Grãos Ardidos em Milho e Soja: Como Identificar e Evitar Perdas na Sua Lavoura

Redator parceiro Aegro.
Grãos Ardidos em Milho e Soja: Como Identificar e Evitar Perdas na Sua Lavoura

Os grãos ardidos representam um dos defeitos mais sérios na classificação de grãos de milho e soja, impactando diretamente o seu bolso. Esse problema está ligado à contaminação por micotoxinas, substâncias tóxicas que podem inviabilizar o uso do lote, derrubar seu valor comercial e gerar grandes prejuízos.

Neste artigo, vamos detalhar como identificar corretamente os grãos ardidos, diferenciá-los de outros defeitos e, o mais importante, quais manejos práticos adotar para evitar que esse problema apareça na sua produção.

Entendendo a Classificação de Grãos de Milho e Soja

A classificação de grãos é o processo que define a qualidade e o valor do seu lote de milho ou soja na hora da venda. Para padronizar essa avaliação, existem regras oficiais: a Instrução Normativa 60/2011 para o milho e a Instrução Normativa 11/2007 para a soja.

Entre os vários defeitos avaliados, os grãos ardidos são um dos mais preocupantes. Além de diminuírem a qualidade geral do lote, eles frequentemente indicam a presença de micotoxinas, que são substâncias tóxicas produzidas por fungos.

O Que São Grãos Ardidos e Como Identificá-los Corretamente

A legislação define os grãos ardidos de milho e soja de maneiras diferentes. Entender essa distinção é fundamental, pois o manejo para evitar o problema também muda um pouco para cada cultura.

Para o Milho

A regra (IN n.º 60/2011) define grãos ardidos como aqueles que estão totalmente escurecidos devido ao calor, umidade ou fermentação avançada. Grãos completamente queimados também entram nessa categoria.

Isso significa que, no milho, o defeito pode surgir em três momentos:

  1. No campo: por ataque de fungos.
  2. Na secagem: por excesso de calor.
  3. No armazenamento: por fermentação.

Um detalhe importante: para ser classificado como “ardido”, o grão de milho precisa estar completamente afetado. Se o dano for parcial, ele é classificado apenas como “fermentado”.

composição de duas fotos que exibem grãos de milho sobre um fundo azul, destacando a diferença entre grãos sadDiferenças entre grãos de milho ardidos (esquerda) e fermentados (direita) (Fonte: adaptado de Aiba)

Para a Soja

A legislação da soja (IN n.º 11/2007) é mais específica. Grãos ardidos são aqueles visivelmente fermentados, com uma coloração marrom escura forte que afeta o interior do grão (o cotilédone).

Na soja, a norma separa os danos por calor em uma categoria própria (“queimados”). Portanto, os grãos “ardidos” na soja estão ligados principalmente à fermentação que ocorre no campo ou durante o armazenamento.

A diferença para os “fermentados” é a cor. Se o grão fermentou mas não atingiu aquele tom marrom escuro acentuado, ele é classificado como fermentado, e não ardido.

uma comparação visual entre diferentes tipos de defeitos em grãos, provavelmente soja ou milho, sobre um fundoDiferenças entre grãos de soja ardidos e fermentados (Fonte: Referencial fotográfico dos defeitos da soja)

Estratégias de Manejo para Evitar os Grãos Ardidos em Milho e Soja

O combate aos grãos ardidos acontece em três momentos críticos: no campo, na secagem (especialmente para o milho) e no armazenamento. Vamos ver os cuidados necessários em cada etapa.

1. Manejo na Lavoura (A Campo)

As decisões tomadas na lavoura são a primeira linha de defesa. O foco aqui é reduzir a presença de fungos e planejar a colheita com precisão.

Controle de Doenças: A Origem do Problema

Para o milho, a principal causa de grãos ardidos no campo são as podridões de espiga. Os fungos causadores mais comuns são:

  • Stenocarpela maydis e Stenocarpela macrospora (causam a podridão branca da espiga)
  • Fusarium verticillioides e Fusarium subglutinans (causam a podridão rosada)
  • Gibberella zeae (Fusarium graminearum) (causa a podridão de giberela)

composição de três fotografias que ilustram diferentes tipos de podridão em espigas de milho, um problema sériPodridão rosada da ponta da espiga (Gibberella zeae), podridão branca da espiga (Stenocarpella maydis) e podridão rosada da espiga (Fusarium verticilleoides) (Fonte: adaptado de Embrapa e Pioneer)

Para controlar esses patógenos, adote um manejo integrado:

  • Escolha híbridos e cultivares resistentes: Verifique a recomendação para sua região.
  • Faça a rotação de culturas: Quebra o ciclo de vida dos fungos no solo.
  • Semeie na época e densidade corretas: Plantas bem desenvolvidas são mais fortes.
  • Realize a análise do solo: Garanta uma adubação equilibrada, sem excesso ou falta de nutrientes.
  • Aplique fungicidas de forma estratégica: O momento mais crítico para a infecção é a fase reprodutiva (pendoamento e florescimento). Use o produto correto e garanta uma boa tecnologia de aplicação.

