O nitrogênio (N) é um dos nutrientes que as lavouras mais precisam para se desenvolver. Ele é fundamental para o crescimento vegetativo das plantas e para garantir o teor ideal de proteína nos grãos. Por isso, uma quantidade adequada de N é sinônimo de alta produtividade.
Uma prática simples e eficiente para aumentar o nitrogênio no solo de forma biológica é a inoculação de sementes. Isso é possível graças a bactérias específicas que conseguem capturar o nitrogênio do ar e entregá-lo diretamente para as plantas.
Com a inoculação, você pode reduzir ou até eliminar a necessidade de usar adubos nitrogenados. Isso gera uma grande economia na produção, além de promover ganhos significativos de rendimento na sua lavoura.
Agora, vamos entender em detalhes o que é a inoculação de sementes, quais os tipos de inoculantes disponíveis e como fazer esse processo da forma correta. Continue a leitura!
O que é inoculação de sementes?
Para entender a inoculação, primeiro precisamos falar sobre a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN).
- Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): significa um processo natural onde o nitrogênio (N2) presente na atmosfera é convertido em uma forma que as plantas conseguem absorver e utilizar.
Esse trabalho é feito por bactérias especiais, chamadas de rizóbios. Elas possuem enzimas (nitrogenases) que realizam essa transformação. Essas bactérias vivem em simbiose — uma relação de troca e ajuda mútua — com as raízes de plantas leguminosas, como a soja, o feijão e a ervilha.
A principal cultura que se beneficia dessa parceria é a soja. A simbiose resulta na formação de pequenas estruturas nas raízes, conhecidas como nódulos, que parecem pequenas bolinhas. É dentro desses nódulos que a mágica da fixação de nitrogênio acontece.
Raiz de soja com a presença de nódulos, resultado da inoculação com a bactéria Bradyrhizobium sp. (Fonte: Embrapa)
Pesquisadores também encontraram outras espécies de bactérias que fixam nitrogênio em associação com gramíneas, como o milho, o trigo e a cana-de-açúcar.
No entanto, nessas plantas, não há a formação de nódulos nas raízes, e as quantidades de nitrogênio fixado são muito menores. Por isso, para essas culturas, ainda é necessário o uso de adubos nitrogenados para complementar a nutrição.
A inoculação, portanto, é o processo de adicionar essas bactérias selecionadas às sementes antes do plantio. O produto que contém essas bactérias é chamado de inoculante ou biofertilizante, um insumo 100% biológico.
Todos os inoculantes comerciais são produzidos seguindo regras da Relare (Rede de Laboratórios para Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes) e devem ser registrados no MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária).
Principais tipos de inoculantes
Os inoculantes são insumos de baixo custo e fáceis de encontrar no mercado.
Para que um microrganismo seja aprovado, ele passa por um longo processo de estudo e seleção por cientistas. As empresas que produzem inoculantes devem usar apenas as cepas (tipos específicos de bactérias) registradas e recomendadas por órgãos oficiais.
O MAPA mantém uma lista atualizada com as bactérias autorizadas para cada cultura. Veja alguns exemplos:
- Soja: Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii;
- Feijão: Rhizobium tropici;
- Ervilha e lentilha: Rhizobium leguminosarum bv. viceae;
- Trigo, milho e arroz: Azospirillum brasilense;
Bradyrhizobium, Rhizobium e Azospirillum
O Bradyrhizobium é o gênero de bactéria mais popular para inoculação. Cerca de 80% dos inoculantes vendidos na agricultura brasileira são feitos com espécies de Bradyrhizobium. Ele é a principal escolha para a cultura da soja, mas também funciona para o feijão-caupi.
As bactérias do gênero Azospirillum representam cerca de 10% dos inoculantes produzidos. Elas realizam a fixação de nitrogênio em gramíneas como milho, trigo, arroz e cana-de-açúcar, embora em quantidades menores.
