Mancha-Branca no Milho: Um Guia Completo para Identificar, Prevenir e Controlar

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Mancha-Branca no Milho: Um Guia Completo para Identificar, Prevenir e Controlar

A mancha-branca, também conhecida como pinta-branca, é uma doença foliar que merece atenção especial. Ela está presente nas principais regiões produtoras de milho do Brasil, causando preocupação para muitos agricultores.

Esta doença costuma ser agressiva, atacando com mais força os plantios de milho safrinha.

Quando o controle falha ou é feito de forma inadequada, a mancha-branca pode gerar prejuízos significativos, com uma forte redução na produtividade da lavoura.

Neste artigo, vamos detalhar as causas, os sintomas e as melhores estratégias de manejo para proteger seu milharal desta doença. Acompanhe e boa leitura!

O que Causa a Mancha-Branca do Milho?

A mancha-branca é uma doença do milho complexa, provocada pela ação conjunta de diferentes microrganismos.

O principal agente causador identificado é a bactéria Pantoea ananatis. No entanto, a doença é frequentemente agravada pela presença de fungos associados, que pioram as lesões. Os principais fungos encontrados são:

  • Phaeosphaeria maydis;
  • Phoma sorghina;
  • Phyllosticta sp.;
  • Sporormiella sp.

Como a Mancha-Branca se Espalha na Lavoura?

A disseminação dos microrganismos que causam a mancha-branca acontece de duas maneiras principais: pela ação do vento e por respingos de água da chuva.

Esses patógenos sobrevivem nos restos culturais (a palhada) da safra anterior. Essa palhada serve como a fonte primária do inóculo. [Inóculo]: significa o material, como esporos de fungos ou células de bactérias, que inicia a infecção na planta.

Por essa razão, as lavouras de milho em sistema de plantio direto podem estar mais sujeitas à doença. A presença constante de palha no solo, embora benéfica para a saúde do solo, pode aumentar a concentração de patógenos se não for bem manejada.

Como Identificar a Mancha-Branca no Milho?

A identificação correta e precoce é fundamental para um controle eficaz. Fique atento aos seguintes sinais:

  1. Início dos Sintomas: Inicialmente, você vai observar os sintomas nas folhas inferiores da planta de milho. Com a evolução da doença, as folhas do topo também começam a apresentar as manchas.
  2. Progressão nas Folhas: As lesões geralmente começam na ponta das folhas. Conforme a doença avança, as manchas se espalham em direção à base da folha.

close-up de uma folha de milho sendo inspecionada em campo. A folha apresenta múltiplos sintomas de uma doeSintomas iniciais da mancha-branca aparecendo na ponta da folha de milho.

(Fonte: Circular Técnica 167 — Embrapa)

Características das Lesões

As lesões foliares da mancha-branca possuem um formato circular ou oval. No início, elas têm um aspecto encharcado e uma coloração verde-clara. Com o tempo, essas manchas secam, tornam-se necróticas e adquirem uma coloração cor de palha.

O tamanho das lesões varia de 0,3 cm a 1,0 cm de diâmetro.

close-up detalhado de uma folha de milho verde, que apresenta múltiplos sintomas de uma doença foliar. EspaSintomas característicos da mancha-branca do milho, com lesões necróticas cor de palha.

(Fonte: Agência Embrapa de Informação Tecnológica)

Impacto na Planta e Período Crítico

Em casos de alta severidade, os sintomas também podem ser vistos na palha das espigas. A intensidade da doença está diretamente ligada ao nível de suscetibilidade do híbrido de milho plantado e às condições ambientais.

A mancha-branca acelera a seca prematura das folhas, o que prejudica a fotossíntese e, consequentemente, o processo de enchimento de grãos.

Geralmente, os sintomas não são comuns em plântulas. A doença se manifesta de forma mais severa durante a fase reprodutiva da cultura, principalmente após o pendoamento.

Como Fazer o Manejo Preventivo da Mancha-Branca

Melhor do que remediar é prevenir. Evitar que a mancha-branca se instale na lavoura é a estratégia mais inteligente e econômica. Isso é possível com três práticas principais: manejo de resistência, antecipação da semeadura e evitar condições favoráveis.

1. Faça o Manejo de Resistência Genética

O primeiro passo e uma das medidas mais eficientes é a escolha de híbridos com resistência genética. Essa é uma alternativa de baixo impacto ambiental e alta eficácia no manejo da doença.

Híbridos desenvolvidos pela Embrapa, como o BRS 1010, BRS 1030 e BRS 1035, são exemplos de materiais que apresentam boa resistência à mancha-branca.

