Glufosinato de Amônio no Milho: Guia Completo de Aplicação e Cuidados

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.
Glufosinato de Amônio no Milho: Guia Completo de Aplicação e Cuidados

Usar herbicidas do jeito errado pode trazer grandes prejuízos para a sua lavoura. Quando se trata do glufosinato de amônio, entender os detalhes é crucial para não causar danos irreversíveis à sua cultura de milho.

Saber quais híbridos de milho são tolerantes a este produto e, principalmente, conhecer a dose e o momento certo de aplicar, faz toda a diferença no resultado final.

Neste guia completo, vamos detalhar tudo o que você precisa saber para usar o glufosinato de amônio com segurança e eficiência no controle de plantas daninhas na sua lavoura de milho. Boa leitura!

O que é glufosinato de amônio?

O glufosinato de amônio é um herbicida de contato, ou seja, ele age onde atinge a planta. Seu modo de ação é direto: ele ataca os cloroplastos (as “fábricas de energia” das plantas), interrompendo a fotossíntese e a produção de aminoácidos essenciais para as espécies invasoras.

Como resultado, os sintomas aparecem rapidamente na planta daninha:

  • Clorose: a planta fica amarelada.
  • Necrose: os tecidos da planta morrem e escurecem.
  • Morte da planta: ocorre em poucos dias.

Em plantas de milho que não são tolerantes ao produto, você pode notar folhas anormais, com uma coloração roxa ou com tamanho reduzido.

Especialmente para o milho safrinha, o glufosinato de amônio é uma ótima alternativa para o manejo de plantas daninhas. Ele também pode ser um excelente substituto para o paraquat e o glifosato no controle da buva.

composição de duas fotografias que ilustram o estágio inicial de uma lavoura de milho em sistema de plantio diMilho não tolerante no estágio inicial, com sintomas causados pelo glufosinato de amônio (Fonte: Geneze sementes)

Como funciona a tolerância do milho ao herbicida?

O glufosinato de amônio pode ser usado como dessecante em lavouras de milho que não são tolerantes a ele. Nesse caso, a aplicação é feita em plantio direto, antes da emergência do milho, para limpar a área e formar uma cobertura vegetal importante para o manejo.

A tolerância ao herbicida vem da tecnologia. Atualmente, existem milhos híbridos que contêm genes conhecidos como bar e pat. Esses genes dão à planta a capacidade de converter o princípio ativo do herbicida em uma forma não tóxica, tornando-o inativo.

Abaixo, listamos alguns dos híbridos de milho tolerantes ao glufosinato de amônio:

  • Herculex (registrado pela Pioneer® e Dow AgroSciences)
  • Intrasect (registrado pela Pioneer®)
  • Leptra (registrado pela Pioneer®)
  • Agrisure TL (registrado pela Syngenta Group Company)
  • Agrisure Viptera 2 (registrado pela Syngenta Group Company)
  • Agrisure Viptera 3 (registrado pela Syngenta Group Company)
  • Power Core (registrado pela Corteva Agriscience)
  • Power Core Ultra (registrado pela Corteva Agriscience)

Atenção: Mesmo em milhos tolerantes, a dose excessiva é perigosa. A aplicação de uma dose maior que a recomendada pode causar sintomas de fitotoxicidade no milho, como estrias amarelas nas folhas, diminuição do tamanho da planta e até deformação das espigas.

Quanto e como aplicar esse herbicida?

A regra de ouro é aplicar o herbicida nos estágios iniciais das plantas daninhas, ou seja, quando elas ainda estão pequenas. Isso é importante porque o glufosinato de amônio tem dificuldade de se mover dentro da planta. Além disso, observe bem quais são as espécies de plantas daninhas presentes na sua propriedade.

O tempo de aplicação depende dessa informação. Em alguns casos, a aplicação é feita no início do perfilhamento. Em outros, pode variar entre a emissão da terceira até a sexta folha da planta daninha.

Apesar de controlar uma grande variedade de invasoras, algumas espécies já desenvolveram mecanismos de resistência ao glufosinato de amônio, como o capim pé-de-galinha e o azevém.

Nesses casos, a recomendação é rotacionar o uso de herbicidas que atuem com outros mecanismos de ação. Agora, veja em detalhes como aplicar em milho não tolerante e em milho híbrido.

Bula do glufosinato para milho não tolerante

É fundamental ler a bula de cada produto e seguir a dosagem recomendada, pois o modo de aplicação muda se a cultura é tolerante ou não.

Para a aplicação no milho não tolerante, a recomendação é usar entre 1,5 L/ha e 2,0 L/ha do produto, em uma única aplicação. A aplicação deve ser feita em jato dirigido nas entrelinhas da cultura, para evitar que o produto atinja as plantas de milho. Essa medida controla as seguintes plantas daninhas:

Fique atento ao estágio das daninhas: para o capim-colchão e capim-marmelada, a aplicação deve ser no início do perfilhamento. Para as demais plantas da lista, aplique entre a e a folha emitida.

