A gessagem é uma prática agrícola fundamental que melhora o ambiente do solo para que as raízes das plantas possam se desenvolver melhor. Essencialmente, consiste na aplicação de gesso agrícola para condicionar as camadas mais profundas do solo.
Além de sua ação como condicionante, o gesso também atua como fertilizante, pois fornece nutrientes importantes para as plantas.
É comum confundir a gessagem com a calagem, mas é crucial entender que são duas estratégias de manejo com objetivos diferentes e complementares. Quer entender exatamente como a gessagem funciona e como aplicá-la corretamente? Continue a leitura e tire todas as suas dúvidas.
O que é Gesso Agrícola e Qual sua Função?
O gesso agrícola, cujo nome técnico é sulfato de cálcio, atua principalmente como um condicionante de solo e corretivo de sodicidade. Em outras palavras, ele melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo e ajuda a reduzir o excesso de sódio prejudicial.
Existem duas fontes principais de gesso agrícola:
- Fosfogesso: É um subproduto gerado na fabricação de fertilizantes fosfatados, como o superfosfato simples.
- Gesso Natural: É produzido a partir da mineração e processamento da gipsita, um mineral encontrado em abundância na natureza.
Independentemente da origem, a principal função do gesso agrícola é melhorar o ambiente do solo em profundidade. Isso permite que as raízes cresçam mais fundo, alcançando mais água e nutrientes. O resultado é uma lavoura mais resistente e produtiva.
Além disso, o gesso agrícola também fornece dois nutrientes essenciais: cálcio (em média 18%) e enxofre (em média 15%).
Do ponto de vista financeiro, o gesso é um produto relativamente barato. O maior desafio costuma ser o custo do transporte, já que a distância dos centros de distribuição pode elevar o valor do frete. Em muitas situações, o frete acaba sendo mais caro que o próprio produto.
A Diferença Crucial entre Calcário e Gesso Agrícola
As práticas de calagem e gessagem são essenciais para alcançar altas produtividades, especialmente em solos de Cerrado. É importante reforçar que uma prática não substitui a outra; elas são complementares.
O calcário é usado para corrigir a acidez na camada superficial do solo (geralmente de 0 a 20 cm). Ele neutraliza os efeitos tóxicos do alumínio e do manganês e, ao mesmo tempo, fornece cálcio e magnésio para as plantas. No entanto, a ação do calcário é limitada a essa camada superior.
O gesso agrícola, por outro lado, atua nas camadas mais profundas do solo. Ele é um condicionante que melhora as condições físico-químicas em subsuperfície. Isso favorece a atividade de microrganismos benéficos e, o mais importante, estimula o desenvolvimento de raízes mais profundas.
Um ponto importante: a gessagem não altera o pH do solo, ou seja, ela não corrige a acidez. Diferente do calcário, o gesso não reage diretamente com o alumínio tóxico para neutralizá-lo. Sua ação é “carrear” esse alumínio para camadas ainda mais profundas, tirando-o do caminho das raízes. Além disso, como já mencionado, o gesso também serve como fonte de cálcio e enxofre.
O quadro abaixo resume as principais diferenças:
Quando é o Momento Certo para Fazer a Gessagem?
A aplicação de gesso deve seguir uma ordem correta para garantir sua eficácia. A gessagem é uma prática realizada após a calagem e deve ser feita em área total. Uma vantagem é que não há necessidade de incorporar o gesso ao solo.
Antes de decidir pela aplicação, é indispensável avaliar se a sua área realmente precisa de gesso. Os indicadores são a deficiência de cálcio e o excesso de alumínio nas camadas mais profundas do solo.
Para isso, a amostragem de solo para culturas anuais deve ser feita em duas profundidades:
- De
20 a 40 centímetros. - De
40 a 60 centímetros.
Somente com uma análise físico-química completa dessas amostras é possível determinar com segurança a necessidade de realizar a gessagem.
Benefícios da Aplicação de Gesso no Solo
A acidez e a falta de nutrientes, tanto na superfície quanto em profundidade, são fatores que limitam muito a produção agrícola. A gessagem surge como uma prática de grande importância para viabilizar o cultivo em solos com essas limitações.
Os principais benefícios do uso de gesso na agricultura são:
- Redução da atividade do alumínio tóxico nas camadas mais profundas do solo.
