Um dos maiores desafios da agricultura brasileira é o manejo de plantas daninhas que se tornaram resistentes aos herbicidas que usamos há anos. A cada safra, surgem novos casos de invasoras que sobrevivem a diferentes modos de ação, o que torna o controle mais difícil, caro e preocupante.
Diante desse cenário, uma boa notícia acaba de chegar ao mercado internacional: o herbicida Luximo. Este produto atua em um sítio de ação diferente dos herbicidas tradicionais. Neste artigo, vamos explicar por que esse lançamento é tão importante e como ele pode se posicionar no mercado brasileiro para te ajudar no campo.
Por Que Demorou Tanto para Surgir um Novo Herbicida?
O desenvolvimento de novas moléculas de herbicidas sempre representou um custo muito alto no orçamento das empresas de agroquímicos. Além disso, alguns fatores históricos importantes diminuíram o ritmo de lançamentos de novos produtos no mundo todo.
Vamos entender os principais motivos:
- A Chegada dos Transgênicos: O principal fator foi a introdução de cultivares transgênicos com resistência ao glifosato. Como o glifosato é um herbicida não seletivo e muito eficiente, mesmo em plantas já desenvolvidas, as empresas redirecionaram seus investimentos para o desenvolvimento de novas culturas transgênicas e outros setores do mercado.
- Exigências Ambientais e Sanitárias: Nas últimas décadas, as regulamentações se tornaram mais rigorosas. Hoje, os órgãos regulatórios só aprovam produtos com baixa toxicidade para o meio ambiente e para os seres humanos, o que aumenta os custos e a complexidade da pesquisa e produção.
- Fusões de Grandes Empresas: Nos últimos anos, vimos grandes empresas do setor se fundirem. Com menos concorrentes, a diversidade de metodologias de pesquisa e a busca por inovação diminuíram naturalmente.
No entanto, com o aumento da resistência de diversas ervas daninhas ao glifosato, muitas empresas voltaram a investir pesado na busca por novas moléculas.
Uma estratégia interessante que surgiu foi reavaliar moléculas descobertas no passado. São substâncias que, na época, não foram lançadas por não serem consideradas competitivas, mas que hoje são ferramentas excelentes para manejar a resistência das plantas daninhas.
Este é exatamente o caso do cinmethylin, o princípio ativo do herbicida Luximo. Descoberto em 1981, só agora ele ganhou o mercado, impulsionado pela necessidade de controlar gramíneas resistentes, como o azevém.
Número de novos casos de espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas por mecanismo de ação no mundo
(Fonte: Heap)
Como o Luximo Funciona: Um Mecanismo de Ação Inédito
O herbicida Luximo, como mencionado, tem a cinmethylin como seu ingrediente ativo. Esta molécula age de uma forma nova: ela inibe a síntese de ácidos graxos Tioesterase (FAT).
Em outras palavras: A cinmethylin impede que a planta daninha produza as “gorduras” essenciais para construir as membranas de suas células. Sem essas membranas, a planta não consegue formar novos tecidos e morre antes mesmo de conseguir emergir do solo.
Por isso, ele é classificado como um herbicida de aplicação em pré-emergência.
Pré-emergência: significa que o produto é aplicado no solo antes do nascimento das plantas daninhas.
Ao entrar em contato com as sementes que estão começando a germinar, ele bloqueia seu desenvolvimento. Com isso, ele controla diversas plantas daninhas de folha estreita (gramíneas) e também algumas de folha larga!
Apesar de sua ação ter alguma semelhança com herbicidas como a trifluralina e o pyroxasulfone, o mecanismo de ação do Luximo é considerado novo. E a melhor parte: ainda não existem casos de resistência a ele registrados no mundo.
Na Austrália, país com sérios problemas de resistência do azevém (Lolium rigidum), o produto passou por testes rigorosos. Sua eficiência foi avaliada em 130 populações de azevém suspeitas de resistência a outros herbicidas, e o Luximo foi eficaz em 100% delas.
Além disso, populações que já tinham resistência simples e múltipla aos herbicidas trifluralina, pyroxasulfone e prosulfocarb também foram tratadas com Luximo e apresentaram ótimo controle. Por isso, os pesquisadores australianos consideram este novo herbicida uma ferramenta fundamental no combate a plantas daninhas resistentes.
