Inseticidas Naturais: Um Guia Prático para um Manejo Eficiente e Econômico

Redatora parceira Aegro.
Inseticidas Naturais: Um Guia Prático para um Manejo Eficiente e Econômico

O alto custo dos inseticidas químicos pode pesar bastante no orçamento da safra. Por isso, é fundamental incluir novas estratégias de controle de pragas no seu planejamento agrícola para reduzir despesas e aumentar a eficiência.

Ao diversificar os métodos de controle, você não apenas economiza, mas também torna o manejo de pragas mais eficaz e equilibra o ambiente da sua lavoura. Uma das melhores alternativas são os inseticidas naturais.

Neste artigo, vamos apresentar os principais produtos, com orientações práticas para você implementar um manejo mais inteligente e menos custoso.

O que são inseticidas naturais? Eles realmente funcionam?

Inseticidas são produtos utilizados para combater insetos-praga. Os defensivos agrícolas químicos, mais conhecidos, são classificados pela sua composição química, como detalhado neste artigo sobre os principais tipos de inseticidas para grãos.

No entanto, existem outras formas de controlar os insetos que vão além da química tradicional. Os produtos biológicos, por exemplo, estão ganhando cada vez mais espaço no campo.

No controle biológico, usamos organismos vivos para controlar as pragas. Os principais agentes são:

  • Microbianos: Fungos, bactérias e vírus que causam doenças nos insetos.
  • Insetos Predadores: Insetos benéficos que se alimentam das pragas.
  • Parasitoides: Insetos que depositam seus ovos dentro das pragas, eliminando-as.

Com o aumento da resistência das pragas aos químicos, a pesquisa com esses controladores biológicos tem crescido muito. O futuro aponta para mais soluções biotecnológicas que usam os recursos genéticos de microrganismos para criar produtos mais seletivos e precisos.

Já os inseticidas naturais, tema principal deste guia, são produtos de origem botânica. Eles são feitos a partir de compostos vegetais ou outros subprodutos orgânicos. Basicamente, são extratos de plantas com ação inseticida. Os principais grupos são:

  • Piretrina
  • Rotenona
  • Nicotina
  • Cevadinha e Veratridina
  • Rianodina
  • Quassinóides

uma tabela técnica detalhando as propriedades de diversos compostos químicos utilizados na agricultura, com fo (Fonte: Toxicidade dos principais inseticidas botânicos)

A maioria dessas substâncias vem de metabólitos secundários, que são compostos de defesa que as próprias plantas desenvolveram ao longo da evolução para se protegerem de insetos.

A grande vantagem desses produtos é a seletividade. Eles afetam muito menos os insetos benéficos, como os inimigos naturais das pragas, ajudando a manter o equilíbrio do ecossistema da sua lavoura.

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Por que Preservar os Inimigos Naturais na sua Lavora?

Falar sobre inimigos naturais de pragas agrícolas pode parecer algo distante da realidade de uma grande lavoura, mas não é. Eles são parte fundamental de qualquer agroecossistema.

Esses aliados são geralmente pequenos, muitas vezes menores que as próprias pragas, e existem em grande quantidade no campo, incluindo nematoides e parasitoides. Conforme a safra se desenvolve, a população deles aumenta naturalmente.

Para entender sua importância, basta lembrar da cadeia alimentar básica no campo:

  1. As plantas cultivadas servem de alimento para os insetos-praga (herbívoros).
  2. Os insetos-praga, por sua vez, servem de alimento para os inimigos naturais (carnívoros).

Esses inimigos naturais atuam como reguladores, controlando a população das pragas e evitando que elas causem grandes danos.

diagrama detalhado de uma teia trófica em um agroecossistema, especificamente em uma plantação de couves. N (Fonte: Embrapa Agrobiologia)

Mesmo com a aplicação de produtos químicos não seletivos, os inimigos naturais persistem na lavoura. O problema é que sua população pode ser reduzida a níveis que não são suficientes para controlar as pragas de forma eficaz. Um exemplo clássico de sucesso é a vespinha Cotesia flavipes, um parasitoide que controla a broca da cana-de-açúcar.