2. Evite as Condições Favoráveis à Doença

O segundo passo é entender e evitar o ambiente que favorece a mancha-branca. A doença se desenvolve bem em condições de alta umidade relativa do ar (acima de 60%) e temperaturas amenas (entre 14 °C e 20 °C).

As lavouras de milho segunda safra (safrinha) são as mais afetadas, pois nesse período é comum encontrar um cenário ideal para a doença, com:

  • Elevado índice de chuvas;
  • Noites com temperaturas mais baixas;
  • Formação de orvalho prolongado sobre as folhas.

A doença costuma aparecer a partir do estádio V9. [Estádio V9]: significa que a planta de milho possui 9 folhas completamente desenvolvidas. A fase mais crítica, onde o dano é maior, ocorre entre os estádios VT e R5. [Estádio VT - R5]: significa o período que vai do pendoamento até a fase de grão dentado.

3. Antecipe a Semeadura e Faça Rotação de Culturas

Outra excelente prática preventiva é a rotação com culturas que não são suscetíveis à doença, como a soja ou o feijão. Isso ajuda a quebrar o ciclo dos patógenos na área.

Antecipar a semeadura do milho também é uma ótima estratégia. Ao plantar mais cedo, você reduz as chances de que a fase de maior suscetibilidade da planta (pós-pendoamento) coincida com o período de clima favorável ao desenvolvimento da doença.

Melhores Fungicidas para Mancha-Branca do Milho

Se a doença já foi identificada na lavoura, o manejo químico precisa ser rápido e assertivo. A aplicação de fungicidas para milho é indicada especialmente para híbridos suscetíveis.

Uma pesquisa realizada pela Embrapa avaliou a eficiência de diferentes produtos. O estudo concluiu que alguns defensivos apresentam baixa eficiência no controle da mancha-branca:

  • Carbendazim (fungicida);
  • Triazóis (grupo de fungicidas);
  • Oxitetraciclina (antibiótico);
  • Kasugamicina (antibiótico).

Por outro lado, o mesmo estudo apontou que os fungicidas do grupo químico das estrobilurinas demonstram alta eficiência no controle dessa doença. [Estrobilurinas]: significa um grupo moderno de fungicidas com ação ampla, muito usado no controle de doenças foliares.

Recomendações para o Controle Químico

Para garantir a eficácia do tratamento, siga estas orientações:

  • Rotacione Ingredientes Ativos: É essencial alternar produtos com diferentes modos de ação. Isso previne o desenvolvimento de resistência dos patógenos aos fungicidas.
  • Siga a Bula: Respeite rigorosamente as recomendações do fabricante quanto à dosagem, modo e época de aplicação. A eficiência do defensivo agrícola depende diretamente do uso correto.
  • Monitore Constantemente: Faça vistorias periódicas na lavoura. Essa prática permite identificar a doença em sua fase inicial, quando o controle é mais fácil e barato.

Durante o monitoramento, anote informações importantes para a tomada de decisão:

  • Qual a área afetada?
  • Como a doença está distribuída (em reboleiras, nas bordaduras, em toda a área)?
  • Quais são os sintomas e a severidade nas plantas?

Com um diagnóstico correto, dados do monitoramento e informações meteorológicas, você consegue traçar um plano de manejo preciso e eficiente.

Lembre-se: o sucesso no controle da mancha-branca depende da adoção de estratégias integradas de manejo (MIP), combinando prevenção e controle químico.

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Conclusão

A mancha-branca é uma doença séria, causada por uma combinação de bactéria e fungos, que pode impactar fortemente a produtividade do milho.

Seus sintomas são mais severos na fase reprodutiva da cultura, especialmente após o pendoamento. O desenvolvimento da doença é favorecido por alta umidade e temperaturas amenas, e sua disseminação ocorre pelo vento e respingos de chuva.

Para um controle eficaz, adote um manejo integrado:

  1. Escolha híbridos resistentes.
  2. Planeje a época de semeadura para evitar o clima favorável à doença.
  3. Monitore a lavoura constantemente para identificar os primeiros sinais.
  4. Aplique os fungicidas corretos (como as estrobilurinas) quando necessário, sempre rotacionando os produtos.

Na dúvida sobre o diagnóstico ou o melhor plano de ação, não hesite em consultar um engenheiro agrônomo de sua confiança.


Glossário

  • Estádios fenológicos (V e R): Sistema que classifica as fases de desenvolvimento da planta de milho. A letra ‘V’ (vegetativo) se refere ao número de folhas totalmente desenvolvidas (ex: V9 = 9 folhas), enquanto ‘R’ (reprodutivo) marca fases como pendoamento (VT) e enchimento de grãos (R1 a R5).