Inclusão do novo grupo químico 30 (Luximo) na tabela de classificação de herbicidas
(Fonte: modificado de Heap)
Manejo e Aplicação Correta: O Exemplo da Austrália
Na Austrália, o Luximo é recomendado principalmente para o controle de gramíneas na cultura do trigo, oferecendo um controle residual (que permanece ativo no solo) de até 12 semanas.
Mas como o trigo não é afetado pelo herbicida? A cultura possui seletividade bioquímica.
Seletividade bioquímica: significa que a própria planta de trigo consegue metabolizar (ou “desativar”) parte do herbicida por meio de um complexo de enzimas chamado fitocromo p450, sem sofrer danos.
Contudo, mesmo com essa capacidade, o trigo não pode ter contato com grandes quantidades do herbicida, pois isso pode prejudicar seu desenvolvimento inicial. Por isso, a recomendação de manejo é crucial.
Recomendações Práticas de Aplicação
Para garantir a segurança da cultura e a eficácia do produto, algumas práticas são recomendadas na Austrália, e provavelmente serão similares no Brasil:
- Profundidade do Plantio: A cultura deve ser plantada a uma profundidade maior que o convencional, com
no mínimo 3 cm
. Isso cria uma barreira de solo que protege a semente do trigo do contato direto com o herbicida na superfície. - Momento da Aplicação: O ideal é que o produto seja aplicado até 3 dias antes da semeadura, sendo incorporado ao solo durante o processo. É preciso ter cuidado para que o equipamento de plantio não acumule o solo tratado próximo à linha da semente. Este manejo pode ser adaptado para o sistema de plante-aplique.
Checklist para Máxima Eficácia (Cuidados Essenciais)
Assim como outros herbicidas de pré-emergência, o Luximo exige atenção a alguns detalhes para funcionar bem:
- Solo: A aplicação deve ser feita em solo úmido e livre de torrões, para garantir uma distribuição uniforme.
- Cobertura/Palhada: O solo deve ter menos de 50% de cobertura por palha ou vegetação. O excesso de palha pode impedir que o produto chegue ao solo.
- Clima: É ideal que haja uma previsão de chuvas leves nos 10 dias seguintes à aplicação, para ajudar a incorporar e ativar o herbicida no solo.
O Luximo deve ser lançado no Brasil nos próximos anos e será uma importante ferramenta para o controle de plantas daninhas resistentes!
Eficiência do herbicida Luximo (Cinmethylin) no controle de azevém resistente na cultura do trigo
(Fonte: adaptado de Basf)
Conclusão
Neste artigo, vimos o cenário atual do desenvolvimento de novos herbicidas e os motivos que levaram a uma escassez de lançamentos nas últimas décadas.
Entendemos a importância de ter novos mecanismos de ação para manejar a resistência, e como o Luximo se encaixa perfeitamente nessa necessidade.
Você também conheceu a experiência de uso do produto na Austrália, o primeiro país a utilizá-lo comercialmente. Com essas informações, fica mais fácil entender o papel fundamental que o Luximo terá no controle de plantas daninhas resistentes e como ele poderá ser posicionado no mercado brasileiro para te ajudar a proteger sua lavoura e sua produtividade.
Glossário
Azevém (Lolium rigidum): Gramínea invasora muito comum em lavouras de inverno, como o trigo. É conhecida por desenvolver rapidamente resistência a diversos herbicidas, tornando-se um grande desafio de manejo.
Cinmethylin: Nome do ingrediente ativo (a molécula que age) do herbicida Luximo. É responsável por inibir um processo vital nas plantas daninhas, impedindo seu crescimento.
FAT (Ácidos Graxos Tioesterase): É uma enzima fundamental para a produção de “gorduras” (ácidos graxos) que formam as membranas celulares das plantas. O herbicida Luximo age bloqueando essa enzima, impedindo que a planta daninha se desenvolva.
Glifosato: Herbicida não seletivo de amplo espectro, um dos mais utilizados no mundo, principalmente em lavouras transgênicas resistentes a ele. O uso intensivo levou ao surgimento de muitas plantas daninhas resistentes.
Modo de Ação: Refere-se ao processo bioquímico específico que um herbicida utiliza para matar ou inibir o crescimento de uma planta. Rotacionar produtos com diferentes modos de ação é crucial para evitar o surgimento de resistência.
