Os inseticidas piretroides são ferramentas poderosas no controle de pragas, presentes no dia a dia de muitas lavouras. Seus resultados são eficientes contra uma ampla variedade de alvos, desde percevejos e lagartas até moscas.
No entanto, o uso incorreto, principalmente em misturas e intervalos de aplicação, pode trazer um grande problema: a resistência dos insetos. Isso significa que o produto perde a eficácia com o tempo, e o prejuízo na lavoura aumenta.
Para evitar essa dor de cabeça, é fundamental entender como esse tipo de inseticida funciona. Neste guia, vamos explicar de forma clara o que são os piretroides, seu modo de ação e como utilizá-los da maneira mais eficiente e segura.
O que são Inseticidas Piretroides e Como Consultar a Aplicação Correta?
Os inseticidas piretroides são uma classe de defensivos químicos sintéticos. Sua estrutura foi criada a partir de compostos originalmente encontrados em flores do gênero Chrysanthemum, da família Asteraceae.
Toda a informação oficial sobre os produtos comerciais registrados no Brasil pode ser consultada no Agrofit, o sistema do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Ao consultar o inseticida piretroide que você pretende usar, leia atentamente a bula do produto. Verifique sempre três pontos cruciais:
- Dose recomendada para a sua cultura e praga-alvo.
- Número máximo de aplicações permitido durante o ciclo.
- Intervalo mínimo entre as aplicações.
É importante entender que este grupo de inseticidas possui muitos ingredientes ativos diferentes.
Ingrediente Ativo: é a substância principal dentro do produto comercial que age contra a praga. Embora os ingredientes ativos sejam diferentes, eles compartilham o mesmo princípio de ação do grupo químico, neste caso, dos piretroides.
Dentro do grupo dos piretroides existem mais de 30 ingredientes ativos, distribuídos em diversas formulações e marcas comerciais, registrados para o controle de pragas em múltiplas culturas. Abaixo, listamos alguns dos mais utilizados em grãos.
Principais Ingredientes Ativos de Piretroides Usados em Soja e Milho
Bifentrina
Este ingrediente ativo está presente em 25 produtos comerciais registrados no site do MAPA. Ele atua como acaricida, formicida e inseticida. Possui registro para diversas culturas, incluindo algodão, feijão, milho e soja.
O que é Cipermetrina?
Este ingrediente ativo possui 21 produtos comerciais registrados no site do MAPA. Atua como formicida e inseticida, com registro para culturas anuais e perenes. É amplamente utilizado para o controle de pragas em algodão, milho e soja.
Deltametrina
A deltametrina está presente em 7 produtos comerciais registrados no MAPA. Algumas de suas marcas têm registro para culturas da família das solanáceas. Na cultura do milho, é eficaz no controle inicial da lagarta-do-cartucho.
Lambda-cialotrina
Este é um dos ingredientes ativos mais utilizados, com 29 produtos comerciais registrados no MAPA. Também possui registro para diversas culturas, com destaque para algodão, milho e soja. Na soja, é uma ferramenta comum para o controle do percevejo-verde.
Exemplo Prático: Uso de Bifentrina no Milho
Para entender melhor, vamos a um exemplo prático.
Imagine que você está com problemas com a larva-alfinete em sua lavoura de milho e um engenheiro agrônomo recomendou o uso do ingrediente ativo bifentrina.
- Consulta: Ao pesquisar no site do MAPA, você encontra o inseticida Seizer 100 EC.
- Instrução da Bula: A recomendação é aplicar uma dose de
200 a 300 mL
do produto por hectare. - Restrição: A bula especifica que deve ser realizada apenas uma aplicação durante todo o ciclo da cultura.
É fundamental respeitar rigorosamente as indicações da bula. Desobedecê-las pode comprometer o controle da praga, prejudicar o ecossistema local (agroecossistema) e impactar negativamente a produção final.
Como o Inseticida Piretroide Age no Inseto?
Os inseticidas piretroides são um grupo químico sintético que imita a ação das piretrinas, compostos naturais extraídos de flores. Por serem substâncias sintéticas, elas são mais estáveis e duradouras no ambiente do que suas versões naturais.
Apesar de serem derivados de extratos de plantas, o que pode passar uma ideia de segurança, é preciso ter cuidado na sua utilização. O principal motivo é que o piretroide é um inseticida de amplo espectro, um conceito que explicaremos mais adiante.
Agora, vamos entender seu modo de ação detalhado.
Modo de Ação: Atacando o Sistema Nervoso do Inseto
O inseticida piretroide age diretamente no sistema nervoso dos insetos. O alvo específico são os canais de sódio localizados nos axônios dos neurônios.
Parece complicado? Vamos simplificar com um passo a passo.