Comece a proteção desde o início, com um bom tratamento de sementes.

Gerenciamento da Colheita: O Tempo é Crucial

Atrasar a colheita é um risco enorme. Manter os grãos no campo após atingirem a maturidade, especialmente se ocorrerem chuvas, acelera a perda de qualidade e aumenta a ação dos fungos.

O ideal é colher os grãos assim que atingirem a umidade ideal para a operação e encaminhá-los diretamente para a secagem.

2. Manejo na Secagem: Atenção à Temperatura

A etapa de secagem é especialmente crítica para o milho, pois o dano por calor excessivo é classificado como grão ardido. O fator principal a ser controlado é a temperatura do ar de secagem.

Temperaturas muito altas podem escurecer e queimar os grãos, aumentando o percentual de ardidos. Além disso, causam danos físicos, como trincas, que servem de porta de entrada para fungos no armazenamento.

A temperatura adequada para a secagem do milho depende da finalidade:

  • Para semente: a massa de grãos não deve passar de 40°C.
  • Para consumo humano: o limite é 55°C.
  • Para ração animal: a temperatura máxima é 82°C.

Se você usa silo-secador com ar natural, o cuidado é com a demora. Grãos que ficam úmidos por muito tempo começam a fermentar. Essa recomendação também vale para a soja. A secagem com ar natural só é indicada para grãos com umidade inicial de até 20% e em regiões com umidade relativa do ar favorável.

3. Manejo no Armazenamento: O Trio Limpo, Frio e Seco

Para um armazenamento seguro, os grãos devem estar limpos, frios e secos. Isso reduz a atividade biológica, a degradação e a proliferação de fungos. Os dois fatores essenciais a serem monitorados são a temperatura e a umidade da massa de grãos.

  • Umidade ideal para armazenamento:

    • Milho: O limite é 14%, mas para maior segurança, armazene com no máximo 13%.
    • Soja: Por ter mais óleo, é mais sensível. O ideal é armazenar com umidade entre 11% e 12%.
  • Temperatura ideal de armazenamento:

    • Mantenha a massa de grãos o mais fria possível, em torno de 15°C. Para isso, um bom sistema de aeração no silo é indispensável.

Essas práticas evitam a proliferação de fungos de armazenamento como Penicillium spp. e Aspergillus spp., conhecidos como mofos e bolores. Eles são os principais causadores de grãos ardidos durante o armazenamento e também os maiores produtores de micotoxinas.

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Conclusão

Como vimos, os grãos ardidos são mais do que um simples defeito: são um sinal de alerta que pode custar caro na classificação de soja e milho.

A boa notícia é que, com um manejo cuidadoso em etapas-chave, é possível minimizar drasticamente esse problema. Lembre-se dos pontos essenciais:

  • No campo: Controle as doenças da espiga no milho e planeje a colheita para não deixar os grãos expostos ao clima por tempo desnecessário.
  • Na secagem: Monitore a temperatura para não queimar os grãos, especialmente no caso do milho.
  • No armazenamento: Mantenha os grãos limpos, frios e secos, respeitando os níveis de umidade e temperatura ideais para cada cultura.

Espero que essas informações te ajudem a realizar o manejo adequado e, assim, você consiga evitar futuros problemas e garantir o melhor valor para a sua produção.

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Glossário

  • Aeração: Processo de circulação forçada de ar através da massa de grãos armazenados em um silo. A aeração é fundamental para controlar a temperatura e a umidade, prevenindo a deterioração e o desenvolvimento de fungos.

  • Classificação de Grãos: Análise técnica de um lote de grãos (como soja ou milho) para determinar sua qualidade com base em padrões oficiais. Essa avaliação define o valor comercial do produto, considerando defeitos como os grãos ardidos.

  • Cotilédone: Estrutura interna da semente que armazena nutrientes para o embrião da planta. Na classificação da soja, a coloração marrom escura do cotilédone é o principal indicativo de um grão ardido.

