Lagarta-da-Espiga (*Helicoverpa zea*): 7 Fatos Essenciais para um Manejo Eficaz

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de plantas daninhas. Atualmente professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
Lagarta-da-Espiga (*Helicoverpa zea*): 7 Fatos Essenciais para um Manejo Eficaz

A Helicoverpa zea, mais conhecida como lagarta-da-espiga, é uma das pragas que mais tira o sono do produtor rural. O motivo é simples: ela ataca diversas culturas, com destaque para o milho, onde pode causar uma infestação de até 96% nas espigas.

Originária do continente americano, essa praga pode gerar prejuízos significativos se não for controlada a tempo. No entanto, com tantas lagartas diferentes na lavoura, é fácil confundir os sinais e errar no manejo.

Para evitar que isso aconteça, preparamos uma lista com 7 verdades sobre a Helicoverpa zea. Este guia vai ajudar você a entender melhor a praga, identificá-la corretamente e, o mais importante, combatê-la de forma eficiente.

Mapa-múndi mostrando distribuição geográfica em tons de verde Distribuição global de Helicoverpa zea. Fonte: CABI

1. Origem e Diferenças: H. zea vs. H. armigera

A lagarta-da-espiga está presente em toda a América, incluindo todo o território brasileiro. Atualmente, existem 18 espécies identificadas do gênero Helicoverpa, mas duas merecem nossa atenção no Brasil: a Helicoverpa zea (lagarta-da-espiga) e a Helicoverpa armigera.

A principal diferença entre elas está na sua origem e cultura preferida:

  • Helicoverpa armigera: Veio da região da Oceania e se adapta melhor às culturas do algodão e da soja.
  • Helicoverpa zea: É originária da região do México, o que a torna mais adaptada ao milho. Por isso, é muito mais comum encontrá-la nessa cultura.

Distinguir as duas a olho nu é praticamente impossível em qualquer fase da vida, exigindo o uso de lupa ou microscópio. A morfologia externa delas é extremamente parecida, o que complica a identificação visual.

Dica prática: Se você encontrar uma lagarta com as características de Helicoverpa na sua lavoura de milho, a chance de ser a H. zea é muito alta.

2. A Identificação da Helicoverpa zea Não é Tão Complicada

O inseto adulto da Helicoverpa zea é uma mariposa com cerca de 40 mm de envergadura, com asas dianteiras de cor amarelo-parda. Ela possui uma faixa transversal escura e algumas manchas, também escuras. As asas de trás são mais claras.

O ciclo de vida e as características de identificação são bem definidos:

![Este infográfico detalha o ciclo de vida de uma praga agrícola, provavelmente uma maripCiclo de vida da mariposa-praga: ovo, lagarta, pupa e adultoiclo de Vida de Pragas na Lavoura") Ciclo e identificação de Helicoverpa zea ou H. armigera. Fonte: Mapa, Bayer, FAEG e Santin Gravena em Globo Rural

Além disso, é comum confundir os danos da lagarta-da-espiga com os da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda).

A forma mais fácil de diferenciá-las é pela cor da cabeça:

  • Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda): Cabeça de cor escura, quase preta.
  • Lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea): Cabeça de cor marrom bem clara.

Para saber mais sobre a lagarta-do-cartucho, confira nossos outros artigos:

3. O Ciclo de Vida: A Chave para o Controle Estratégico

Conhecer o ciclo de vida de uma praga ajuda a entender em qual fase ela ataca a cultura e qual é o melhor momento para monitorar a lavoura e aplicar o controle.

Como mostra o infográfico acima, o ciclo total da Helicoverpa zea dura de 40 a 45 dias. A fase de lagarta dura aproximadamente 18 dias, passando por seis instares larvais (estágios de crescimento entre as trocas de pele). Com um ciclo tão rápido, podem ocorrer mais de cinco gerações por ano.

