A guanxuma é uma daquelas plantas daninhas que causam dor de cabeça na lavoura. Ela compete diretamente com sua plantação, podendo diminuir a produtividade de grãos em culturas como a cultura da soja.
Mas o problema não para por aí. A presença da guanxuma também pode ser um sinal de alerta para a compactação do solo, o que deixa a lavoura mais vulnerável à seca e ao tombamento de plantas.
Neste guia completo, vamos mostrar como identificar as principais espécies, entender seus impactos e, o mais importante, como manejar e controlar a guanxuma de forma eficiente. Continue a leitura e proteja sua produtividade!
Como Identificar as Principais Espécies de Guanxuma no Brasil
No Brasil, três espécies de guanxuma são mais comuns e exigem atenção. Saber diferenciá-las é o primeiro passo para um manejo eficaz.
Sida glaziovii
Esta espécie é comum em solos arenosos das regiões tropicais do Brasil. Ela infesta principalmente áreas de pastagens, beiras de estrada, pomares e culturas perenes em geral. Também é uma das principais invasoras em áreas de novos canaviais no Cerrado.
A principal característica para identificá-la é a coloração prateada de suas folhas.
(Fonte: Mercadante, 2015)
Sida spinosa
Essa planta é encontrada com frequência moderada, infestando principalmente cultivos anuais ou perenes, pomares e pastagens nas regiões centro e sul do país. Ela se adapta bem a solos arenosos e consegue tolerar solos ácidos e com poucos nutrientes.
Planta adulta de Sida spinosa
(Fonte: Weedimages)
Sida rhombifolia
Entre as guanxumas, esta é a espécie mais comum em áreas cultivadas no Brasil. Ela infesta lavouras anuais e perenes, além de pomares e pastagens. É especialmente frequente em lavouras de cereais que utilizam o sistema de plantio direto.
Uma curiosidade é que ela também é conhecida como “relógio”, pois suas flores abrem e fecham todos os dias com pontualidade.
Planta adulta de Sida rhombifolia
(Fonte: Mercadante, 2013)
Os Impactos da Guanxuma na Sua Lavoura
A guanxuma pode parecer inofensiva no início, pois seu crescimento inicial é lento. No entanto, em estágios mais avançados, ela se torna muito competitiva com as culturas e seu controle fica bem mais difícil.
Competição Direta e Perda de Produtividade
A competição por água, luz e nutrientes é o principal problema. Pesquisas mostram que uma infestação de apenas 10 plantas de guanxuma por metro quadrado pode reduzir em 6% o rendimento de grãos da cultura da soja.
Hospedeira de Pragas e Indicadora de Solo Compactado
Além da competição direta, esta planta daninha serve de abrigo para inimigos da sua lavoura. A guanxuma pode hospedar nematoides das galhas e das lesões, pragas que atacam as raízes das plantas.
Nematoides das galhas: são vermes microscópicos que atacam as raízes, formando “caroços” (galhas) que atrapalham a absorção de água e nutrientes.
A presença dela também pode ser um forte indício de compactação do solo. É fundamental ter muito cuidado com esses sinais. Um solo compactado impede que as raízes cresçam profundamente, deixando a cultura presa na camada superficial. Isso torna a lavoura muito mais vulnerável a períodos de seca e ao tombamento das plantas.
Guanxuma: O Que Você Precisa Saber Sobre a Biologia Dela
Entender como a guanxuma funciona é crucial para traçar um plano de manejo que realmente funcione e evite problemas futuros como a resistência de ervas daninhas.
Resistência a Herbicidas: Um Ponto de Atenção
Uma boa notícia é que, até o momento, não foram registrados casos de resistência a herbicidas para as espécies de guanxuma no Brasil.
Mundialmente, há apenas um registro nos Estados Unidos, onde a espécie Sida spinosa se mostrou resistente ao imazaquin. Isso reforça a importância de usar estratégias de manejo integradas para não selecionar plantas resistentes na sua área.
Biologia da Semente: Por que Ela é Tão Persistente?
O grande desafio no controle da guanxuma está em suas sementes. Veja os principais pontos:
- Alta Produção: Uma única planta pode produzir, em média, 510 sementes, podendo chegar a um banco de sementes de até 28 mil sementes por metro quadrado.
- Germinação Flexível: As sementes são indiferentes à luz, ou seja, conseguem germinar tanto no claro quanto no escuro.
- Temperatura Ideal: A germinação é favorecida pela alternância de temperatura entre
20°C
e30°C
. - Profundidade Não é Barreira: As sementes conseguem germinar bem mesmo enterradas a uma profundidade de 5 cm.
