A giberela é uma das principais doenças que afetam a cultura do trigo, com potencial para causar danos significativos na sua lavoura.
Além de derrubar a produtividade, a doença pode gerar micotoxinas, um contaminante perigoso que compromete a qualidade e a segurança dos grãos.
Mas como você pode identificar os sintomas da giberela a tempo? E quais são as formas de manejo mais eficientes para proteger sua safra? Confira neste guia prático todas as respostas que você precisa.
O Que é a Giberela e Por Que Ela é Perigosa?
A giberela, também conhecida como fusariose da espiga, é causada pelo fungo Fusarium graminearum. Ela se desenvolve com mais força em regiões quentes, especialmente quando períodos de chuva prolongada coincidem com a fase de floração da cultura do trigo.
O impacto da giberela é duplo e severo:
- Perda de Produtividade: A doença pode causar uma redução de até 30% no rendimento dos grãos, afetando diretamente a rentabilidade da sua lavoura.
- Contaminação por Micotoxinas: O fungo produz substâncias tóxicas que contaminam os grãos, trazendo riscos para a saúde de humanos e animais. Veremos isso em mais detalhes adiante.
Além do trigo, o fungo pode atacar uma ampla variedade de hospedeiros, incluindo aveia, cevada, centeio, milho, triticale e sorgo, tornando seu controle ainda mais desafiador.
A seguir, aprenda a reconhecer os sinais da doença no campo.
Como Identificar a Giberela na Lavoura: Sinais de Alerta
Na cultura do trigo, o fungo F. graminearum ataca diretamente a flor da planta. Em casos severos, a flor pode ser totalmente destruída, impedindo a formação do grão. Quando a infecção avança, o fungo pode colonizar todos os componentes da espiga.
Fique atento a estes sintomas visuais para um diagnóstico rápido:
- Nas Espiguetas: Apresentam uma coloração de palha, despigmentada ou esbranquiçada. Esse branqueamento prematuro é um dos sinais mais claros da doença.
- Nas Aristas: Um sintoma muito característico e de fácil reconhecimento são as aristas arrepiadas em espiguetas que já estão esbranquiçadas ou mortas.
- Nos Grãos: Se a infecção for mais lenta e os grãos chegarem a se desenvolver, eles apresentarão uma coloração rósea (devido à presença do fungo), ficando enrugados e chochos.
(Fonte: O Presente Rural)
Portanto, os principais danos diretos da giberela no trigo são o abortamento das flores e a má formação dos grãos. Isso significa que a doença provoca danos quantitativos (menos produção) e qualitativos (pior qualidade).
Mas o problema não para por aí. Existe um perigo invisível: as micotoxinas.
O Perigo Invisível: Entendendo as Micotoxinas
Micotoxinas: são substâncias químicas tóxicas produzidas por alguns fungos que são nocivas à saúde de humanos e animais quando ingeridas.
A principal micotoxina formada pelo Fusarium graminearum é o desoxinivalenol (DON), que atua inibindo a síntese de proteínas no organismo.
Para proteger a saúde pública, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exige análises laboratoriais de grãos e de produtos à base de trigo.
Os limites máximos de DON permitidos são:
3.000 ppb
para grãos de trigo destinados a processamento.1.000 ppb
para farinha integral.750 ppb
para farinha branca, pães, massas e biscoitos.
Limites de micotoxinas no trigo determinados pela Anvisa
(Fonte: Embrapa)
Agora que você conhece os sintomas e os riscos, vamos entender como a doença se desenvolve no campo.
O Ciclo da Giberela: Como o Fungo Sobrevive e se Espalha
Entender o ciclo da doença é fundamental para determinar as medidas de controle mais eficazes.
O fungo que causa a giberela sobrevive nos restos culturais da safra anterior, como a palhada. Essas estruturas servem de abrigo até que as condições se tornem favoráveis novamente.
O ciclo ocorre da seguinte forma:
- Ativação: Com alta umidade e temperaturas adequadas, o fungo se desenvolve e libera seus esporos.
- Dispersão: Os esporos (chamados de ascósporos) são levados a longas distâncias pelo vento, servindo como a principal fonte de contaminação (inóculo).
