A lagarta-das-folhas (Spodoptera eridania), também chamada de lagarta-das-vagens, é uma praga que ataca diversos tipos de cultura. Ela pode ser encontrada em lavouras de soja (Glycine max), arroz (Oryza sativa), milho (Zea mays) e muitas outras.
Até pouco tempo, essa lagarta era vista como uma praga secundária, ou seja, que não causava grandes prejuízos. No entanto, nas últimas safras, produtores do Centro-Oeste e do Sul do Brasil notaram um aumento preocupante na sua população e nos danos causados.
O problema vai além do consumo de folhas e caules. O ataque da lagarta-das-folhas também provoca uma queda na qualidade do que é colhido, afetando a rentabilidade da fazenda.
Neste guia completo, vamos mostrar como identificar a lagarta-das-folhas em cada estágio, entender quais plantas servem de abrigo para ela na entressafra e detalhar os métodos de controle mais eficientes. Boa leitura!
Como Identificar a Spodoptera eridania em Todas as Fases
Para um controle eficaz, não basta reconhecer a mariposa; é fundamental identificar a praga em todos os seus estágios de desenvolvimento: ovos, lagarta e pupa.
Mariposas (Fase Adulta)
Os adultos de Spodoptera eridania são mariposas que medem entre 3,3 cm e 3,8 cm. Suas asas têm tons de cinza e marrom, com marcas irregulares em preto e marrom. Algumas podem apresentar pontos arredondados ou uma faixa preta larga nas asas, o que ajuda na identificação.
Ovos
Os ovos da lagarta-das-folhas são arredondados e sua cor varia do amarelo ao verde. Uma característica importante é que a fêmea os cobre com escamas do próprio corpo para protegê-los.
Cada fêmea pode colocar até 800 ovos durante seu ciclo de vida, que dura cerca de 40 dias, variando conforme a temperatura e a planta hospedeira.
Ovos de Spodoptera eridania em laboratório. Na figura A é possível observar as escamas depositadas pela mariposa para proteger a postura.
(Fonte: Efrom, 2013)
Lagartas e Pupas
O período em que a Spodoptera eridania permanece como lagarta dura entre 15 e 19 dias. Após essa fase, ela se enterra no solo para se transformar em pupa, geralmente a uma profundidade de 5 cm a 10 cm.
O período pupal — a fase de casulo antes de virar mariposa — dura de 9 a 11 dias.
Dicas para Encontrar a Lagarta na Lavoura
Para localizar a lagarta-das-folhas, inspecione as plantas com atenção, principalmente no baixeiro. Elas preferem a parte de baixo das folhas para se protegerem da luz do sol.
A maior atividade da lagarta ocorre durante a noite, período em que saem para se alimentar de forma mais intensa.
Gráfico mostrando os dois principais clados de Spodoptera. Clados: são grupos de espécies que vêm de um mesmo ancestral comum. Entender esses grupos ajuda na identificação correta.
(Fonte: Kergoar e colaboradores, 2021)
Como Diferenciar as Principais Lagartas Spodoptera
Identificar corretamente a espécie de Spodoptera é crucial, pois o manejo pode variar para cada uma. Veja as características que distinguem as mais comuns.
Spodoptera frugiperda (Lagarta-do-cartucho)
Esta lagarta é facilmente reconhecida por ter um “Y” invertido na cabeça. Outro detalhe importante são quatro pontos pretos que formam um quadrado no final do seu corpo.
Detalhes para identificar a S. frugiperda no campo: (a) mariposas, (b) ovos, (c) lagartas recém-nascidas, (d-f) lagarta em estágio final, e (g) pupa.
(Fonte: Hickel, 2020)
Spodoptera eridania (Lagarta-das-folhas)
A lagarta-das-folhas possui uma marca distinta: diversos triângulos negros ao longo do corpo. Além disso, ela tem uma listra branca ou amarela no primeiro segmento do abdômen, mas essa listra não se estende até a cabeça.
Observe os triângulos pretos ao longo do corpo da lagarta S. eridania, uma característica chave para sua identificação no campo.
(Fonte: Tomquelski e colaboradores, 2020)
Spodoptera cosmioides
Esta espécie se destaca por ter três listras alaranjadas que percorrem todo o corpo, chegando até a cabeça. Acompanhando essas listras, é comum observar vários pontos brancos.
As listras alaranjadas e os pontos brancos são as marcas registradas da S. cosmioides.
(Fonte: Phytus Group In: Agrobayer)
Danos Causados pela Lagarta-das-Folhas
A Spodoptera eridania provoca uma desfolha intensa, deixando as folhas com um aspecto de esqueletização.
Em outras palavras: Esqueletização significa que a lagarta come o tecido da folha, mas deixa as nervuras, fazendo com que pareça um esqueleto.
Conforme se desenvolvem, as lagartas passam a atacar também as partes reprodutivas das plantas, como flores, frutos, vagens de soja e as cápsulas do algodão. O resultado direto é uma redução drástica na qualidade e no peso dos grãos e fibras colhidos.