Passo 1: O Alvo é o Neurônio Pense no neurônio como a fiação elétrica do inseto. É por ele que passam todos os comandos do corpo.
Passo 2: Ação no Axônio O piretroide atua no axônio, que é a parte mais longa do neurônio, funcionando como o fio principal que transmite os impulsos elétricos.
Passo 3: Funcionamento Normal (Sem Inseticida) O axônio possui canais que se abrem e fecham para permitir a entrada e saída de cargas elétricas (íons de sódio). Esse movimento gera os impulsos nervosos. Em condições normais, o canal abre para o impulso passar e fecha em seguida, mantendo o equilíbrio.
Passo 4: A Ação do Piretroide Quando as moléculas do piretroide entram em contato com o sistema nervoso do inseto, elas “emperram” esses canais, forçando-os a permanecer abertos.
Passo 5: O Resultado Final Com os canais travados na posição aberta, os íons de sódio entram sem parar no axônio. Isso causa um “curto-circuito” no sistema nervoso, gerando impulsos contínuos e descontrolados. A consequência para o inseto é um sintoma inicial de hiperexcitação (tremores e convulsões), seguido de paralisia e morte.
(Fonte das imagens: Larry Keeley em YouTube)
O que Significa “Amplo Espectro”?
O termo amplo espectro é usado para inseticidas que podem afetar não apenas as pragas, mas também organismos não-alvo. Como os piretroides agem no sistema nervoso, outros organismos que possuem um sistema semelhante, como insetos benéficos, podem sofrer efeitos colaterais ou letais.
Eles geralmente agem por contato e ingestão. Isso significa que as moléculas do produto atingem o alvo tanto pelo contato direto com o corpo do inseto quanto pela alimentação de partes da planta que contêm o produto.
É importante lembrar que a dose determina o efeito. Muitas vezes, a dose necessária para matar a praga é menor do que a dose letal para outros organismos, mas o contrário também pode acontecer.
Por isso, é fundamental respeitar:
- As doses recomendadas para cada cultura.
- O período de carência: que é o intervalo mínimo entre a última aplicação e a colheita.
- A seletividade aos inimigos naturais: saber se o produto afeta os insetos benéficos presentes na área.
Cuidados Essenciais para Evitar Problemas com Piretroides
Além de serem de amplo espectro, os piretroides têm uma boa estabilidade sob a luz solar e costumam persistir no ambiente onde foram aplicados. Essa característica, conhecida como ação residual, é ótima para o controle de pragas, mas exige atenção.
A persistência do produto, combinada com aplicações frequentes e sem respeitar os intervalos, pode levar a dois grandes problemas:
Pressão de Seleção e Resistência: Com aplicações constantes, as moléculas do inseticida permanecem ativas no campo por mais tempo. Isso cria um “filtro” que elimina os insetos suscetíveis, mas permite que os indivíduos naturalmente mais resistentes sobrevivam e se reproduzam. Com o tempo, a população inteira da praga na sua lavoura pode se tornar resistente, e o inseticida perderá seu efeito.
Impacto em Inimigos Naturais: Por serem de amplo espectro, esses inseticidas podem eliminar organismos benéficos que ajudam no controle biológico natural das pragas. Muitos estudos científicos comprovam a toxicidade de piretroides para predadores e parasitoides.
O ideal é que os inseticidas sejam seletivos, ou seja, que atinjam a praga sem prejudicar os inimigos naturais. Essa seletividade pode ser:
- Fisiológica: O organismo do inimigo natural consegue metabolizar ou não é afetado pela molécula do inseticida.
- Ecológica: A aplicação é feita de uma forma (horário, local, formulação) que evita o contato com os inimigos naturais.
Conclusão
Os inseticidas do grupo dos piretroides são aliados valiosos para o controle de pragas na sua lavoura. Contudo, seu poder de ação exige responsabilidade no uso.
Como vimos neste artigo:
- Eles são eficazes, mas por serem de amplo espectro, podem atingir organismos não-alvo.
- Seu modo de ação ataca o sistema nervoso, causando paralisia e morte nos insetos.
- Seguir as recomendações da bula sobre dose, intervalo e número de aplicações não é opcional, é essencial.
- O manejo para evitar a resistência das pragas é a chave para garantir a eficácia do produto a longo prazo.
Com essas informações, esperamos que você possa utilizar os piretroides de forma mais estratégica e segura, alcançando ótimos resultados na sua produção.
Glossário
Agrofit: Sistema online oficial do MAPA onde é possível consultar todos os agrotóxicos e produtos fitossanitários com registro no Brasil, incluindo bulas, doses e culturas recomendadas.
