Você sabia que, na safra 2017/2018, a inoculação aumentou a produtividade da soja em uma média de 1,8 sacas por hectare? E com a técnica de co-inoculação, que combina as bactérias Bradyrhizobium spp. e Azospirillum spp., esse ganho saltou para uma média de 5,6 sacas por hectare.
Esses dados, de uma pesquisa da Emater do Paraná, mostram o enorme potencial dessa prática. No entanto, alguns descuidos simples no campo podem colocar todos esses benefícios em risco.
Para garantir que você aproveite ao máximo essa tecnologia, preparamos este guia completo. Aqui, vamos detalhar tudo o que você precisa saber para usar inoculantes corretamente, desde o que são até a aplicação e os cuidados essenciais para o sucesso da sua lavoura.
O que é e como funciona o inoculante para soja?
O inoculante é um produto biológico, ou seja, ele é composto por microrganismos vivos que são benéficos para as plantas. De forma simples, a inoculação serve para criar uma parceria vantajosa entre esses microrganismos e as raízes da soja.
A bactéria mais conhecida e utilizada para a soja é a Bradyrhizobium spp. (principalmente a espécie Bradyrhizobium japonicum). A grande vantagem dela é realizar a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).
- Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): significa que as bactérias capturam o nitrogênio do ar (que compõe 78% da atmosfera) e o transformam em uma forma que a planta de soja consegue absorver e usar para crescer.
Essa parceria é tão eficiente que pode substituir completamente a necessidade de adubação com nitrogênio na cultura da soja.
(Fonte: Agronegócios)
Nessa associação, formam-se estruturas nas raízes da soja chamadas nódulos, que funcionam como pequenas fábricas de nitrogênio. As bactérias fornecem nitrogênio para a planta, e em troca, a planta fornece carbono (energia) para as bactérias, que é produzido durante a fotossíntese.
A relação é impressionante: a cada 1 tonelada de grãos de soja produzida, a planta precisa de cerca de 80 kg de nitrogênio, quantidade que essas bactérias podem fornecer.
E a co-inoculação?
Além do Bradyrhizobium, outras bactérias, como o Azospirillum brasilense, também trazem grandes benefícios. O Brasil foi pioneiro em pesquisas com esse microrganismo, que promove o crescimento das plantas mesmo sem formar nódulos.
A co-inoculação é a prática de usar o Bradyrhizobium junto com o Azospirillum. Essa combinação tem se mostrado extremamente positiva, potencializando ainda mais a produtividade, como mostram os dados da Emater. Para saber mais, a Embrapa tem uma cartilha completa sobre o processo.
Raiz de soja com co-inoculação de Bradyrhizobium e Azospirillum
(Fonte: Embrapa)
Quais os benefícios do inoculante para soja?
Além de fornecer nitrogênio de graça para a lavoura, os inoculantes trazem outros benefícios importantes que fortalecem a planta:
- Maior resistência a estiagens: As bactérias ajudam a planta a enfrentar melhor os períodos de falta de água.
- Melhor absorção de água e nutrientes: O sistema radicular se torna mais eficiente na busca por recursos no solo.
- Produção de fito-hormônios: Os microrganismos produzem substâncias que estimulam o crescimento das raízes, resultando em plantas mais bem desenvolvidas e ancoradas.
- Estímulo à vida no solo: A inoculação melhora a simbiose com outras bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP), que já existem naturalmente no solo, beneficiando todo o ecossistema da lavoura.
Passo a Passo: Como Aplicar o Inoculante Corretamente
Os inoculantes disponíveis no mercado vêm em duas formas principais: líquida ou turfosa (em pó). A aplicação é semelhante a outros tratamentos de semente que você já realiza, mas exige alguns cuidados específicos para garantir que os microrganismos cheguem vivos e ativos ao solo.
O objetivo é distribuir o inoculante de forma uniforme por toda a superfície da semente.
(Fonte: Microbiologia e Bioquímica do solo)
Siga estes passos para uma inoculação de sucesso:
- Verifique o Registro no MAPA: A embalagem deve ter o número de registro do produto, garantindo sua procedência e qualidade.
- Confira a Validade: O inoculante contém organismos vivos. Nunca use um produto vencido.
- Cheque a Concentração: A legislação brasileira exige uma concentração mínima de
1,0 x 10⁹
células viáveis por grama ou mL (ou seja, 1 bilhão de bactérias vivas). Verifique essa informação no rótulo. - Identifique as Estirpes: O produto deve conter uma das estirpes de bactérias recomendadas para o Brasil.
- Armazene Corretamente: Guarde o inoculante em local fresco, arejado e protegido da luz solar direta.
- Inocule Sempre à Sombra: A operação de mistura do inoculante com as sementes deve ser feita em um local protegido do sol, pois os raios UV podem matar as bactérias.
