A mancha aureolada é uma das principais doenças do café e tem gerado prejuízos significativos em cafezais do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Para controlar essa doença de forma eficaz, é fundamental que você entenda suas causas, as condições de clima e época que a favorecem, e, principalmente, saiba como identificar corretamente seus sintomas.
Neste guia prático, vamos detalhar os sinais da mancha aureolada na lavoura de café, mostrar como diferenciá-la de outras doenças parecidas e apresentar os principais métodos de controle para proteger sua produção. Continue a leitura!
O que é e como identificar a mancha aureolada no café?
A mancha aureolada é uma doença bacteriana, causada pela bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae. Ela é capaz de atacar folhas, ramos, flores e frutos do cafeeiro, comprometendo a saúde da planta e a produtividade.
A identificação visual é o primeiro passo para o controle. Fique atento a estes sinais:
- Nas Folhas: O sintoma mais clássico são as manchas marrons cercadas por um halo (ou auréola) amarelado, com formato e tamanho irregulares. É essa característica que dá nome à doença. Com o tempo, a parte marrom pode morrer (necrosar) e rasgar o tecido da folha. Geralmente, esses sinais aparecem nas bordas da folha.
- Em Mudas: Cuidado! Em plantas muito novas, o halo amarelado pode não aparecer no início. Nesse caso, as manchas parecem translúcidas (meio transparentes) quando você olha a folha contra a luz. Conforme a doença avança, os sintomas se tornam iguais aos das folhas mais velhas.
- Nos Ramos: A bactéria causa lesões escuras nos ramos, provocando a seca que avança da ponta em direção à base. Esse processo leva a uma intensa queda de folhas.
- Nas Flores e Frutos: Quando a bactéria consegue entrar nos ramos produtivos, ela também afeta as flores do café e os frutos, especialmente os “chumbinhos”, causando perdas diretas na produção.
Sintomas da mancha aureolada em: A e B- ramos e folhas; C- frutos de café
(Fonte: Embrapa)
Como diferenciar a mancha aureolada de outras doenças
Alguns sintomas da mancha aureolada na plantação de café podem ser confundidos com os de outras doenças comuns, como a cercosporiose e a phoma. Saber diferenciar os sinais é crucial para aplicar o tratamento correto com rapidez e precisão, evitando que a doença se espalhe pela lavoura.
Veja como identificar as diferenças e ter mais segurança no diagnóstico.
Mancha aureolada vs. Cercosporiose
A cercosporiose, também conhecida como mancha de olho pardo, é causada pelo fungo Cercospora coffeicola. A principal confusão acontece porque ambas as doenças criam um halo amarelado nas folhas.
Para diferenciar, observe estes pontos-chave:
- Ataque aos Ramos: A mancha aureolada ataca os ramos e causa sua seca. Este é o principal diferencial, pois a cercosporiose atinge principalmente folhas e frutos, sem afetar os ramos dessa maneira.
- Aspecto da Mancha: Embora ambas tenham o halo amarelado, a mancha da cercosporiose (olho pardo) tem uma característica distinta: a lesão é marrom-escura nas bordas com um centro cinza-claro.
Sintomas de cercosporiose em folhas de café
(Fonte: Embrapa)
Mancha aureolada vs. Phoma
A mancha-de-phoma é causada pelo fungo Phoma sp. A semelhança com a mancha aureolada está no ataque aos ramos do cafeeiro, que também secam da ponta para a base.
Aqui estão as diferenças para um diagnóstico correto:
- Agressividade nos Ramos: Na mancha aureolada, a seca dos ramos é muito mais agressiva, podendo atingir uma grande extensão ou o ramo inteiro rapidamente. Na mancha-de-phoma, a seca inicial é menor e menos agressiva; o ramo só seca por completo se a doença avançar sem controle.
- Sintomas nas Folhas: A phoma ataca com mais intensidade as folhas mais novas, localizadas na ponta dos ramos. As manchas são escuras, aparecem na borda da folha e, com o tempo, causam necrose e deformações.
Sintomas de phoma em folhas e ramos de cafeeiro
(Fonte: Embrapa)
Condições Favoráveis para o Desenvolvimento da Doença
Para que uma doença se instale na lavoura, três fatores precisam estar presentes ao mesmo tempo: um ambiente favorável, a presença do patógeno (o agente causador) e uma planta suscetível. Entender essa combinação, conhecida como “triângulo da doença”, ajuda a definir as melhores estratégias de prevenção.
Para a mancha aureolada, o cenário ideal é o seguinte:
1. O Patógeno (Pseudomonas syringae)
A principal forma de entrada da bactéria em novas áreas produtoras de café é através de mudas contaminadas. Equipamentos e ferramentas que tiveram contato com plantas doentes também podem espalhar o patógeno.