Além de fixar nitrogênio, o Azospirillum tem outro grande benefício: ele produz hormônios vegetais que estimulam o crescimento das raízes, tornando as plantas mais fortes e bem desenvolvidas.
Os 10% restantes do mercado são compostos por outras espécies, como Sinorhizobium sp., Mesorhizobium sp. e o Rhizobium sp., que é muito utilizado em feijão, lentilha e ervilha.
Benefícios da inoculação
O uso de inoculantes melhora o desempenho geral da lavoura. Além do aumento direto no rendimento, a prática está associada a outros benefícios importantes:
- Produz hormônios que estimulam o crescimento das plantas;
- Aumenta a resistência a estresses do ambiente (como falta de água);
- Melhora a eficiência na absorção de água e de outros nutrientes do solo;
- Reduz os custos de produção, diminuindo a necessidade de adubação nitrogenada.
Ponto de Atenção: Em culturas como o milho, a inoculação com Azospirillum brasiliense não fornece todo o nitrogênio que a planta precisa. Nesses casos, a adubação nitrogenada na semeadura e em cobertura continua sendo necessária para garantir uma boa produção.
Inoculação na soja: por que é indispensável?
As bactérias que fixam nitrogênio para a soja não existem naturalmente na maioria dos solos brasileiros. Por isso, se você vai plantar soja em uma área pela primeira vez, a inoculação é obrigatória para alcançar bons rendimentos.
Mesmo em áreas já cultivadas, realizar a inoculação na soja todos os anos pode trazer um aumento de rentabilidade superior a 8%.
Uma técnica avançada é a coinoculação: significa usar um inoculante que mistura as bactérias Bradyrhizobium + Azospirillum. Essa combinação pode potencializar os resultados, gerando um aumento de até 6 sacas por hectare na produtividade.
Na soja, o nitrogênio é o nutriente mais exigido pela planta, pois seus grãos têm alto teor de proteína. Quando bem-feita, a inoculação é capaz de suprir 100% dessa demanda.
Atenção: esses resultados só são alcançados quando as boas práticas de inoculação são seguidas à risca. Com o manejo correto, nenhuma adubação nitrogenada de complemento é necessária em qualquer fase da cultura da soja.
Como fazer a inoculação?
Os inoculantes são vendidos em diferentes formas: líquida, em gel ou sólida (turfa). Cada tipo exige um método de aplicação diferente, por isso é fundamental seguir as orientações do fabricante.
1. Inoculação na semente com inoculante turfoso (pó)
O inoculante em pó deve ser misturado com uma solução açucarada (ou outro produto adesivo) para grudar bem nas sementes. Depois de misturar e homogeneizar bem, deixe as sementes secarem à sombra. Este tipo só pode ser aplicado diretamente na semente.
2. Inoculação na semente com inoculante líquido
Aplique o inoculante líquido diretamente sobre as sementes, misture para garantir uma cobertura uniforme e deixe secar à sombra antes de levar para a plantadeira.
3. Inoculação com inoculante líquido no sulco de semeadura
Neste método, o inoculante é diluído em água (cerca de 50 L/ha
) e aplicado diretamente no sulco de plantio, junto com a semente. A dose recomendada é geralmente seis vezes maior que a dose para tratamento de sementes.
A grande vantagem deste método é que ele evita o contato direto das bactérias com fungicidas e micronutrientes que podem estar tratando a semente. Isso protege as bactérias, que são organismos vivos, e garante sua sobrevivência e eficiência.
(Fonte: Prando et al., 2020)
Boas práticas: 6 dicas para uma inoculação de sucesso
Para garantir que a inoculação entregue todos os seus benefícios, alguns cuidados são essenciais.
1. Verifique o produto: registro, validade e armazenamento
Confira se o inoculante tem registro no Ministério da Agricultura e observe a data de vencimento no rótulo. Certifique-se de que o produto foi transportado e armazenado corretamente, longe do sol e de altas temperaturas (acima de 30°C), pois as bactérias são seres vivos e morrem com o calor.