A presença de palhada (matéria orgânica) na superfície do solo pode ajudar. Ela dificulta a emergência porque as sementes da guanxuma têm pouca reserva de energia. A plântula gasta muita energia para atravessar essa barreira, ficando mais fraca e, consequentemente, mais suscetível ao efeito de herbicidas.
O principal problema é que as sementes de guanxuma possuem dormência.
Dormência: significa que a semente não germina mesmo em condições ideais de luz, água e temperatura, esperando um momento mais favorável no futuro.
(Fonte: Teo, 2014)
Como a Biologia da Guanxuma Dificulta o Controle?
A dormência das sementes faz com que as plantas daninhas germinem em vários fluxos ao longo do tempo. Muitas vezes, isso acontece fora do período ideal de aplicação de herbicidas, complicando o manejo.
Além disso, a guanxuma adulta desenvolve defesas naturais. Suas folhas acumulam mais tricomas (pelos) e ceras.
Tricomas: são pequenos pelos na superfície da folha que funcionam como uma barreira protetora.
Essa camada protetora dificulta a absorção e o transporte do herbicida para dentro da planta, diminuindo a eficácia do produto.
(Fonte: Albert e Victoria Filho, 2002)
Por isso, a regra de ouro é clara: o controle precisa ser feito com plantas pequenas, com até 4 folhas.
Manejo de Guanxuma na Entressafra do Sistema Soja-Milho
A entressafra é um momento estratégico para reduzir a infestação antes da chegada da cultura principal.
Herbicidas Pós-emergentes (Ação sobre Plantas Já Nascidas)
O segredo para um manejo eficiente em pós-emergência é aplicar o produto em plantas pequenas, com até 4 folhas. Nessa fase, elas absorvem mais herbicida e têm menor capacidade de rebrotar.
A tecnologia de aplicação também é fundamental. Como a guanxuma tem defesas naturais, siga estas dicas:
- Boa Cobertura: Garanta que o produto atinja toda a planta.
- Adjuvantes: Utilize bons adjuvantes agrícolas para melhorar a absorção do herbicida.
- Condições Ideais: Aplique em condições climáticas favoráveis (temperatura, umidade e vento).
- Mistura em Tanque: Cuidado com a incompatibilidade de produtos na calda de aplicação.
Os principais herbicidas para esta fase são:
Glifosato
- Ação: Muito eficiente no controle de plantas jovens (até 4 folhas).
- Aplicação: Foi uma solução importante para o controle em pós-emergência da soja com tecnologia RR, permitindo o controle sem prejudicar a cultura.
- Dose Recomendada:
2 L/ha
.
2,4-D
- Ação: Pode ser usado na entressafra para controlar plantas pequenas (até 4 folhas).
- Atenção: Cuidado com o antagonismo (quando um produto reduz o efeito do outro) em misturas com outros herbicidas.
- Dose Recomendada:
1 a 1,5 L/ha
.
Herbicidas Pré-emergentes (Ação sobre o Banco de Sementes)
O uso de herbicidas pré-emergentes é essencial para o controle da guanxuma. Como as sementes germinam em vários fluxos, esses produtos atuam no solo, controlando as plantas antes mesmo de elas nascerem. Isso reduz a necessidade de aplicações em pós-emergência e ajuda a cultura a “fechar no limpo”.
Diclosulam
- Ação: Herbicida com efeito residual para controle do banco de sementes.
- Aplicação: Usado na primeira aplicação do manejo outonal, junto com herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e 2,4-D). O solo deve estar úmido para melhor eficácia.
- Dose Recomendada:
29,8 a 41,7 g/ha
.
Flumioxazin
- Ação: Herbicida residual para controle do banco de sementes.
- Aplicação: Usado no manejo outonal com herbicidas sistêmicos (ex: glifosato, 2,4-D) ou no sistema aplique-plante da soja.
- Dose Recomendada:
50 a 120 g/ha
.
Sulfentrazone
- Ação: Herbicida residual para controle do banco de sementes.
- Aplicação: Utilizado no manejo outonal associado a herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e 2,4-D).
- Atenção: A dose deve ser de até
0,5 L/ha
, pois há grande variação na seletividade entre as cultivares de soja. É especialmente recomendado para áreas com infestação de tiririca.
Manejo na Pós-emergência das Culturas de Soja e Milho
Se a guanxuma escapar do manejo inicial e emergir junto com a cultura, estas são as opções.
Soja
Cloransulam
- Aplicação: Utilizado em pós-emergência da soja.
- Dose Recomendada:
35,7 g/ha
.
Imazetapir
- Aplicação: Utilizado em pós-emergência precoce da guanxuma e na soja com até 2 trifólios (folhas verdadeiras).
- Dose Recomendada:
1,0 L/ha
.
