Inseticida Plethora: Análise Completa da Nova Ferramenta para Controle de Pragas

Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Ciências/Entomologia. Atualmente na gestão acadêmica do SolloAgro.
Inseticida Plethora: Análise Completa da Nova Ferramenta para Controle de Pragas

O controle de certas pragas agrícolas na lavoura é um desafio constante, exigindo estratégias cada vez mais eficientes. Pensando nisso, a multinacional Adama lançou recentemente o inseticida Plethora, uma solução que vem ganhando a confiança dos produtores.

A grande novidade deste produto está em sua fórmula, que traz uma combinação inédita de ingredientes ativos no mercado. Com registro para diversas culturas e um amplo espectro de pragas, ele se apresenta como uma nova ferramenta no arsenal do agricultor.

Neste artigo, vamos analisar em detalhes como o Plethora funciona, quais pragas ele controla e os cuidados necessários para usá-lo com segurança e eficácia.

Como o Inseticida Plethora Funciona?

Registrado no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) sob o número 8920, o Plethora se destaca por sua composição inovadora. O segredo está na combinação de dois princípios ativos que agem de formas diferentes e complementares: indoxacarbe e novaluron.

1. Indoxacarbe: Ataque Rápido ao Sistema Nervoso

O indoxacarbe, do grupo químico das oxadiazinas, ataca diretamente o sistema nervoso do inseto.

Como ele faz isso? Ele bloqueia os canais de sódio das células nervosas. Pense nesses canais como portões que permitem a comunicação no corpo do inseto. O indoxacarbe fecha esses portões, impedindo a passagem de sódio e interrompendo os impulsos nervosos. O resultado é rápido: paralisia e morte da praga.

Por agir dessa forma, o indoxacarbe é considerado um inseticida de amplo espectro.

  • [Amplo espectro]: significa que pode afetar não apenas as pragas-alvo, mas também outros organismos que tenham um sistema nervoso semelhante.

ilustração didática sobre a anatomia interna de uma lagarta, especificamente seu sistema nervoso. SobrSistema nervoso de uma lagarta (em azul) (Fonte: Canal Jerson Guedes)

2. Novaluron: Impedindo o Crescimento da Praga

Já o novaluron, do grupo das benzoilureias, tem um modo de ação diferente. Ele atua como um regulador de crescimento do inseto.

Sua principal função é ser um inibidor da biossíntese de quitina.

  • [Quitina]: é o material que forma o “esqueleto” externo (exoesqueleto) dos insetos.

Sem conseguir produzir quitina corretamente, o inseto não consegue fazer a ecdise (troca de pele) para crescer. Isso causa deformações e leva a praga à morte, principalmente em suas fases jovens (larvas). Por ter um alvo tão específico, o novaluron é considerado mais seletivo e seguro, pois não afeta diretamente organismos que não produzem quitina.

três larvas de inseto, provavelmente uma praga agrícola, dispostas horizontalmente sobre um fundo branco e neuCutícula mal formada de lagartas no processo de muda (Fonte: Folhetim Basf)

A Combinação Poderosa: Os Benefícios do Plethora

Ao unir esses dois componentes (com 24% de indoxacarbe e 8% de novaluron), o Plethora oferece um duplo modo de ação: ataca o sistema nervoso e, ao mesmo tempo, impede o crescimento das pragas.

Isso se traduz em várias vantagens práticas na lavoura:

  • Ação por Contato e Ingestão: O produto funciona tanto quando a praga come a folha tratada quanto pelo simples contato com o corpo do inseto.
  • Atividade Translaminar: [Translaminar]: significa que o produto penetra na folha e atinge pragas que estão do outro lado, mesmo que não tenham sido atingidas diretamente pela pulverização.
  • Ação Sistêmica: [Sistêmica]: o inseticida é absorvido pela planta e distribuído por toda a sua estrutura através da seiva, protegendo até mesmo as partes que não receberam o produto diretamente.
  • Ação Rápida com Longo Efeito Residual: A combinação proporciona um controle inicial rápido (efeito de choque) e uma proteção que dura mais tempo na planta.
  • Ferramenta para Manejo de Resistência: Como utiliza dois modos de ação diferentes, o Plethora é uma ótima opção para rotacionar com outros produtos e evitar que as pragas se tornem resistentes aos inseticidas comuns.
  • Versatilidade na Aplicação: Pode ser aplicado tanto por via terrestre quanto aérea.

uma embalagem de 1 litro do inseticida ‘Plethora’, da marca ADAMA, contra um fundo branco e neutro. O frasco éInseticida Plethora (Fonte: Adama)

O que o inseticida Plethora controla?

