Irrigação de Precisão: Uso Inteligente da Água e Maior Produtividade

Redatora parceira Aegro.
Irrigação de Precisão: Uso Inteligente da Água e Maior Produtividade

Garantir uma boa produtividade na lavoura depende diretamente da irrigação. No entanto, com os longos períodos de seca se tornando mais comuns, a água virou um recurso cada vez mais escasso e valioso.

Quando a falta de água acontece em fases críticas da cultura, como no florescimento ou enchimento de grãos, as perdas de produtividade podem ultrapassar os 50%.

O desafio é duplo: as plantas precisam de água para se desenvolver e os reservatórios precisam se manter em níveis seguros. Para resolver essa equação, a irrigação de precisão surge como uma estratégia fundamental para o uso controlado e inteligente da água.

Neste artigo, vamos detalhar o que é a irrigação de precisão, como ela funciona e quais tecnologias estão disponíveis para otimizar o uso da água na sua lavoura!

A Importância de Irrigar os Cultivos no Momento Certo

O estresse hídrico — que é a falta de água para a planta em momentos cruciais — é um dos maiores limitantes de produtividade no Brasil. Ele ocorre durante períodos prolongados de estiagem que coincidem com as fases mais importantes da cultura.

Na safra 2019/2020, no Sul do país, por exemplo, produtores de soja e milho enfrentaram grandes quebras de safra por causa da seca.

No caso da soja, o impacto foi direto na qualidade das sementes. A combinação de altas temperaturas e falta de água prejudicou o enchimento dos grãos.

Aquela safra foi marcada pela produção de sementes verdes. Esse fenômeno foi causado pelo estresse hídrico e pelas altas temperaturas, que levaram à morte precoce das plantas.

Isso mostra como suplementar a água para as culturas é indispensável, principalmente em fases críticas como o enchimento dos grãos. Além disso, a água é fundamental para que a planta realize a fotossíntese corretamente.

O problema se agrava porque a escassez de chuvas também afeta os recursos hídricos disponíveis. Com os reservatórios em baixa, o uso inteligente da água por meio da irrigação de precisão se torna essencial.

O que é Irrigação de Precisão?

De forma direta, a irrigação de precisão é a tecnologia que permite aplicar a quantidade certa de água, no lugar certo e na hora certa.

Isso acontece com sistemas automatizados que coletam dados em toda a lavoura, considerando a variabilidade da área, ou seja, as diferenças de solo, relevo e necessidade hídrica em cada talhão.

Assim, as plantas recebem água na quantidade ideal, no momento e local mais adequado. Isso reduz custos de forma considerável quando comparado a sistemas manuais, que não levam em conta as diferenças dentro da mesma área.

Atualmente, o Brasil possui mais de 8,2 milhões de hectares equipados para irrigação. Esse número, que era de 7 milhões em 2017, equivale a 8,2 milhões de campos de futebol.

Deste total, 35% utilizam águas de reúso e 65% vêm de mananciais. Esse cenário exige que os sistemas de produção adotem tecnologias para garantir maior eficiência e racionalidade no uso da água.

Essa eficiência é alcançada pela irrigação de precisão, que utiliza ferramentas da agricultura 4.0. Inteligência Artificial (IA), sistemas automatizados e sensores são exemplos disso, pois acionam a irrigação com base nas condições do ambiente e na necessidade real da cultura.

Como a Irrigação de Precisão Funciona na Prática

A irrigação de precisão funciona com base em uma rede de sensores instalados no solo, nas plantas, nos equipamentos e nas máquinas. Eles coletam informações que vão além da percepção humana.

A Internet das Coisas (IoT) é a tecnologia que conecta todos esses sensores, permitindo que eles enviem os dados coletados para uma central.

A Inteligência Artificial, presente nos equipamentos, analisa rapidamente o grande volume de dados gerados a partir de algoritmos e toma decisões com mais rapidez e precisão que um operador humano.

Fluxograma que explica o funcionamento de um algoritmo de controle de irrigação.Fluxograma de um algoritmo de controle de irrigação

(Fonte: Adaptado de Casadeus e colaboradores, 2012. Em: Vasconcelos, 2013)

Na prática, sensores são instalados em diferentes profundidades e pontos da lavoura.