Estratégias de Manejo Baseadas no Ciclo

Com base nessas informações, podemos definir algumas ações práticas:

  1. Defina janelas de aplicação: Como cada geração dura cerca de 30 dias, organize suas aplicações de inseticidas em janelas de 30 dias para atingir cada novo ciclo da praga.
  2. Cuidado com aplicações múltiplas: Você pode aplicar o mesmo modo de ação mais de uma vez dentro de uma janela, desde que o efeito residual não ultrapasse os 30 dias. Isso reduz a exposição da praga ao mesmo produto e diminui o risco de resistência.
  3. Inclua o tratamento de sementes: Aplicações pré-plantio e no tratamento de sementes também devem ser consideradas dentro dessa estratégia de janelas de 30 dias.
  4. Complemente o tratamento de sementes: Se o tratamento de sementes não garantir proteção por 30 dias, pode ser necessário aplicar um inseticida foliar. O ideal é que essa aplicação ocorra até 25 dias após a semeadura.
  5. Rotacione os mecanismos de ação: Se não for possível seguir a estratégia da janela, alterne o mecanismo de ação do inseticida a cada pulverização.

Lembre-se que a praga tem hábitos noturnos e se movimenta a partir do entardecer. A alta umidade também favorece seu desenvolvimento. No milho, a lagarta-da-espiga é considerada uma praga primária, com maior impacto entre os estágios R1 e R4.

![infográfico informativo intitulado ‘Calendário Pragas de Milho’. Ele apresenta uma linha do tempo visual que cobre os estágios de crescimento da planta de milho.](/imageCalendário de pragas do milho por estágio de desenvolvimentoterísticos

No milho, a mariposa adulta coloca seus ovos nos estilos-estigmas, ou seja, no “cabelo do milho”.

fotografia macro que exibe um pequeno ovo esférico e branco, provavelmente de um inseto, depositado sobre a estrutura filamentosa de uma planta. Ovo deOvo de inseto depositado em estrutura filamentosa de planta.pdf)

Ela também pode depositar ovos nas folhas quando a planta ainda está em fase vegetativa. Uma única espiga pode ter de 13 a 15 ovos, que levam cerca de três dias para eclodir.

As lagartas recém-nascidas começam se alimentando do cabelo do milho. Um ataque intenso nessa fase pode causar grandes falhas na formação dos grãos. Já as lagartas maiores atacam diretamente os grãos leitosos, abrindo portas para a entrada de fungos e outras pragas de armazenamento.

Danos Causados no Milho

  • Ataca os estigmas, impedindo a fertilização e a formação de grãos.
  • Alimenta-se dos grãos leitosos, causando perda direta de produção.
  • Deixa buracos na espiga, que facilitam a entrada de microrganismos causadores de podridão e de pragas de armazenamento.

close-up de uma espiga de milho com a palha parcialmente aberta, revelando um ataque de pragas. Duas lagartas verdes com listras escuras são visíveis. (Fonte: Arquivo pessoal da autora)

Danos da Helicoverpa zea em Outras Culturas

  • Broca os frutoEspiga de milho com ataque de lagartas verdes listradass, prejudicando a produção de grãos.

close-up de um tomate vermelho severamente danificado por uma praga. Na superfície do fruto, uma lagarta verde com listras amareladas e pretas está visível. (Fonte: Plant Health Progress)

5. O Controle de Helicoverpa zea Pode ser Feito com Produtos Biológicos

O controle biológico utiliza inimigos naturais da praga para reduzir sua população. Os principaLagarta da broca-grande atacando tomate maduroitoide**, ou seja, deposita seus ovos dentro dos ovos da Helicoverpa, impedindo que a lagarta se desenvolva.

fotografia macro que exibe um momento chave do controle biológico. Em destaque, uma pequena vespa parasitoide, provavelmente do gênero Trichogramma, está sobre um ovo de praga. Vespa Trichogramma. Fonte: Lucas Machado – Universidade Federal de Lavras

O uso de Trichogramma é uma estratégia eficiente tanto em áreas de plantio de milho convencional quanto em lavouras de milho Bt. Para Vespa Trichogramma parasitando ovo de praga agrícola soja e algodão, independentemente do tamanho da propriedade.

Outra opção biológica é o uso de produtos à base da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) ou o plantio de culturas transgênicas com essa tecnologia.

Atenção: Nunca utilize um inseticida biológico à base de Bt sobre uma lavoura de milho Bt. Essa prática acelera a seleção de lagartas resistentes, tornando as duas tecnologias ineficazes.

