A lavoura de café enfrenta diversas doenças em cada etapa do seu desenvolvimento, o que exige atenção constante do produtor. Além da conhecida ferrugem, outras doenças podem comprometer a produção, especialmente atacando a floração, um dos momentos mais críticos para a safra.
Uma dessas ameaças é a mancha de Phoma. Ela é uma das principais doenças que atingem a florada do café, mas seu manejo eficaz precisa começar bem antes que as primeiras flores apareçam.
Neste guia, separamos os pontos mais importantes para você entender o que é a mancha de Phoma, como identificar seus sintomas e, principalmente, o que fazer para prevenir e controlar essa doença na sua lavoura.
Principais Doenças da Florada do Café
Antes de focarmos na mancha de Phoma, é importante ter uma visão geral das doenças que afetam o cafeeiro ao longo do seu ciclo. O calendário agrícola abaixo ilustra os períodos de maior risco para cada uma delas.
(Fonte: Manual de Fitopatologia)
Observando o gráfico, fica claro que a mancha de Phoma e a mancha aureolada são as duas doenças que mais ameaçam o cafeeiro durante a fase de floração.
É fundamental destacar que, no campo, essas duas doenças frequentemente ocorrem ao mesmo tempo. Portanto, o manejo de uma muitas vezes precisa considerar a presença da outra.
O que é a Mancha de Phoma no Cafeeiro?
Registrada pela primeira vez no Brasil na década de 1970, a mancha de Phoma já se espalhou por todas as principais regiões produtoras de café do país. A doença é causada por um conjunto de fungos do gênero Phoma spp., o que explica seu nome popular.
Esses fungos infectam a planta ao penetrar em folhas, frutos e brotações novas. A entrada do patógeno é facilitada por ferimentos na planta, como os que podem ser causados por granizo, ventos fortes ou danos mecânicos durante a colheita.
Condições Ideais para o Desenvolvimento da Doença
A mancha de Phoma depende de fatores específicos para se desenvolver e se espalhar. A disseminação dos esporos do fungo ocorre principalmente por meio de respingos de chuva ou água de irrigação.
A doença é favorecida por um clima mais ameno e úmido. Por isso, lavouras localizadas em regiões de maior altitude, que naturalmente possuem essas características, tendem a sofrer mais com o problema.
No entanto, isso não significa que plantios em baixa altitude estejam livres do risco. Se as condições favoráveis aparecerem, a doença pode se manifestar com força. As condições que mais favorecem a Phoma são:
- Temperaturas amenas: Especialmente em torno de
18℃
. - Alta umidade: Períodos chuvosos ou com muito orvalho.
- Ventos frios e constantes.
Quando esses três fatores ocorrem por períodos prolongados, o risco de surtos da doença aumenta muito. A situação pode se agravar ainda mais se a lavoura estiver enfraquecida pelo ataque de pragas ou por danos de geada, afetando até mesmo os viveiros de mudas.
Sintomas da Mancha de Phoma: Como Identificar
A Phoma pode atacar diferentes partes do cafeeiro, e os sintomas variam conforme a área afetada. Fique atento aos seguintes sinais:
1. Nas folhas mais novas: O sintoma inicial são manchas escuras e arredondadas. Com o tempo, essas manchas crescem, podendo tomar toda a folha e causar um encurvamento característico, como se a folha estivesse se fechando.
Sintomas de mancha de Phoma em folhas de café. (Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)
2. Nos ramos e botões florais: A doença causa a morte dos ponteiros dos ramos produtivos, um sintoma conhecido como “seca de ponteiros” ou die-back. Isso impede o crescimento de novas folhas e flores naquela área. A Phoma também ataca diretamente os botões florais, que escurecem e morrem antes de abrir.
Seca dos ponteiros causada pela mancha de Phoma. (Fonte: Agrolink)
3. Nos frutos (“chumbinhos”): Após a florada, a doença pode causar a mumificação dos chumbinhos.
Em outras palavras: A mumificação ocorre quando os frutos recém-formados secam, escurecem e morrem, mas permanecem presos aos ramos, parecendo pequenas “múmias”.
Mumificação dos chumbinhos, um sintoma claro da mancha de Phoma no pós-florada. (Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)
Ao atacar o crescimento vegetativo, as flores e os frutos em formação, a mancha de Phoma impacta diretamente o potencial produtivo da lavoura.
