Você já sabe que as lagartas podem causar grandes prejuízos se não forem controladas a tempo. Nesta safra, por exemplo, muitos produtores estão enfrentando surtos da Helicoverpa armigera em lavouras de soja.
Mas a pergunta é: você consegue identificar com segurança cada tipo de lagarta que ataca sua lavoura? Conhecer seus hábitos, coloração e os danos específicos que causam é fundamental.
Saber exatamente qual praga está no talhão define quando e como agir para proteger a saúde e o potencial produtivo da sua cultura.
Neste guia prático, vamos detalhar as principais lagartas da soja para que você possa tomar as melhores decisões de manejo na sua propriedade.
Principais Lagartas que Ocorrem na Soja
As lagartas são a fase jovem dos insetos da ordem Lepidoptera, que inclui borboletas e mariposas. Nas lavouras de soja, as lagartas de mariposas são as que mais causam danos.
Existem diversas espécies que podem atacar a cultura, desde a fase inicial de desenvolvimento até a fase reprodutiva.
As principais lagartas que merecem sua atenção na cultura da soja são:
- Lagarta-elasmo;
- Lagarta-rosca;
- Lagarta-da-soja;
- Lagarta-falsa-medideira;
- Lagarta-das-maçãs;
- Lagarta-do-cartucho.
Vamos conhecer em detalhes cada uma delas.
Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)
Lagarta-elasmo
(Fonte: Bayer)
A lagarta-elasmo, também conhecida como broca-do-colo, é uma praga perigosa que ataca a soja logo no plantio. Se não for controlada, pode comprometer seriamente o estande da sua lavoura.
Onde e quando ataca:
- Condição ideal: Ocorre principalmente em solos mais arenosos.
- Clima favorável: Precisa de períodos longos de seca para se estabelecer no início da cultura.
Como identificar:
- Cor: As lagartas começam com uma cor esverdeada e se tornam amarronzadas à medida que crescem.
- Tamanho: Podem atingir até
2 cm
de comprimento. - Marcas: Possuem faixas transversais de cor marrom ou avermelhada no dorso.
Sinais e danos na lavoura:
- Seu ataque causa murcha e secamento das folhas, levando a planta à morte.
- Isso acontece porque a lagarta tem o hábito de cortar e criar galerias (broquear) na base das plantas novas.
Período de ocorrência da lagarta-elasmo
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)
Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
Lagarta-rosca
(Fonte: TD Monsanto)
Assim como a elasmo, a lagarta-rosca também ataca na fase inicial da cultura. No entanto, suas condições ideais são diferentes.
Onde e quando ataca:
- Condição ideal: Prefere solos mais úmidos e com alta concentração de matéria orgânica.
- Hábito: Tanto as lagartas quanto as mariposas adultas têm hábitos noturnos. Durante o dia, as lagartas ficam escondidas no solo.
Como identificar:
- Cor: A coloração é variável, mas a mais comum é pardo-acinzentada.
- Tamanho: Pode chegar a
4,5 cm
de comprimento. - Mariposa: O adulto tem cor parda ou marrom, com uma envergadura de asas de cerca de
5 cm
.
Sinais e danos na lavoura:
- Alimenta-se principalmente das hastes, mas também ataca sementes recém-germinadas.
- Causa reboleiras com falhas na germinação, sintoma de “coração morto” e murchamento de plântulas.
Período de ocorrência da lagarta-rosca
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)
Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis)
Esta é a lagarta desfolhadora mais comum em todo o Brasil. Por ser desfolhadora, começa a aparecer a partir do estádio vegetativo V2 (segundo par de folhas trifolioladas).
Como identificar:
- Lagartas menores: Possuem cor verde e podem ser confundidas com a falsa-medideira, pois também se locomovem “medindo palmos”.
- Lagartas maiores: Com cerca de
1,5 cm
, podem ser tanto esverdeadas quanto amarronzadas. Apresentam três linhas brancas longitudinais no dorso.
Sinais e danos na lavoura:
- Alimenta-se preferencialmente do terço superior das plantas.
- À medida que cresce, o consumo de folhas (desfolha) aumenta drasticamente.
- Em altas populações, pode se alimentar também de flores e vagens.
Período de ocorrência da lagarta-da-soja
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)
Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens)
Lagarta-falsa-medideira
(Foto: Bayer)
Outra importante lagarta desfolhadora, a falsa-medideira tem se tornado um grande problema, especialmente quando seus surtos ocorrem junto com a lagarta-da-soja.