  • Estrobilurinas: Grupo químico de fungicidas modernos, com amplo espectro de ação. São apontados como altamente eficientes no controle da mancha-branca por atuarem sobre os fungos que agravam as lesões na planta.

  • Híbrido de milho: Variedade de milho resultante do cruzamento de diferentes linhagens para combinar características superiores. A escolha de híbridos com resistência genética é a principal medida preventiva contra a mancha-branca.

  • Inóculo: Material biológico (como esporos de fungos ou células de bactérias) capaz de iniciar uma infecção na planta. No caso da mancha-branca, os restos culturais da safra anterior são a principal fonte de inóculo.

  • Milho safrinha: Refere-se à segunda safra, geralmente plantada no outono/inverno após a colheita da cultura de verão (soja). Suas condições climáticas, com maior umidade e noites frias, são favoráveis ao desenvolvimento da mancha-branca.

  • Pantoea ananatis: Nome científico da bactéria identificada como o principal agente causador da mancha-branca do milho. Sua ação é frequentemente agravada pela presença de fungos oportunistas.

  • Patógeno: Qualquer microrganismo, como bactéria, fungo ou vírus, que pode causar uma doença. A mancha-branca é causada por um complexo de patógenos, incluindo a bactéria Pantoea ananatis e diversos fungos.

  • Restos culturais: Material orgânico (palha, colmos, folhas) que permanece no solo após a colheita. Embora benéficos para o solo, podem abrigar patógenos e servir como fonte de inóculo para a safra seguinte.

Otimize o manejo da mancha-branca com a gestão agrícola

O monitoramento constante e a aplicação correta de defensivos são fundamentais para controlar a mancha-branca, mas também representam um desafio operacional e financeiro. Registrar cada ocorrência, planejar as pulverizações e, ao mesmo tempo, controlar os custos pode ser uma tarefa complexa e consumir muito tempo.

É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. Com o aplicativo de celular, você pode registrar os focos da doença diretamente no mapa da fazenda, anexando fotos e observações. Esse histórico preciso facilita a tomada de decisão sobre quando e onde aplicar os fungicidas. Além disso, cada aplicação é automaticamente vinculada ao controle de estoque e aos custos da safra, oferecendo uma visão clara do investimento e do retorno de cada talhão.

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Perguntas Frequentes

Qual é a principal causa da mancha-branca do milho, um fungo ou uma bactéria?

A mancha-branca é uma doença complexa causada principalmente pela bactéria Pantoea ananatis. No entanto, sua severidade é frequentemente agravada pela ação de fungos associados, que pioram as lesões nas folhas, tornando o manejo um desafio que envolve o controle de múltiplos microrganismos.

Por que o sistema de plantio direto pode aumentar o risco da mancha-branca na lavoura?

Os patógenos que causam a mancha-branca sobrevivem nos restos culturais (palhada) da safra anterior. No plantio direto, a palha permanece no solo e serve como fonte primária de inóculo, o que pode aumentar a concentração da doença e a pressão de infecção para a nova safra de milho.

Como posso identificar os primeiros sinais da mancha-branca no milharal?

Os primeiros sintomas geralmente surgem nas folhas inferiores da planta, começando pelas pontas. Fique atento a lesões circulares ou ovais com aspecto encharcado e coloração verde-clara. Com a evolução, essas manchas secam e adquirem uma cor de palha característica.

Por que a mancha-branca é considerada mais severa no milho safrinha?

O milho safrinha é cultivado em um período com condições climáticas ideais para a doença: alta umidade relativa do ar, noites com temperaturas mais amenas e formação de orvalho prolongado. Essa combinação de fatores favorece o desenvolvimento e a disseminação dos patógenos.

Quais tipos de fungicidas são mais eficazes para o controle da mancha-branca do milho?

Estudos da Embrapa indicam que fungicidas do grupo químico das estrobilurinas demonstram alta eficiência no controle da mancha-branca. Por outro lado, defensivos como Carbendazim e os do grupo dos triazóis apresentaram baixa eficiência, sendo importante escolher o produto correto para um manejo químico assertivo.

Usar um híbrido de milho resistente já garante a proteção contra a mancha-branca?

A escolha de híbridos resistentes é a principal medida preventiva e de grande eficácia. Contudo, em anos com alta pressão da doença, pode não ser suficiente. O ideal é adotar um manejo integrado, combinando o híbrido resistente com outras práticas, como antecipação da semeadura, rotação de culturas e monitoramento constante para eventuais aplicações de fungicidas.

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