- Infecção: Os esporos atingem as anteras do trigo, germinam e penetram na flor, iniciando o processo de infecção da planta.
(Fonte: APS)
Condições Ideais para a Infecção
Fique atento a estas condições, que representam o cenário perfeito para um surto de giberela:
- Período Crítico da Cultura: A maior suscetibilidade do trigo ocorre da floração até a maturação dos grãos.
- Gatilho Climático: A infecção é favorecida por
30 horas
de molhamento foliar contínuo. - Temperatura Ideal: As temperaturas em torno de
20℃
são ideais para o desenvolvimento do fungo.
Por isso, é crucial monitorar a lavoura de perto em épocas de chuva durante a floração.
Manejo Integrado da Giberela: Estratégias de Controle
A giberela é considerada uma das doenças de mais difícil controle entre as que ocorrem nas culturas de inverno. No Brasil, ainda não existem cultivares com total tolerância ou resistência à doença.
Enquanto a pesquisa avança para desenvolver cultivares mais resistentes, o manejo integrado é a melhor estratégia. Ele combina diferentes práticas para minimizar os danos:
1. Práticas Culturais
- Semeadura antecipada: Planejar o plantio para que a floração ocorra em um período com condições climáticas menos favoráveis à doença (menos chuva e calor).
- Rotação de culturas: Evitar o plantio sucessivo de culturas hospedeiras (como milho ou cevada) na mesma área. Utilize plantas que não são hospedeiras para quebrar o ciclo de vida do fungo na palhada.
2. Controle Químico com Fungicidas
A aplicação de fungicidas deve ser preventiva, ou seja, realizada antes da ocorrência de chuvas durante a floração. A proteção de uma aplicação dura cerca de 15 dias.
- Produtos: No Agrofit, existem 63 fungicidas registrados para o controle da giberela no trigo, a maioria dos grupos químicos triazóis, benzimidazol e estrobilurina.
- Momento da Aplicação: Pesquisas indicam a seguinte estratégia:
- Primeira Aplicação: Realizar quando as plantas estiverem com
25% a 50%
de florescimento. - Segunda Aplicação: Pode ser feita quando as plantas atingirem
75%
de florescimento, com um intervalo de 5 a 7 dias após a primeira.
- Primeira Aplicação: Realizar quando as plantas estiverem com
- Ajuste Conforme o Clima:
- Anos Chuvosos: Considere uma terceira aplicação ou diminua o intervalo entre as duas aplicações.
- Anos Secos: Uma única aplicação bem-feita pode ser suficiente.
(Fonte: Embrapa)
Dica Importante: Lembre-se de utilizar fungicidas com modos de ação diferentes para reduzir a probabilidade de o fungo desenvolver resistência aos produtos.
Para um manejo eficaz da giberela, consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) para obter as recomendações mais adequadas à sua realidade.
Conclusão
A giberela representa uma ameaça séria para a cultura do trigo, com potencial para causar grandes perdas de produtividade e contaminar os grãos com micotoxinas perigosas.
Neste artigo, você aprendeu a identificar os sintomas da doença, entendeu como o fungo se desenvolve e conheceu as principais estratégias de manejo integrado.
Lembre-se que o controle mais eficaz é sempre preventivo. Adotar as práticas corretas antes que o fungo se instale na lavoura é a melhor forma de evitar prejuízos e garantir uma safra de qualidade.
Esperamos que, com essas informações, você possa proteger sua lavoura e alcançar um ótimo resultado na sua propriedade
Glossário
Desoxinivalenol (DON): Principal micotoxina produzida pelo fungo da giberela. É uma substância tóxica que contamina os grãos e possui limites de tolerância rigorosos em alimentos para proteger a saúde humana e animal.
Espiguetas: Pequenas estruturas que compõem a espiga do trigo. Cada espigueta contém as flores que, após a fecundação, se desenvolvem nos grãos, sendo o local primário de infecção da giberela.
Fusarium graminearum: Nome científico do fungo causador da giberela. Ele sobrevive em restos culturais e libera esporos que infectam as espigas do trigo durante a floração.
