Mancha-Amarela no Trigo: Guia Completo de Identificação e Manejo

Redatora parceira Aegro.
Mancha-Amarela no Trigo: Guia Completo de Identificação e Manejo

A cultura do trigo enfrenta diversas doenças ao longo de seu ciclo de desenvolvimento, causadas principalmente por bactérias, vírus e fungos. Dentre elas, as manchas foliares são as que mais trazem prejuízos, com destaque para a mancha-amarela.

Causada pelo fungo Drechslera tritici-repentis, esta doença pode reduzir a produtividade do trigo em até 50%. Sua intensidade é fortemente influenciada pelo sistema de plantio direto e pela interação da cultivar com as condições do clima. Por isso, é fundamental adotar um conjunto de estratégias de controle para proteger a lavoura.

Neste artigo, você vai entender os impactos da mancha-amarela da folha do trigo, aprender a identificar seus sintomas, conhecer as condições que favorecem seu desenvolvimento e descobrir as melhores estratégias de manejo para garantir a saúde da sua safra. Boa leitura!

O que é a mancha-amarela do trigo?

A mancha-amarela é uma doença que ataca as folhas e outras partes aéreas do trigo e do triticale. Ela é causada pelo fungo Drechslera tritici-repentis, um organismo necrotrófico.

Para entender melhor: Fungo necrotrófico significa que ele mata as células da planta para se alimentar dos tecidos mortos, causando as manchas e lesões visíveis nas folhas.

A doença se manifesta com alta intensidade em lavouras sob sistema de plantio direto, especialmente quando a rotação de culturas não é feita de forma adequada. Isso ocorre porque o fungo sobrevive principalmente nos restos culturais (a palha) do trigo.

Para entender o ciclo da doença, é importante saber que o fungo possui duas fases de reprodução:

  • Fase assexuada (Pyrenophora tritici-repentis): Esta é a fase mais importante para a disseminação da doença durante a safra. Nela, o fungo se multiplica rapidamente, produzindo um grande número de esporos que são resistentes ao ambiente e espalham a infecção.
  • Fase sexuada (Drechslera tritici-repentis): Nesta fase, ocorre a recombinação genética do fungo. Isso gera variabilidade, o que pode levar ao surgimento de novas raças mais agressivas ou até mesmo resistentes a fungicidas.

Pode parecer confuso que a doença tenha dois nomes científicos, mas ambos se referem ao mesmo fungo em estágios diferentes do seu ciclo de vida. O que importa é que, independentemente do nome, os sintomas e os danos são os mesmos.

A mancha-amarela está presente em todas as regiões produtoras de trigo, principalmente onde se adota o plantio direto. Fatores como um tratamento de sementes ineficiente ou a escolha de um fungicida inadequado podem acelerar o desenvolvimento da doença. Outro grande desafio é a agressividade do patógeno e sua crescente resistência a diversos grupos químicos de fungicidas.

Como diferenciar os sintomas da mancha-amarela e da mancha-marrom no trigo?

Embora os sintomas iniciais possam ser confundidos com os da mancha-marrom, existem características claras que ajudam a distinguir a mancha-amarela.

Os sinais típicos da mancha-amarela aparecem desde as fases iniciais do desenvolvimento do trigo. Eles começam como pequenas manchas esbranquiçadas ou amareladas nas folhas.

Com o avanço da doença, o centro da mancha necrosa (o tecido morre) e se torna pardo. A característica mais marcante da mancha-amarela é a formação de um halo amarelado bem definido ao redor da lesão necrótica. Essas lesões podem atingir até 12 mm de comprimento.

composição de cinco painéis, rotulados de ‘a’ a ’e’, que ilustram a progressão de uma doença foliar em uma pla Diferentes intensidades de sintomas da mancha amarela em trigo em função da raça do patógeno e sua agressividade (Fonte: Bertagnoli e colaboradores, 2019)

Disseminação e condições favoráveis para a doença

A principal forma de disseminação do fungo ocorre pelos respingos de chuva e pelo vento. Quando chove, as gotas atingem os restos culturais infectados no solo, lançando os esporos para as folhas das plantas. Esse processo é mais intenso em áreas com ausência de rotação de culturas e em plantio direto com pouca palhada de outras culturas.

Quando as condições ambientais são favoráveis, a doença se instala rapidamente. O patógeno consegue completar vários ciclos de infecção durante a safra do trigo, o que aumenta exponencialmente os danos.

A severidade dos sintomas varia: cultivares tolerantes podem apresentar manifestações mais brandas, enquanto as suscetíveis sofrem com ataques mais agressivos. Portanto, a escolha do material genético é um passo fundamental no manejo.

