre pelo vento, respingos de chuva e por sementes infectadas. Os restos culturais também abrigam o fungo.

close-up detalhado de uma folha de milho afetada por uma doença fúngica, provavelmente a helmintosporiose ( Sintomas da mancha-foliar-de-diplodia em milho. Observe o ponto central de infecção, visível contra a luz. (Fonte: American Physiological Society)

Manejo Integrado: A Melhor Estratégia Contra Manchas Foliares

O controle eficiente das manchas foliares no milho não depende de uma única ação, mas sim de um manejo integrado. Combinar diferentes práticas garante maior sucesso e sustentabilidade.

As principais estratégias recomendadas são:

1. Práticas Culturais e Preventivas (A Base de Tudo)

  • Genética: Opte pelo plantio de cultivares de milho resistentes às principais doenças da sua região.
  • Diversificação: Evite plantar um único cultivar em toda a área; use diferentes híbridos para reduzir a vulnerabilidade.
  • Época de Plantio: Escolha a época de plantio do milho mais adequada para evitar períodos de alta pressão das doenças.
  • Sementes de Qualidade: Utilize sempre sementes sadias e certificadas, e considere o tratamento de sementes com fungicidas.
  • Rotação de Culturas: Evite o plantio sequencial de milho na mesma área. A rotação com culturas não hospedeiras (como soja ou braquiária) quebra o ciclo de vida dos fungos.
  • Manejo da Lavoura: Mantenha a lavoura bem nutrida com uma adubação equilibrada, controle as plantas daninhas e utilize a população de plantas recomendada para o seu híbrido.

2. Controle Químico (Ferramenta Estratégica)

  • Aplicação de Fungicidas: O controle químico com fungicidas de amplo espectro é uma ferramenta importante, principalmente quando as condições climáticas são favoráveis às doenças.
  • Grupos Químicos: Para o controle das manchas foliares do milho, os fungicidas mais indicados pertencem aos grupos químicos triazol e estrobilurina. É fundamental rotacionar os modos de ação para evitar o surgimento de resistência.

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Conclusão

As manchas foliares mais importantes na cultura do milho – cercosporiose, helmintosporiose, mancha-branca, mancha-de-bipolaris e mancha-de-diplodia – estão presentes em todas as áreas produtoras do país e podem comprometer seriamente sua produtividade.

A chave para o sucesso no controle é a adoção de um manejo integrado, que combina práticas preventivas, como o uso de híbridos resistentes e a rotação de culturas, com o uso estratégico de defensivos químicos quando necessário. A identificação correta de cada doença no campo é fundamental para tomar a decisão certa.

Em caso de dúvida na identificação ou na escolha do melhor método de controle, procure sempre a orientação de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) de sua confiança.


Glossário

  • Acamamento: Tombamento das plantas, que se curvam ou quebram na base do colmo. Ocorre quando a planta está enfraquecida por doenças ou ventos fortes, dificultando a colheita mecânica.

  • Colmo: Refere-se ao caule principal da planta de milho. É a estrutura que dá sustentação às folhas e espigas e transporta água e nutrientes.

  • Esporos: Estruturas microscópicas produzidas por fungos, que funcionam como sementes para sua reprodução e disseminação. São facilmente espalhados pelo vento e pela chuva, infectando outras plantas.

  • Inóculo: Qualquer parte de um patógeno (como esporos de fungos) capaz de iniciar uma doença. No artigo, os restos culturais da safra anterior são a principal fonte de inóculo.

  • Manejo Integrado: Estratégia que combina diferentes métodos de controle (uso de híbridos resistentes, rotação de culturas, controle químico) para combater doenças de forma eficiente e sustentável.

  • Milho Safrinha: Segunda safra de milho plantada no mesmo ano agrícola, geralmente após a colheita da soja. Aproveita o final do período chuvoso e representa uma parte importante da produção nacional.

  • Nervuras da folha: As “veias” da folha do milho, que transportam água e nutrientes. A forma como as manchas crescem em relação às nervuras é um detalhe crucial para diferenciar as doenças.

  • Pendoamento: Estágio em que a inflorescência masculina (pendão) surge no topo da planta de milho. Indica o início do período reprodutivo da cultura.

  • Restos culturais: Material vegetal (palha, colmos) que fica no campo após a colheita. Servem de abrigo para os fungos sobreviverem de uma safra para outra.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

O manejo integrado das manchas foliares exige um acompanhamento rigoroso e um planejamento preciso das aplicações de defensivos. Fazer esse controle em planilhas ou cadernos pode levar a falhas, comprometendo a eficácia do tratamento e aumentando os custos. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo que você registre os focos de doenças diretamente do campo com o aplicativo. Isso cria um histórico detalhado que facilita o planejamento de pulverizações, garantindo que os defensivos sejam usados de forma mais estratégica e eficiente.

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Perguntas Frequentes

Como diferenciar a cercosporiose da mancha-de-bipolaris, que são visualmente parecidas?

A principal diferença está nas bordas e no formato das lesões. A cercosporiose apresenta manchas retangulares com bordas bem definidas, pois seu crescimento é limitado pelas nervuras da folha. Já a mancha-de-bipolaris tem lesões mais ovais e com bordas irregulares e menos definidas.

Por que a rotação de culturas é tão importante para o manejo de manchas foliares no milho?

A rotação de culturas é fundamental porque quebra o ciclo de vida dos fungos. A maioria desses patógenos sobrevive nos restos culturais (palhada) de uma safra para outra. Ao plantar uma cultura não hospedeira, como a soja, você reduz a quantidade de inóculo do fungo no campo para a próxima safra de milho.

Qual o momento ideal para iniciar a aplicação de fungicidas contra as manchas foliares?

O ideal é iniciar as aplicações de forma preventiva, antes que a doença atinja níveis críticos. O monitoramento constante da lavoura é chave, e as aplicações geralmente começam entre os estágios V8 (oitava folha) e o pré-pendoamento, especialmente se as condições climáticas (alta umidade e temperatura favorável) estiverem presentes. Sempre consulte um agrônomo para a recomendação precisa.

Além da perda de produtividade, as manchas foliares podem afetar a qualidade dos grãos de milho?

Sim. Ao reduzir a área foliar responsável pela fotossíntese, a planta tem menos energia para o enchimento dos grãos. Isso pode resultar em grãos mais leves, menores e com menor teor de nutrientes, impactando não apenas o peso final da saca, mas também a qualidade do produto para comercialização.

Usar um híbrido de milho resistente é suficiente para não me preocupar com as manchas foliares?

Embora o uso de híbridos resistentes seja a base de um bom manejo, não é uma garantia total, principalmente sob alta pressão da doença. A resistência genética pode ser quebrada ou não ser eficaz contra todas as raças dos patógenos. Por isso, o manejo integrado, combinando genética, rotação de culturas e controle químico estratégico, é a abordagem mais segura e eficiente.

Existe alguma mancha foliar mais comum ou perigosa na safrinha?

Sim, a helmintosporiose tende a ter maior incidência no milho safrinha. Isso ocorre porque suas condições ideais de desenvolvimento — temperaturas mais amenas (20°C a 25°C) e alta umidade com orvalho prolongado — são mais comuns nesse período do ano em muitas regiões produtoras.

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