Esses sensores cruzam os dados das condições do campo (como umidade do solo) com as informações da previsão do tempo. Com base nessa análise, o sistema aciona a irrigação apenas nos pontos específicos que precisam de água.

Quais Sensores São Utilizados no Campo?

O sistema de irrigação de precisão integra informações de diversas fontes:

  • Estações meteorológicas: Avaliam radiação solar, evapotranspiração da cultura (a “respiração” da planta que consome água), umidade do ar, velocidade do vento, temperatura e volume de chuva.
  • Telemetria: Permite comandar, rastrear e medir tudo à distância, usando dispositivos como rádios, celulares, notebooks e satélites.
  • Sensores de umidade do solo: Medem a quantidade de água disponível no solo, além de outras características como textura e porosidade. A umidade do solo é um fator de decisão chave para acionar a irrigação.
  • Sistema de Informação Geográfica (SIG): Fornece as coordenadas ou o local exato onde o sistema de irrigação deve ser ativado.
  • Sensores em drones (VANTs): Câmeras especiais (multiespectrais, hiperespectrais e térmicas) podem sobrevoar a área para identificar quais locais sofrem maior estresse hídrico, fornecendo dados para o cálculo de índices de vegetação, como o NDVI.

Em sistemas tradicionais, a água é aplicada em quantidades uniformes em toda a lavoura. Na irrigação de precisão, a água é liberada apenas em pontos estratégicos, economizando energia elétrica e a própria água.

Mapa de irrigação variável por pivô central conforme características do soloEsquema de funcionamento de pivôs de irrigação inteligente. É possível observar haver distinção da quantidade e localização onde os pivôs são acionados, em função das características do solo (topografia, tipo de solo, etc.). Alguns locais não recebem água e outros recebem em quantidades variáveis

(Fonte: Lindsay, em: Venancio, 2019).

Vantagens da Irrigação de Precisão Inteligente

  • Uso Inteligente da Água: Fornecimento no local, na quantidade e no momento adequados.
  • Economia de Energia Elétrica: Redução significativa no custo de bombeamento.
  • Redução do Consumo de Água: Menos desperdício e uso mais racional do recurso hídrico.
  • Aumento da Produtividade: Garante água nos estádios críticos da cultura, evitando perdas por estresse hídrico.
  • Maior Lucratividade: Estudos apontam um lucro adicional de cerca de U$ 87 por hectare, o que equivale a mais de R$ 448/ha.

Desvantagens da Irrigação de Precisão

  • Custo de Instalação: O investimento inicial em tubulações, sensores e controladores pode ser alto.
  • Necessidade de Suporte Técnico: O sistema exige acompanhamento técnico e monitoramento constante para corrigir eventuais problemas e garantir o funcionamento correto.
  • Manutenção: Dependendo do sistema, como o gotejamento, há possibilidade de entupimento, o que exige um acompanhamento diário.

Atenção à Legislação: Antes de iniciar um projeto de irrigação, é fundamental consultar a legislação vigente para obter o licenciamento do órgão ambiental. Além disso, a implementação dependerá da prévia concessão de outorga de direito de uso de recursos hídricos.

Quais Tecnologias Podem Ser Utilizadas na Irrigação de Precisão

Irrigação em Superfície (Pivô Central)

Neste sistema, a tecnologia combina:

  • Sondas de solo instaladas em diferentes profundidades;
  • Drones com câmeras térmicas ou multiespectrais;
  • Uma estação climatológica local.

Os dados coletados são interligados e processados em nuvem, sendo transmitidos para a sede da fazenda através da internet. Em seguida, são interpretados por algoritmos inteligentes.

Esses algoritmos consideram o histórico da produção, os dados meteorológicos e modelos de cultura (como a evapotranspiração e o estágio de desenvolvimento) para tomar a decisão de irrigar.

