Inseticida na Dessecação: Guia para um Controle de Pragas Eficiente na Pré-Safra

Redator parceiro Aegro.
Inseticida na Dessecação: Guia para um Controle de Pragas Eficiente na Pré-Safra

Muitos insetos-praga conseguem sobreviver de uma safra para a outra, escondidos na palhada ou em plantas daninhas. Por isso, controlá-los já na dessecação é um passo estratégico para começar o plantio com o pé direito.

Mas você sabe como planejar essa operação para garantir o melhor resultado? E na hora de escolher os produtos, o que é preciso levar em conta para não ter prejuízo?

Neste artigo, vamos detalhar como fazer o melhor uso de inseticidas durante a dessecação da lavoura. Com o manejo correto, você ganha mais eficiência no controle de pragas e protege o potencial produtivo da sua cultura desde o início.

Planejamento da Dessecação: O Primeiro Passo para o Sucesso

A dessecação é uma prática fundamental que consiste em eliminar toda a vegetação de uma área antes de iniciar a semeadura da nova cultura. O objetivo é garantir que a lavoura comercial comece “no limpo”, sem competição.

Este manejo remove tanto as plantas daninhas quanto os restos da cultura anterior. Isso evita que, na fase inicial de desenvolvimento, sua lavoura precise disputar recursos essenciais como água, luz e nutrientes com plantas invasoras.

Além disso, quando se utilizam plantas de cobertura na entressafra, a dessecação é crucial para formar a palha para o plantio direto, protegendo o solo.

O problema é que as plantas que sobrevivem a uma dessecação malfeita podem servir de “ponte verde”, abrigando pragas que atacarão a cultura principal logo no início do seu ciclo.

Para uma dessecação eficaz, o planejamento é essencial. Ele deve incluir:

  • Momento correto da aplicação: Nem muito cedo, nem muito tarde, para garantir o controle ideal.
  • Conhecimento do solo: Isso ajuda a obter um bom efeito residual dos herbicidas.
  • Boas práticas de pulverização: Tecnologia de aplicação, bicos corretos e volume de calda adequado.
  • Condições climáticas favoráveis: Temperatura, umidade do ar e velocidade do vento são cruciais.
  • Escolha do herbicida: O mecanismo de ação deve ser adequado para cada tipo de planta daninha identificada na área.

Dentro desse planejamento, uma prática cada vez mais importante é o uso estratégico de inseticidas junto com os herbicidas na dessecação. Vamos entender melhor por quê.

Plantas de Cobertura e a Sobrevivência das Pragas

O uso de plantas de cobertura verde na entressafra é uma excelente prática para melhorar a saúde do solo.

  • No Sul do país, culturas como aveia, azevém e ervilhaca são bastante comuns.
  • Já no Centro-Oeste, o milheto, a braquiária e a crotalária são mais utilizados.

Apesar dos benefícios, esse cenário também favorece a sobrevivência de pragas, especialmente as lagartas polífagas. Essas lagartas se alimentam de diversas espécies de plantas e, por isso, encontram nas coberturas um ambiente ideal para se reproduzir.

Quando a dessecação é realizada, muitas dessas lagartas conseguem se abrigar na palha junto ao solo. Ali, elas esperam a cultura comercial emergir para atacar, cortando as plântulas e causando falhas no estande.

As lagartas do gênero Spodoptera, como a lagarta-do-cartucho, são especialistas nesse comportamento. Elas completam seu ciclo se alimentando das plantas de cobertura e, depois, migram para a cultura recém-plantada.

vasta paisagem agrícola após a colheita, com o campo coberto por uma espessa camada de palhada seca. O t Lavoura dessecada para semeadura (Fonte: Dekalb)

Em regiões produtoras de soja, milho e algodão, onde o plantio escalonado (sucessão de culturas) e o uso de cobertura verde são comuns, há alimento constante para esses insetos durante o ano todo.

Isso aumenta o risco de redução do estande e, consequentemente, da produtividade. Fica clara, então, a importância de um controle inicial bem feito.

Quando Realmente Vale a Pena Usar Inseticidas na Dessecação?

O objetivo de aplicar inseticidas na dessecação é simples: eliminar as pragas que estão na área antes mesmo do plantio da cultura comercial.

Contudo, como todo manejo, essa prática exige uma avaliação cuidadosa para ser viável. Nem sempre ela será necessária e aplicá-la sem critério pode ser um custo desnecessário.

Então, como saber se há uma necessidade real?