Estratégias de Controle da Mancha de Phoma
O controle da Phoma combina práticas culturais preventivas com o uso estratégico de fungicidas. É importante lembrar que uma planta bem nutrida e livre de pragas é naturalmente mais resistente. Por isso, uma nutrição equilibrada é a base para um manejo de doenças bem-sucedido.
Controle Cultural
As práticas culturais são medidas preventivas que ajudam a criar um ambiente menos favorável para o fungo.
- Uso de quebra-ventos: Como os ventos frios favorecem a doença, a implantação de barreiras de vento (quebra-ventos) em áreas expostas é uma excelente estratégia para reduzir a incidência da Phoma.
- Ajuste no espaçamento: Em áreas com histórico da doença e clima favorável, evite plantios muito adensados. Espaçamentos maiores permitem melhor circulação de ar, o que ajuda a reduzir a umidade nas folhas e dificulta o desenvolvimento do fungo.
Controle Químico
Em áreas onde as condições climáticas são favoráveis à Phoma, o controle químico preventivo é essencial para proteger a produção.
Quando começar o controle?
O momento ideal para iniciar as aplicações é antes da florada, durante o outono-inverno. O objetivo é proteger os ramos e os futuros botões florais. O controle deve continuar de forma programada até a fase de chumbinho, garantindo a proteção dos frutos recém-formados no período pós-florada.
Qual produto utilizar?
Existe uma variedade de ingredientes ativos eficazes contra a Phoma. A escolha permite a rotação de produtos e o manejo integrado de outras doenças.
- Carboxamidas: O ingrediente ativo mais comum é a Boscalida, que deve ser usada na dose recomendada em bula.
- Triazóis: Este grupo inclui diversas opções, como difenoconazol, epoxiconazol, flutriafol, ciproconazol, entre outros.
- Dicarboxamidas: O principal representante é o iprodione.
Como a Phoma costuma ocorrer junto com a ferrugem (Hemileia vastatrix) e a mancha aureolada, é comum a necessidade de fungicidas com espectro de ação mais amplo. Nesses casos, o produtor pode optar por misturas de estrobilurinas, triazóis e/ou carboxamidas para o controle da ferrugem, e adicionar produtos cúpricos para o manejo da mancha aureolada.
Como e quando aplicar?
O programa de aplicações geralmente envolve de 4 a 5 pulverizações, mas a frequência exata depende do monitoramento da lavoura, do período residual do fungicida utilizado e das condições climáticas de cada safra.
Atenção: Evite realizar aplicações com as flores abertas. As pétalas funcionam como uma barreira, impedindo que o produto atinja o alvo principal: os ovários e futuros chumbinhos. As aplicações mais eficientes são as feitas na pré-florada (para proteger os botões) e na pós-florada (logo após a queda das pétalas), que conseguem atingir e proteger diretamente os chumbinhos.
Conclusão
A mancha de Phoma é uma doença séria, causada por fungos que se adaptaram bem às principais regiões produtoras de café no Brasil. Para um manejo eficaz, é essencial entender seus pontos-chave:
- Causa: É causada por fungos do gênero Phoma spp..
- Condições favoráveis: Ocorre com mais intensidade em locais com temperaturas amenas (próximas a 18°C), alta umidade e ventos frios, sendo mais comum em plantios adensados e de maior altitude.
- Sintomas: Ataca folhas novas, ramos (causando a seca dos ponteiros), flores e frutos recém-formados (mumificação dos chumbinhos), afetando diretamente a produtividade.
- Controle: Começa no planejamento, com o uso de quebra-ventos e espaçamento adequado. O controle químico deve ser preventivo, iniciando no outono-inverno (pré-florada) e se estendendo até a fase de chumbinho (pós-florada) para garantir a máxima proteção.
Glossário
Chumbinhos: Nome popular dado aos frutos do café em seu estágio inicial de desenvolvimento, logo após a queda das flores. Nesta fase, eles são pequenos e verdes, com aparência semelhante a pequenas esferas de chumbo.
Fungicidas: Defensivos agrícolas desenvolvidos especificamente para prevenir, controlar ou eliminar fungos causadores de doenças nas plantas. O artigo cita grupos como Triazóis e Carboxamidas para o controle da mancha de Phoma.
Mumificação dos chumbinhos: Sintoma de doença em que os frutos do café recém-formados secam, escurecem e morrem, mas permanecem presos aos ramos. É um dano característico da mancha de Phoma que impacta diretamente a produção.
Patógeno: Organismo, como um fungo, bactéria ou vírus, que é capaz de causar uma doença em seu hospedeiro. No contexto do artigo, os patógenos são os fungos do gênero Phoma spp.