![Esquema demonstrativo de um sistema de irrigação baseado em pivô central. Estes sistemas podem ser com ou sem Sistema de irrigação por pivô central com opção de monitoramento por dronesivo de um sistema de irrigação baseado em pivô central. Estes sistemas podem ser com ou sem monitoramento por drones***

(Fonte: Kamienski; Visoli, 2018)

![Áreas irrigadas por pivôs centrais acionados por controladores que coletam e processam dados dos sensores de solo e estações meteorológicas](//i1.wp.com/blog.aegro.com.brPivôs centrais com controladores inteligentes monitorando dados de solo e clima em tempo realcessam dados dos sensores de solo e estações meteorológicas***

(Fonte: Lindsay)

Aqui no blog, nós já explicamos quando vale a pena investir em um pivô central.

Se quiser também estimar os custos dessa forma de irrigação na sua lavoura, clique na imagem a seguir para baixar uma planilha gratuita!

planilha custos de pivô Aegro

Rega por Aspersão

Na rega por aspersão, são instalados aspersores ao longo da área, que são conectados a sensores de umidade do solo.

Através da análise de dados complementares (como os meteorológicos), os aspersores são acionados automaticamente conforme a necessidade de cada setor da lavoura.

![Esquema do funcionamento de um aspersor automático sequencial de precisão. Internamente ao sensor existe uma boia acionada na liberação da água, quando necessário. Desta forma, o sistema permanece em operação por temSistema de irrigação por aspersão com sensor de boia para controle automático baseado na necessidade hídrica da culturaa liberação da água, quando necessário. Desta forma, o sistema permanece em operação por tempo relacionado à necessidade da cultura***

(Fonte: Grah, 2011)

Gotejamento Superficial e Gotejamento Enterrado

Com sistemas de sensores e controladores automatizados, é possível identificar os locais exatos que exigem acionamento da irrigação. Assim, você pode fornecer água de forma racional às culturas.

O gotejamento pode ser controlado para maior ou menor vazão e também em relação à sua localização no campo. A decisão depende das condições de umidade do solo e das previsões meteorológicas.

![Exemplo do funcionamento de um sistema de gotejamento inteligente. Cada linha possui um controlador acionado através da análise de dados de sensores de umidade do solo, por exemplo. O controlador restringe ou permite a passagem da água, realizando a irrigação da área quando necessário e no tempo (quantidade de água) necessária.](//i0.wp.com/blog.aegroSistema de gotejamento inteligente com sensores de umidade controlando irrigação automatizada por linhaárea quando necessário e no tempo (quantidade de água) necessária***

(Fonte: Duarte, 2010)

Um exemplo prático é o servogotejador, desenvolvido pela Embrapa.

Ele é um sistema de gotejadores ligados a sensores pneumáticos que medem a água no solo e nas plantas. O sistema tem sido a


Glossário

  • Enchimento de Grãos: Fase final do desenvolvimento da planta, na qual os nutrientes e a água são direcionados para formar e dar peso aos grãos. A falta de água nesta etapa crítica, como citado no exemplo da soja, pode resultar em grãos menores e de baixa qualidade, impactando diretamente a produtividade.

  • Estresse Hídrico: Condição em que a planta perde mais água por transpiração do que consegue absorver pelas raízes. Esse desequilíbrio afeta funções vitais como a fotossíntese e, se ocorrer em momentos cruciais do ciclo, pode causar quedas drásticas na produção.

  • Evapotranspiração: É a combinação de dois processos: a evaporação da água da superfície do solo e a transpiração da água pelas plantas. Calcular a taxa de evapotranspiração ajuda a determinar a quantidade exata de água que a lavoura perdeu e precisa repor com a irrigação.

  • IoT (Internet das Coisas): Rede de dispositivos físicos (sensores, máquinas, pivôs) conectados à internet, capazes de coletar e trocar dados. Na irrigação, a IoT permite que um sensor de umidade no solo envie um comando para acionar um sistema de gotejamento automaticamente, sem intervenção humana.

  • Outorga de direito de uso de recursos hídricos: Autorização legal emitida por um órgão público que permite ao produtor rural captar uma quantidade específica de água de um rio, lago ou poço para fins de irrigação. É um documento obrigatório para a regularização do projeto.

  • SIG (Sistema de Informação Geográfica): Ferramenta computacional utilizada para criar e analisar mapas com dados georreferenciados. Na irrigação de precisão, o SIG ajuda a mapear as diferentes necessidades de água dentro de um mesmo talhão, com base em informações de solo, relevo e sensores.

  • VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado): Termo técnico para drones utilizados na agricultura. Equipados com câmeras especiais (multiespectrais ou térmicas), os VANTs sobrevoam a lavoura para gerar mapas que identificam com precisão as áreas que estão sofrendo com estresse hídrico.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Apesar dos benefícios, a irrigação de precisão apresenta desafios como o alto custo de instalação e a necessidade de um monitoramento técnico constante. Para garantir que o investimento se traduza em lucratividade, é essencial ter um controle rigoroso dos custos e das operações. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo registrar e analisar cada despesa — da energia elétrica à manutenção dos equipamentos — e, ao mesmo tempo, planejar as atividades de manejo e as manutenções preventivas, garantindo que o sistema funcione sem falhas nos momentos mais críticos.

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Perguntas Frequentes

Qual é a principal diferença entre a irrigação de precisão e a irrigação convencional?

A irrigação convencional aplica uma lâmina de água uniforme em toda a área, sem considerar as variações do solo ou da necessidade da cultura, o que pode gerar desperdício. Já a irrigação de precisão utiliza dados de sensores para aplicar a quantidade exata de água, no local certo e no momento certo, tornando o uso do recurso hídrico muito mais eficiente e econômico.

A irrigação de precisão é viável para pequenas propriedades rurais?

Sim, totalmente. Existem soluções de irrigação de precisão escaláveis e adaptadas para pequenas propriedades. É possível começar com um investimento menor, como sensores de umidade de solo e controladores automatizados para sistemas já existentes, e expandir gradualmente conforme o retorno sobre o investimento for observado.

Como os sensores sabem exatamente quando e quanto irrigar?

Os sensores funcionam coletando dados em tempo real, como a umidade do solo em diferentes profundidades. Essas informações são cruzadas com dados de estações meteorológicas (previsão de chuva, evapotranspiração) e com a necessidade hídrica da cultura em seu estágio atual. Quando os algoritmos identificam que a água no solo atingiu um nível crítico, o sistema aciona a irrigação automaticamente apenas nas zonas necessárias.

Além de economizar água, quais outros benefícios a irrigação inteligente traz para a lavoura?

Além da economia de água, a irrigação de precisão reduz significativamente os custos com energia elétrica para bombeamento. Ela também aumenta a produtividade ao evitar o estresse hídrico em fases críticas da cultura, melhora a qualidade dos grãos e frutos, e contribui para uma gestão agrícola mais sustentável e lucrativa, baseada em dados concretos.

O alto custo de instalação da irrigação de precisão compensa o investimento?

Embora o investimento inicial possa ser alto, o retorno geralmente compensa. A economia gerada com a redução no consumo de água e energia, somada ao aumento de produtividade, pode gerar um lucro adicional superior a R$440 por hectare, segundo estudos. O tempo de retorno do investimento varia, mas a tecnologia se paga ao otimizar os custos e maximizar os lucros a médio e longo prazo.

Preciso de uma ‘outorga de água’ para instalar um sistema de irrigação de precisão?

Sim, a outorga é um requisito legal indispensável. Antes de iniciar qualquer projeto de irrigação, é obrigatório solicitar a ‘outorga de direito de uso de recursos hídricos’ ao órgão ambiental competente do seu estado. Este documento autoriza a captação de água de rios, lagos ou poços, garantindo o uso legal e sustentável do recurso.

A manutenção de um sistema de irrigação de precisão é muito complexa?

A complexidade da manutenção varia com o tipo de sistema. Pivôs centrais exigem verificações mecânicas e eletrônicas periódicas, enquanto sistemas de gotejamento podem precisar de limpezas para evitar entupimentos. Embora exija acompanhamento técnico e monitoramento constante para garantir seu funcionamento ideal, a manutenção preventiva é fundamental para proteger o investimento e assegurar a eficiência do sistema.

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  • Irrigação por gotejamento: conheça as vantagens e desvantagens: Este artigo é o aprofundamento técnico necessário para o método de gotejamento citado no texto principal. Ele agrega valor único ao detalhar os componentes do sistema, estimativas de custo por hectare e as vantagens práticas, respondendo às perguntas que um produtor teria ao considerar a implementação de um dos sistemas mais eficientes em uso de água.
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