- Proteja as Sementes Tratadas: Após a inoculação, mantenha as sementes na sombra e longe do calor excessivo.
- Não Inocule na Caixa da Semeadora: Faça a inoculação antes de colocar as sementes na máquina. Misturar na caixa não garante uma distribuição uniforme.
- Semeie o Mais Rápido Possível: O ideal é plantar as sementes inoculadas no mesmo dia. Quanto mais tempo passa, mais bactérias morrem.
- Use a Dose Certa: Não utilize menos de
100 mL
de inoculante líquido por saca de 50 kg de sementes. Siga sempre a recomendação do fabricante. - Dica para Inoculante Turfoso (em pó): Para ajudar o produto a grudar melhor na semente, você pode usar uma solução açucarada a 10% (100g de açúcar para 1 litro de água).
Inoculante e Tratamento Químico de Sementes: Podem Trabalhar Juntos?
A resposta é sim, é possível e recomendado combinar o tratamento químico das sementes (com fungicidas e inseticidas) com a inoculação. Contudo, alguns cuidados são fundamentais para não prejudicar as bactérias.
(Fonte: Rizobacter)
Lembre-se sempre de rotacionar os mecanismos de ação dos produtos químicos. O uso contínuo do mesmo princípio ativo pode criar uma pressão de seleção na comunidade de microrganismos do solo, causando desequilíbrios.
Para conciliar as duas práticas:
- A inoculação vem por último: Sempre aplique o inoculante depois de todos os outros tratamentos químicos. Deixe os produtos secarem na semente antes de adicionar o inoculante.
- Aumente a dose do inoculante: Para compensar o efeito que algumas substâncias químicas exercem sobre as bactérias, é uma boa prática aumentar a dose do inoculante.
- Use Cobalto (Co) e Molibdênio (Mo): Esses dois micronutrientes são essenciais para o bom funcionamento da fixação biológica de nitrogênio. Eles podem ser aplicados no tratamento de sementes ou via foliar até 15 dias após a emergência da soja. A recomendação da Embrapa é de
12 a 25 g/ha
de Molibdênio e2 a 3 g/ha
de Cobalto.
6 Dicas Essenciais para Maximizar os Resultados
- Obrigatório em novas áreas: O uso de inoculantes é indispensável em áreas de primeiro cultivo de soja ou em solos que não recebem a cultura há muitos anos.
- Re-inoculação anual vale a pena: Mesmo em áreas já consolidadas, a re-inoculação anual pode trazer ganhos médios de produtividade de 8%.
- Dispensa total da adubação nitrogenada: Se a inoculação for bem-sucedida, você não precisa aplicar fertilizantes nitrogenados, nem no solo, nem via foliar. Estudos no Paraná confirmaram a ausência de resposta à adubação com N mesmo em lavouras de alta produtividade.
- Produtos de proteção: Existem no mercado produtos que servem como adesivos e protetores para as bactérias, aumentando o tempo que elas sobrevivem na semente. Vale a pena pesquisar e testar.
- Evite semear “no pó”: Plantar em solo muito seco prejudica a germinação e também a sobrevivência das bactérias do inoculante. Espere por condições ideais de umidade.
- Inoculação no sulco de plantio: É uma alternativa, mas exige ajuste na dose. A recomendação é usar no mínimo
2,5 vezes
a dose que seria aplicada na semente, diluída em pelo menos50 litros de água por hectare
.
Qual o Custo e o Custo-Benefício do Inoculante?
O custo dos inoculantes é muito acessível e representa uma pequena fração do custo total de produção. No Rio Grande do Sul, por exemplo, as doses custam em torno de R$ 4,00 por hectare.
Com um investimento tão baixo e um ganho potencial que pode ultrapassar 5 sacas por hectare (mais de R$ 500/ha, dependendo do preço da saca), o retorno sobre o investimento é extremamente atrativo.
Ao escolher, considere o custo, a qualidade e a concentração de microrganismos. A principal diferença entre os tipos é a praticidade:
- Inoculante líquido: Mais prático, já vem pronto para ser misturado às sementes.
- Inoculante turfoso (em pó): Geralmente mais barato, mas exige a preparação de uma calda (solução açucarada) para garantir a aderência às sementes.
O mais importante é colocar todos os custos na ponta do lápis e avaliar qual opção oferece o melhor custo-benefício para a sua realidade, garantindo que essa prática de sucesso continue impulsionando seus resultados.
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Glossário
Azospirillum spp.: Gênero de bactérias que promovem o crescimento das plantas, principalmente através da produção de fito-hormônios que estimulam o desenvolvimento das raízes. Na soja, é utilizada em conjunto com o Bradyrhizobium na técnica de co-inoculação para aumentar a absorção de água e nutrientes.