2. O Ambiente Favorável
A bactéria se desenvolve melhor em condições específicas:
- Temperatura: Prefere climas amenos, com temperaturas entre 18 °C e 23 °C.
- Umidade: Locais com alta umidade do ar e muita chuva são ideais para a proliferação.
- Altitude e Clima: Essas condições são comuns em lavouras localizadas em altitudes acima de 1000 metros, onde também ocorrem ventos fortes e ar frio, fatores que podem causar ferimentos nas plantas.
3. O Hospedeiro (A Planta de Café)
O cafeeiro fica mais vulnerável à doença em certas fases e condições:
- Idade: Plantas jovens, desde a fase de muda até os 4 anos de idade, são mais suscetíveis.
- Ferimentos: Qualquer ferimento na planta é uma porta de entrada para a bactéria. Isso inclui danos causados por podas, colheita, ataque de pragas, ventos fortes e granizo.
- Nutrição: Uma adubaçãodesequilibrada do café, com excesso ou falta de nutrientes como nitrogênio e fósforo, também deixa as plantas mais frágeis.
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Danos Causados pela Mancha Aureolada no Café
Os prejuízos causados pela doença afetam diretamente a produtividade do café. Os danos podem ser divididos em duas categorias:
- Danos Indiretos: A doença reduz a área foliar capaz de fazer fotossíntese, diminuindo a produção de energia da planta. A queda de folhas causada pela seca dos ramos agrava ainda mais esse problema. Sem energia suficiente, a planta não consegue sustentar seu crescimento e a produção de frutos.
- Danos Diretos: A seca dos ramos produtivos interfere no desenvolvimento das flores e causa a queda de frutos, principalmente dos “chumbinhos”. Isso representa uma perda direta de produção na safra atual.
Esses danos são mais severos em lavouras novas (até 4 anos), em cafezais recém-podados ou após a colheita do café. No entanto, o cenário mais crítico é nos viveiros de mudas, onde os danos podem chegar a 100% de perda, pois os tecidos jovens das mudas são facilmente colonizados pela bactéria.
Viveiro de mudas de café com presença de mancha aureolada
(Fonte: CafePoint)
Mancha Aureolada: Como Fazer o Controle no Cafezal
O combate a doenças bacterianas é sempre um desafio. Por isso, a principal estratégia contra a mancha aureolada é o controle preventivo. Evitar a entrada da bactéria na sua lavoura é a forma mais eficaz e econômica de manejo.
Siga estas recomendações:
1. Comece com Mudas Sadias
A principal porta de entrada da bactéria são mudas contaminadas. Portanto, adquira sempre mudas de viveiros idôneos e certificados, que garantam a ausência do patógeno. Se você produz suas próprias mudas, evite o excesso de umidade no viveiro e proteja o local contra ventos e granizo para evitar ferimentos.
2. Manejo Preventivo no Campo e no Viveiro
- Eliminação: Se encontrar mudas contaminadas no viveiro, elas devem ser imediatamente retiradas e destruídas para evitar a contaminação das outras.
- Aplicação Preventiva: Em viveiros e em lavouras jovens (até 4 anos), é recomendada a aplicação de fungicidas cúpricos a cada 15 dias. Outra opção é o uso de antibióticos como a casugamicina, que atua como bactericida e fungicida.
- Momentos Críticos: Essas aplicações preventivas também são importantes em plantas adultas, especialmente após podas ou antes da colheita, períodos em que as plantas estão com mais ferimentos.
3. Manejo Cultural na Lavoura
- Escolha da Área: Evite instalar sua lavoura de café em locais com ventos fortes, que podem ferir as plantas e facilitar a entrada da bactéria.
- Quebra-ventos: Se o plantio em áreas com vento for inevitável, utilize cultivares de porte menor e plante barreiras de quebra-vento ao redor da área, como fileiras de eucalipto.
- Plantas de Cobertura: Após o transplante das mudas, plante braquiária ou crotalária nas entrelinhas do espaçamento da plantação de café. Isso protege o solo e as plantas jovens.
Conclusão
Neste artigo, você viu que a mancha aureolada é uma doença bacteriana séria, capaz de causar danos diretos e indiretos à sua produção de café. O controle depois de instalada é difícil, o que torna a prevenção a sua melhor ferramenta.
Saber identificar corretamente os sintomas e diferenciá-los de doenças como a cercosporiose e a phoma é o primeiro passo. A partir daí, concentre seus esforços em adquirir mudas sadias e proteger suas plantas, especialmente as mais jovens e aquelas com ferimentos.
Ao adotar um manejo preventivo cuidadoso, você reduz drasticamente o risco de prejuízos. Em caso de dúvida, não hesite em procurar a orientação de um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a) de sua confiança.