Use uma dosagem maior quando a infestação de gramíneas for mais intensa. Além disso, é recomendado adicionar 0,2% v/v de adjuvante agrícola (à base de óleo mineral ou vegetal) à calda. Isso significa 200 ml de adjuvante para cada 100 litros de calda. Essas recomendações são baseadas na bula do produto Patrol SL.

Lembre-se: no milho não tolerante, a aplicação em jato dirigido nas entrelinhas é essencial para não contaminar a cultura e evitar os sintomas de fitotoxicidade.

desenho técnico em preto e branco que ilustra uma seção transversal de uma lavoura, mostrando o conceito de pulExemplo de aplicação de herbicida por meio de jato dirigido nas entrelinhas do milho (Fonte: Mais soja)

Bula do glufosinato para milho (transgênico)

Em lavouras de milho transgênico (tolerante), as recomendações são diferentes.

Para controlar o capim-marmelada e o leiteiro, a dosagem recomendada é entre 1,5 L/ha e 3,0 L/ha em única aplicação, feita em pós-emergência da cultura e das daninhas.

Observe sempre o estádio de desenvolvimento das plantas invasoras:

  • Capim-marmelada: aplicar até 3 perfilhos.
  • Leiteiro, corda-de-viola e caruru: aplicar até 6 folhas.

Para o controle da corda-de-viola, a recomendação é uma aplicação sequencial, com dosagem entre 1,5 L/ha e 3,0 L/ha no total. Siga os passos:

  1. Primeira aplicação: use 1,5 L/ha quando o milho estiver com 3 ou 4 folhas.
  2. Segunda aplicação: use mais 1,5 L/ha quando o milho estiver com 5 ou 6 folhas.

Neste caso, o estádio das daninhas para iniciar o controle é ainda mais inicial:

  • Leiteiro, corda-de-viola e caruru: aplicar com até 2 folhas.
  • Capim-marmelada: aplicar com até 3 folhas.

Condições adequadas para aplicação do dessecante e herbicida

Para garantir a máxima eficiência do glufosinato de amônio, as condições climáticas são fundamentais:

  • Chuva e Luz: É necessário um período de 5 a 6 horas, no mínimo, sem chuva e com boa luminosidade após a aplicação.
  • Temperatura: As temperaturas ideais ficam entre 20 ºC e 25 ºC.
  • Umidade: A umidade relativa do ar deve estar acima de 50%.

Lembre-se: este produto funciona em pós-emergência e não deve ser utilizado em pré-emergência para o controle de plantas daninhas. Por ser um herbicida de contato, uma aplicação precisa e com boa cobertura é essencial para que o produto atinja diretamente as plantas a serem eliminadas.

Glufosinato de amônio: preço e nomes comerciais

Existem diversos produtos à base de glufosinato de amônio disponíveis no mercado. O preço pode variar bastante dependendo da sua região, da marca, da quantidade comprada e da demanda do mercado. Você pode encontrar o glufosinato de amônio com os seguintes nomes comerciais:

  • Glufair, registrado pela Rainbow Defensivos;
  • Liberty, registrado pela Bayer;
  • Glufosinato Nortox, registrado pela Nortrox;
  • Finale, registrado pela Basf S.A;
  • Patrol SL, registrado pela Adama;
  • Biffo, registrado pela Sumitomo.

planilha pulverização de defensivos agrícolas

Conclusão

O glufosinato de amônio é um excelente herbicida para o manejo de um amplo espectro de plantas daninhas na cultura do milho.

Lembre-se da diferença crucial: em milho não tolerante, a aplicação deve ser sempre em jato dirigido nas entrelinhas, após a emergência das daninhas.

Respeitar a dosagem correta do produto, conforme a bula, é inegociável. Doses erradas podem não apenas causar sintomas de fitotoxicidade, prejudicando a produtividade e o rendimento da lavoura, mas também acelerar a seleção de plantas resistentes.

Em todos os casos, a melhor prática é procurar a assistência técnica de uma pessoa especialista em agronomia. Esse acompanhamento é essencial para evitar erros e garantir o sucesso no manejo das plantas daninhas.


Glossário

  • Clorose: Amarelamento das folhas de uma planta devido à falta de clorofila. No contexto do artigo, é um dos primeiros sintomas visuais de que o herbicida está agindo na planta daninha.

  • Dessecante: Produto químico, como um herbicida, utilizado para provocar a secagem rápida (morte) da vegetação. É aplicado antes do plantio para “limpar” a área, eliminando plantas daninhas e formando uma cobertura morta sobre o solo.

