O feijão, por ter um ciclo curto, é uma cultura muito sensível à falta de água. Quem plantou na primeira safra de 2020, por exemplo, sentiu no bolso o impacto da estiagem na produtividade.
A irrigação surge como uma ferramenta estratégica, permitindo que você planeje a safra sem depender apenas da sorte de chover na hora certa.
Mas como saber se a irrigação é o investimento certo para a sua lavoura de feijão? Neste artigo, vamos analisar os pontos essenciais para ajudar você a tomar a melhor decisão, mostrando as principais vantagens, desvantagens e os tipos de sistema disponíveis.
O Ciclo do Feijão e Suas Necessidades de Água
O feijoeiro pode ser cultivado em até três safras por ano, cada uma com suas próprias condições de clima e chuva. No entanto, as necessidades de água da planta durante seu ciclo são sempre as mesmas, variando um pouco conforme a cultivar.
A demanda por água começa já na germinação. Para que a semente germine bem, ela precisa de uma lâmina de água mínima de 1,3 mm
.
Para entender melhor: Lâmina de água: significa a altura ou quantidade de água aplicada sobre o solo, como se fosse uma “camada” de chuva.
Os momentos de maior consumo de água, no entanto, ocorrem em fases específicas do desenvolvimento da planta:
- No estágio V4: quando a planta já tem mais folhas e está em pleno crescimento vegetativo, a necessidade de água é maior, chegando a
56 mm
no total dessa fase. - No estágio R5: com o aparecimento dos primeiros botões florais, a demanda por água volta a subir.
- No estágio R7: durante a formação das vagens, ocorre outro pico de consumo de água, essencial para o enchimento dos grãos.
Já detalhamos cada uma dessas fases no artigo “Manejos essenciais em cada um dos estádios fenológicos do feijão”.
O plantio de outono/inverno (a “terceira safra”) é o que geralmente enfrenta maior falta de chuvas. Por isso, o uso da irrigação se torna quase indispensável para garantir uma boa produção. Mas quando realmente vale a pena investir?
Vantagens e Desvantagens da Irrigação de Feijão
Antes de decidir instalar um sistema de irrigação, é fundamental analisar alguns pontos para ver se o investimento faz sentido para a sua realidade.
Avalie com atenção:
- Distribuição das chuvas: Como é o regime de chuvas na sua região ao longo do ano?
- Necessidade da cultura: A demanda de água do feijão coincide com os períodos de seca?
- Impacto na produtividade: Qual o potencial de aumento de sacas por hectare com a irrigação?
- Disponibilidade de água: Você tem uma fonte de água (rio, poço, represa) com volume suficiente e de qualidade?
Com essas respostas em mãos, fica mais fácil pesar os prós e contras.
Vantagens
- Garantia do suprimento de água: A irrigação fornece a quantidade exata de água que a planta precisa, na hora certa, eliminando a dependência do clima.
- Aumento da produtividade: Com água garantida nos momentos críticos, o potencial produtivo da lavoura é maximizado.
- Maior eficiência na aplicação: Com bicos e sistemas bem regulados, a aplicação de água é uniforme e sem desperdícios.
- Proteção contra geadas: A irrigação por aspersão pode ser usada para proteger as plantas de geadas leves, salvando parte da produção.
- Fertirrigação: Permite aplicar fertilizantes diluídos na água da irrigação, nutrindo as plantas de forma mais eficiente e economizando operações de maquinário.
Desvantagens
- Investimento inicial elevado: A compra e instalação da estrutura (bombas, tubulações, aspersores) exige um capital inicial significativo.
- Custos recorrentes: Os gastos com energia elétrica para bombeamento e a manutenção periódica do sistema devem ser incluídos no seu planejamento agrícola.
- Fatores locais limitantes: A declividade do terreno e ventos fortes na região podem dificultar ou encarecer a instalação e a eficiência de certos sistemas.
- Necessidade de outorga de água: Você precisa de uma autorização legal para captar a água de um rio ou poço. A obtenção da outorga pode ser um processo burocrático.
Para entender melhor: Outorga: é a licença emitida pelo órgão ambiental do governo que permite a você, legalmente, captar um determinado volume de água para uso na sua propriedade.
Tipos de Irrigação para Feijão
Existem três grandes grupos de sistemas de irrigação. A escolha do ideal depende do seu terreno, orçamento e objetivo.
1. Irrigação Localizada
Neste método, a água é aplicada em baixas vazões diretamente na zona das raízes da planta. É um sistema de alta eficiência, pois minimiza a perda de água por evaporação. As duas técnicas mais comuns são:
- Gotejamento: A água “pinga” lentamente de pequenos emissores ao longo de uma mangueira.
- Microaspersão: Pequenos aspersores jogam um spray de água fino e localizado na base das plantas.