Em situações de estresse ou alta infestação, elas podem consumir ramos, caules e outras partes da planta próximas ao solo.
Dano típico da lagarta-das-folhas (S. eridania) em soja, com o aspecto de “esqueletização” das folhas.
(Fonte: Teodoro e colaboradores, 2013)
Desde a safra de 2007, a presença dessa lagarta tem crescido anualmente, com populações cada vez maiores. Uma das principais causas desse aumento é o uso excessivo e não rotacionado de inseticidas piretroides. Esses produtos não são seletivos, ou seja, matam tanto a praga quanto seus inimigos naturais, causando um desequilíbrio que favorece a lagarta.
Outros fatores que contribuem para o problema são:
- Falta de monitoramento constante da praga.
- Não fazer a rotação de princípios ativos dos inseticidas.
- Tentar controlar a praga apenas quando a população já está muito alta.
Quais Culturas a Spodoptera eridania Ataca?
A lagarta-das-folhas é uma praga polífaga, o que significa que se alimenta de uma grande variedade de plantas. As culturas agrícolas mais afetadas incluem:
Além dessas, ela também ataca girassol, colza, mandioca, azevém, fruteiras e plantas ornamentais.
Saber quais plantas são hospedeiras é fundamental para planejar o manejo. Se a sua cultura principal é um alvo, você pode usar a rotação com espécies não hospedeiras para quebrar o ciclo da praga.
Cultura desfavorável (boa para rotação): O milheto é uma ótima opção, pois a lagarta não consegue se alimentar e se reproduzir bem nessa cultura.
Culturas favoráveis (EVITAR na entressafra): Plantas como feijão-de-porco, nabo-forrageiro e crotalária servem de “ponte verde” para a praga e devem ser evitadas em áreas com histórico de infestação.
Muitas plantas daninhas também são hospedeiras. Fique atento a:
- Língua-de-vaca (Rumex obtusifolius)
- Caruru (Amaranthus retroflexus)
- Crista-de-galo (Celosia cristata)
- Buva (Conyza canadensis)
- Corda-de-viola (Ipomoea spp.)
- Mamona (Ricinus communis)
- Capim-elefante (Pennisetum purpureum)
Como Controlar a Lagarta-das-Folhas
O primeiro passo é o monitoramento. Faça uma amostragem em pelo menos 10 pontos aleatórios da lavoura. A ação de controle deve começar se você encontrar:
- 30% de desfolha na fase vegetativa da cultura;
- 15% de desfolha na fase reprodutiva.
Atingido esse nível, é hora de aplicar o MIP (Manejo Integrado de Pragas).
O que é MIP? O MIP é uma estratégia que combina diferentes métodos de controle (cultural, biológico, químico, etc.) de forma inteligente e sustentável, em vez de depender apenas de uma única solução.
Para te ajudar, você pode usar nossa planilha de manejo integrado de pragas. Clique na imagem a seguir para baixar sem qualquer custo:
Controle Biológico
O controle biológico usa organismos vivos para combater a praga. Uma abordagem comum é a aplicação de produtos à base de fungos entomopatogênicos.
Fungos entomopatogênicos: são fungos que causam doenças em insetos, ajudando a controlá-los naturalmente.
Os mais eficazes contra a lagarta-das-folhas são:
- Beauveria bassiana
- Metarhizium anisopliae
- Nomuraea sp.
Para que esses produtos funcionem bem, a aplicação deve ser feita em condições de alta umidade relativa do ar.
Outra opção são os baculovírus. É fundamental usar o vírus específico para a Spodoptera eridania, pois cada espécie de lagarta é controlada por uma cepa diferente de baculovírus.
Controle Químico
Para o controle químico, utilize apenas produtos registrados para a cultura no MAPA. Consulte a plataforma Agrofit e siga sempre a recomendação de um Engenheiro Agrônomo, que irá adequar a escolha do produto às condições da sua lavoura.
Os principais grupos químicos recomendados são:
- Espinosinas
- Diamidas
- Organofosforados: Potencializam o controle, mas use com cuidado para não eliminar os inimigos naturais.
- Reguladores de crescimento de insetos
- Produtos biológicos à base de bactérias, como o Bacillus thuringiensis (Bt).
Atualmente, o Agrofit lista 28 produtos comerciais com recomendação de uso contra essa praga.
Conclusão
A lagarta-das-folhas (Spodoptera eridania) é uma praga versátil, com um grande número de plantas hospedeiras, o que torna o monitoramento e o controle tarefas indispensáveis na fazenda.
Aprender a identificar a lagarta em todas as suas fases de desenvolvimento é o primeiro passo para agir no momento certo e evitar danos econômicos.
Lembre-se: antes de aplicar qualquer produto para controle, consulte um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a). A orientação profissional é a garantia de uma aplicação segura, eficaz e que protege a sua produtividade.
Glossário
Esqueletização: Dano causado por lagartas que consomem o tecido de uma folha, mas deixam as nervuras intactas. O resultado é uma folha que se assemelha a um esqueleto.