Como identificar:
- Cor: Ao nascer, são verde-claras. Após se alimentarem, podem ficar com um tom verde-amarronzado.
- Marcas: Possuem listras brancas longitudinais com pontuações pretas no dorso.
- Movimento: Locomovem-se “medindo palmos”, pois possuem apenas dois pares de pernas abdominais.
Sinais e danos na lavoura:
- Localiza-se principalmente no terço inferior e médio das plantas.
- Consome as folhas deixando as nervuras intactas, o que dá um aspecto de rendilhado à folha.
Período de ocorrência da lagarta-falsa-medideira
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)
Lagarta-das-maçãs (Chloridea (=Heliothis) virescens)
Lagarta-das-maçãs
(Fonte: Pioneer Sementes)
Embora seja a principal praga do algodoeiro, a lagarta-das-maçãs se tornou polífaga nas últimas décadas. Polífaga: significa que a praga se alimenta de diversas culturas diferentes, incluindo a soja.
Como identificar:
- Cor: Inicialmente são verde-claras e, com o tempo, tornam-se mais amarronzadas.
- Tamanho: Podem atingir até
2,5 cm
de comprimento.
Sinais e danos na lavoura:
- Alimenta-se dos ponteiros das plantas, começando pelas folhas novas.
- Em seguida, ataca brácteas, flores e botões florais.
- O dano principal é a redução do número de flores, o que resulta em menor produção de vagens.
Período de ocorrência da lagarta-das-maçãs
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)
Lagarta-do-cartucho (Complexo Spodoptera spp.)
Complexo de Spodoptera spp.
(Fonte: Lavoro)
As lagartas do complexo Spodoptera têm grande importância econômica na soja devido à sua alta voracidade.
- A espécie Spodoptera frugiperda causa danos principalmente nas plântulas (fase inicial).
- Spodoptera eridania e S. cosmioides atacam tanto na fase vegetativa quanto na reprodutiva.
As espécies possuem características morfológicas distintas, por isso a identificação correta é crucial para o manejo.
Sinais e danos na lavoura:
- Na fase inicial, podem cortar as plântulas rente ao solo, com dano semelhante ao da lagarta-rosca.
- Quando atacam na fase reprodutiva, costumam se abrigar no interior das plantas, dificultando o controle.
- Podem atacar desde as plântulas até as vagens.
Período de ocorrência da lagarta-do-cartucho
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)
Como Controlar as Lagartas na Soja?
Não existe uma solução única para controlar todas as lagartas na soja. A estratégia mais eficiente é o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina diferentes táticas de forma inteligente.
O processo começa com o monitoramento constante da lavoura e, com base nos dados coletados, parte-se para a tomada de decisão sobre qual método de controle usar.
Os principais métodos são: controle cultural, genético, biológico e químico.
Vamos ver cada um deles.
1. Controle Cultural
Embora a rotação de culturas tenha efeito limitado (pois muitas lagartas são polífagas), outras práticas culturais são fundamentais para criar um ambiente menos favorável às pragas.
Ações que ajudam a fortalecer a lavoura:
- Destruição de restos culturais: Elimina abrigos para as pragas na entressafra.
- Adubação equilibrada: Plantas bem nutridas são mais tolerantes aos ataques.
- Plantio na época adequada: Evita picos populacionais das pragas.
- Eliminação de hospedeiros alternativos: Controlar plantas daninhas que servem de alimento para as lagartas.
- Tratamento de sementes: Protege as plântulas nos estágios iniciais.
2. Controle Genético
Utilizar variedades de soja geneticamente modificadas, como a tecnologia Intacta RR2 PRO®, ou variedades com resistência natural a insetos é uma ferramenta poderosa.
- Tecnologia Bt: A proteína Bt (Bacillus thuringiensis) presente nessas plantas confere resistência à maioria das lagartas que vimos.
- Área de refúgio: Lembre-se que é obrigatório e essencial plantar uma área de refúgio com soja não-Bt. Isso evita a seleção de insetos resistentes e garante a durabilidade da tecnologia.
3. Controle Biológico
O controle biológico usa inimigos naturais para controlar as lagartas. Isso pode acontecer de forma natural na lavoura ou através da aplicação de produtos biológicos (bioinseticidas).
Exemplos de organismos usados no controle:
- Baculovirus: Vírus específico que infecta e mata lagartas.
- Beauveria bassiana: Fungo que causa doenças em insetos.
- Bacillus thuringiensis (Bt): Bactéria aplicada via pulverização que é tóxica para as lagartas.
