A mancha alvo é uma doença com grande impacto econômico na agricultura, e tem se tornado uma dor de cabeça para muitos produtores de algodão nos últimos anos.
O seu controle não é tão simples, pois o fungo se espalha pela lavoura com a ajuda do vento e das gotas de chuva. Essa característica favorece a repetição dos ciclos da doença na mesma área, tornando o manejo um desafio contínuo.
Neste guia, vamos detalhar os principais sintomas da mancha alvo no algodoeiro e explicar como realizar o manejo ideal para proteger sua lavoura e sua produtividade.
Qual a Importância da Mancha Alvo no Algodão?
A mancha alvo é causada pelo fungo Corynespora cassiicola. Este patógeno é comum em muitas regiões agrícolas e causa perdas significativas em diversas culturas, especialmente na soja. Recentemente, sua importância na cotonicultura também cresceu.
Um dos maiores desafios é que o fungo consegue sobreviver em restos culturais (palhada e restos de plantas da safra anterior) e em hospedeiros alternativos (outras plantas, incluindo daninhas, que abrigam o fungo). Isso permite que ele permaneça na área e inicie novos ciclos de infecção, dificultando o controle.
Os esporos do fungo, que são como as “sementes” da doença, são facilmente transportados pela lavoura pelo vento e por respingos de água da chuva.
Principais Sintomas: Como Identificar a Doença no Campo
A identificação correta e precoce é o primeiro passo para um manejo eficaz. Fique atento aos seguintes sinais:
Onde e Quando os Sintomas Aparecem
Os primeiros sintomas da mancha alvo costumam surgir nas folhas do terço inferior da planta, a parte mais baixa do algodoeiro.
É comum que a doença se manifeste com mais força após o fechamento da entrelinha, momento em que as plantas crescem e suas folhas se tocam, criando um microclima favorável. O grande volume de folhas do algodoeiro e os espaçamentos mais adensados criam um ambiente ideal para o Corynespora cassiicola, pois as folhas do “baixeiro” ficam em condições de alta umidade e temperatura.
Como as Lesões se Desenvolvem
Na fase inicial, você observará pequenas pontuações escuras, geralmente com um halo (um círculo amarelado) ao redor. Com o avanço da doença, essas lesões crescem e podem assumir formatos maiores, tanto irregulares quanto circulares.
As lesões circulares são a marca registrada da doença. Elas apresentam anéis concêntricos de tecido necrosado (tecido morto, de cor marrom ou preta) em seu interior, o que cria uma aparência muito semelhante a um alvo de tiro. Daí vem o nome popular: mancha alvo.
Lesão sintomática típica da mancha alvo
(Fonte: University of Tennessee Institute of Agriculture)
Sintomas de mancha alvo nas folhas e brácteas do algodão
(Fonte: University of Tennessee Institute of Agriculture)
O Impacto na Planta: Desfolha e Perda de Produtividade
Outro sintoma claro é a queda prematura das folhas (desfolha). A combinação da desfolha com as lesões que tomam conta das folhas restantes diminui drasticamente a capacidade da planta de realizar fotossíntese. Como consequência, há prejuízos no desenvolvimento geral das plantas e uma inevitável redução da produtividade.
Desfolha do algodoeiro causada pela mancha alvo
(Fonte: University of Tennessee Institute of Agriculture)
A queda na produtividade está diretamente ligada à perda de área foliar funcional.
Em outras palavras: o tecido necrosado das folhas não consegue mais absorver a luz do sol para produzir energia. Com isso, a planta gera menos “alimento” para si mesma (os fotoassimilados), resultando em maçãs menores e menor rendimento de fibra.
Diagnóstico Correto é Fundamental
É importante lembrar que outras condições, como nematoides, ataque de insetos e toxidez por fertilizantes ou por aplicação incorreta de defensivos, também podem causar alterações nas folhas, como clorose (amarelamento) ou queima.
Portanto, um diagnóstico preciso da doença é essencial para escolher o método de manejo correto e evitar gastos desnecessários.
Como Fazer o Manejo da Mancha Alvo do Algodoeiro
O manejo da mancha alvo exige monitoramento constante para agir antes que a doença se espalhe e cause prejuízos sérios. A estratégia combina o controle químico com boas práticas de manejo cultural.