Para tomar a decisão correta, você precisa responder a algumas perguntas-chave sobre a sua lavoura:

  • O estande de plantas costuma ser reduzido por ataques de lagartas no início do ciclo?
  • A aplicação na dessecação realmente diminui a infestação de lagartas nas primeiras semanas da cultura?
  • A produtividade é afetada pelas lagartas que sobrevivem na palha?
  • Os benefícios econômicos de aplicar o inseticida na dessecação superam o custo da operação?

A melhor forma de obter essas respostas é através do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Antes de qualquer estratégia, você deve monitorar a área, conhecer as espécies presentes e então decidir se o controle é necessário.

Quais Inseticidas Usar na Dessecação?

Tradicionalmente, os produtos mais usados na dessecação são dos grupos piretróides, carbamatos e organofosforados. A principal vantagem deles é o menor custo. No entanto, eles possuem uma grande desvantagem: não são seletivos aos inimigos naturais, ou seja, matam tanto as pragas quanto os insetos benéficos.

Para superar esse problema, novas moléculas mais estratégicas estão surgindo, alinhadas com os princípios do MIP.

O metomil, por exemplo, é um inseticida que tem se destacado pela eficiência no controle e por ser mais seletivo. Uma vantagem prática é que ele pode ser utilizado em mistura com o glifosato, facilitando o manejo.

Atenção: Um estudo realizado no Mato Grosso demonstrou que a associação de metomil com glifosato pode prejudicar a ação do inseticida, não recomendando a mistura. É fundamental consultar um engenheiro agrônomo e seguir as recomendações técnicas.

O mesmo estudo, no entanto, mostrou uma boa compatibilidade e controle quando o glifosato foi misturado com o ingrediente ativo espinosade.

  • Espinosade: é um inseticida de origem natural, extraído da bactéria Saccharopolyspora spinosa. Ele pertence ao grupo químico das espinosinas e é conhecido por sua alta seletividade aos principais inimigos naturais das pragas.

A seletividade é um fator-chave, pois preserva o controle biológico natural que já ocorre na lavoura, um pilar do MIP. Isso melhora o equilíbrio do sistema, embora algumas pragas possam ser tolerantes ou resistentes a certos ingredientes ativos.

Outros ingredientes ativos também podem ser usados com glifosato, apresentando bons resultados, como mostra a tabela abaixo:

uma tabela de resultados de um estudo agronômico, detalhando o impacto de diferentes inseticidas na produtivid Produtividade da soja após pulverização de diferentes inseticidas na dessecação (Fonte: Revista Planta Daninha)

Tanto o metomil quanto o espinosade são recomendados para as principais culturas e têm bons resultados no controle de lagartas. Para mais informações, consulte sempre o Agrofit.

Outra estratégia importante do MIP é o controle cultural. O uso de variedades de soja, milho e algodão com tecnologia Bt (plantas geneticamente modificadas que expressam toxinas contra certas pragas) ajuda no controle das lagartas que sobrevivem à pulverização e na manutenção do estande de plantas.

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Conclusão

O uso de inseticida na dessecação é uma ferramenta poderosa para o controle de pragas que ameaçam a lavoura no início do ciclo.

O objetivo principal é claro: reduzir a população de pragas, principalmente do gênero Spodoptera, sem prejudicar os inimigos naturais que ajudam a manter o equilíbrio.

Lembre-se dos pontos-chave:

  • Avalie a necessidade real: Monitore sua área para decidir se a aplicação é economicamente viável.
  • Escolha produtos compatíveis: Evite misturas que possam reduzir a eficácia e opte por inseticidas seletivos para preservar os inimigos naturais.
  • Siga as boas práticas: Respeite as recomendações técnicas de aplicação para garantir a máxima eficiência.

Um bom planejamento da safra é o que melhora a qualidade do seu plantio e aumenta a sua rentabilidade. E não se esqueça: o planejamento é a chave para o sucesso


Glossário

  • Controle Biológico: Uso de organismos vivos, como insetos predadores e parasitoides (inimigos naturais), para controlar populações de pragas. É uma tática que busca reduzir o uso de defensivos químicos, sendo um pilar do MIP.

  • Dessecação: Aplicação de herbicidas para eliminar toda a vegetação (plantas daninhas e de cobertura) antes de iniciar a semeadura da nova cultura. O objetivo é garantir que a lavoura comece seu desenvolvimento em um ambiente “limpo” e sem competição.