Bradyrhizobium spp.: Gênero de bactérias que formam uma simbiose com as raízes da soja, criando nódulos capazes de realizar a Fixação Biológica de Nitrogênio. É o principal microrganismo utilizado nos inoculantes para a cultura, fornecendo o nitrogênio que a planta precisa.
Co-inoculação: Prática de aplicar dois tipos de microrganismos benéficos às sementes ao mesmo tempo. No artigo, refere-se à combinação das bactérias Bradyrhizobium e Azospirillum para potencializar tanto a fixação de nitrogênio quanto o crescimento das raízes da soja.
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Processo em que bactérias capturam o nitrogênio do ar (N₂) e o transformam em uma forma que a planta pode absorver (amônia). Essa parceria natural elimina a necessidade de aplicar fertilizantes nitrogenados na lavoura de soja.
Fito-hormônios: Substâncias produzidas por plantas e microrganismos que regulam o crescimento vegetal, como o desenvolvimento de raízes. No contexto do artigo, as bactérias Azospirillum produzem esses hormônios, resultando em plantas mais bem ancoradas e resistentes.
Inoculante Turfoso: Tipo de inoculante biológico apresentado em forma de pó, geralmente tendo a turfa como veículo. Para garantir sua aderência às sementes, frequentemente precisa ser misturado com uma solução adesiva, como água com açúcar.
Nódulos: Pequenas estruturas que se formam nas raízes da soja como resultado da simbiose com a bactéria Bradyrhizobium. Dentro desses nódulos ocorre a Fixação Biológica de Nitrogênio, funcionando como pequenas fábricas de adubo para a planta.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
O artigo destaca que, apesar do baixo custo do inoculante, o sucesso da operação depende de uma aplicação correta e de um controle financeiro preciso para comprovar o retorno do investimento. Gerenciar os custos de produção e, ao mesmo tempo, planejar as atividades no campo pode ser um desafio durante a correria do plantio. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas tarefas, permitindo que você registre os gastos com insumos e acompanhe a execução da inoculação para garantir que tudo saia conforme o planejado, facilitando a análise do impacto real na sua produtividade.
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Perguntas Frequentes
O que é a co-inoculação e por que ela é mais vantajosa que a inoculação simples na soja?
A co-inoculação é a prática de usar duas bactérias benéficas juntas: a Bradyrhizobium, que fixa o nitrogênio do ar, e a Azospirillum, que promove o crescimento das raízes. Essa combinação é mais vantajosa porque, além de fornecer o nitrogênio necessário, melhora a capacidade da planta de absorver água e outros nutrientes, resultando em maior resistência à seca e um aumento de produtividade superior ao da inoculação simples.
Se já plantei soja na mesma área no ano anterior, ainda preciso inocular as sementes novamente?
Sim, a re-inoculação anual é altamente recomendada. Mesmo que existam bactérias no solo de safras anteriores, a aplicação de um inoculante novo garante uma alta concentração de estirpes selecionadas e eficientes diretamente nas sementes. Estudos mostram que essa prática pode aumentar a produtividade em uma média de 8%, sendo um investimento de baixíssimo custo e alto retorno.
Posso misturar o inoculante com fungicidas e inseticidas no tratamento de sementes?
Sim, é possível, mas com cuidados essenciais. O inoculante deve ser o último produto a ser aplicado, sempre após os tratamentos químicos secarem completamente na semente. Além disso, é uma boa prática aumentar a dose do inoculante para compensar a mortalidade de parte das bactérias causada pelo contato com os químicos, garantindo assim a eficiência da Fixação Biológica de Nitrogênio.
Com uma inoculação bem-feita, posso eliminar completamente a adubação com nitrogênio na soja?
Sim, absolutamente. Uma inoculação eficiente, especialmente a co-inoculação, é capaz de fornecer todo o nitrogênio que a cultura da soja necessita ao longo do seu ciclo. A aplicação de fertilizantes nitrogenados torna-se desnecessária e antieconômica, pois a planta não responderá a essa adubação adicional, representando uma economia significativa nos custos de produção.
Qual a principal diferença prática entre o inoculante líquido e o turfoso (em pó)?
A principal diferença está na praticidade de aplicação e no custo. O inoculante líquido geralmente é mais prático, pois já vem pronto para ser misturado às sementes. O inoculante turfoso (em pó) costuma ser mais barato, mas exige a preparação de uma calda, como uma solução açucarada, para garantir que o produto adira bem às sementes. Ambos são eficazes se aplicados corretamente.
O que acontece se eu aplicar o inoculante e não conseguir plantar no mesmo dia?
O ideal é semear no mesmo dia da inoculação, pois o produto contém microrganismos vivos. Quanto mais tempo as sementes inoculadas esperam, maior a mortalidade das bactérias, especialmente se expostas ao calor e à luz solar. Atrasar o plantio reduz a eficiência da inoculação e, consequentemente, o potencial de fixação de nitrogênio e o ganho de produtividade.
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