Irrigação por Superfície: Como Funciona, Tipos e Quando Vale a Pena

Redator parceiro Aegro.
Irrigação por Superfície: Como Funciona, Tipos e Quando Vale a Pena

A agricultura irrigada é uma ferramenta essencial para garantir que as plantas recebam a água de que precisam, especialmente quando as chuvas não são suficientes para manter a umidade ideal no solo. Existem três grandes grupos de métodos de irrigação: por superfície, por aspersão e a irrigação localizada.

A escolha do sistema ideal depende da realidade de cada produtor, levando em conta o dinheiro disponível para investir, as características do terreno e as culturas que serão plantadas.

Dentro dessas opções, a irrigação por superfície se destaca como uma alternativa interessante para produtores que trabalham em áreas planas e com solos mais pesados (argilosos). Adotar um método de irrigação como este é uma forma eficaz de evitar o estresse hídrico, que pode causar sérios danos à sua lavoura.

Neste artigo, vamos detalhar como funciona o método de irrigação por superfície, suas vantagens, desvantagens e os pontos que você precisa analisar antes de implantá-lo. Boa leitura!

Como funciona o método de irrigação por superfície?

A irrigação por superfície funciona de uma maneira bastante direta: o método consiste em cobrir o solo com uma camada (lâmina) de água, que aos poucos vai se infiltrando no perfil do solo.

Perfil do solo: significa todas as camadas do solo, da superfície até a rocha-mãe.

A água é aplicada diretamente no terreno e se move pela força da gravidade, sem a necessidade de bombas de alta pressão para espalhá-la. Por isso, este método também é muito conhecido como irrigação por gravidade.

Quando a água se acumula na superfície, ela cria uma pressão natural que a empurra para as camadas mais secas do solo. Esse movimento continua até que a umidade se equilibre em todo o perfil do solo alcançado pela água.

O sucesso desse método depende totalmente das características do solo, como sua capacidade de reter água, a velocidade de escoamento e a taxa de infiltração. É fundamental analisar esses fatores antes de decidir pela implantação de um sistema de irrigação por superfície, pois eles influenciam diretamente nos cálculos de quanta água usar e com que frequência irrigar.

O que é irrigação por subsuperfície?

Existe também a irrigação de subsuperfície, uma variação onde a água é aplicada diretamente nas camadas mais profundas do solo, em vez de na superfície. O objetivo é elevar artificialmente o nível do lençol freático, que é a reserva de água subterrânea mais próxima da superfície.

Ao fazer isso, a água sobe por capilaridade e fica mais disponível para as raízes das plantas. Este método é mais indicado para áreas onde o lençol freático já é naturalmente pouco profundo.

Diferença entre irrigação por faixas, sulcos e inundação

A irrigação por superfície se divide em três tipos principais: sulcos, faixas e inundação. Cada um tem suas particularidades e é recomendado para situações específicas.

  • Irrigação por Sulcos: Neste sistema, são abertos pequenos canais paralelos ao longo das linhas de plantio. A água corre por esses sulcos, molhando a terra na entrelinha e infiltrando lateralmente para chegar até as raízes das plantas. É muito comum em culturas como milho, cana-de-açúcar e hortaliças.

  • Irrigação por Faixas: Aqui, o terreno é dividido em faixas longas e estreitas, separadas por pequenas elevações de terra (diques). A água é liberada na parte mais alta da faixa e escorre até o final, cobrindo toda a área demarcada. O nivelamento do terreno é crucial para que a água se espalhe de forma uniforme.

  • Inundação (ou por Tabuleiros): Este sistema consiste em aplicar uma lâmina de água sobre uma área inteira, que é cercada por diques para conter a água. É o método tradicionalmente usado no cultivo de arroz irrigado, onde a lavoura fica submersa durante grande parte do ciclo.

composição de três fotografias que demonstram diferentes métodos de irrigação por superfície. A cena da esquer Exemplo de campo com irrigação de superfície por sulcos, faixas e inundação total. (Fonte: Seduc)

As 3 Fases da Irrigação Superficial

O processo completo de uma irrigação por superfície acontece em três etapas bem definidas. Entender essas fases ajuda a manejar o sistema de forma mais eficiente.

1. Fase de Avanço

Esta é a primeira etapa, que começa quando a água é liberada e se espalha pela área a ser irrigada (seja um sulco, uma faixa ou um tabuleiro). O objetivo é que a frente de água avance de forma uniforme até cobrir toda a extensão planejada. A velocidade desse avanço depende da vazão da água e da inclinação do terreno.

2. Fase de Infiltração (ou de Armazenamento)

Esta fase começa assim que a lâmina de água cobre toda a área e se estabiliza. Ela dura até o momento em que o fornecimento de água é cortado. Durante este tempo, a principal ação é a infiltração da água no perfil do solo, reabastecendo a umidade disponível para as plantas.