- Redução da salinidade em solos com excesso de sais.
- Melhora da estrutura do solo, facilitando a aeração e a infiltração de água.
- Fornecimento de cálcio e enxofre para as culturas.
- Estímulo ao crescimento radicular em profundidade.
- Aumento da absorção de água e nutrientes pelas plantas, que agora exploram um volume maior de solo.
- Maior tolerância das plantas ao estresse hídrico (falta de água), pois as raízes profundas conseguem buscar umidade em camadas inferiores.
- Aumento da produtividade como resultado de todos os benefícios anteriores.
Veja na imagem abaixo como as raízes exploram um volume muito maior de solo após a aplicação de gesso.
Distribuição relativa de raízes de milho no perfil de um latossolo argiloso, sem aplicação e com aplicação de gesso.
(Fonte: Embrapa)
Como Calcular a Necessidade de Gessagem?
A dose correta de gesso deve ser definida com base na análise de solo. Existem diferentes métodos de cálculo recomendados, e a escolha pode depender da sua região e da cultura. Abaixo estão os principais.
1. Cálculo Baseado na Necessidade de Calcário (NC)
Este método relaciona a necessidade de gesso com a necessidade de calcário (NC) calculada para a camada mais profunda.
Fórmula 1: NG (kg/ha) = 0,30 x Necessidade de calcário (NC) recomendada para o solo
- Importante: Nesta fórmula, utilize o valor de NC recomendado para a camada de
20 a 40 cm.
Fórmula 2 (Ajuste para área de aplicação e profundidade):
QG = NG x (SC/100) x (PF/20), onde:
- QG = Quantidade de gesso em toneladas por hectare (t/ha).
- NG = Necessidade de gessagem em t/ha, obtida com a fórmula anterior.
- SC = Superfície coberta pelo gesso (%). Se for em área total, use
SC = 100. Para aplicação em faixas (ex: café), pode serSC = 75. - PF = Espessura da camada onde o gesso deve agir (cm). Para a camada de 20 a 40 cm,
PF = 20. Para a camada de 30 a 60 cm,PF = 30.
2. Cálculo Baseado no Teor de Argila
Este é um método prático que utiliza o teor de argila do solo como base.
Culturas Anuais (Soja, Milho, etc.):
- NG (kg/ha) = 50 x (% de argila)
- ou
- NG (kg/ha) = 5 x (teor de argila em g/kg)
Culturas Perenes (Café, Citros, etc.):
- NG (kg/ha) = 75 x (% de argila)
- ou
- NG (kg/ha) = 7,5 x (teor de argila em g/kg)
3. Recomendação de Acordo com a Textura do Solo
A tabela abaixo oferece uma recomendação direta com base na classificação da textura do solo para culturas anuais e perenes.
Recomendação de gesso agrícola em função da classificação textural do solo.
(Fonte: Vitti e Priori, 2009)
4. Recomendação por Capacidade de Troca Catiônica (CTC) e Saturação por Bases (V%)
Este método utiliza os valores de CTC (T) e Saturação por Bases (V%) da análise de solo da subsuperfície para determinar a dose de gesso.
Quantidade aproximada de gesso a ser aplicada de acordo com a capacidade de troca catiônica (T) e saturação por bases (V) do subsolo.
(Fonte: Vitti e Priori, 2009)
Atenção: A dose certa faz toda a diferença. A aplicação de gesso em excesso pode prejudicar o equilíbrio de nutrientes no solo. Em grandes quantidades, o gesso pode “lavar” o magnésio para camadas mais profundas, causando um desequilíbrio nutricional na zona das raízes. Por isso, a recomendação de gessagem deve ser sempre orientada por uma análise de solo bem-feita.
Conclusão
Para resumir os pontos mais importantes sobre a gessagem:
- O gesso agrícola é um condicionante do solo que também age como fertilizante, fornecendo cálcio e enxofre.
- Gessagem e calagem são práticas diferentes e complementares. Uma não elimina a necessidade da outra. A calagem corrige a acidez na superfície, enquanto a gessagem melhora o ambiente em profundidade.
- Os principais benefícios são o maior crescimento de raízes, a redução do alumínio tóxico em subsuperfície, e o aumento da absorção de água e nutrientes, resultando em maior produtividade.