Amplo espectro: Característica de um inseticida que atinge uma grande variedade de organismos, não apenas a praga-alvo. Isso significa que ele também pode afetar insetos benéficos, como predadores e polinizadores.
Ação residual: Capacidade de um produto químico de permanecer ativo no ambiente ou na superfície da planta por um determinado período após a aplicação. Essa persistência garante um controle mais prolongado das pragas.
Axônio: Principal parte de um neurônio (célula nervosa) responsável por transmitir impulsos elétricos. Funciona como o “fio” principal do sistema nervoso do inseto, sendo o alvo de ação dos piretroides.
Ingrediente Ativo (IA): A substância química principal dentro de um produto comercial que é responsável pelo efeito de controle sobre a praga. Diferentes marcas podem vender o mesmo ingrediente ativo em formulações variadas.
MAPA: Sigla para Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. É o órgão do governo federal brasileiro responsável por regulamentar e fiscalizar o setor agropecuário, incluindo o registro de defensivos agrícolas.
Piretroides: Classe de inseticidas sintéticos desenvolvidos a partir de piretrinas, compostos naturais encontrados em flores do gênero Chrysanthemum. Atuam no sistema nervoso dos insetos, causando paralisia e morte.
Pressão de Seleção: Processo que ocorre quando o uso repetido de um mesmo inseticida elimina os indivíduos suscetíveis de uma população de pragas. Isso favorece a sobrevivência e reprodução dos indivíduos naturalmente resistentes, fazendo com que o produto perca a eficácia ao longo do tempo.
Seletividade: Qualidade de um inseticida de controlar a praga-alvo causando o mínimo de dano a outros organismos, especialmente aos inimigos naturais (insetos benéficos). Um produto seletivo é fundamental para o Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Controlar o uso de piretroides para evitar a resistência e seguir rigorosamente as recomendações da bula é um dos maiores desafios operacionais na fazenda. Anotar tudo em cadernos ou planilhas abre espaço para erros, como esquecer o intervalo correto entre aplicações ou usar o mesmo princípio ativo repetidamente.
Um software de gestão agrícola como o Aegro resolve isso centralizando o planejamento e o registro das atividades. Nele, você pode programar todo o calendário de pulverizações, consultar o histórico de cada talhão e garantir que sua equipe siga as doses e os intervalos corretos, protegendo a eficácia dos produtos e o potencial produtivo da lavoura.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre piretroides e piretrinas?
As piretrinas são compostos inseticidas naturais extraídos de flores do gênero Chrysanthemum, sendo menos estáveis no ambiente. Já os piretroides são versões sintéticas desenvolvidas em laboratório, projetadas para terem maior estabilidade sob a luz solar e uma ação residual mais longa, garantindo um controle mais duradouro das pragas na lavoura.
O que significa na prática um inseticida ser de ‘amplo espectro’?
Um inseticida de amplo espectro, como os piretroides, age sobre uma grande variedade de insetos, não apenas a praga-alvo. Isso pode ser um problema, pois ele também pode eliminar inimigos naturais (predadores e parasitoides) que ajudam no controle biológico. A perda desses insetos benéficos pode causar um desequilíbrio e até o aumento de outras pragas.
Se um piretroide parece não estar funcionando, posso simplesmente aumentar a dose?
Não, aumentar a dose é uma prática incorreta e perigosa que acelera o desenvolvimento de resistência. Se a eficácia diminuiu, provavelmente a população de pragas já possui indivíduos resistentes. A melhor abordagem é seguir a recomendação de um engenheiro agrônomo para rotacionar com um inseticida de outro grupo químico e modo de ação.
Como posso evitar o desenvolvimento de resistência das pragas aos piretroides?
Para evitar a resistência, é fundamental adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Isso inclui: rotacionar o uso de inseticidas com diferentes modos de ação, seguir rigorosamente as doses e intervalos da bula, aplicar apenas quando o nível da praga atingir o nível de dano econômico e preservar os inimigos naturais.
Todos os produtos com nomes comerciais diferentes agem de forma diferente?
Não necessariamente. Produtos com nomes comerciais distintos podem conter ingredientes ativos do mesmo grupo químico, como vários piretroides (bifentrina, lambda-cialotrina, etc.). É crucial ler a bula para identificar o ingrediente ativo e seu grupo químico para garantir uma rotação eficaz e evitar o uso repetido do mesmo modo de ação.
Por que é tão importante seguir o número máximo de aplicações indicado na bula?
Respeitar o número máximo de aplicações é essencial para manejar a resistência. Cada aplicação exerce uma ‘pressão de seleção’ que elimina os insetos suscetíveis e favorece os resistentes. Exceder o limite aumenta drasticamente essa pressão, tornando o produto ineficaz muito mais rápido e comprometendo uma importante ferramenta de controle.
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