3. Fase de Recesso

O recesso começa logo após a interrupção do fornecimento de água e termina quando toda a água que estava na superfície escoa ou se infiltra completamente. Mesmo com a água desligada, o solo continua absorvendo e distribuindo a umidade em suas camadas mais profundas.

Vantagens e Desvantagens Desse Método de Irrigação

Como qualquer sistema, a irrigação por superfície tem pontos fortes e fracos. É crucial pesar os dois lados antes de tomar uma decisão.

Vantagens Principais

  • Baixo Custo de Implantação: Exige menos equipamentos complexos (bombas, tubulações, aspersores), o que reduz o investimento inicial.
  • Baixo Custo de Energia: Como utiliza a gravidade para mover a água, o consumo de energia elétrica ou combustível é mínimo ou zero.
  • Não Exige Água Totalmente Limpa: O sistema tolera água com mais sedimentos em suspensão, ao contrário de sistemas localizados que podem entupir.
  • Operação Simples: O manejo diário não requer conhecimento técnico avançado.
  • Adaptável a Várias Culturas: Pode ser utilizado em uma ampla gama de culturas, desde grãos e pastagens até fruteiras.
  • Pouca Influência do Vento: O vento não afeta a distribuição da água, um problema comum na irrigação por aspersão que causa desuniformidade.

Desvantagens a Considerar

  • Baixa Uniformidade de Distribuição: Especialmente no método por sulcos, pode ser difícil garantir que toda a área receba a mesma quantidade de água.
  • Menor Controle da Lâmina de Água: É mais complicado aplicar uma quantidade exata de água por área, o que pode levar ao desperdício.
  • Alta Necessidade de Mão de Obra: Exige mais trabalho manual para abrir e fechar comportas, além de monitorar o avanço da água.
  • Dificuldade na Fertirrigação: A aplicação de fertilizantes junto com a água é mais complexa e menos precisa.
  • Pode Aumentar a Acidez do Solo: O excesso de água pode lavar nutrientes importantes (lixiviação), contribuindo para a acidificação do solo a longo prazo.
  • Baixa Eficiência: A eficiência de uso da água fica entre 40% e 65%. Isso significa que uma parte significativa da água aplicada se perde por escoamento superficial ou percolação profunda, sem ser aproveitada pelas plantas.
  • Risco de Salinização: O uso de grandes volumes de água, especialmente se ela tiver alta concentração de sais, pode levar ao acúmulo de sal no solo.

É o sistema certo para você? 5 Fatores a Avaliar

Antes de decidir pela irrigação por superfície, analise os seguintes pontos para ver se ela se encaixa na sua realidade.

  1. Capacidade de Investimento: Se o orçamento é limitado, este sistema é uma das opções mais viáveis devido ao seu baixo custo de implementação e operação.
  2. Tipo de Solo e Relevo: É mais recomendado para solos pesados/argilosos, que seguram mais a água e permitem uma infiltração mais lenta e controlada. O terreno deve ser plano ou com declive muito suave e uniforme.
  3. Culturas a Serem Implantadas: É muito usado na cultura do arroz, mas se adapta bem a diversas outras culturas que se desenvolvem em áreas planas, como pastagens, cana-de-açúcar e alguns grãos.
  4. Tamanho da Propriedade: O método pode ser usado tanto em pequenas quanto em grandes propriedades. No entanto, em áreas maiores, o planejamento e o monitoramento da distribuição da água precisam ser muito mais rigorosos para garantir a uniformidade.
  5. Disponibilidade de Mão de Obra: Esteja ciente de que este método exige mais gente para operar e monitorar em comparação com sistemas automatizados.

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Conclusão: A Irrigação por Superfície Vale a Pena?

A irrigação por superfície é um método tradicional, de baixo custo de implantação e operação, o que a torna uma solução muito atraente para produtores em áreas planas e com solos argilosos.

Sua principal desvantagem é a baixa eficiência no uso da água, pois exige um alto volume para irrigar a área. No entanto, em cenários de chuvas irregulares e risco constante de falta de água no solo, ela pode ser a chave para aumentar a produtividade e evitar perdas significativas na safra.

Para tomar a melhor decisão para a sua fazenda, converse com um engenheiro agrônomo ou um técnico especializado. Ele poderá analisar as condições da sua área e ajudar a definir o sistema de irrigação mais adequado.

Leia mais: “Proirriga: saiba como financiar a irrigação da fazenda”


Glossário

  • Estresse hídrico: Condição negativa que ocorre quando uma planta não recebe água suficiente, o que afeta seu crescimento, desenvolvimento e produtividade. É como uma pessoa sentir sede a ponto de não conseguir realizar suas atividades diárias.