Além dos insetos, os microrganismos também são poderosos inimigos naturais. Cerca de 80% das doenças que afetam os insetos são causadas por fungos, como os dos gêneros:

  • Aschersonia
  • Aspergillus
  • Beauveria
  • Enthomophthora
  • Erynia
  • Hirsutella
  • Metarhizium
  • Nomurea
  • Penicillium

Esses fungos podem ser usados para combater diversas pragas. O Beauveria bassiana, por exemplo, é eficaz contra a broca do café (Cosmopolites sordidus). Já o Baculovírus anticarsia oferece um excelente controle de lagartas na cultura da soja.

composição científica que ilustra a ação de entomopatógenos, agentes de controle biológico utilizados na agric (Fonte: Controle Biológico de Pragas: Princípios e Estratégias de Aplicação em Ecossistemas Agrícolas – Embrapa Agrobiologia)

6 Opções de Inseticidas Naturais para sua Fazenda

1. Extrato de Nim (Azadirachta indica)

O nim é uma árvore de origem indiana, conhecida por sua alta resistência à seca. O extrato de nim, extraído de suas sementes, contém mais de 30 compostos tóxicos para insetos, sendo a azadiractina o mais importante.

Sua ação principal é como um regulador de crescimento. Ele retarda o desenvolvimento dos insetos e atua como repelente. O produto pode interromper a ecdise (processo de troca de pele dos insetos), causando a morte da praga.

O óleo de nim é obtido por prensagem das sementes, resultando em um óleo com 47% de pureza e 10% de concentração de azadiractina. Segundo o pesquisador Brechelt (2004), os produtos à base de nim são seguros para animais de sangue quente, incluindo seres humanos, não se acumulam no ambiente e têm baixo impacto sobre organismos benéficos.

Veja os principais efeitos do óleo de Nim:

uma tabela informativa que detalha os efeitos de produtos derivados da planta de Nim sobre diversos grupos de (Fonte: Brechet, 2004)

2. Extrato de Bougainvillea ou Primavera (Bougainvillea spp.)

O extrato de primavera é uma ferramenta muito eficaz para o controle preventivo. Sua principal aplicação é contra o tripes, um inseto transmissor de viroses, especialmente o vírus que causa a doença “Vira Cabeça” no tomateiro.

Para o tomate, a aplicação deve começar na emergência das mudas, com intervalos de 2 a 3 dias, continuando até o início do florescimento para garantir a proteção.

3. Extrato de Alho (Allium sativum)

O extrato de alho é rico em compostos de enxofre, que funcionam como um excelente repelente de insetos. Quando pulverizado, o extrato é absorvido pela planta, e seu odor característico “engana” as pragas, afastando-as.

Este método mostra bons resultados no controle da lagarta-das-maçãs e de pulgões.

4. Óleo de Rícino e de Citros

Outros produtos que vêm despertando interesse são os óleos de rícino e de citros. Pesquisas mostram que eles são eficientes em causar mortalidade em ninfas de moscas-brancas.

Nessa mesma linha, extratos aquosos de cravo-da-índia, pó de café e folhas de tomate também são usados para repelir pulgões e outras pragas. Embora sejam mais comuns em hortas orgânicas (muitas vezes misturados com sabão de coco), esses óleos e extratos estão sendo cada vez mais estudados para aplicação em larga escala.

5. Cinamomo (Melia azedarach)

O extrato das folhas de cinamomo é utilizado no combate a importantes pragas agrícolas. Estudos indicam um controle eficiente de pragas como a lagarta-mede-palmo, a mosca-das-frutas e a traça-das-crucíferas.

6. Extrato Pirolenhoso

O extrato pirolenhoso é um inseticida natural obtido a partir da condensação da fumaça gerada na carbonização (queima controlada) de madeiras. Embora não seja um derivado direto de uma planta, sua origem é orgânica.

Este líquido pode conter mais de 200 compostos diferentes, com predominância de ácido acético. Sua principal forma de ação é como repelente, afastando os insetos-praga da cultura.

dois galões de 5 litros do produto ‘Extrato Pirolenhoso’ da marca EPB, posicionados sobre um fundo branco. O g (Fonte: Pirolenhoso BR)

Fortaleça suas Plantas com Silício: Uma Defesa Natural

O silício é um elemento que será cada vez mais importante na agricultura. Plantas bem nutridas com silício desenvolvem maior resistência e tolerância a insetos e doenças.