Milho
Atrazina
- Ação: Muito eficiente para controlar plantas em estádios iniciais (até 4 folhas).
- Dose Recomendada:
4 a 5 L/ha
, variando conforme as características do solo.
Mesotrione
- Aplicação: Deve ser aplicado de 2 a 3 semanas após a semeadura do milho, sobre plantas daninhas em pós-emergência bem precoce (2 folhas).
- Dose Recomendada:
0,4 L/ha + óleo mineral
.
Conclusão
Neste artigo, vimos o grande impacto que a guanxuma pode ter na produtividade e como um manejo bem planejado faz toda a diferença. Entender a biologia desta planta daninha é o primeiro passo para controlá-la de forma inteligente.
Lembre-se dos pontos-chave para um controle eficiente:
- Conhecimento é Poder: Saber como a guanxuma germina e se desenvolve ajuda a atacar seus pontos fracos.
- O Momento é Tudo: O controle é muito mais eficaz em plantas pequenas, com até 4 folhas. Não deixe para depois.
- Tecnologia a seu Favor: Use a tecnologia de aplicação correta para garantir que o herbicida chegue ao alvo.
- Estratégia Completa: A inclusão de herbicidas pré-emergentes é determinante para reduzir o banco de sementes e facilitar o controle durante a safra.
Espero que com estas dicas você consiga realizar um manejo eficiente da guanxuma e proteger o potencial produtivo da sua lavoura
Glossário
Antagonismo (de herbicidas): Fenômeno que ocorre quando a mistura de dois ou mais herbicidas resulta em um efeito menor do que a soma de seus efeitos individuais. Essencialmente, um produto interfere na ação do outro, diminuindo a eficácia do controle.
Banco de sementes: Refere-se ao conjunto de sementes de plantas daninhas viáveis presentes no solo, que podem germinar ao longo do tempo. Um manejo eficaz visa esgotar esse banco para reduzir a infestação nas safras futuras.
Compactação do solo: Processo de adensamento do solo que reduz a porosidade, dificultando o crescimento das raízes, a infiltração de água e a absorção de nutrientes. A presença da guanxuma é frequentemente um indicativo de áreas compactadas.
Culturas perenes: Plantas que vivem por mais de dois anos, completando múltiplos ciclos de produção sem a necessidade de replantio anual. Exemplos incluem cana-de-açúcar, café e pomares de citros.
Dormência (de sementes): Estado em que uma semente viável não germina, mesmo com condições ideais de luz, água e temperatura. É um mecanismo de sobrevivência que faz as sementes germinarem em fluxos diferentes, complicando o controle.
Herbicidas pós-emergentes: Produtos aplicados diretamente sobre as plantas daninhas que já germinaram e estão visíveis na lavoura. Sua eficácia é maior quando as plantas daninhas, como a guanxuma, ainda são pequenas (até 4 folhas).
Herbicidas pré-emergentes: Produtos aplicados no solo antes da germinação (emergência) das plantas daninhas. Eles criam uma barreira química que impede o desenvolvimento das sementes, sendo uma estratégia chave para manejar o banco de sementes.
Plantio direto: Sistema de cultivo em que a semeadura é realizada diretamente sobre a palhada da cultura anterior, sem o preparo convencional do solo (aração e gradagem). Ajuda a conservar a umidade e a estrutura do solo.
Tricomas: Pequenos pelos ou estruturas epidérmicas presentes na superfície das folhas e caules das plantas. Na guanxuma, eles funcionam como uma barreira protetora que dificulta a absorção de herbicidas.
Como a tecnologia pode simplificar o manejo da guanxuma
Controlar a guanxuma exige um planejamento cuidadoso: é preciso aplicar os herbicidas no momento certo, registrar as operações e, ao mesmo tempo, ficar de olho nos custos para não comprometer a margem de lucro. Lidar com tantos detalhes no papel ou em planilhas separadas pode levar a erros e perdas de produtividade.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações e simplifica o processo. Com ele, você pode planejar e registrar todas as aplicações de defensivos diretamente pelo celular, garantindo que o manejo seja feito na fase ideal da planta daninha. Além disso, o sistema automaticamente calcula o custo por talhão, ajudando a tomar decisões mais inteligentes sobre o controle e a proteger a rentabilidade da sua safra.
Quer otimizar o manejo de plantas daninhas na sua fazenda?
Experimente o Aegro gratuitamente e descubra como transformar dados em decisões mais lucrativas.
Perguntas Frequentes
Por que a guanxuma é considerada uma planta daninha tão problemática para a lavoura?
A guanxuma é problemática por competir diretamente com as culturas por água, luz e nutrientes, podendo reduzir a produtividade de grãos em até 6% na soja. Além disso, ela serve como hospedeira para pragas como nematoides e é um forte indicativo de problemas de compactação do solo, que prejudicam o desenvolvimento das raízes da cultura principal.