Pré-emergência: Técnica de aplicação de herbicida diretamente no solo, antes que as sementes das plantas daninhas germinem e apareçam na superfície (emergência). O produto cria uma barreira química que impede o desenvolvimento inicial das invasoras.
Resistência (de plantas daninhas): É a capacidade hereditária de uma planta daninha de sobreviver e se reproduzir após a aplicação de uma dose de herbicida que normalmente seria letal. Não é que a planta “se acostuma”, mas sim que indivíduos resistentes na população sobrevivem e se multiplicam.
Seletividade Bioquímica: Capacidade natural de uma cultura (como o trigo, no exemplo) de metabolizar e desativar a molécula de um herbicida, sobrevivendo à aplicação sem sofrer danos significativos, enquanto as plantas daninhas são controladas.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
A chegada de novas moléculas como o Luximo é uma ótima notícia, mas o verdadeiro desafio está em integrar essas ferramentas de forma estratégica e financeiramente viável. Gerenciar a rotação de herbicidas para combater a resistência e, ao mesmo tempo, controlar o alto custo dos insumos exige um planejamento preciso.
É aqui que a tecnologia se torna uma aliada fundamental. Um software de gestão agrícola como o Aegro permite planejar e registrar todas as aplicações no campo, garantindo que o manejo de plantas daninhas seja feito de forma correta e eficiente. Além disso, a plataforma centraliza o controle de custos, ajudando a monitorar os gastos com defensivos e a entender o impacto financeiro de cada decisão, protegendo a rentabilidade da safra.
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Perguntas Frequentes
O que torna o modo de ação do herbicida Luximo (cinmethylin) inovador contra plantas daninhas resistentes?
O Luximo é inovador porque atua em um sítio de ação inédito, inibindo a enzima FAT (Ácidos Graxos Tioesterase). Ele impede que a planta daninha produza as gorduras essenciais para formar suas células, fazendo com que ela morra antes mesmo de emergir do solo. Como ainda não existem casos de resistência a este mecanismo no mundo, ele é uma ferramenta poderosa contra invasoras que já são resistentes a outros herbicidas.
Por que o Luximo é classificado como um herbicida de pré-emergência?
Ele é classificado como pré-emergente porque sua aplicação é feita no solo, antes do nascimento (emergência) das plantas daninhas. Sua molécula, a cinmethylin, age diretamente nas sementes em germinação, bloqueando seu desenvolvimento inicial. Ele não tem eficácia sobre plantas que já emergiram e se estabeleceram na lavoura.
Quais são os principais cuidados na aplicação do Luximo para garantir sua eficácia e a segurança da cultura?
Para máxima eficácia, o solo deve estar úmido, livre de torrões e com menos de 50% de cobertura de palha, facilitando o contato do produto com o solo. Para a segurança de culturas seletivas como o trigo, é crucial plantar as sementes a uma profundidade adequada (mínimo de 3 cm) para criar uma barreira física entre a semente e o herbicida na superfície.
O Luximo controla que tipos de plantas daninhas e em quais culturas ele é mais indicado?
O Luximo é especialmente eficaz no controle de gramíneas (plantas de folha estreita), como o azevém, que apresenta alta resistência a outros produtos. Ele também controla algumas espécies de folha larga. Com base na experiência internacional, sua principal indicação inicial tem sido na cultura do trigo, mas seu potencial para outras culturas no Brasil será definido após os registros oficiais.
Qual a diferença entre o Luximo e herbicidas tradicionais como o glifosato?
A principal diferença está no modo e no momento da ação. O Luximo é um herbicida pré-emergente seletivo, aplicado no solo para impedir a germinação das sementes de plantas daninhas. Já o glifosato é um herbicida pós-emergente não seletivo, aplicado sobre as folhas de plantas já crescidas, agindo de forma sistêmica para matá-las. Eles são ferramentas complementares, não substitutas.
Existe o risco de as plantas daninhas também desenvolverem resistência ao Luximo?
Sim, o uso contínuo e exclusivo de qualquer herbicida, mesmo um com modo de ação novo como o Luximo, pode levar à seleção de plantas resistentes. Para preservar sua eficácia a longo prazo, é fundamental integrá-lo a um manejo que inclua a rotação de herbicidas com diferentes modos de ação e outras práticas de controle, evitando a dependência de uma única solução.
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