Isso acontece porque o silício forma uma camada protetora sobre a epiderme da planta, como uma “casca” mais dura. Essa barreira física dificulta a alimentação dos insetos, causando o desgaste de suas mandíbulas, e também atrai mais inimigos naturais.

Confira o efeito do silício sobre diferentes pragas:

uma tabela informativa de caráter técnico-científico, que relaciona diversas culturas agrícolas com os insetos (Fonte: IPNI – Silício: Um elemento benéfico e importante para as plantas)

No solo, o silício é absorvido na forma de ácido monossilícico. Ele também ajuda na dinâmica de outros nutrientes, como na redução da fixação de fósforo, já que ambos competem pelos mesmos locais de ligação no solo.

Conclusão

Todo produtor busca tecnologias que sejam eficazes, mais econômicas e sustentáveis. Os defensivos naturais apresentados aqui são excelentes opções para testar em suas lavouras, combinando-os com outros manejos de inseticidas.

Adotar essas práticas pode gerar uma boa economia e abrir seus olhos para novas formas de controlar as pragas de maneira inteligente.

Inclua os inseticidas naturais em seu planejamento e orçamento agrícola. Assim, você tornará seu Manejo Integrado de Pragas ainda mais completo e eficiente.


Glossário

  • Azadiractina: Principal composto ativo encontrado no extrato de nim. Atua como um regulador do crescimento dos insetos, interferindo em processos vitais como a alimentação e a ecdise (troca de pele).

  • Controle Biológico: Método de manejo que utiliza organismos vivos (como insetos, fungos e bactérias) para controlar pragas agrícolas. É uma alternativa ao uso exclusivo de defensivos químicos.

  • Ecdise: Processo natural de troca de exoesqueleto (a “pele” externa) que os insetos realizam para crescer. Alguns inseticidas naturais, como o nim, impedem esse processo, causando a morte da praga.

  • Extrato Pirolenhoso: Líquido de origem orgânica obtido pela condensação da fumaça da queima controlada de madeira. É rico em compostos como o ácido acético e atua principalmente como repelente de pragas.

  • Inimigos Naturais: Organismos que se alimentam ou parasitam as pragas na lavoura, ajudando a controlar sua população naturalmente. Incluem insetos predadores, parasitoides e microrganismos patogênicos.

  • Metabólitos Secundários: Compostos químicos produzidos pelas plantas que funcionam como um sistema de defesa natural contra insetos e doenças. São a base para a criação de muitos inseticidas botânicos.

  • Parasitoides: Insetos que depositam seus ovos dentro ou sobre o corpo de uma praga. As larvas do parasitoide se desenvolvem alimentando-se do hospedeiro, que acaba morrendo.

  • Seletividade: Característica de um defensivo agrícola de atuar de forma específica sobre as pragas-alvo, preservando os organismos benéficos da lavoura, como os inimigos naturais e os polinizadores.

Leve seu manejo a outro nível com a gestão integrada

Adotar inseticidas naturais é um passo fundamental para reduzir custos e criar um manejo mais sustentável. No entanto, para garantir que essa estratégia seja realmente lucrativa, é preciso ir além da simples substituição de produtos. O grande desafio é controlar os custos de cada aplicação e organizar um calendário de manejo que combine diferentes métodos de forma eficiente.

Um software de gestão agrícola como o Aegro simplifica esse processo. Com ele, você pode registrar todas as despesas com insumos – sejam eles químicos, biológicos ou naturais – e acompanhar o custo de produção da sua lavoura em tempo real. Além disso, a plataforma permite planejar e registrar cada atividade no campo, criando um histórico completo do que foi aplicado, quando e por quê. Isso transforma seu Manejo Integrado de Pragas em um plano de ação organizado e baseado em dados, facilitando a tomada de decisão.

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Perguntas Frequentes

Qual é a principal diferença entre inseticidas naturais e controle biológico?

A principal diferença está na origem e no modo de ação. Inseticidas naturais, como o óleo de Nim, são extratos de plantas (botânicos) que contêm compostos químicos com ação inseticida ou repelente. Já o controle biológico utiliza organismos vivos, como fungos, bactérias e insetos predadores (inimigos naturais), para combater as pragas de forma direta.