Phoma spp.: Gênero de fungos que são os agentes causadores da doença mancha de Phoma no cafeeiro. A sigla “spp.” (plural de espécie) indica que a doença pode ser causada por várias espécies diferentes dentro deste mesmo gênero.
Quebra-ventos: Barreiras, geralmente formadas por fileiras de árvores mais altas, plantadas ao redor ou dentro da lavoura para reduzir a velocidade do vento. Essa prática cultural ajuda a criar um microclima menos favorável para a mancha de Phoma.
Seca de ponteiros (die-back): Sintoma em que as pontas dos ramos produtivos do cafeeiro morrem e secam de fora para dentro. Este dano, causado pela Phoma, impede o surgimento de novas folhas e flores, comprometendo o potencial produtivo da planta.
Triazóis: Um dos principais grupos químicos de fungicidas com ação sistêmica, ou seja, que se movem dentro da planta. São amplamente utilizados para controlar um grande espectro de doenças fúngicas no café, incluindo a mancha de Phoma e a ferrugem.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O manejo eficaz da mancha de Phoma, como vimos, exige um programa de 4 a 5 pulverizações com timing preciso. Isso cria um desafio duplo para o produtor: organizar o cronograma de aplicações para proteger a lavoura no momento certo e, ao mesmo tempo, controlar os custos com fungicidas para garantir a rentabilidade da safra.
Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a resolver exatamente esses pontos. A plataforma permite planejar todo o calendário de manejo, registrar cada aplicação diretamente do campo pelo celular e acompanhar o desenvolvimento da lavoura em tempo real. Ao mesmo tempo, o sistema centraliza o controle de estoque de insumos e calcula automaticamente o custo de cada operação, oferecendo uma visão clara do investimento por talhão e ajudando a tomar decisões mais seguras e econômicas.
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Perguntas Frequentes
Qual é o erro mais comum ao aplicar fungicidas para o controle da mancha de Phoma?
O erro mais comum é aplicar o produto durante o pico da florada, com as flores abertas. As pétalas agem como uma barreira física, impedindo que o fungicida atinja os ovários e futuros chumbinhos. As aplicações mais eficazes são as preventivas, realizadas na pré-florada (para proteger botões) e na pós-florada (para proteger os frutos recém-formados).
É possível usar o mesmo fungicida para controlar a mancha de Phoma e a ferrugem do café?
Sim, é uma estratégia de manejo muito comum e eficiente. Muitos programas de controle utilizam fungicidas de amplo espectro ou misturas (como triazóis com estrobilurinas ou carboxamidas) que são eficazes contra ambos os patógenos. Integrar o manejo otimiza o número de aplicações e reduz os custos operacionais.
Minha lavoura de café fica em baixa altitude. Preciso me preocupar com a mancha de Phoma?
Sim, precisa. Embora a doença seja mais agressiva em regiões de maior altitude devido às temperaturas amenas e alta umidade, lavouras em baixa altitude não estão imunes. Períodos atípicos de frio e chuvas constantes podem criar um microclima favorável ao fungo, justificando o monitoramento e, se necessário, o controle preventivo.
O que exatamente é a ‘seca dos ponteiros’ e por que ela é tão prejudicial?
A ‘seca dos ponteiros’ é um sintoma em que as pontas dos ramos produtivos do cafeeiro morrem e secam. Isso é altamente prejudicial porque o fungo ataca os tecidos de crescimento, impedindo o desenvolvimento de novas folhas, flores e frutos naquela área. Esse dano não só afeta a safra atual, mas também compromete o potencial produtivo futuro da planta.
Além do controle químico, quais medidas preventivas são mais eficazes contra a Phoma?
As duas práticas culturais mais eficazes são o uso de quebra-ventos e o espaçamento adequado entre as plantas. Os quebra-ventos reduzem a incidência de ventos frios, enquanto o espaçamento correto melhora a circulação de ar, diminuindo a umidade nas folhas. Ambas as medidas ajudam a criar um ambiente menos favorável ao desenvolvimento do fungo.
Por que ferimentos causados por granizo ou colheita aumentam o risco da mancha de Phoma?
Os fungos do gênero Phoma spp. são patógenos que se aproveitam de portas de entrada na planta. Ferimentos causados por granizo, ventos fortes ou danos mecânicos na colheita funcionam como acesso direto para o fungo infectar os tecidos internos da folha ou do ramo, acelerando o início e a severidade da doença.
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