A história do agronegócio é marcada por grandes ciclos de mudança, que transformam a maneira como vemos e trabalhamos no campo. Um dos movimentos mais importantes dos últimos anos é, sem dúvida, o avanço da liderança feminina.
Embora as mulheres tenham sido formalmente reconhecidas como trabalhadoras apenas a partir de 1908, elas estão conquistando cada vez mais espaço em todos os setores.
No campo, por muito tempo, o papel da mulher foi visto como secundário, de suporte ao homem nos afazeres da fazenda. Felizmente, este cenário mudou. Nos últimos anos, as mulheres saíram desse segundo plano para assumir posições de liderança em diversas áreas do agronegócio.
Neste artigo, vamos explorar a importância da liderança feminina no agro, entender as mudanças que permitiram esse avanço, conhecer as diferentes formas de atuação da mulher no setor e muito mais.
O Papel Histórico das Mulheres na Agricultura
A liderança feminina no agro não é uma novidade, mas sim um resgate histórico. Afinal, as mulheres foram as pioneiras no cultivo agrícola.
Esta afirmação pode parecer estranha se olharmos apenas para os últimos séculos. No entanto, se voltarmos às aulas de história, lembraremos que os seres humanos deixaram de ser nômades no período Neolítico justamente por dominarem a arte de semear.
Naquela época, a divisão de tarefas era clara: os homens se dedicavam à caça, enquanto o plantio e o cuidado com a terra ficavam sob a responsabilidade das mulheres. Portanto, ao analisar a evolução humana, confirmamos que as mulheres foram as primeiras agricultoras.
Com o crescimento do setor agrícola e pecuário, especialmente em médias e grandes propriedades, os homens assumiram a liderança. Com isso, as mulheres foram deslocadas para papéis secundários ou, muitas vezes, ficaram sem atuação direta no campo.
O Cenário Atual das Mulheres no Agronegócio
A recuperação do espaço feminino no agro aconteceu aos poucos. Para se ter uma ideia, no passado, as faculdades de agronomia tinham a proporção de apenas uma mulher para cada 40 alunos. Hoje, felizmente, esse número está muito mais equilibrado.
Inicialmente, as atividades destinadas às mulheres no agronegócio se concentravam em laboratórios e, com menor frequência, em cargos de gestão.
Atualmente, vemos a liderança feminina crescer em todos os setores. Mulheres atuam como chefes de empresas agrícolas, ocupam altos cargos em multinacionais, trabalham como agrônomas na compra e venda de produtos, prestam consultoria em fazendas e, claro, são donas, administradoras e gestoras de suas próprias propriedades. Em qualquer área do setor, é comum encontrar mulheres em posições de destaque.
Apesar do progresso, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Segundo dados do último Censo Agropecuário de 2017 (IBGE), a realidade é a seguinte:
- De 5,07 milhões de estabelecimentos rurais no Brasil, apenas 19% (947 mil) são dirigidos por mulheres.
- Elas administram cerca de 30 milhões de hectares, o que representa apenas 8,5% da área total cultivada no país.
As principais atividades exercidas por estas mulheres são a pecuária e a produção de lavouras temporárias. Outras áreas de atuação incluem produção florestal, horticultura, floricultura, aquicultura, pesca e produção de sementes certificadas. Estes dados mostram que, mesmo que a passos lentos, as mulheres estão se consolidando cada vez mais no setor agropecuário.
O Crescimento Impulsionado pela Cooperação e Tecnologia
Historicamente, o agronegócio é um setor predominantemente masculino. A inserção feminina foi um processo difícil, mas muitas mulheres abriram caminho ao demonstrar conhecimento, conquistar espaço e ganhar reconhecimento.
Um diferencial marcante nesse processo é a ajuda mútua entre as mulheres do setor. Com o aumento da presença feminina, surgiram diversos grupos de apoio que promovem atividades, palestras, cursos e treinamentos, fortalecendo o conhecimento em todas as áreas do agronegócio.
Algumas das principais iniciativas voltadas para mulheres no agro incluem:
- Semeadoras do Agro;
- Agro Mulher;
- Núcleo Feminino do Agro;
- Revista Mulheres do Agro;
- Agroligadas;
- Prêmio Mulheres do Agro;
- Grupo Unidas pelo Agro.
Esses grupos são criados e administrados por mulheres que vivem o agro na prática. Elas promovem encontros para troca de conhecimento e ajuda mútua, com discussões, eventos online e presenciais, e o compartilhamento de experiências do dia a dia no campo. Com essa união, as mulheres encontram novas formas de enxergar e transformar a agricultura.
Além das organizações, muitas mulheres usam as redes sociais, como o Instagram, para compartilhar o cotidiano, os trabalhos e conteúdo técnico, em páginas como Agro Delas, Mulheres Essência do Agro, Ligia Bronholi Pedrini, Mulheres do Agronegócio Brasil, Agro Mulher Mentoring, e Khiara Campos.