Qual é o momento ideal para realizar o controle químico da guanxuma e por quê?
O momento ideal para o controle é quando as plantas de guanxuma estão pequenas, com no máximo 4 folhas. Nessa fase inicial, suas defesas naturais, como a camada de pelos (tricomas) e cera nas folhas, são menos desenvolvidas, permitindo uma absorção muito mais eficiente do herbicida e garantindo um controle mais eficaz.
A presença de guanxuma na minha lavoura pode indicar outros problemas no solo?
Sim, a infestação de guanxuma é frequentemente um sinal de alerta para a compactação do solo. Um solo compactado dificulta o crescimento das raízes da cultura, limita a absorção de água e nutrientes e deixa a lavoura mais vulnerável a períodos de seca e ao tombamento de plantas.
O que é a dormência das sementes de guanxuma e como isso dificulta o controle?
Dormência é a capacidade da semente de não germinar mesmo em condições favoráveis, esperando um momento futuro. Isso dificulta o controle porque a germinação ocorre em múltiplos fluxos ao longo do tempo. Uma única aplicação de herbicida não resolve o problema, pois novas plantas continuarão a emergir do banco de sementes do solo.
Qual a diferença entre usar herbicidas pré-emergentes e pós-emergentes para controlar a guanxuma?
Herbicidas pré-emergentes são aplicados no solo para controlar as sementes antes que elas germinem, agindo sobre o banco de sementes e prevenindo infestações. Já os pós-emergentes são aplicados sobre as plantas que já nasceram. A estratégia mais eficaz combina ambos: o pré-emergente reduz a pressão de infestação e o pós-emergente controla as plantas que escaparam.
A palhada do plantio direto realmente ajuda no controle da guanxuma?
Sim, a palhada é uma grande aliada. Ela atua como uma barreira física que dificulta a emergência da plântula. Como a semente da guanxuma tem pouca reserva de energia, a planta gasta muito recurso para atravessar a palhada, tornando-se mais fraca e, consequentemente, mais suscetível à ação dos herbicidas.
Artigos Relevantes
- Herbicidas pré-emergentes para soja: Os melhores produtos e suas orientações: Este artigo é o complemento mais direto, pois aprofunda a estratégia que o artigo principal considera ’essencial’: o uso de herbicidas pré-emergentes. Enquanto o guia da guanxuma cita produtos como Diclosulam e Sulfentrazone, este candidato detalha os 6 fatores cruciais (tipo de solo, palhada, pH) para sua aplicação correta, transformando a recomendação teórica em um plano de ação prático e seguro.
- Tudo o que você precisa saber sobre dormência em sementes: O artigo principal identifica a dormência das sementes de guanxuma como o principal obstáculo para o controle, explicando que ela causa múltiplos fluxos de germinação. Este artigo candidato oferece a base científica para essa afirmação, detalhando os tipos e causas da dormência. Ele aprofunda a compreensão do leitor sobre a biologia do problema, reforçando por que as estratégias de manejo, como o uso de pré-emergentes, são tão importantes.
- Como fazer o manejo de herbicida para milho: O artigo sobre guanxuma possui uma seção específica, porém concisa, sobre o manejo no milho, citando Atrazina e Mesotrione. Este artigo candidato expande imensamente essa seção, oferecendo um guia completo sobre o manejo de daninhas na cultura do milho, incluindo a guanxuma na lista de alvos. Ele contextualiza as recomendações do artigo principal dentro de uma estratégia mais ampla para a cultura, sendo a leitura lógica seguinte para produtores de milho.
- Cuidados para ser mais assertivo no uso do herbicida 2,4-D: O artigo principal recomenda o uso de 2,4-D na entressafra para controlar plantas pequenas de guanxuma. Este candidato funciona como um manual de instruções detalhado para essa ferramenta específica, abordando seu mecanismo de ação hormonal, os cuidados críticos com a deriva e as condições ideais de aplicação. Ele adiciona uma camada essencial de segurança e eficácia que o artigo principal não aprofunda, garantindo o uso correto do produto recomendado.
- Tudo o que você precisa saber sobre mapeamento de plantas daninhas: Depois de aprender ‘o que’ e ‘quando’ aplicar, este artigo responde ‘onde’ aplicar, alinhando-se perfeitamente com o foco do blog em agricultura de precisão. Ele eleva o nível da discussão, apresentando tecnologias como drones e sensores para otimizar a aplicação localizada de herbicidas. É o próximo passo lógico na jornada do leitor, mostrando como implementar as estratégias de controle da guanxuma de forma mais econômica e sustentável.