  • Fertirrigação: Técnica que consiste em aplicar fertilizantes diluídos diretamente na água de irrigação. É uma forma de “alimentar” e regar a lavoura ao mesmo tempo, embora seja de difícil aplicação em sistemas de superfície.

  • Lâmina de água: Refere-se à altura da camada de água aplicada sobre a superfície do solo, geralmente medida em milímetros (mm). Uma lâmina de 10 mm, por exemplo, equivale a aplicar 10 litros de água em cada metro quadrado da área.

  • Lençol freático: A reserva de água subterrânea mais próxima da superfície do solo. Em métodos como a irrigação por subsuperfície, o objetivo é elevar artificialmente o nível deste lençol para umedecer as raízes das plantas por baixo.

  • Lixiviação: Processo de “lavagem” do solo causado pelo excesso de água, que arrasta nutrientes importantes (como nitrogênio e potássio) para camadas mais profundas, fora do alcance das raízes. Este fenômeno pode empobrecer e acidificar o solo.

  • Percolação profunda: Movimento da água de irrigação para baixo, que ultrapassa a zona das raízes das plantas e não pode mais ser absorvida por elas. É uma das principais fontes de desperdício e baixa eficiência em sistemas de irrigação.

  • Perfil do solo: Um “raio-x” vertical do solo, que mostra suas diferentes camadas (horizontes) desde a superfície até a rocha-mãe. Analisar o perfil é fundamental para entender a capacidade de infiltração e armazenamento de água do terreno.

  • Salinização: O acúmulo excessivo de sais minerais na superfície do solo, que pode torná-lo tóxico para as plantas. Ocorre principalmente quando a água de irrigação, rica em sais, evapora e deixa os resíduos para trás.

Veja como a tecnologia pode otimizar seu sistema de irrigação

Ainda que a irrigação por superfície tenha um baixo custo de implantação, desafios como a alta necessidade de mão de obra e a baixa eficiência no uso da água podem impactar a rentabilidade da safra. Controlar esses custos operacionais e garantir que cada tarefa seja executada no tempo certo é fundamental para que o método realmente valha a pena.

É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. Com ele, você consegue registrar todos os custos relacionados à irrigação — desde as horas de trabalho da equipe até o consumo de água por talhão. Isso gera relatórios claros que mostram o custo real da sua produção e ajudam a tomar decisões mais seguras, como identificar se é o momento de investir em um sistema mais eficiente ou como otimizar a mão de obra atual.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre a irrigação por superfície e a por aspersão?

A principal diferença está no método de aplicação da água e no custo. A irrigação por superfície utiliza a gravidade para espalhar a água sobre o solo, exigindo baixo investimento e consumo de energia. Já a irrigação por aspersão utiliza bombas para pressurizar a água e distribuí-la através de aspersores, o que resulta em maior custo, mas também em maior eficiência e uniformidade na aplicação.

Para quais tipos de solo e relevo a irrigação por superfície é mais indicada?

Este método é ideal para solos argilosos (pesados), que possuem baixa taxa de infiltração, permitindo que a água se espalhe antes de penetrar no solo. O relevo deve ser plano ou com um declive muito suave e uniforme, para que a água escoe de forma controlada e sem causar erosão.

O que significa na prática uma eficiência de 40% a 65% na irrigação por superfície?

Significa que, de cada 100 litros de água aplicados na lavoura, apenas 40 a 65 litros são efetivamente aproveitados pelas raízes das plantas. O restante (de 35 a 60 litros) se perde por escoamento superficial ou percolação profunda, que é quando a água desce para camadas do solo abaixo da zona das raízes.

É possível realizar fertirrigação em um sistema de irrigação por superfície?

Sim, é possível, mas é uma prática complexa e pouco precisa neste método. A principal dificuldade é garantir que os fertilizantes sejam distribuídos de maneira uniforme em toda a área, já que o fluxo de água pode não ser homogêneo. Isso pode resultar em partes da lavoura recebendo mais nutrientes do que outras.

Como a irrigação por superfície pode causar a salinização do solo?

A salinização ocorre quando a água utilizada na irrigação possui alta concentração de sais. Como este método aplica um grande volume de água, a evaporação deixa para trás esses sais na superfície do solo. Com o tempo, o acúmulo de sais pode tornar o solo tóxico para as plantas e prejudicar a produtividade.

Quais são os principais cuidados para melhorar a eficiência da irrigação por superfície?

Para otimizar o sistema, é fundamental garantir um nivelamento preciso do terreno, o que permite um avanço uniforme da água. Além disso, é crucial calcular corretamente a vazão e o tempo de aplicação para cada área, evitando o excesso de água. O monitoramento constante durante a irrigação também ajuda a identificar e corrigir problemas de distribuição.

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