A relevância do movimento é tão grande que, desde 2016, acontece o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA). A última edição, em 2022, reuniu mais de 2.500 mulheres de 26 estados brasileiros e 3 outros países para debater o futuro do setor.
O Papel da Tecnologia na Inclusão
Além da cooperação, o avanço tecnológico foi fundamental para o crescimento da liderança feminina no agro. Antigamente, muitas operações no campo demandavam grande força física, o que era visto como uma desvantagem para as mulheres.
Com a modernização, incluindo tratores, implementos agrícolas, colhedoras, semeadoras, pulverizadores e, mais recentemente, drones, as mulheres passaram a executar essas tarefas com a mesma eficiência.
Como a Liderança Feminina se Destaca no Campo
Ser um bom líder, seja homem ou mulher, vai muito além de dar ordens e gerenciar uma equipe. Liderar é uma tarefa complexa, pois cada membro do time tem suas próprias características, pontos fortes e fracos.
Gerir pessoas exige saber lidar com as diferenças, manter a calma em momentos de estresse e, acima de tudo, ter uma comunicação clara para motivar cada um a dar o seu melhor.
Uma pesquisa da Leadership Circle, que analisou mais de 84 mil líderes, indicou que a liderança feminina tem se mostrado mais eficaz que a masculina. O estudo aponta que as mulheres se destacam na comunicação e na habilidade de transformar um grupo em um time coeso, focado em resultados.
Apesar disso, a liderança feminina no agro ainda enfrenta muito preconceito, exigindo “jogo de cintura” para lidar com certas situações. Mesmo assim, já vemos muitas mulheres atuando como gerentes de fazendas, consultoras, vendedoras, pesquisadoras e administradoras de grandes empresas.
Mulheres que Inspiram: Exemplos de Sucesso
O Prêmio Mulheres do Agro destaca anualmente mulheres que fazem a diferença em pequenas, médias e grandes propriedades rurais. Conheça algumas delas:
- Helga França de Paiva (Grande Propriedade): Ganhadora em 2022, essa engenheira agrônoma e produtora de Ibiá-MG gerencia 5.000 hectares dedicados à soja, milho, produção de sementes e pecuária bovina.
- Mariana Heitor (Média Propriedade): Com 150 hectares e uma produção de 6 mil sacas de café em Patos de Minas-MG, ela exporta seus grãos para países como Reino Unido, Japão e Austrália, além de ter parceria com Nescafé, Nespresso e Starbucks.
- Juliana Rezende Mello (Pequena Propriedade): Formada em Farmácia, Juliana aceitou o desafio de produzir café em uma área de 88 hectares em Monte Carmelo-MG e se tornou um destaque na premiação.
Essas três mulheres são apenas alguns exemplos de lideranças que buscam, diariamente, inovação e melhorias para o setor, alcançando resultados extraordinários.
Os Desafios que as Mulheres Ainda Enfrentam
Toda profissão tem seus desafios, e para as mulheres, a luta por reconhecimento e igualdade é uma constante. No agronegócio não é diferente.
- Igualdade Salarial: Este continua sendo um dos principais obstáculos. A disparidade de salários entre homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos ainda é uma realidade a ser combatida.
- Resistência e Falta de Oportunidades: Embora o cenário esteja melhorando, o setor ainda demonstra resistência em ver mulheres como profissionais capacitadas para certas funções. Algumas empresas ainda preferem contratar homens para vagas que poderiam ser preenchidas por mulheres igualmente ou mais qualificadas.
- Falta de Respeito e Inclusão: A falta de respeito no meio rural é um desafio tão grande que, mesmo hoje, é possível presenciar piadas machistas em eventos do setor, mesmo com a presença de mulheres. Esse tipo de comportamento precisa mudar, não apenas como um desafio para as mulheres, mas como um vício a ser corrigido por toda a sociedade.
As cobranças são constantes, mas, mais uma vez, a cooperação entre produtoras e outras profissionais do agro faz a diferença. Essa união capacita e treina cada vez mais mulheres, abrindo portas e fortalecendo a presença feminina em posições de liderança.
Conclusão
A liderança feminina no agro está em plena expansão e mostra que as mulheres são capazes de desempenhar qualquer papel em todos os setores do agronegócio.
Embora ainda existam muitos desafios a serem superados, já é possível ver inúmeras mulheres se destacando como grandes líderes do setor agrícola no Brasil.
A cooperação entre as mulheres tem sido a chave para gerar mais conhecimento e inclusão, aumentando a quantidade e a qualidade das lideranças femininas.
Os obstáculos que ainda existem apenas fortalecem e impulsionam a presença e a liderança das mulheres, que continuam transformando o futuro do campo.
Glossário
Agronegócio: Refere-se a toda a cadeia produtiva relacionada à agricultura e pecuária. Engloba desde os fabricantes de insumos (sementes, fertilizantes), passando pela produção na fazenda, até o processamento, transporte e comercialização dos produtos.
Agropecuário: Termo que une as atividades de agricultura (cultivo de plantas) e pecuária (criação de animais). Uma fazenda agropecuária, por exemplo, pode plantar soja e criar gado de corte.