Giberela (Fusariose da espiga): Doença fúngica que ataca a espiga de cereais como o trigo. Causa o branqueamento prematuro das espiguetas, o abortamento de flores e a formação de grãos chochos e contaminados.
Inóculo: Refere-se à parte do patógeno, como os esporos do fungo, que é capaz de iniciar uma infecção na planta. No caso da giberela, o principal inóculo são os esporos transportados pelo vento a partir de restos culturais.
Micotoxinas: Substâncias tóxicas produzidas por fungos que podem contaminar produtos agrícolas. A ingestão de alimentos com altos níveis de micotoxinas, como o DON, representa um sério risco à saúde.
ppb (partes por bilhão): Unidade de medida usada para expressar concentrações muito pequenas, como o nível de micotoxinas nos grãos. Um valor de 1.000 ppb equivale a 1 miligrama por quilograma (mg/kg).
Como a tecnologia ajuda no manejo da giberela?
Controlar a giberela exige um planejamento preciso, desde a semeadura até a aplicação de fungicidas no momento exato para garantir a eficácia. Cada decisão impacta diretamente os custos de produção, e um erro pode comprometer a rentabilidade de toda a safra, um desafio constante para qualquer produtor.
Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a superar esses desafios. Com um software especializado, é possível planejar e registrar todas as atividades no campo, garantindo que as pulverizações sejam agendadas e executadas na janela ideal de florescimento.
Além disso, o sistema centraliza o acompanhamento dos custos com insumos e defensivos em tempo real, permitindo tomar decisões mais seguras para proteger a produtividade e o lucro. Quer ter mais controle sobre o manejo e os custos da sua lavoura?
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Perguntas Frequentes
Qual o momento ideal para aplicar fungicida para controlar a giberela no trigo?
A aplicação de fungicida deve ser estritamente preventiva, antes do surgimento dos sintomas. O momento crucial é no início do florescimento, com a primeira aplicação quando 25% a 50% das plantas estiverem florescendo. Dependendo das condições climáticas, uma segunda aplicação pode ser necessária de 5 a 7 dias depois para proteger as flores que se abrem mais tarde.
Por que a rotação de culturas com milho ou cevada aumenta o risco de giberela?
O fungo causador da giberela, Fusarium graminearum, sobrevive nos restos culturais (palhada) de safras anteriores. Como o milho e a cevada também são hospedeiros do fungo, plantá-los antes do trigo deixa uma grande quantidade de inóculo na área, aumentando drasticamente a pressão da doença na safra seguinte.
O que acontece se um lote de trigo for reprovado na análise da micotoxina DON?
Se os níveis da micotoxina DON estiverem acima dos limites legais, o lote de grãos pode ser rejeitado pela indústria moageira ou cooperativas, resultando em grande prejuízo financeiro. Dependendo do nível de contaminação, o grão pode ser desclassificado para usos de menor valor ou até mesmo precisar ser descartado, inviabilizando sua comercialização para consumo humano.
É possível identificar a contaminação por micotoxinas (DON) apenas olhando os grãos?
Não. Embora os grãos infectados pela giberela possam parecer enrugados, chochos e com coloração rosada, a micotoxina DON em si é invisível e inodora. A única forma de confirmar a presença e o nível de contaminação é através de análises laboratoriais, reforçando o conceito de “perigo invisível”.
Se eu já vejo espigas esbranquiçadas na lavoura, ainda vale a pena aplicar fungicida?
Uma vez que os sintomas de espigas esbranquiçadas aparecem, a infecção naquela parte da planta já está estabelecida e o fungicida não terá efeito curativo. Uma aplicação tardia pode ajudar a proteger as partes da lavoura que ainda não foram infectadas, mas sua eficácia será muito menor em comparação com uma aplicação preventiva feita no momento correto do florescimento.
Existem variedades de trigo totalmente resistentes à giberela no Brasil?
Atualmente, não existem cultivares de trigo com resistência total à giberela disponíveis no Brasil. No entanto, o melhoramento genético oferece opções com diferentes níveis de suscetibilidade. Optar por cultivares classificadas como moderadamente resistentes ou tolerantes é uma parte fundamental do manejo integrado da doença, reduzindo os riscos.
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