2. Escolha o momento certo da inoculação
Faça a inoculação sempre em um local com sombra. Após o processo, mantenha as sementes inoculadas protegidas do sol e do calor até o momento do plantio para não matar as bactérias.
3. Calcule a dose de aplicação correta
Siga sempre as instruções do fabricante para calcular a dose. Como regra geral, garanta no mínimo 1,2 milhões de células de bactéria por semente
.
- Para formulações líquidas, a dose mínima costuma ser de
100 ml de inoculante para cada 50 kg de sementes
. - Para produtos turfosos, recomenda-se umedecer as sementes com uma solução de água e açúcar a 10% para ajudar o pó a grudar.
4. Cuidado ao combinar com outros produtos
Se você vai fazer o tratamento de sementes com produtos químicos (fungicidas, inseticidas), não misture tudo ao mesmo tempo. O processo correto é:
- Primeiro, aplique o produto químico.
- Espere a semente secar completamente.
- Só então, aplique o inoculante.
Lembre-se: as bactérias são microrganismos vivos e sensíveis!
5. Evite a inoculação na caixa da semeadora
Não jogue o inoculante diretamente na caixa da semeadora sobre as sementes. Essa prática não garante que as bactérias grudem na semente de forma uniforme e reduz drasticamente a eficiência do processo.
6. Plante logo após a inoculação
O ideal é que a semeadura seja feita no mesmo dia da inoculação, especialmente se a semente também foi tratada com químicos. Se não for possível, realize o plantio em, no máximo, 24 horas após a inoculação. Além disso, evite semear com o solo muito seco (“no pó”) ou em horários de calor intenso, pois as bactérias são sensíveis ao ressecamento.
Conclusão
As bactérias fixadoras de nitrogênio são grandes aliadas do produtor rural para aumentar a produtividade e, ao mesmo tempo, reduzir os custos com fertilizantes nitrogenados. Como elas geralmente não existem na quantidade ideal no solo, a solução é adicioná-las através dos inoculantes.
- Na soja: a inoculação bem-feita supre toda a necessidade de nitrogênio da cultura.
- Em gramíneas (milho, trigo): a inoculação ajuda, mas ainda é preciso complementar com adubação.
Para que a inoculação funcione e traga o retorno esperado, é fundamental seguir as boas práticas de manejo. Preste atenção aos detalhes, desde a compra do produto até o plantio, e aproveite ao máximo o potencial da sua lavoura, produzindo mais e com menor custo.
Glossário
Azospirillum: Gênero de bactéria usado em inoculantes, especialmente para gramíneas como milho e trigo. Além de fixar nitrogênio, produz hormônios que estimulam o crescimento das raízes, tornando a planta mais robusta.
Coinoculação: Prática de aplicar dois tipos diferentes de microrganismos benéficos ao mesmo tempo. Um exemplo comum na soja é a combinação das bactérias Bradyrhizobium e Azospirillum para maximizar os benefícios e a produtividade.
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Processo natural no qual bactérias específicas capturam o nitrogênio do ar e o convertem em uma forma que as plantas podem absorver. É o princípio que faz a inoculação funcionar, nutrindo a lavoura de forma biológica.
Inoculante: Produto biológico que contém uma alta concentração de bactérias selecionadas (como Bradyrhizobium). É aplicado nas sementes ou no sulco de plantio para garantir a presença desses microrganismos benéficos no solo.
Leguminosas: Família de plantas que inclui culturas como soja, feijão, ervilha e lentilha. Elas são conhecidas por sua capacidade de formar uma parceria (simbiose) com bactérias para fixar nitrogênio do ar.
MAPA: Sigla para Ministério da Agricultura e Pecuária. É o órgão do governo brasileiro que regulamenta e fiscaliza os insumos agrícolas, garantindo que os inoculantes vendidos no mercado sejam seguros e eficazes.