Glossário
Cercosporiose: Doença fúngica do cafeeiro, também conhecida como “mancha de olho pardo”. Embora também apresente um halo amarelado, diferencia-se da mancha aureolada por não atacar os ramos e por ter lesões com centro cinza-claro.
Fungicidas cúpricos: Produtos para controle de doenças à base de cobre. São utilizados de forma preventiva contra bactérias e fungos, pois o cobre interfere no metabolismo desses patógenos, impedindo sua proliferação.
Halo (ou auréola): Círculo ou anel amarelado que se forma ao redor de uma mancha na folha. É o sintoma visual mais característico da mancha aureolada, sendo fundamental para a identificação da doença em campo.
Necrose: Morte localizada do tecido vegetal, que se torna escuro, seco e quebradiço. Na mancha aureolada, a parte central da lesão na folha pode necrosar e se rasgar com o tempo.
Patógeno: Organismo capaz de causar doenças em uma planta, como uma bactéria, fungo ou vírus. No contexto do artigo, o patógeno é a bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae.
Phoma (Mancha-de-phoma): Doença fúngica que, assim como a mancha aureolada, causa a seca dos ramos do cafeeiro. A principal diferença é que o ataque da phoma é menos agressivo e focado nas folhas mais novas, na ponta dos ramos.
Pseudomonas syringae pv. garcae: Nome científico da bactéria que causa a mancha aureolada no cafeeiro. O termo “pv. garcae” especifica a variante (patovar) que ataca essa cultura em particular.
Quebra-ventos: Barreiras vegetais, como fileiras de árvores (eucalipto, por exemplo), plantadas ao redor da lavoura. Sua função é reduzir a velocidade do vento, diminuindo os ferimentos mecânicos nas plantas que servem de porta de entrada para patógenos.
Simplifique o controle da mancha aureolada com o Aegro
O controle preventivo da mancha aureolada, como vimos, exige um planejamento rigoroso e um acompanhamento constante dos custos com defensivos. Manter esse controle em planilhas ou cadernos pode ser complicado, levando a falhas no manejo ou a gastos imprevistos que comprometem a rentabilidade do cafezal.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas duas frentes: a operacional e a financeira. Com ele, você pode agendar todas as pulverizações preventivas no calendário agrícola, registrar os produtos utilizados diretamente pelo celular e acompanhar o custo por talhão em tempo real. Isso garante que o manejo seja executado no momento certo e ajuda a tomar decisões mais seguras para proteger sua lavoura.
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Perguntas Frequentes
Qual é o principal sintoma para diferenciar a mancha aureolada de outras doenças do café?
O sintoma mais claro para diferenciar a mancha aureolada é a seca dos ramos, que avança da ponta para a base. Doenças como a cercosporiose, apesar de também causarem manchas com halo amarelado nas folhas, não atacam os ramos da mesma forma, tornando este o principal sinal distintivo.
Por que as lavouras de café mais jovens são mais vulneráveis à mancha aureolada?
Plantas jovens, desde a fase de muda até os 4 anos, são mais suscetíveis porque seus tecidos são mais tenros e delicados. Isso facilita a ocorrência de ferimentos causados por vento, granizo ou manejo, que servem como porta de entrada para a bactéria Pseudomonas syringae.
Quais condições de clima e ambiente favorecem o aparecimento da mancha aureolada?
A doença se desenvolve melhor em ambientes com temperaturas amenas (entre 18°C e 23°C), alta umidade do ar e chuvas frequentes. Lavouras em altitudes elevadas, com ventos fortes que podem ferir as plantas, criam o cenário ideal para a proliferação da bactéria.
A poda do cafeeiro pode aumentar o risco de infecção pela mancha aureolada?
Sim, a poda aumenta o risco, pois os cortes criam ferimentos que são portas de entrada ideais para a bactéria. Por isso, é altamente recomendado realizar aplicações preventivas de produtos à base de cobre ou antibióticos logo após a poda para proteger a planta durante o período de cicatrização.
O controle da mancha aureolada pode ser feito com qualquer tipo de fungicida?
Não, pois a mancha aureolada é causada por uma bactéria, não por um fungo. O controle preventivo é feito com produtos específicos, como fungicidas cúpricos (à base de cobre) ou antibióticos como a casugamicina, que têm ação bactericida e impedem a proliferação do patógeno.
É possível erradicar a mancha aureolada depois que ela se instala na lavoura?
A erradicação de doenças bacterianas após a instalação é extremamente difícil e muitas vezes inviável. A estratégia mais eficaz e econômica é o controle preventivo, focando em adquirir mudas sadias, proteger as plantas contra ferimentos e aplicar defensivos em momentos críticos.
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