  • Fitotoxicidade: Efeito tóxico que um defensivo agrícola causa na própria cultura de interesse (neste caso, o milho), em vez de apenas nas plantas daninhas. Os sintomas incluem manchas, deformações e redução no crescimento, prejudicando a produtividade.

  • Herbicida de contato: Tipo de herbicida que atua somente nas partes da planta em que é aplicado. Por não se mover internamente na planta, uma boa cobertura durante a pulverização é essencial para sua eficácia.

  • Jato dirigido: Técnica de aplicação em que o herbicida é pulverizado diretamente nas entrelinhas da cultura, visando atingir as plantas daninhas no solo e evitar o contato com as plantas de milho.

  • L/ha (Litros por hectare): Unidade de medida padrão na agricultura que indica a dosagem de um produto líquido a ser aplicado por hectare. Um hectare equivale a 10.000 metros quadrados, área similar a um campo de futebol oficial.

  • Perfilhamento: Estágio de desenvolvimento das gramíneas em que a planta começa a emitir novos brotos (perfilhos) a partir de sua base. É um indicador importante para determinar o momento ideal de aplicação do herbicida.

  • Pós-emergência: Refere-se à aplicação de um produto agrícola após o nascimento (emergência) das plantas, tanto da cultura principal quanto das plantas daninhas.

  • v/v (Volume por volume): Medida de concentração que indica a proporção do volume de um produto em relação ao volume total da mistura. Uma recomendação de 0,2% v/v significa adicionar 200 ml de um adjuvante para cada 100 litros de calda de pulverização.

Veja como a tecnologia simplifica o manejo de defensivos

O manejo correto de herbicidas como o glufosinato de amônio é um quebra-cabeça com muitas peças: a dose exata, o estágio da planta daninha, as condições climáticas e, claro, o custo de cada operação. Controlar tudo isso no papel ou em planilhas pode levar a erros que comprometem não só a eficácia do tratamento, mas também a rentabilidade da lavoura.

É aqui que um software de gestão agrícola, como o Aegro, faz a diferença. Ele permite registrar cada aplicação de defensivo em tempo real, diretamente do campo pelo celular. Ao fazer isso, você não apenas cria um histórico detalhado para consultas futuras, mas também acompanha automaticamente o custo por hectare da operação. Esse controle preciso ajuda a evitar desperdícios e a tomar decisões baseadas em dados para otimizar a produtividade.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre aplicar glufosinato em milho tolerante e não tolerante?

Em milho tolerante (transgênico), o glufosinato pode ser aplicado em pós-emergência sobre toda a cultura. Já em milho não tolerante, a aplicação deve ser feita obrigatoriamente em jato dirigido nas entrelinhas, evitando a todo custo o contato do produto com as plantas de milho para não causar fitotoxicidade e perdas de produtividade.

Posso aplicar uma dose maior de glufosinato em milho tolerante para garantir o controle?

Não, isso é muito arriscado. Mesmo em híbridos tolerantes, uma dose excessiva de glufosinato de amônio pode causar fitotoxicidade, resultando em sintomas como estrias amarelas nas folhas, redução do tamanho da planta e até deformação das espigas, o que prejudica diretamente o rendimento final da lavoura.

Quais as condições climáticas ideais para a aplicação do glufosinato de amônio?

Para máxima eficácia, aplique o glufosinato com temperaturas entre 20°C e 25°C e umidade relativa do ar acima de 50%. É crucial garantir um período mínimo de 5 a 6 horas sem chuva e com boa luminosidade após a pulverização, pois ele é um herbicida de contato e precisa de tempo para agir.

Glufosinato de amônio e glifosato são a mesma coisa?

Não, são herbicidas com modos de ação diferentes. O glufosinato de amônio é um herbicida de contato, agindo apenas onde atinge a planta, com resultados visuais rápidos. O glifosato é sistêmico, ou seja, é absorvido e se move por toda a planta. Essa diferença é fundamental para o manejo de plantas daninhas e o controle de espécies resistentes.

O glufosinato de amônio funciona contra todas as plantas daninhas?

Apesar de controlar um amplo espectro de invasoras, ele não é eficaz contra todas. Algumas espécies, como o capim pé-de-galinha e o azevém, já desenvolveram resistência ao seu princípio ativo. Por isso, é fundamental rotacionar herbicidas com diferentes mecanismos de ação para um manejo integrado eficiente.

Qual é o momento ideal para aplicar o glufosinato de amônio nas plantas daninhas?

A aplicação é mais eficaz quando as plantas daninhas estão em seus estágios iniciais de desenvolvimento, geralmente pequenas. Dependendo da espécie, o momento ideal pode variar do início do perfilhamento até a emissão da 4ª a 8ª folha. Aplicar em plantas já desenvolvidas reduz drasticamente a eficácia do produto.

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