Agronomia: Ciência que estuda as plantas, o solo e o ambiente para otimizar a produção agrícola de forma sustentável. Profissionais formados em agronomia (engenheiros agrônomos) atuam em diversas áreas, da consultoria técnica à gestão de propriedades.
Censo Agropecuário: Pesquisa em larga escala, realizada pelo IBGE, que coleta informações detalhadas sobre todos os estabelecimentos rurais do Brasil. Funciona como uma “fotografia” do setor, fornecendo dados sobre área, produção, pessoal ocupado e tecnologia.
CNMA (Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio): O mais importante evento do Brasil focado na presença feminina no setor. Reúne anualmente milhares de mulheres para debater tendências, compartilhar conhecimento e fortalecer o networking.
Hectare (ha): Unidade de medida de área agrária que equivale a 10.000 metros quadrados. Para ter uma ideia prática, um hectare é aproximadamente o tamanho de um campo de futebol oficial.
Lavouras temporárias: Culturas agrícolas de ciclo curto, que precisam ser replantadas após cada colheita, geralmente dentro de um ano. Soja, milho, feijão e algodão são exemplos clássicos.
Propriedade Rural: Estabelecimento localizado em área rural, destinado à exploração agrícola, pecuária, extrativista ou agroindustrial. Pode variar em tamanho, desde pequenas chácaras até grandes fazendas com milhares de hectares.
Ferramentas que fortalecem a liderança no campo
Assumir a gestão de uma propriedade rural, especialmente em cenários de sucessão ou expansão, é um desafio que exige organização e visão estratégica. Para as mulheres que estão à frente de operações complexas, com diferentes culturas e atividades, ter o controle de todos os processos é fundamental para garantir a lucratividade e provar seu valor.
É aqui que a tecnologia se torna uma aliada indispensável. Softwares de gestão como o Aegro ajudam a centralizar o controle financeiro e operacional, simplificando tarefas que vão desde o planejamento da safra até a emissão de notas fiscais. Com relatórios claros e acesso a informações em tempo real pelo celular, a tomada de decisão se torna mais rápida e segura, liberando tempo para focar no que realmente importa: o crescimento do negócio.
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Perguntas Frequentes
Por que se fala em ‘avanço’ da liderança feminina no agro, se o artigo diz que as mulheres foram as primeiras agricultoras?
Embora historicamente as mulheres tenham sido pioneiras no cultivo agrícola no período Neolítico, o modelo de agronegócio dos últimos séculos foi dominado por homens, relegando a mulher a papéis de suporte. O ‘avanço’ atual refere-se ao movimento de mulheres que estão retomando posições de destaque e decisão, assumindo a gestão e a liderança de propriedades e empresas, um espaço que por muito tempo lhes foi negado.
Além da tecnologia, qual o principal fator que impulsiona o crescimento das mulheres no agronegócio hoje?
O principal fator, além da tecnologia, é a cooperação. A criação de grupos, redes de apoio e eventos como o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA) fortalece o setor. Essa união permite a troca de conhecimento, o compartilhamento de experiências e o fortalecimento mútuo, capacitando mais mulheres e abrindo portas para novas oportunidades de liderança.
Quais são os desafios práticos mais comuns que uma mulher líder enfrenta no dia a dia da fazenda?
Além da busca por igualdade salarial, os desafios práticos incluem superar o preconceito e a resistência por parte de funcionários, fornecedores ou parceiros comerciais que ainda não estão acostumados com a liderança feminina. Muitas vezes, elas precisam comprovar sua competência técnica de forma mais incisiva e lidar com comportamentos machistas no ambiente de trabalho.
Como a tecnologia e softwares de gestão, como o Aegro, ajudam a mulher a se destacar na liderança?
A tecnologia nivela o campo de atuação, substituindo a exigência de força física por habilidade técnica e estratégica. Softwares de gestão, especificamente, centralizam o controle financeiro e operacional, permitindo que a líder tome decisões mais rápidas e seguras com base em dados concretos. Isso otimiza a gestão, aumenta a lucratividade e fortalece sua posição como gestora eficiente.
Que conselho o artigo dá para uma mulher que deseja assumir um papel de liderança no agronegócio?
O conselho principal é buscar capacitação e união. Invista em conhecimento técnico, seja através de cursos ou graduação, e conecte-se ativamente com outras mulheres do setor por meio das diversas iniciativas e grupos de apoio mencionados. Essa rede de contatos é fundamental para ganhar confiança, trocar experiências e acelerar seu desenvolvimento como líder.
Em quais áreas do agronegócio a presença de mulheres na gestão é mais comum, segundo os dados do Censo?
De acordo com os dados do último Censo Agropecuário, as mulheres que dirigem estabelecimentos rurais atuam principalmente na pecuária e na produção de lavouras temporárias, como soja e milho. No entanto, sua presença também é crescente e relevante em áreas como produção florestal, horticultura, floricultura e produção de sementes.
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