(Fonte: Érico Andrade/G1)
2. Irrigação Superficial
Este é um método mais tradicional, onde a água é conduzida pela superfície do solo até as plantas.
- Irrigação por sulcos: A água corre por pequenos canais (sulcos) abertos entre as linhas de plantio.
- Irrigação por inundação: A área toda é coberta por uma lâmina de água (mais comum em culturas como o arroz).
3. Irrigação por Aspersão
Este sistema simula uma chuva artificial sobre a lavoura. É muito utilizado em grandes áreas de grãos, como o feijão. Os sistemas mais comuns são:
Autopropelido
Um carrinho com uma grande mangueira e um aspersor (tipo canhão ou barra) se desloca pela lavoura, irrigando uma faixa de cada vez.
- Vantagens:
- Versatilidade: Funciona bem em áreas com diferentes relevos e formatos irregulares.
- Baixa exigência de mão de obra: Demanda menos trabalho manual para operar no dia a dia.
- Desvantagens:
- Custo do equipamento: O investimento inicial para comprar o equipamento pode ser alto.
- Risco de má regulagem: Se mal ajustado, pode gerar gotas muito grandes que danificam as plantas ou a lavoura.
(Fonte: Embrapa)
Pivô Central
Uma longa estrutura de metal com aspersores gira em torno de um ponto central fixo (o pivô), irrigando uma grande área circular.
- Vantagens:
- Automação e baixa mão de obra: É um dos sistemas que menos exige trabalho manual.
- Uniformidade: Aplica a água de forma muito regular em toda a área.
- Ideal para fertirrigação: Adapta-se muito bem à aplicação de fertilizantes.
- Aplicações leves e frequentes: Permite aplicar pequenas lâminas de água, o que ajuda na proteção contra geadas.
- Desvantagens:
- Custo de implantação: O investimento inicial é um dos mais altos.
- Área limitada: Irriga apenas a área circular que o equipamento alcança, deixando os “cantos” da área quadrada de fora.
Aspersão Convencional
Um sistema de canos (fixos ou móveis) com aspersores (canhões) que são posicionados em pontos estratégicos da lavoura.
- Vantagens:
- Menor custo de implantação: Geralmente é mais barato para instalar que um pivô central.
- Facilidade de operação: O manejo do sistema é relativamente simples.
- Adaptável a qualquer área: Pode ser usado em terrenos de qualquer formato.
- Desvantagens:
- Alta exigência de mão de obra: Requer que os trabalhadores movam os canos e canhões de um lugar para outro para irrigar toda a área.
- Dificulta outros manejos: A presença de tubulações no meio da lavoura pode atrapalhar a pulverização e outras operações.
Ferramentas para Definir o Intervalo das Irrigações
Para evitar desperdício de água e energia, é crucial saber quando e quanto irrigar. O gerenciamento correto dos turnos de rega é feito com o auxílio de algumas ferramentas.
Tensiômetro
Este aparelho é instalado no solo para medir a “força” que a raiz da planta precisa fazer para absorver água. Geralmente, são colocados dois sensores em profundidades diferentes, como 15 cm
e 30 cm
.
A leitura dos tensiômetros indica se o solo está seco ou úmido, ajudando a decidir o momento certo de ligar a irrigação. O cálculo do intervalo ideal entre as regas (turno de rega) considera fatores como:
- Capacidade de retenção de água do seu solo;
- Ponto de murcha permanente: o nível de umidade no qual a planta não consegue mais extrair água e murcha de forma irreversível;
- Densidade do solo;
- Profundidade das raízes do feijão;
- Evapotranspiração: a perda total de água do solo para a atmosfera, somando a evaporação da superfície e a transpiração das plantas.
Em áreas com pivô central, os tensiômetros costumam ser instalados em três pontos diferentes ao longo do raio do equipamento para uma medição mais precisa.
Irrigâmetro
Desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa, este aparelho simples ajuda a estimar a evapotranspiração da cultura. É um recipiente verde, em formato de cone, que mantém uma superfície de água exposta ao clima. A velocidade com que a água evapora do aparelho dá uma boa indicação de quanta água a lavoura está perdendo.
Sensores Modernos
Atualmente, o uso de sensores na agricultura oferece um controle ainda mais preciso. Distribuídos pela lavoura, esses sensores coletam dados em tempo real sobre a umidade do solo, clima e outras variáveis. Essas informações são enviadas para um computador ou celular, permitindo um acompanhamento detalhado e uma tomada de decisão muito mais rápida e eficiente.
Conclusão
A decisão de investir em irrigação para o feijão não deve ser tomada por impulso. O segredo está no planejamento cuidadoso.
- Comece pelo dever de casa: Conheça a fundo o clima, o tipo de solo e o relevo da sua região, além do ciclo da cultivar de feijão que você planta.