Um dos grandes trunfos do Plethora é seu amplo registro, sendo uma ferramenta eficaz para o complexo de lagartas em culturas chave como soja e algodão, além de pragas do cafeeiro.

Seu registro abrange também as culturas de canola, feijão, gergelim, girassol, linhaça, milheto, milho e sorgo.

Veja abaixo a lista completa de pragas e culturas controladas:

Praga-AlvoNome CientíficoCulturas Registradas
Lagarta-falsa-medideiraChrysodeixis includensAlgodão, linhaça e soja.
Lagarta-helicoverpaHelicoverpa armigeraAlgodão, feijão e soja.
Lagarta-da-maçãChloridea virescensAlgodão.
Lagarta-das-vagensSpodoptera eridaniaAlgodão e soja.
Traça-das-crucíferasPlutella xylostellaCanola.
Lagarta-enroladeiraAntigastra catalaunaliGergelim.
Lagarta-do-girassolChlosyne lacinia saundersiiGirassol.
Lagarta-do-cartuchoSpodoptera frugiperdaMilheto, milho e sorgo.
Lagarta-da-sojaAnticarsia gemmatalisSoja.
Bicho-mineiroLeucoptera coffeellaCafé.
Broca-do-caféHypothenemus hampeiCafé.

Doses Recomendadas

A dose padrão para a maioria das culturas e pragas listadas varia de 200 a 300 mL por hectare.

A principal exceção é a cultura do café, que exige doses maiores:

  • Broca-do-café: de 500 a 700 mL/ha.
  • Bicho-mineiro: de 300 a 400 mL/ha.

Atenção: Mesmo com doses semelhantes, é fundamental respeitar o nível de controle de cada praga e seguir rigorosamente as recomendações que estão na bula do produto.

Riscos e Boas Práticas de Uso do Plethora

Apesar de ser uma ferramenta eficaz, o uso do inseticida Plethora exige responsabilidade e cuidado para garantir sua sustentabilidade e minimizar impactos.

Classificação Toxicológica e Ambiental

É aqui que a atenção do produtor deve ser redobrada. O Plethora possui:

  • Classificação toxicológica 5: Improvável de causar dano agudo a humanos.
  • Classificação ambiental 2: Muito perigoso ao meio ambiente.

Essa classificação ambiental elevada significa que o produto deve ser usado com prudência, respeitando as doses, épocas e intervalos de aplicação recomendados pelo fabricante.

A Importância do Manejo Integrado de Pragas (MIP)

Para mitigar os riscos e garantir a longevidade da tecnologia, o uso do Plethora deve estar alinhado com os princípios do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Isso significa aplicar o produto apenas quando o monitoramento da lavoura indicar que a praga atingiu o nível de dano econômico, e não de forma preventiva ou baseada em calendário.

Utilizar um software de gestão agrícola pode ajudar a monitorar os focos de infestação e a aplicar a quantidade correta de inseticida em cada talhão, tornando o manejo mais preciso e evitando pulverizações excessivas.

O Que Não Fazer

O erro mais comum é utilizar o Plethora em pulverizações fixas, baseadas em calendário, sem um monitoramento prévio. Essa prática, além de aumentar o risco de contaminação ambiental, pode acelerar o desenvolvimento de resistência da praga ao produto, tornando-o ineficaz em pouco tempo.

planilha manejo integrado de pragas MIP Aegro, baixe agora Antes de qualquer aplicação, consulte sempre um profissional agrônomo para obter a recomendação mais adequada para a sua realidade.

Conclusão

O inseticida Plethora se destaca no mercado como um produto fitossanitário moderno e eficaz, que já conquistou a aceitação de muitos produtores pelo Brasil.