- A recomendação da dose de gesso deve ser sempre baseada nos resultados da análise de solo para evitar desequilíbrios e garantir o máximo retorno sobre o investimento.
Glossário
Alumínio tóxico: Elemento presente em solos ácidos que prejudica e limita o crescimento das raízes das plantas. A gessagem ajuda a neutralizar sua atividade em profundidade, permitindo que o sistema radicular se desenvolva em camadas mais profundas do solo.
Calagem: Prática agrícola que consiste na aplicação de calcário para corrigir a acidez (aumentar o pH) da camada superficial do solo, geralmente de 0 a 20 cm. É uma ação complementar à gessagem, que atua em camadas mais profundas.
Capacidade de Troca Catiônica (CTC): É a medida da capacidade do solo de reter e trocar nutrientes essenciais para as plantas. Funciona como um “tanque de armazenamento” de nutrientes do solo, e seu valor é usado para calcular a necessidade de gesso.
Condicionante de solo: Um produto que melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, facilitando o desenvolvimento das plantas. O gesso agrícola é um condicionante que melhora a estrutura do solo em profundidade e reduz o efeito do alumínio tóxico.
Estresse hídrico: Situação em que a planta sofre com a falta de água, o que limita seu crescimento e produtividade. A gessagem aumenta a tolerância ao estresse hídrico, pois permite que as raízes busquem água em camadas mais profundas do solo.
Gessagem: Aplicação de gesso agrícola (sulfato de cálcio) com o objetivo principal de melhorar o ambiente do solo nas camadas mais profundas (subsuperfície). Fornece cálcio e enxofre e favorece o crescimento de raízes.
pH do solo: Uma escala que mede a acidez ou alcalinidade do solo. Ao contrário da calagem, a gessagem não altera significativamente o pH, pois sua função não é corrigir a acidez, mas sim melhorar as condições em profundidade.
Saturação por Bases (V%): Um indicador da fertilidade do solo que representa a porcentagem da CTC ocupada por nutrientes benéficos (cálcio, magnésio e potássio). Junto com a CTC, é um parâmetro chave da análise de solo para definir a dose de gesso.
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Perguntas Frequentes
Gessagem e calagem são a mesma prática ou uma substitui a outra?
Não, são práticas diferentes e complementares. A calagem é usada para corrigir a acidez (aumentar o pH) na camada superficial do solo (0-20 cm), enquanto a gessagem atua como um condicionador nas camadas mais profundas (abaixo de 20 cm), melhorando o ambiente para as raízes sem alterar o pH.
O gesso agrícola corrige a acidez do solo como o calcário faz?
Não, essa é uma diferença fundamental. O gesso não altera o pH do solo. Sua principal função em profundidade é neutralizar o efeito tóxico do alumínio e fornecer cálcio e enxofre, permitindo que as raízes se desenvolvam em um ambiente quimicamente mais favorável.
Como posso saber se minha lavoura realmente precisa de gessagem?
A decisão deve ser baseada em uma análise de solo, com amostras coletadas em camadas mais profundas (por exemplo, de 20 a 40 cm e 40 a 60 cm). A presença de alumínio tóxico e baixos níveis de cálcio nessas camadas são os principais indicadores da necessidade da prática.
Qual o maior benefício prático da gessagem para as plantas?
O maior benefício é o estímulo ao crescimento de raízes em profundidade. Com um sistema radicular mais desenvolvido, a planta consegue explorar um volume maior de solo, aumentando a absorção de água e nutrientes. Isso resulta em maior tolerância a períodos de seca (estresse hídrico) e, consequentemente, maior produtividade.
É necessário incorporar o gesso ao solo após a aplicação?
Não, uma das vantagens da gessagem é que não há necessidade de incorporação. O gesso agrícola é muito mais solúvel que o calcário, então ele se move para as camadas mais profundas do solo naturalmente, carregado pela água da chuva ou da irrigação.
Aplicar gesso em excesso pode prejudicar o solo ou a cultura?
Sim, a superdosagem pode ser prejudicial. A aplicação excessiva de gesso pode levar à lixiviação (perda) de nutrientes importantes como o magnésio para camadas muito profundas, causando um desequilíbrio nutricional. Por isso, é essencial seguir a dose recomendada pela análise de solo.
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