Para saber mais sobre o uso de defensivos naturais, leia: “Como utilizar defensivos naturais e diminuir custos”

6. O Controle Químico de Helicoverpa zea Não é Tão Fácil Assim

O controle químico da lagarta-da-espiga é um desafio. Assim que as lagartas saem dos ovos, elas penetram rapidamente nas espigas através do cabelo do milho, ficando protegidas da pulverização. Por isso, as aplicações de inseticidas precisam ser bem direcionadas e no momento certo.

Devido a essa dificuldade, a melhor abordagem é adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP). O MIP combina diferentes táticas de controle (biológico, cultural, químico) para manter a praga abaixo do nível de dano econômico, de forma sustentável e eficiente.

7. Helicoverpa zea já Apresenta Resistência a Medidas de Controle

Já existem relatos de resistência da Helicoverpa zea a inseticidas na América do Norte e América Latina. Esses casos envolvem principalmente os seguintes grupos químicos:

  • Carbamatos (grupo 1A)
  • Organofosforados (grupo 1B)
  • Piretróides (grupo 3A)
  • Tecnologia de plantas Bt (Bacillus thuringiensis)

Isso reforça a importância de rotacionar os modos de ação e integrar diferentes métodos de controle, como recomendado pelo MIP.

Para te ajudar a organizar seu MIP, disponibilizamos gratuitamente uma planilha. Clique na imagem abaixo para baixar!

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Conclusão

A Helicoverpa zea, ou lagarta-da-espiga, continua sendo uma praga de grande importância para a cultura do milho. Para manejá-la com sucesso, é fundamental ir além do controle químico tradicional.

A correta identificação, o conhecimento do ciclo de vida e a integração de táticas como o controle biológico são essenciais. Ao aplicar as informações que você viu aqui e adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP), você protege o potencial produtivo da sua lavoura de forma mais inteligente e sustentável.


Glossário

  • Bacillus thuringiensis (Bt): Bactéria natural do solo que produz proteínas tóxicas para certas lagartas. É a base tanto para inseticidas biológicos quanto para a tecnologia de plantas transgênicas (milho Bt), que expressam essas proteínas para se protegerem da praga.

  • Estilos-estigmas: Nome técnico para o “cabelo do milho”. São os filamentos na ponta da espiga responsáveis por capturar o pólen para a fertilização dos óvulos, que se tornarão os grãos.

  • Grãos leitosos: Fase de desenvolvimento do milho em que os grãos estão preenchidos com um líquido branco e adocicado, semelhante a leite. Neste estágio, são macios e altamente atrativos para a alimentação da lagarta-da-espiga.

  • Instares larvais: Os diferentes estágios de desenvolvimento de uma lagarta entre uma troca de pele (ecdise) e outra. Conhecer os instares ajuda a definir o momento ideal para o controle, já que lagartas mais jovens são mais fáceis de combater.

  • Manejo Integrado de Pragas (MIP): Estratégia que combina diferentes métodos de controle (biológico, cultural, químico) para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico. O objetivo é ser eficiente, sustentável e reduzir a dependência de defensivos químicos.

  • Parasitoide: Inseto que deposita seus ovos dentro ou sobre o corpo de outro inseto (o hospedeiro), que serve de alimento para suas larvas. A vespa Trichogramma, por exemplo, é um parasitoide que utiliza os ovos da Helicoverpa zea como hospedeiro, impedindo que a lagarta se desenvolva.

  • Praga primária: Refere-se a uma praga que ataca a cultura de forma recorrente e possui alto potencial para causar danos econômicos significativos se não for controlada. No artigo, a lagarta-da-espiga é classificada como praga primária do milho em estágios específicos.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Lidar com o ciclo rápido da Helicoverpa zea e aplicar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) de forma eficiente exige um controle rigoroso. Registrar o monitoramento da lavoura, planejar as janelas de aplicação e rotacionar os defensivos para evitar resistência são tarefas complexas. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo que você registre as atividades direto do campo e acompanhe os custos de cada pulverização. Isso não só otimiza o controle da praga, mas também garante que cada decisão seja financeiramente inteligente.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença visual entre a lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) e a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)?

A forma mais simples de diferenciá-las no campo é pela cor da cabeça. A lagarta-da-espiga (H. zea) possui a cabeça de cor marrom-clara, enquanto a lagarta-do-cartucho (S. frugiperda) tem a cabeça escura, quase preta. Além disso, a H. zea ataca preferencialmente a espiga, e a S. frugiperda foca seu ataque inicial no cartucho da planta.