Vamos recapitular seus pontos-chave:

  • Combinação Inédita: Une os ingredientes ativos indoxacarbe e novaluron, algo novo no mercado.
  • Duplo Modo de Ação: Atua tanto no sistema nervoso (ação de choque) quanto no crescimento dos insetos (ação residual).
  • Amplo Espectro: Seu registro atual cobre o controle de 11 pragas em 11 culturas diferentes, com foco no complexo de lagartas.
  • Uso Consciente é Chave: Por ser classificado como muito perigoso ao meio ambiente, seu uso deve ser criterioso e sempre baseado nos princípios do MIP.

Utilizado de forma estratégica e responsável, esse inseticida poderá contribuir significativamente para um bom manejo de pragas na sua cultura.


Glossário

  • Ação Sistêmica: Refere-se à capacidade do inseticida de ser absorvido pela planta e distribuído por toda a sua estrutura através da seiva. Isso garante a proteção de partes novas da planta, que cresceram após a aplicação.

  • Ação Translaminar: Característica de um produto que, ao ser aplicado sobre uma face da folha, consegue atravessar os tecidos foliares e atingir pragas alojadas no lado oposto. É especialmente útil para controlar pragas que se escondem na parte de baixo das folhas.

  • Indoxacarbe: Ingrediente ativo do grupo químico das oxadiazinas que atua no sistema nervoso do inseto. Ele bloqueia os canais de sódio, causando paralisia e morte rápida, sendo considerado um inseticida de efeito choque.

  • MIP (Manejo Integrado de Pragas): Estratégia de controle que combina diferentes táticas (biológicas, culturais e químicas) de forma sustentável. A aplicação de defensivos químicos ocorre apenas quando a população da praga atinge um nível de dano econômico, evitando o uso excessivo e o desenvolvimento de resistência.

  • Novaluron: Ingrediente ativo que funciona como um regulador de crescimento de insetos. Ele impede a produção de quitina, impossibilitando que a praga forme seu exoesqueleto e complete a troca de pele (ecdise), o que leva à sua morte.

  • Princípios Ativos: São as substâncias químicas presentes em um produto fitossanitário que efetivamente controlam a praga. No caso do Plethora, os princípios ativos são a combinação de Indoxacarbe e Novaluron.

  • Quitina: Principal componente do exoesqueleto (a “casca” externa) dos insetos. É fundamental para a sustentação e proteção do corpo do inseto, e sua produção precisa ser constante para que ele possa crescer.

Leve seu Manejo Integrado de Pragas (MIP) para o próximo nível

Como o artigo bem aponta, o segredo para usar um inseticida como o Plethora de forma eficaz e sustentável está no Manejo Integrado de Pragas (MIP). O grande desafio é aplicar o MIP na prática: monitorar a lavoura com frequência e registrar os dados de forma organizada para tomar a decisão certa. Anotações em papel ou planilhas soltas podem se perder e dificultar essa análise.

Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve exatamente esse problema. Com ele, você registra os monitoramentos de pragas direto do campo pelo celular, criando um histórico preciso de cada talhão. Isso permite visualizar a evolução das infestações e decidir o momento exato da pulverização com base em dados concretos, evitando aplicações desnecessárias, reduzindo custos e garantindo a eficiência do controle.

Que tal transformar a gestão de pragas da sua fazenda?

Experimente o Aegro gratuitamente e veja como é simples tomar decisões mais seguras e lucrativas.

Perguntas Frequentes

O que torna o inseticida Plethora diferente de outros produtos no mercado?

A principal diferença do Plethora é sua combinação inédita dos ingredientes ativos indoxacarbe e novaluron. Essa fórmula exclusiva oferece um duplo modo de ação: enquanto um componente ataca o sistema nervoso da praga para um controle rápido (efeito de choque), o outro impede seu crescimento, garantindo um efeito residual mais longo e completo.

Em qual estágio de vida da praga o Plethora é mais eficaz?

O Plethora é eficaz em múltiplos estágios, mas sua ação é especialmente potente contra as fases jovens, como as larvas. Isso ocorre porque o novaluron, um de seus componentes, age como um regulador de crescimento que impede a formação do exoesqueleto, matando a praga durante a troca de pele. O indoxacarbe, por sua vez, também controla os insetos adultos por contato e ingestão.