- Trichogramma pretiosum: Vespinha que parasita os ovos das mariposas, impedindo o nascimento das lagartas.
4. Controle Químico
Dentro do MIP, o controle com inseticidas é uma ferramenta importante, mas deve ser usada de forma consciente e apenas quando o nível de infestação atingir o nível de ação.
- Evite aplicação calendarizada: Pulverizar com base em um calendário fixo, sem monitoramento, pode aumentar seus custos e piorar o problema a longo prazo, selecionando pragas resistentes.
- Consulte um profissional: Sempre procure um(a) Engenheiro(a) Agrônomo(a) para a recomendação do produto e dose corretos. Leia a bula.
- Escolha produtos seletivos: No Agrofit (MAPA), há diversos inseticidas registrados. Dê preferência àqueles que são mais seletivos, ou seja, que afetam menos os inimigos naturais presentes na lavoura.
- Atenção à tecnologia de aplicação: Como vimos, algumas lagartas ficam no terço inferior (falsa-medideira) e outras no terço superior (lagarta-da-soja). Ajustar a tecnologia de aplicação (bicos, volume de calda) é crucial para que o produto atinja o alvo corretamente.
Para mais informações sobre controle, confira estes artigos:
- Inseticidas para soja: Faça eles se pagarem
- Inseticida natural: Como ele pode ajudar no manejo da sua lavoura
- Passo a passo de como combater a lagarta-do-cartucho
- 5 tecnologias para controlar a “Helicoverpa armigera” eficientemente
- Falsa-medideira: Como controlar essa lagarta de uma vez por todas
Conclusão
Neste artigo, você viu em detalhes as principais lagartas que atacam a soja. Vimos que algumas focam na fase inicial da cultura, enquanto outras podem causar danos do início ao fim do ciclo.
Entender os sintomas característicos de cada uma é o primeiro passo para uma identificação correta no campo.
Para um controle eficiente e sustentável, a melhor estratégia é sempre o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Combinar diferentes táticas, baseadas em um bom monitoramento, garantirá os melhores resultados e a proteção da sua produtividade.
Glossário
Área de refúgio: Porção da lavoura plantada com sementes convencionais (sem a tecnologia Bt) ao lado da cultura transgênica. Essa prática é fundamental para retardar a evolução de lagartas resistentes, garantindo a durabilidade da tecnologia.
Desfolhadora: Tipo de lagarta que se alimenta principalmente das folhas da planta. Este dano reduz a capacidade da planta de realizar fotossíntese, o que pode impactar diretamente a produtividade.
Estande: Termo técnico para a população final de plantas estabelecidas em uma determinada área (por exemplo, plantas por metro). Um estande irregular ou baixo, causado por pragas iniciais como a lagarta-elasmo, compromete o potencial produtivo da lavoura.
Lepidoptera: Ordem científica de insetos que agrupa as borboletas e mariposas. As lagartas, que são a fase larval (jovem) desses insetos, são responsáveis pelos danos nas lavouras de soja.
Manejo Integrado de Pragas (MIP): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (cultural, biológico, genético e químico) de forma inteligente. As decisões são baseadas no monitoramento da lavoura, usando inseticidas apenas quando a população da praga atinge um nível de dano econômico.
Polífaga: Característica de uma praga que consegue se alimentar de diversas espécies de plantas. Pragas polífagas são mais difíceis de controlar, pois podem sobreviver e se multiplicar em diferentes culturas ou até mesmo em plantas daninhas.
Rendilhado: Dano típico da lagarta-falsa-medideira, que consome o tecido da folha mas deixa as nervuras intactas. O resultado é uma folha com aparência de renda ou de uma tela.
Tecnologia Bt: Refere-se a plantas geneticamente modificadas que produzem proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt). Essas proteínas são tóxicas para a maioria das lagartas, funcionando como um inseticida embutido na planta.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) exige um acompanhamento rigoroso, desde o monitoramento no talhão até a escolha do momento certo para agir. Manter esses registros em planilhas ou cadernos pode ser complicado e levar a erros. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza todas as informações: você pode registrar as contagens de pragas diretamente no campo pelo celular, gerar mapas de infestação e planejar as aplicações com base em dados reais, garantindo que o controle seja feito na hora certa e apenas onde é necessário.
Além disso, cada aplicação de defensivo impacta diretamente os custos de produção. Ao registrar as operações no sistema, você acompanha exatamente quanto está gastando com inseticidas por talhão e consegue analisar o custo-benefício de cada estratégia. Esse controle financeiro detalhado é fundamental para evitar desperdícios e proteger a lucratividade da sua safra.