  • Estande (de plantas): Refere-se ao número de plantas por unidade de área (ex: plantas por hectare) que germinam e se estabelecem com sucesso. Falhas no estande, causadas por pragas, impactam diretamente o potencial produtivo da lavoura.

  • Inimigos Naturais: Organismos que se alimentam ou parasitam pragas agrícolas, ajudando a manter suas populações sob controle. A preservação desses insetos benéficos é crucial para o equilíbrio do ecossistema agrícola.

  • Manejo Integrado de Pragas (MIP): Uma estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico) de forma racional e sustentável. As decisões são baseadas no monitoramento da lavoura para aplicar defensivos apenas quando estritamente necessário.

  • Plantas de Cobertura: Culturas, como braquiária ou aveia, plantadas na entressafra para proteger o solo da erosão e melhorar sua qualidade. Apesar dos benefícios, podem servir de abrigo para pragas que atacarão a safra principal.

  • Ponte Verde: Termo que descreve como as plantas daninhas ou de cobertura que sobrevivem na entressafra servem de abrigo e alimento para as pragas. Essa “ponte” permite que os insetos migrem diretamente para a nova cultura assim que ela emerge.

  • Tecnologia Bt: Refere-se a plantas geneticamente modificadas (como soja e milho) que produzem proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt). Essas proteínas são tóxicas para certas lagartas, funcionando como um inseticida na própria planta.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Decidir se a aplicação de inseticida na dessecação é economicamente viável e, ao mesmo tempo, registrar o monitoramento de pragas de forma organizada são os maiores desafios desse manejo. Sem dados precisos, o produtor corre o risco de gastar com uma aplicação desnecessária ou perder produtividade por não agir no momento certo.

Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas duas frentes. Com ele, você pode registrar os dados do monitoramento de pragas diretamente no aplicativo de celular, criando um histórico confiável para embasar suas decisões de MIP. Ao mesmo tempo, a plataforma calcula o custo exato da operação, permitindo que você compare o investimento no defensivo com o ganho de produtividade esperado, garantindo que cada aplicação valha a pena.

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Perguntas Frequentes

O que é a ‘ponte verde’ e por que ela é tão prejudicial para a lavoura?

A ‘ponte verde’ é formada por plantas daninhas ou de cobertura que sobrevivem na entressafra, servindo de abrigo e alimento para pragas como as lagartas. Ela é prejudicial porque permite que esses insetos migrem diretamente para a cultura principal assim que ela emerge, causando falhas no estande e comprometendo o potencial produtivo desde o início.

Qual a principal vantagem de usar um inseticida seletivo na dessecação em vez de um tradicional?

A principal vantagem é a preservação dos inimigos naturais. Inseticidas seletivos, como o espinosade, controlam as pragas-alvo sem eliminar os insetos benéficos que realizam o controle biológico. Isso mantém o equilíbrio do ecossistema e é um pilar do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

É sempre necessário aplicar inseticida junto com o herbicida na dessecação?

Não, não é sempre necessário. A decisão deve ser baseada no monitoramento da área, conforme os princípios do MIP. A aplicação só se justifica se houver uma população de pragas que represente um risco econômico para a cultura seguinte. Aplicar sem critério gera custos desnecessários e pode impactar negativamente o ambiente.

Como saber se o investimento em inseticida na dessecação vale a pena economicamente?

A viabilidade econômica é determinada pela análise de custo-benefício. Você deve comparar o custo da aplicação (produto + operação) com a perda de produtividade esperada caso as pragas não sejam controladas. O monitoramento prévio é crucial para estimar a infestação e tomar uma decisão informada, garantindo que o benefício supere o custo.

Além das lagartas, que outras pragas podem ser controladas com a aplicação de inseticida na dessecação?

Embora o foco principal seja em lagartas do gênero Spodoptera, a aplicação na dessecação também pode ajudar a controlar outras pragas que se abrigam na palhada ou em plantas de cobertura. Dependendo do produto escolhido, é possível atingir percevejos, corós e outros insetos que atacam as plântulas no início do ciclo.

Usar uma cultura com tecnologia Bt elimina a necessidade de aplicar inseticida na dessecação?

Não necessariamente. A tecnologia Bt é uma ferramenta excelente, mas uma alta pressão de pragas no início do ciclo pode causar danos antes que as plântulas estejam estabelecidas. O uso de inseticida na dessecação reduz essa pressão inicial, agindo de forma complementar à tecnologia Bt e garantindo a proteção do estande da lavoura.

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