O que significa na prática a ação sistêmica e translaminar do Plethora?

A ação translaminar permite que o produto atravesse a folha, atingindo pragas que se escondem na parte de baixo, mesmo que não sejam atingidas diretamente pela pulverização. Já a ação sistêmica significa que o inseticida é absorvido e distribuído pela seiva da planta, protegendo até mesmo as folhas e brotos novos que surgem após a aplicação, garantindo uma proteção mais duradoura.

Por que o Plethora é uma boa ferramenta para o manejo de resistência de pragas?

Por possuir dois princípios ativos com modos de ação completamente diferentes (um neurológico e outro fisiológico), o Plethora dificulta o desenvolvimento de resistência pelas pragas. A rotação de produtos com diferentes mecanismos, como o Plethora, é uma das principais estratégias do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para preservar a eficácia dos inseticidas a longo prazo.

Sendo ‘Muito Perigoso ao Meio Ambiente’, quais os principais cuidados ao aplicar Plethora?

O cuidado principal é aplicar o produto apenas quando estritamente necessário, com base no monitoramento da lavoura e nos níveis de dano econômico, conforme preconiza o Manejo Integrado de Pragas (MIP). É fundamental respeitar as doses recomendadas na bula, evitar a contaminação de fontes de água e seguir todas as boas práticas agrícolas para minimizar o impacto em organismos não-alvo e no ecossistema.

Posso aplicar o Plethora de forma preventiva, seguindo um calendário fixo?

Não, essa prática é fortemente desaconselhada. A aplicação baseada em calendário, sem monitoramento prévio, aumenta desnecessariamente o risco de contaminação ambiental e acelera o surgimento de pragas resistentes ao produto. O uso do Plethora deve ser estratégico, apenas quando a infestação atinge o nível de controle, garantindo sua eficácia e sustentabilidade.

Artigos Relevantes

  • 8 fundamentos sobre MIP (Manejo Integrado de Pragas) que você ainda não aprendeu: Este artigo é o complemento mais essencial, pois o texto principal insiste que o Plethora deve ser usado dentro dos princípios do MIP, mas não detalha o que é o MIP. Este candidato preenche essa lacuna perfeitamente, explicando os conceitos-chave de Nível de Dano Econômico (NDE) e Nível de Controle (NC), que são fundamentais para a aplicação responsável e econômica do inseticida.
  • Como fazer Manejo Integrado de Pragas (MIP) na cultura do milho: O artigo principal destaca o uso do Plethora para o controle da lagarta-do-cartucho na cultura do milho. Este artigo transforma a recomendação genérica do MIP em um guia prático e específico para o produtor de milho, detalhando as principais pragas da cultura e seus respectivos níveis de controle, oferecendo um valor acionável e direcionado para um público-alvo chave.
  • Como o baculovírus pode controlar as pragas da sua lavoura: Enquanto o artigo principal foca em uma solução química para o complexo de lagartas, este artigo apresenta uma alternativa biológica potente e específica (baculovírus) para as mesmas pragas-alvo. Ele é crucial para a estratégia de rotação e manejo de resistência, oferecendo uma ferramenta complementar que reduz a dependência química, um dos pilares do Manejo Integrado de Pragas.
  • Inseticida piretroide: Como fazer o melhor uso dele: O artigo principal posiciona o Plethora como uma ferramenta para o manejo de resistência. Este artigo complementa essa ideia ao aprofundar o conhecimento sobre outro grande grupo químico, os piretroides. Compreender diferentes modos de ação é vital para o produtor criar um programa de rotação de inseticidas eficaz, garantindo a longevidade e a eficiência do próprio Plethora.
  • 6 vantagens de fazer MIP com o Aegro: Este artigo serve como uma continuação direta à recomendação feita na conclusão do texto principal, que sugere o uso de um software de gestão agrícola para um MIP mais preciso. Ele demonstra na prática como a tecnologia (mapas de calor, alertas, registros georreferenciados) resolve os desafios de implementação do MIP, transformando a teoria em uma execução eficiente e baseada em dados.