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença entre a lagarta-da-soja e a falsa-medideira?
A principal diferença está no comportamento e no dano. A falsa-medideira se locomove “medindo palmos” e ataca o terço inferior e médio da planta, deixando as folhas com aspecto rendilhado. Já a lagarta-da-soja possui mais pernas, não se move dessa forma e prefere se alimentar no terço superior da planta, causando desfolha intensa.
O que devo fazer primeiro ao identificar lagartas na minha lavoura de soja?
O primeiro passo é realizar o monitoramento para identificar corretamente a espécie e estimar o nível de infestação. Com base na quantidade de lagartas por metro e no estágio de desenvolvimento da cultura, um engenheiro agrônomo poderá indicar se o Nível de Ação foi atingido e qual a melhor estratégia de controle dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Por que a área de refúgio é obrigatória ao usar soja com tecnologia Bt?
A área de refúgio, plantada com soja não-Bt, é essencial para retardar o desenvolvimento de lagartas resistentes à tecnologia. Ela permite que mariposas suscetíveis se acasalem com as potencialmente resistentes, gerando descendentes que ainda podem ser controlados pela proteína Bt, garantindo assim a longevidade e eficácia da tecnologia.
O clima no início da safra influencia no tipo de lagarta que pode aparecer?
Sim, o clima é um fator crucial. A lagarta-elasmo, por exemplo, prospera em solos arenosos e períodos de seca no início do ciclo. Por outro lado, a lagarta-rosca prefere solos mais úmidos e com alta concentração de matéria orgânica para atacar as plântulas de soja.
É possível controlar as lagartas da soja sem usar inseticidas químicos?
Sim, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) prioriza diversas táticas. O controle biológico, com o uso de vírus (Baculovirus), bactérias (Bt em pulverização) e vespas parasitoides (Trichogramma), é uma alternativa muito eficaz. Além disso, práticas culturais e o uso de variedades geneticamente modificadas (tecnologia Bt) reduzem significativamente a necessidade de aplicações químicas.
Qual a importância da tecnologia de aplicação no controle de lagartas na soja?
A tecnologia de aplicação é fundamental para o sucesso do controle. Lagartas como a falsa-medideira se alojam no interior e na parte inferior das plantas. Portanto, é crucial ajustar bicos de pulverização, volume de calda e velocidade para garantir que o produto atravesse a folhagem e atinja o alvo, caso contrário, a aplicação terá baixa eficiência.
Artigos Relevantes
- Falsa-medideira: Como controlar essa lagarta de uma vez por todas: Enquanto o guia principal identifica a falsa-medideira, este artigo foca exclusivamente nela, explicando por que se tornou uma praga primária e fornecendo níveis de ação concretos (desfolha e contagem). Ele agrega um valor imenso ao listar produtos químicos e biológicos específicos, respondendo diretamente à pergunta de ‘como agir’ de forma detalhada.
- Controle biológico das lagartas da soja: Este artigo aprofunda de forma exemplar a seção de ‘Controle Biológico’ do guia principal, que apenas introduz o conceito. Ele detalha o modo de ação de agentes como Baculovírus e Trichogramma, transformando a teoria do Manejo Integrado de Pragas (MIP) em uma estratégia prática e aplicável para o produtor.
- As 4 principais pragas no plantio da soja e como combatê-las: Este artigo complementa o guia ao criar um foco temático nas pragas de início de ciclo, como a lagarta-elasmo e a rosca, mencionadas no texto principal. Ele expande o problema do estabelecimento do estande, contextualizando essas lagartas junto a outras ameaças de solo e detalhando táticas cruciais como o tratamento de sementes.
- Guia completo para o manejo da lagarta-preta (Spodoptera cosmioides): O guia principal agrupa o ‘Complexo Spodoptera’, mencionando a importância da identificação correta; este artigo resolve essa lacuna. Ele foca na Spodoptera cosmioides, oferecendo um guia visual claro para diferenciá-la de outras Spodoptera, o que é um conhecimento prático e essencial para a escolha do manejo correto.
- Lagarta-das-folhas (Spodoptera eridania): entenda como identificar e controlar esta praga na sua lavoura!: Similar ao artigo sobre a lagarta-preta, este material aprofunda o ‘Complexo Spodoptera’ focando na Spodoptera eridania. Seu valor único está em detalhar as plantas hospedeiras e as de rotação (como o milheto), oferecendo uma estratégia de manejo cultural preventiva que o artigo principal não aborda com essa especificidade.