  • Grãos Ardidos: Categoria de defeito grave em grãos, caracterizada por escurecimento intenso devido à fermentação, calor excessivo ou ataque de fungos. Sua presença indica deterioração e potencial contaminação por micotoxinas.

  • Instrução Normativa (IN): Norma técnica oficial emitida por órgãos governamentais, como o Ministério da Agricultura, para padronizar processos. As INs 60/2011 (milho) e 11/2007 (soja) definem os critérios para a classificação de grãos no Brasil.

  • Micotoxinas: Substâncias tóxicas produzidas por fungos que podem contaminar grãos no campo ou durante o armazenamento. A presença de grãos ardidos é um forte indicativo de contaminação por micotoxinas, que são perigosas para a saúde humana e animal.

  • Patógenos: Microorganismos, como os fungos, que causam doenças em plantas. No artigo, refere-se aos fungos dos gêneros Stenocarpella, Fusarium e Gibberella, que provocam as podridões de espiga no milho.

  • Podridões de Espiga: Grupo de doenças causadas por fungos que atacam as espigas de milho ainda na lavoura. Essas doenças são a principal causa do aparecimento de grãos ardidos no campo, comprometendo a qualidade da produção antes mesmo da colheita.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Gerenciar todas as etapas do manejo para evitar grãos ardidos, desde o controle de doenças na lavoura até o planejamento preciso da colheita, exige uma organização impecável. Um simples atraso na aplicação de fungicidas ou na entrada das máquinas no campo pode aumentar significativamente os riscos e as perdas de qualidade no lote.

Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o planejamento e o registro de todas essas operações. Na plataforma, é possível agendar o calendário de atividades, registrar as aplicações de defensivos em cada talhão e monitorar a janela ideal para a colheita, tudo em tempo real e acessível pelo celular. Esse controle garante que as decisões sejam tomadas com base em dados, reduzindo os riscos e protegendo o valor da sua safra.

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Perguntas Frequentes

Qual é a principal diferença entre um grão ardido e um grão apenas fermentado?

A principal diferença está na intensidade do dano. Um grão ‘fermentado’ está em um estágio inicial de deterioração com alteração de cor mais branda. Já o ‘ardido’ representa um estágio avançado e irreversível, caracterizado por um escurecimento total (no milho) ou uma coloração marrom escura no interior do grão (na soja), frequentemente indicando maior risco de micotoxinas.

Por que os grãos ardidos são um problema tão sério além da perda de valor?

Além do prejuízo financeiro direto, os grãos ardidos são um forte sinal da presença de micotoxinas, substâncias tóxicas produzidas por fungos. Essas toxinas são perigosas para a saúde humana e animal, podendo levar à recusa total do lote e inviabilizar seu uso na indústria de alimentos ou ração.

O manejo para evitar grãos ardidos é o mesmo para as culturas de milho e soja?

Embora os princípios gerais de colheita no tempo certo e armazenamento adequado sejam semelhantes, existem focos diferentes. No milho, o controle da temperatura na secagem é extremamente crítico, pois o calor excessivo é uma causa direta de grãos ardidos. Na soja, a atenção maior se volta para o controle da umidade no armazenamento, pois seu alto teor de óleo a torna mais suscetível à fermentação.

Quais são os principais fungos que causam grãos ardidos ainda no campo?

No campo, a principal causa está ligada às podridões de espiga no milho, provocadas por fungos como Stenocarpella, Fusarium e Gibberella. O controle eficaz desses patógenos envolve um manejo integrado, que combina a escolha de híbridos resistentes, rotação de culturas e a aplicação planejada de fungicidas na fase reprodutiva da planta.

É possível reverter o problema depois que um lote já apresenta grãos ardidos?

Não, o dano que classifica um grão como ardido é irreversível. Uma vez que o grão sofreu a queima por calor ou a fermentação avançada, sua qualidade não pode ser restaurada. Por isso, todo o esforço de manejo deve ser concentrado na prevenção do problema, desde a escolha da semente até o final do armazenamento.

Qual a relação direta entre a umidade na colheita e o risco de grãos ardidos?

Atrasar a colheita e deixar os grãos expostos a chuvas aumenta drasticamente a umidade e a atividade de fungos, elevando o risco de grãos ardidos já no campo. Colher com umidade muito alta também sobrecarrega o sistema de secagem e aumenta a chance de fermentação no armazenamento se o processo não for rápido e eficiente, criando o ambiente perfeito para a deterioração.

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