Controle Químico: A Principal Ferramenta
O método químico de controle é um dos mais utilizados no combate à doença. Abaixo estão alguns exemplos de ingredientes ativos e misturas registrados para o controle da mancha alvo no algodão:
- epoxiconazol + fluxapiroxade + piraclostrobina
- protioconazol + trifloxistrobina
- bixafem + protioconazol + trifloxistrobina
- fluxapiroxade + piraclostrobina
- azoxistrobina + mancozebe + tebuconazol
- azoxistrobina + mancozebe
Para um controle químico eficaz, é fundamental seguir as recomendações técnicas do produto, incluindo a forma de uso, a época ideal, a tecnologia de aplicação, a dose recomendada e o volume de calda. Além disso, a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação é crucial para evitar que o fungo desenvolva resistência na sua área.
Práticas Culturais: A Base para um Manejo Integrado
Além do uso de fungicidas, a adoção de práticas culturais ajuda a criar um ambiente menos favorável para a doença se estabelecer:
- Manejo da altura das plantas: utilize reguladores de crescimento para controlar o desenvolvimento vegetativo, melhorando a aeração e reduzindo a umidade no baixeiro.
- Controle de plantas daninhas: muitas delas servem como hospedeiras alternativas para o fungo.
- Incorporação dos restos culturais: acelera a decomposição da palhada onde o fungo sobrevive.
- Evitar espaçamentos muito adensados: siga as recomendações de população de plantas para sua cultivar e região.
- Parcelamento da adubação nitrogenada: o excesso de nitrogênio pode levar a um crescimento vegetativo exagerado, favorecendo a doença.
- Rotação de culturas com espécies não hospedeiras: utilize culturas como milho ou sorgo para quebrar o ciclo do fungo.
- Evitar a sucessão de plantio algodão-soja: como ambas as culturas são suscetíveis à mancha alvo, essa prática aumenta a pressão da doença na área.
Atualmente, ainda não existem cultivares de algodão resistentes à mancha alvo. Por isso, o manejo deve se concentrar em práticas que desaceleram ou interrompem o desenvolvimento da doença. Lembre-se: quanto antes a doença for detectada, mais eficiente será o controle e menores serão os danos.
Como o NDVI Pode Ajudar a Monitorar a Doença?
O NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada): é uma tecnologia que, por meio de imagens de satélite, mede a saúde e a densidade da vegetação. Ele tem sido amplamente utilizado para monitorar diversos aspectos das lavouras.
Como a mancha alvo ataca a parte aérea do algodão, o NDVI permite observar o comportamento e a evolução da doença através de mapas de vegetação. Com essa ferramenta, é possível:
- Avaliar o nível de desfolha causado pela doença.
- Identificar os focos iniciais da doença na área.
- Localizar plantas mortas ou com desenvolvimento comprometido.
- Quantificar os danos em diferentes partes do talhão.
- Ajudar a determinar o melhor momento para a aplicação de fungicidas.
A presença da mancha alvo diminui a cobertura foliar da planta, o que altera o valor do NDVI. Essa mudança cria mapas de vegetação diferentes daqueles gerados quando a lavoura estava sadia. Assim, você pode traçar estratégias de manejo mais precisas, já que irregularidades no campo podem ser detectadas ainda em fase inicial.
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Conclusão
A mancha alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, é uma doença séria que ataca culturas importantes como o algodão. Seus principais sintomas são visíveis nas folhas, causando lesões características em formato de alvo e uma desfolha precoce que compromete a produtividade.
O manejo eficaz da mancha alvo no algodoeiro depende de ações combinadas, integrando o controle químico com boas práticas culturais para preservar a sanidade da lavoura e retardar a disseminação da doença.
Ferramentas como os mapas de NDVI também se mostram importantes aliadas no gerenciamento, permitindo avaliar a condição dos talhões de forma rápida e antecipar problemas.
Espero que com estas informações você possa realizar um manejo mais eficiente da mancha alvo em sua lavoura e proteger seu potencial produtivo
Glossário
Baixeiro: Termo usado para se referir à parte inferior do dossel das plantas (o terço inferior). É uma área com maior umidade e menor ventilação, criando um microclima ideal para o desenvolvimento de fungos como o da mancha alvo.
Corynespora cassiicola: Nome científico do fungo causador da doença mancha alvo. Este patógeno é capaz de sobreviver em restos de culturas anteriores e infectar diversas espécies de plantas, incluindo o algodão e a soja.
Desfolha: Queda prematura e acentuada das folhas da planta. No caso da mancha alvo, a desfolha é um sintoma avançado que reduz drasticamente a capacidade da planta de realizar fotossíntese, impactando diretamente a produtividade.