A eficácia dos inseticidas naturais é comparável à dos inseticidas químicos convencionais?

A eficácia é alta, mas o modo de ação é diferente. Inseticidas químicos geralmente têm um efeito de choque rápido e letal. Muitos inseticidas naturais atuam de forma mais lenta, como reguladores de crescimento (impedindo a troca de pele), repelentes ou redutores de alimentação. Por isso, são ideais para o Manejo Integrado de Pragas (MIP), focando na prevenção e no equilíbrio do sistema.

Posso produzir meus próprios extratos de plantas na fazenda?

Embora seja possível criar alguns extratos caseiros para hortas e pequena escala, para lavouras comerciais é recomendado o uso de produtos formulados. As versões comerciais garantem a concentração correta dos compostos ativos, como a azadiractina no caso do Nim, além de passarem por controle de qualidade que assegura a eficácia e a segurança da aplicação em larga escala.

Os inseticidas de origem botânica são seguros para o aplicador e para os inimigos naturais?

Sim, uma das suas maiores vantagens é a seletividade e a segurança. Geralmente, possuem baixa toxicidade para humanos e animais, além de serem biodegradáveis, o que reduz o impacto ambiental. Por serem mais seletivos, afetam minimamente os inimigos naturais e polinizadores, ajudando a manter o equilíbrio ecológico da lavoura.

Como posso aplicar silício na minha lavoura para fortalecer a defesa das plantas?

O silício pode ser fornecido às plantas principalmente via solo, através de fertilizantes à base de silicatos, ou por meio de pulverização foliar. Uma vez absorvido, ele se acumula na epiderme das folhas e caules, criando uma barreira física que dificulta a alimentação e penetração de insetos e patógenos, funcionando como uma defesa natural.

O extrato pirolenhoso funciona para todos os tipos de pragas?

O extrato pirolenhoso atua principalmente como um repelente de insetos devido ao seu odor forte e composição complexa. Ele não é um inseticida de contato que mata a praga instantaneamente, mas sim uma ferramenta para afastar os insetos da cultura. Sua eficácia varia conforme a praga-alvo, sendo uma excelente opção dentro de um manejo integrado para reduzir a pressão de ataque na lavoura.

Artigos Relevantes

  • Reduza drasticamente suas aplicações utilizando o Manejo Integrado de Pragas: Este artigo estabelece a base estratégica para o conteúdo principal. Enquanto o guia de inseticidas naturais apresenta as ‘ferramentas’, este artigo explica o ‘sistema’ (MIP) no qual essas ferramentas devem ser usadas, detalhando conceitos como Nível de Controle e Nível de Dano Econômico, essenciais para uma aplicação racional e econômica.
  • Como manejar os inimigos naturais de pragas agrícolas da sua área: O artigo principal enfatiza a importância de preservar os inimigos naturais. Este candidato aprofunda o tema de forma prática, ensinando como identificar, manejar ativamente e até manipular a paisagem para favorecer esses aliados, transformando um conceito teórico do artigo principal em um plano de ação concreto.
  • Controle biológico de pragas agrícolas: Como funciona esse método: O texto principal diferencia inseticidas naturais (botânicos) de controle biológico (organismos vivos). Este artigo expande o universo do controle biológico, explicando detalhadamente os diferentes tipos (predadores, parasitoides, entomopatógenos) e suas formas de aplicação, oferecendo ao leitor um leque completo de alternativas biológicas que vão além dos extratos de plantas.
  • O que você precisa saber sobre o mecanismo de ação dos inseticidas neonicotinoides, organofosforados e carbamatos: Para valorizar os benefícios dos inseticidas naturais, é crucial entender como os químicos convencionais atuam. Este artigo detalha o mecanismo de ação dos neurotóxicos, fornecendo o contexto científico que explica sua baixa seletividade e os riscos associados, reforçando indiretamente a importância das alternativas mais seguras e seletivas discutidas no artigo principal.
  • Perspectivas para o mercado de controle biológico: Este artigo complementa a abordagem prática do guia principal com uma visão estratégica de mercado. Ele valida a relevância econômica e a tendência de crescimento do uso de biológicos, mostrando ao produtor que adotar essas tecnologias não é apenas uma prática sustentável, mas também um alinhamento com o futuro do agronegócio e a demanda dos consumidores.