Fungos entomopatogênicos: Microrganismos, como o fungo Beauveria bassiana, que causam doenças em insetos. São utilizados no controle biológico como uma alternativa aos inseticidas químicos.
Inimigos naturais: Organismos que predam, parasitam ou causam doenças em pragas agrícolas. O uso de inseticidas não seletivos pode eliminar esses aliados do produtor, causando desequilíbrios.
MIP (Manejo Integrado de Pragas): Uma estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, químico, cultural) de forma sustentável. O objetivo é manter as pragas em níveis que não causem danos econômicos, em vez de tentar erradicá-las completamente.
Período pupal: Fase do ciclo de vida de um inseto, como a mariposa, em que a lagarta se transforma em um casulo (pupa) antes de se tornar adulta. No caso da Spodoptera eridania, ocorre no solo.
Polífaga: Característica de uma praga que se alimenta de uma grande variedade de plantas. A lagarta-das-folhas é polífaga por atacar culturas como soja, milho, algodão e muitas outras.
Ponte verde: Ocorrência de plantas hospedeiras (cultivadas ou daninhas) que permanecem vivas na entressafra, servindo de abrigo e alimento para pragas. Isso permite que a praga sobreviva e infeste a próxima safra.
Praga secundária: Uma praga que, em condições normais, não causa grandes prejuízos econômicos. No entanto, pode se tornar um problema sério devido a desequilíbrios no agroecossistema, como a eliminação de seus inimigos naturais.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O monitoramento constante e a aplicação do Manejo Integrado de Pragas (MIP), como detalhado no artigo, são essenciais. No entanto, registrar as informações de cada amostragem no campo e, ao mesmo tempo, conectar isso ao controle de estoque de defensivos e aos custos da operação pode ser um grande desafio. Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse processo, permitindo que você registre as infestações diretamente pelo celular, no talhão. Com base nesses dados, é possível planejar as aplicações de defensivos com mais precisão, garantindo que o controle seja feito no momento certo e com o produto correto, tudo enquanto o sistema atualiza automaticamente os custos de produção.
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Perguntas Frequentes
Por que a lagarta-das-folhas (Spodoptera eridania) se tornou uma praga tão preocupante nos últimos anos?
A Spodoptera eridania, antes considerada uma praga secundária, tornou-se mais problemática devido a desequilíbrios no campo. O uso excessivo de inseticidas não seletivos, como os piretroides, eliminou muitos de seus inimigos naturais. Isso, somado à falta de rotação de princípios ativos, permitiu que sua população crescesse sem controle, causando mais danos às lavouras.
Qual a maneira mais fácil de diferenciar a lagarta-das-folhas da lagarta-do-cartucho no campo?
A forma mais prática é observar as marcas no corpo. A lagarta-do-cartucho (S. frugiperda) tem um característico “Y” invertido na cabeça e quatro pontos pretos formando um quadrado no final do corpo. Já a lagarta-das-folhas (S. eridania) é identificada por uma série de triângulos pretos ao longo de suas laterais.
Em que parte da planta e em qual horário é mais fácil encontrar a lagarta-das-folhas?
A lagarta-das-folhas prefere se abrigar do sol e de predadores, por isso é mais comum encontrá-la na parte de baixo das plantas (baixeiro), escondida sob as folhas. Sua maior atividade de alimentação ocorre durante a noite, tornando este o melhor período para avaliar a intensidade do ataque.
O que exatamente significa o dano de “esqueletização” nas folhas?
Esqueletização é o dano típico onde a lagarta consome o tecido foliar (limbo), mas deixa as nervuras intactas. Isso faz com que a folha pareça um esqueleto, reduzindo drasticamente a capacidade da planta de realizar fotossíntese e, consequentemente, afetando seu desenvolvimento e a produtividade final.
Quando devo iniciar o controle químico da Spodoptera eridania na minha lavoura?
O controle deve ser iniciado com base no monitoramento e nos níveis de dano. A recomendação geral é agir quando a lavoura atingir 30% de desfolha durante a fase vegetativa ou 15% de desfolha na fase reprodutiva. Agir nesses momentos evita perdas econômicas significativas.
Quais plantas de cobertura devo evitar na entressafra para não criar uma “ponte verde” para esta praga?
Para quebrar o ciclo da praga, evite plantas hospedeiras como feijão-de-porco, nabo-forrageiro e crotalária, que servem de alimento e abrigo para a Spodoptera eridania. Uma excelente alternativa para rotação é o milheto, uma cultura desfavorável ao desenvolvimento desta lagarta.
É possível controlar a lagarta-das-folhas apenas com métodos biológicos?
Sim, o controle biológico é uma ferramenta muito eficaz, utilizando fungos como Beauveria bassiana ou baculovírus específicos. No entanto, sua eficiência depende de condições ideais, como alta umidade. Em infestações elevadas, a melhor estratégia é integrar o controle biológico ao químico dentro de um plano de Manejo Integrado de Pragas (MIP) para garantir resultados mais robustos e sustentáveis.
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