- Faça as contas: Coloque no papel todos os custos de implantação e operação, e compare com o potencial de aumento de receita que a irrigação pode trazer.
- Busque referências: Converse com outros produtores da sua região que já utilizam agricultura irrigada. A experiência deles pode oferecer informações valiosas.
Com esse planejamento, você terá segurança para avaliar se a irrigação se encaixa na sua realidade. Uma coisa é certa: se o investimento for bem planejado e o manejo bem executado, o retorno é muito provável, pois o feijão é uma cultura com mercado sempre aquecido.
Glossário
Evapotranspiração: A perda total de água de uma lavoura para a atmosfera. É a soma da água que evapora diretamente da superfície do solo com a água que as plantas transpiram através de suas folhas.
Fertirrigação: Técnica de aplicar fertilizantes na lavoura junto com a água da irrigação. Isso permite nutrir as plantas de forma mais eficiente e controlada, economizando operações com maquinário.
Lâmina de água: A quantidade de água aplicada sobre uma determinada área, medida em milímetros (mm). Uma lâmina de 1 mm equivale a aplicar 1 litro de água por metro quadrado de solo.
Outorga de água: Licença oficial emitida por um órgão governamental que autoriza o produtor a captar uma quantidade específica de água de um rio, poço ou represa para uso na irrigação.
Pivô Central: Sistema de irrigação automatizado, composto por uma longa estrutura metálica que gira em torno de um ponto central (pivô), irrigando uma grande área de formato circular.
Ponto de Murcha Permanente: O nível de umidade do solo tão baixo que a planta não consegue mais absorver água, fazendo com que ela murche de forma irreversível, mesmo que a irrigação seja retomada.
Tensiômetro: Instrumento instalado no solo para medir a umidade disponível para as plantas. Ele indica a “força” que as raízes precisam fazer para extrair água, ajudando a definir o momento exato de irrigar.
Como a tecnologia apoia a decisão de irrigar
Analisar os custos de implantação e os gastos recorrentes com energia e manutenção, como mencionado, é um passo fundamental. Além disso, é preciso organizar as novas atividades, como os turnos de rega e a fertirrigação, no calendário da safra. Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a centralizar tanto o controle financeiro quanto o planejamento operacional. Nele, você pode registrar todos os custos do sistema de irrigação e, ao mesmo tempo, agendar as atividades no campo, garantindo que o investimento se traduza em um manejo mais eficiente e lucrativo.
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Perguntas Frequentes
Quais são as fases mais críticas para a irrigação na cultura do feijão?
Os momentos de maior necessidade de água para o feijoeiro são durante o pleno crescimento vegetativo (estágio V4), no aparecimento dos botões florais (R5) e, especialmente, na fase de formação das vagens (R7). Garantir a água nessas fases é fundamental para o bom enchimento dos grãos e para alcançar alta produtividade.
Qual a principal diferença entre irrigação por pivô central e por gotejamento no feijão?
A principal diferença está na forma de aplicação e na escala. O pivô central simula uma chuva artificial sobre uma grande área circular, sendo ideal para extensas lavouras de grãos. Já o gotejamento é um sistema localizado de alta eficiência, que aplica água diretamente na raiz da planta, minimizando perdas por evaporação e adaptando-se a terrenos de diferentes formatos.
Além do equipamento, quais outros custos devo considerar ao planejar a irrigação do feijão?
Além do investimento inicial na estrutura, é crucial incluir no planejamento os custos recorrentes. Isso engloba os gastos com energia elétrica para o bombeamento da água, a manutenção periódica do sistema (bombas, tubulações, aspersores) e os custos para obter e renovar a outorga de uso da água.
O que é fertirrigação e como ela pode me ajudar na lavoura de feijão?
Fertirrigação é a técnica de aplicar fertilizantes diluídos diretamente na água da irrigação. Para o feijão, isso permite nutrir as plantas de forma parcelada e no momento exato de sua necessidade, aumentando a eficiência da adubação, reduzindo a compactação do solo por maquinário e economizando em operações de aplicação.
É realmente necessário ter uma licença (outorga) para irrigar minha lavoura?
Sim, na maioria dos casos a outorga de água é obrigatória. Trata-se de uma autorização legal emitida pelo órgão ambiental competente que permite a captação de um determinado volume de água de um rio, poço ou represa. Irrigar sem essa licença pode gerar multas e outras sanções legais.
A irrigação é um investimento viável para pequenos produtores de feijão?
Com certeza. Embora sistemas como o pivô central tenham um alto custo, existem opções mais acessíveis e escaláveis para pequenas propriedades, como a aspersão convencional ou kits de irrigação por gotejamento. O importante é realizar um bom planejamento para escolher a tecnologia que melhor se adapta à sua área e capacidade de investimento, garantindo o retorno.
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