Nódulos: Pequenas estruturas, parecidas com bolinhas, que se formam nas raízes de plantas leguminosas. Funcionam como o “lar” das bactérias, onde ocorre a Fixação Biológica de Nitrogênio.
Rizóbios: Nome genérico para as bactérias que vivem em simbiose com as leguminosas e formam nódulos, como os gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium. São os principais agentes responsáveis pela FBN na soja e no feijão.
Simbiose: Uma relação de ajuda mútua entre dois organismos diferentes. No caso da inoculação, a planta fornece energia e abrigo para a bactéria, que, em troca, fornece nitrogênio para a planta.
Como otimizar os resultados da inoculação com a gestão agrícola
A prática da inoculação é uma excelente estratégia para reduzir os custos de produção e aumentar a produtividade. No entanto, para garantir que o investimento em insumos biológicos realmente valha a pena, é crucial acompanhar de perto tanto os gastos quanto a execução das atividades no campo. Sem um controle preciso, fica difícil saber o real impacto da inoculação na rentabilidade da safra.
É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. Ele permite que o produtor registre e compare os custos com inoculantes versus a economia gerada pela redução de adubos nitrogenados. Além disso, é possível planejar e acompanhar a aplicação diretamente no mapa da fazenda, garantindo que as boas práticas sejam seguidas e centralizando o histórico de manejo para tomar decisões mais seguras no futuro.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre a inoculação na soja e no milho?
A principal diferença está na eficiência e no resultado final. Na soja, uma leguminosa, a inoculação com bactérias do gênero Bradyrhizobium pode suprir 100% da necessidade de nitrogênio da cultura. Já no milho, uma gramínea, a inoculação com Azospirillum auxilia na fixação de parte do nitrogênio e estimula o crescimento das raízes, mas não elimina a necessidade de adubação nitrogenada complementar.
Se já plantei soja na mesma área antes, ainda preciso inocular as sementes?
Sim, a reinoculação anual é uma prática altamente recomendada. Embora possam existir bactérias no solo de safras anteriores, sua população pode não ser suficiente ou tão eficiente quanto as cepas selecionadas presentes nos inoculantes comerciais. Inocular a cada safra garante uma alta concentração de bactérias eficientes, resultando em ganhos de produtividade que superam o custo do insumo.
Posso misturar o inoculante com fungicidas e inseticidas no tratamento de sementes?
Não se deve misturar o inoculante diretamente com os produtos químicos. As bactérias do inoculante são organismos vivos e sensíveis. O procedimento correto é aplicar primeiro os defensivos químicos, esperar as sementes secarem completamente e só então realizar a aplicação do inoculante, garantindo assim sua sobrevivência e eficácia.
O que é a coinoculação e qual a sua vantagem para a cultura da soja?
Coinoculação é a técnica de aplicar dois tipos de microrganismos benéficos ao mesmo tempo. Na soja, a combinação mais comum é Bradyrhizobium (especialista em fixar nitrogênio) com Azospirillum (que também produz hormônios de crescimento para as raízes). Essa sinergia potencializa os resultados, promovendo um sistema radicular mais robusto e podendo gerar aumentos de produtividade de até 6 sacas por hectare.
Quanto tempo após a inoculação eu devo realizar o plantio?
O ideal é que o plantio seja feito no mesmo dia da inoculação para garantir a máxima viabilidade das bactérias. Caso não seja possível, a semeadura deve ocorrer em, no máximo, 24 horas. Após esse período, o número de bactérias vivas na semente diminui drasticamente, especialmente se ela foi tratada com químicos, comprometendo o sucesso da Fixação Biológica de Nitrogênio.
A inoculação na semente é o único método de aplicação disponível?
Não. Além da aplicação direta na semente, que é o método mais comum, existe a inoculação no sulco de semeadura. Neste método, o inoculante líquido é diluído em água e aplicado diretamente no sulco onde a semente é depositada. Uma das suas principais vantagens é evitar o contato direto das bactérias com defensivos químicos que possam estar tratando a semente, protegendo os microrganismos.
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