As condições ideais para a manifestação da doença são:

  • Temperaturas entre 18 °C e 28 °C.
  • Um período de pelo menos 30 horas de molhamento foliar contínuo.

É essencial monitorar essas condições, principalmente em áreas com histórico da doença.

infográfico que ilustra o ciclo de vida do fungo Pyrenophora tritici-repentis, o agente causador da mancha-amar Ciclo de vida esquematizado da mancha-amarela em trigo (Fonte: Flávio Santana)

Como fazer o controle da mancha-amarela em trigo?

A adoção de uma única forma de controle da mancha-amarela não é efetiva. É indispensável adotar o manejo integrado de doenças, combinando diferentes estratégias para reduzir a população do fungo e proteger a qualidade do trigo.

As três principais estratégias de manejo são:

  1. Escolha de Cultivares Resistentes: Este é o primeiro e mais importante passo, especialmente em regiões com histórico da doença. Consulte as recomendações da Comissão Brasileira de Pesquisa em Trigo e da Embrapa para identificar as cultivares de trigo mais adaptadas e resistentes para sua área.

  2. Rotação de Culturas: Essa prática é essencial para quebrar o ciclo do fungo. Utilizar espécies não hospedeiras como canola, nabo e aveia impede que o patógeno encontre um ambiente para sobreviver e se multiplicar entre uma safra de trigo e outra. Com isso, sua população na área diminui significativamente.

  3. Aplicação de Fungicidas: É uma ferramenta complementar e importante para frear o avanço da doença, principalmente quando as condições climáticas são favoráveis. No entanto, essa prática exige muita atenção, pois já existem relatos de resistência do fungo. As doses, o intervalo entre aplicações e todas as demais recomendações da bula devem ser rigorosamente seguidos.

uma tabela informativa com o título ‘Prática de Manejo’ e ‘Eficácia’, apresentada em um fundo verde claro com Eficácia das estratégias de manejo da mancha-amarela. Sinais positivos indicam que as práticas surtem efeito. Sinais negativos indicam que as práticas não são eficientes. (Fonte: Lau et al., 2020)

Fungicidas para trigo que controlam a mancha foliar amarela

Para o manejo químico, o FRAC-BR (Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas) estabelece recomendações importantes para evitar a perda de eficácia dos produtos. Veja as principais:

  • Siga a bula: Respeite rigorosamente as recomendações do fabricante quanto a dose, volume de calda e intervalo de aplicação.
  • Aplique preventivamente: As aplicações de fungicidas devem ser feitas de forma preventiva, antes que a doença se estabeleça com força. Isso reduz a pressão de seleção de populações resistentes do fungo.
  • Cuidado com as estrobilurinas: Devido ao histórico de resistência, fungicidas do grupo das estrobilurinas não devem ser aplicados de forma isolada. Eles devem sempre ser utilizados em mistura com outros grupos químicos, como fungicidas multissítios e triazóis.
  • Use misturas eficazes: O fungicida parceiro na mistura deve ser eficiente contra a doença mesmo se aplicado sozinho. A ideia é atacar o fungo com dois mecanismos de ação potentes.
  • Faça a rotação de grupos químicos: Alterne os mecanismos de ação dos fungicidas ao longo do ciclo da cultura. Fique atento, pois produtos com nomes comerciais diferentes podem conter os mesmos ingredientes ativos ou mecanismos de ação. Consulte sempre um engenheiro agrônomo para a recomendação correta.
  • Consulte pesquisas locais: A eficiência dos fungicidas pode ser verificada em resultados de pesquisa de instituições públicas e privadas. Esses dados regionais ajudam a nortear a tomada de decisão sobre qual produto escolher.

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Conclusão

A mancha-amarela da folha do trigo é uma doença séria, capaz de causar uma redução drástica na produtividade da cultura. Felizmente, com o reconhecimento correto de sua ocorrência e severidade, é possível implementar um manejo eficaz.

Lembre-se que práticas de controle utilizadas de forma isolada não são eficientes. Além disso, a cada ano surgem novos relatos de redução da eficiência dos fungicidas disponíveis no mercado.

Por isso, adote um manejo integrado e estratégico, que vise não apenas controlar a doença na safra atual, mas também prolongar a vida útil das ferramentas químicas que você tem à disposição.


Glossário

  • Drechslera tritici-repentis: Nome científico do fungo que causa a mancha-amarela no trigo. Este patógeno sobrevive nos restos culturais e possui uma fase sexuada (que gera variabilidade genética) e uma assexuada (Pyrenophora tritici-repentis), responsável pela disseminação durante a safra.

  • Estrobilurinas: Grupo químico de fungicidas amplamente utilizado na agricultura. No controle da mancha-amarela, seu uso isolado não é recomendado devido ao alto risco e a casos confirmados de resistência do fungo.