Fechamento da entrelinha: Momento no desenvolvimento da lavoura em que as folhas das plantas em fileiras vizinhas se tocam, cobrindo o solo. Essa condição aumenta a umidade e o sombreamento no baixeiro, favorecendo a proliferação da doença.
Hospedeiros alternativos: Outras plantas, como culturas vizinhas ou plantas daninhas, que podem abrigar e multiplicar o fungo da mancha alvo sem necessariamente apresentar sintomas severos. Elas funcionam como uma “ponte” para o patógeno sobreviver entre uma safra e outra.
NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada): Indicador gerado a partir de imagens de satélite que mede a saúde e a densidade da vegetação. É usado para monitorar a lavoura, pois a desfolha causada pela mancha alvo provoca uma alteração nos valores do NDVI, permitindo identificar os focos da doença.
Reguladores de crescimento: Produtos químicos aplicados para controlar o desenvolvimento vegetativo (altura e volume de folhas) do algodoeiro. Seu uso ajuda a melhorar a aeração e a entrada de luz no baixeiro, tornando o ambiente menos favorável para o fungo.
Restos culturais: Material vegetal (palhada, caules, folhas) que permanece no campo após a colheita. O fungo Corynespora cassiicola sobrevive nesses restos, que se tornam a principal fonte de infecção para a safra seguinte.
Como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O manejo integrado da mancha alvo, como vimos, exige um controle rigoroso de múltiplas frentes: monitoramento constante, aplicações de defensivos no tempo certo e a execução de diversas práticas culturais. Organizar todas essas tarefas e, ao mesmo tempo, controlar os custos de produção é o principal desafio. Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse processo ao centralizar o planejamento e o registro de todas as atividades da fazenda. Nele, é possível agendar pulverizações, acompanhar o desenvolvimento da lavoura com mapas de NDVI e registrar todos os custos por talhão, garantindo que as decisões sejam baseadas em dados precisos e que o investimento em cada hectare traga o máximo retorno.
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Perguntas Frequentes
O controle químico com fungicidas é suficiente para manejar a mancha alvo no algodoeiro?
Não, o controle químico isolado não é suficiente. A estratégia mais eficaz é o manejo integrado, que combina o uso de fungicidas com boas práticas culturais, como rotação de culturas, manejo da altura das plantas e controle de plantas daninhas. Essa abordagem combinada reduz a pressão da doença e a probabilidade de o fungo desenvolver resistência aos produtos.
Por que a mancha alvo aparece com mais força após o fechamento da entrelinha do algodão?
Após o fechamento da entrelinha, as folhas das plantas se tocam, criando um microclima na parte inferior da planta (o baixeiro) com alta umidade, pouca ventilação e sombreamento. Essas condições são ideais para a germinação dos esporos e o desenvolvimento do fungo Corynespora cassiicola, favorecendo o rápido avanço da doença.
Quais culturas são recomendadas para rotação visando o controle da mancha alvo?
Para quebrar o ciclo da mancha alvo, é ideal fazer a rotação com culturas que não são hospedeiras do fungo, principalmente gramíneas como milho e sorgo. É fundamental evitar a sucessão algodão-soja, pois ambas as culturas são suscetíveis à doença, o que aumenta a quantidade de inóculo (fungo) na área para a safra seguinte.
Como diferenciar os sintomas da mancha alvo de outros problemas que causam manchas nas folhas?
A característica mais distintiva da mancha alvo são as lesões circulares com anéis concêntricos de tecido necrosado, que se assemelham a um alvo de tiro. Outros problemas, como deficiências nutricionais ou toxicidade por defensivos, geralmente causam amarelamento (clorose) mais uniforme ou queima das bordas das folhas, sem a formação desses anéis típicos.
De forma prática, como o NDVI ajuda no monitoramento da mancha alvo?
O NDVI permite identificar focos da doença de forma antecipada. Mapas de NDVI mostram áreas com menor vigor vegetativo, que podem indicar pontos de desfolha inicial causada pela mancha alvo. Com essa informação, é possível direcionar o monitoramento em campo, avaliar a severidade do ataque e decidir o momento ideal para iniciar ou ajustar as aplicações de fungicidas.
Existem variedades de algodão resistentes à mancha alvo?
Atualmente, ainda não existem cultivares de algodão comercialmente disponíveis que apresentem um alto nível de resistência genética à mancha alvo. Por isso, o manejo da doença deve se concentrar em estratégias preventivas e integradas, combinando diferentes ferramentas para retardar o desenvolvimento do fungo e proteger o potencial produtivo da lavoura.
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