Qual é o momento mais crítico para monitorar e controlar a lagarta-da-espiga no milho?

O período mais crítico vai do início do florescimento até a fase de grãos leitosos (estágios R1 a R4). É nessa fase que as mariposas depositam seus ovos nos estilos-estigmas (cabelo do milho). O controle deve ser focado nesse momento para atingir as lagartas antes que elas penetrem na espiga, onde ficam protegidas.

Por que não devo aplicar um inseticida biológico à base de Bt em uma lavoura de milho Bt?

Essa prática expõe a praga duas vezes ao mesmo modo de ação, a proteína Bt. Isso exerce uma alta pressão de seleção, acelerando o desenvolvimento de lagartas resistentes à tecnologia. Com o tempo, tanto o milho Bt quanto o inseticida biológico perdem a eficácia contra a praga.

Além da perda de grãos, que outros danos a Helicoverpa zea causa no milho?

Os danos vão além do consumo direto dos grãos. Ao se alimentar dos estilos-estigmas, a lagarta prejudica a polinização, causando falhas na formação de grãos. As perfurações que ela deixa na espiga também servem como porta de entrada para fungos que causam podridão e produzem micotoxinas, além de facilitar o ataque de pragas de armazenamento.

Se a lagarta se esconde dentro da espiga, como o controle químico pode ser eficaz?

A eficácia do controle químico depende crucialmente do tempo de aplicação. A pulverização deve ser realizada no momento da eclosão dos ovos, quando as lagartas pequenas ainda estão se alimentando externamente no cabelo do milho. Por isso, o monitoramento constante com armadilhas para identificar picos populacionais de mariposas é fundamental para definir a janela de aplicação ideal.

Como funciona na prática o controle biológico com a vespa Trichogramma?

O controle com Trichogramma consiste na liberação programada dessas pequenas vespas na lavoura. As vespas procuram ativamente os ovos da Helicoverpa zea e depositam seus próprios ovos dentro deles. As larvas da vespa se desenvolvem consumindo o conteúdo do ovo da praga, impedindo que a lagarta-da-espiga nasça.

Artigos Relevantes

  • Helicoverpa armigera: histórico, importância, características e tecnologias de manejo: Este artigo é o complemento mais direto e necessário, pois aprofunda o conhecimento sobre a H. armigera, praga que o artigo principal cita como principal ponto de confusão. Ele detalha a identificação, o histórico e o manejo específico para soja e algodão, garantindo que o leitor saiba diferenciar e controlar corretamente as duas espécies, evitando erros de manejo.
  • Lagarta-do-cartucho do milho: Controle eficiente com as táticas do MIP: O artigo principal diferencia a lagarta-da-espiga da lagarta-do-cartucho. Este candidato explora a fundo o manejo da Spodoptera frugiperda no milho, apresentando ferramentas práticas como a Escala de Davis. Ele expande o conhecimento do leitor para a outra grande praga do milho, oferecendo uma solução completa para o complexo de lagartas na cultura.
  • Como melhorar a aplicação de defensivos para pragas do milho: O artigo principal afirma que o controle químico da H. zea ’não é tão fácil’. Este artigo funciona como um manual prático que resolve esse problema, detalhando as condições ideais (clima, equipamento) e a estratégia (rotação de ativos, MIP) para uma aplicação de defensivos eficiente. Ele eleva o conhecimento tático do leitor para um nível estratégico, aplicável a todas as pragas do milho.
  • Passo a passo de como combater a lagarta-do-cartucho: Enquanto o artigo principal menciona a resistência da H. zea como um fato, este artigo oferece uma solução prática e aprofundada para o manejo da resistência em geral. Ele detalha o conceito de ‘janelas de aplicação’ do IRAC, uma tática avançada e essencial que ensina o leitor a aplicar a teoria de rotação de ativos para preservar a eficácia dos inseticidas a longo prazo.
  • Quais as principais pragas polífagas e como controlá-las: Este artigo oferece o contexto estratégico que falta no material principal, explicando por que pragas como a H. zea se tornaram um desafio tão grande. Ao introduzir o conceito de ‘ponte verde’, ele ajuda o leitor a entender o problema de forma sistêmica, reforçando a importância do MIP não apenas para uma praga, mas para a gestão da fazenda como um todo.