  • FRAC-BR: Sigla para Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas do Brasil. É uma organização que estabelece diretrizes e recomendações para o uso correto de fungicidas, visando retardar o desenvolvimento de resistência dos patógenos.

  • Fungo necrotrófico: Tipo de fungo que se alimenta de tecido vegetal morto. Ele primeiro mata as células da planta hospedeira, utilizando toxinas, e depois consome os nutrientes, causando as lesões necróticas características da doença.

  • Manejo Integrado de Doenças (MID): Estratégia de controle que combina diferentes táticas para manter as doenças abaixo do nível de dano econômico. Envolve o uso de cultivares resistentes, rotação de culturas e aplicação de fungicidas de forma criteriosa.

  • Molhamento foliar: Período em que as folhas das plantas permanecem úmidas, seja por chuva, orvalho ou irrigação. Para a mancha-amarela, um período contínuo de mais de 30 horas de molhamento foliar é ideal para a infecção.

  • Restos culturais: Material vegetal (palha, colmos) que permanece no campo após a colheita. Para a mancha-amarela, os restos de trigo infectados são a principal fonte de sobrevivência do fungo de uma safra para outra.

  • Rotação de Culturas: Prática de alternar diferentes espécies de plantas (ex: soja, milho, canola) na mesma área em safras sucessivas. É uma tática fundamental para quebrar o ciclo de vida do fungo da mancha-amarela, que não consegue sobreviver em culturas não hospedeiras.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Gerenciar o controle da mancha-amarela do trigo, que envolve desde a escolha de cultivares até a aplicação criteriosa de fungicidas, é uma tarefa complexa. Manter um registro preciso das aplicações para evitar a resistência do fungo e, ao mesmo tempo, controlar os custos de produção são desafios constantes. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo planejar as pulverizações e acompanhar os gastos com insumos em tempo real. Isso garante não apenas um manejo mais eficiente da doença, mas também uma visão clara da rentabilidade da lavoura.

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Perguntas Frequentes

Por que o sistema de plantio direto aumenta o risco da mancha-amarela no trigo?

O plantio direto aumenta o risco porque o fungo causador da doença, Drechslera tritici-repentis, sobrevive nos restos culturais (palha) do trigo deixados na superfície do solo. Sem o revolvimento do solo e com a sucessão de trigo sobre trigo, essa palha infectada se torna a principal fonte de contaminação para a nova safra, facilitando a disseminação do patógeno pela chuva e pelo vento.

Qual é a principal característica para diferenciar a mancha-amarela da mancha-marrom no trigo?

A característica mais marcante da mancha-amarela é a formação de um halo amarelado bem definido ao redor da lesão necrótica (de cor parda) no centro da mancha. Embora os sintomas iniciais possam ser parecidos, a presença desse halo amarelo é o principal sinal para identificar a mancha-amarela de forma visual na lavoura.

É possível controlar a mancha-amarela utilizando apenas a aplicação de fungicidas?

Não, o controle exclusivo com fungicidas não é eficaz a longo prazo e aumenta o risco de resistência do fungo. A estratégia mais eficiente é o Manejo Integrado de Doenças (MID), que combina o uso de cultivares resistentes, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras e, de forma complementar, a aplicação preventiva e rotacionada de fungicidas.

Quais condições climáticas favorecem uma epidemia de mancha-amarela?

As condições ideais para o desenvolvimento da mancha-amarela são temperaturas amenas, entre 18°C e 28°C, combinadas com um longo período de molhamento foliar, superior a 30 horas contínuas. O monitoramento dessas condições é crucial, especialmente em áreas com histórico da doença, para decidir o momento certo de realizar ações de controle preventivas.

Qual é a importância da rotação de culturas no manejo da mancha-amarela?

A rotação de culturas é fundamental para quebrar o ciclo de vida do fungo. Ao plantar espécies não hospedeiras, como canola, nabo ou aveia, o patógeno não encontra um ambiente para sobreviver e se multiplicar entre uma safra de trigo e outra. Isso reduz drasticamente a quantidade de inóculo (esporos) presente na área, diminuindo a pressão da doença na safra seguinte.

Por que fungicidas do grupo das estrobilurinas não devem ser aplicados sozinhos?

As estrobilurinas não devem ser aplicadas de forma isolada devido ao alto risco e aos casos já confirmados de resistência do fungo da mancha-amarela a este grupo químico. Para garantir a eficácia e retardar a resistência, elas devem ser sempre utilizadas em misturas com fungicidas de outros grupos, como triazóis ou multissítios, que possuem diferentes mecanismos de ação.

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