A murcha-de-Fusarium é uma das principais doenças do feijão que mais preocupa o produtor. Ela ataca com maior frequência o feijão-comum e o feijão-caupi, podendo surgir em qualquer fase do cultivo.
O grande desafio é que sua intensidade aumenta com o passar dos anos na mesma área. Isso ocorre porque o fungo causador é um habitante de solo: significa que ele sobrevive na terra por longos períodos, o que torna seu controle progressivamente mais difícil.
Neste artigo, vamos detalhar como combater a murcha-de-Fusarium no feijão, mostrando como identificar os sintomas no campo e quais são as principais medidas de controle para reduzir e evitar danos na sua lavoura.
O que é a murcha-de-Fusarium em feijão?
A murcha-de-Fusarium, também conhecida como fusariose, é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli.
Pense no gênero Fusarium como uma grande família de fungos que causam doenças em diversas plantas. A variação f. sp. phaseoli é a que se especializou em atacar especificamente o feijoeiro.
Esses fungos são capazes de usar muitas culturas diferentes como hospedeiras e estão amplamente distribuídos pelas regiões produtoras de alimentos no mundo, sendo uma ameaça constante para lavouras de feijão-comum e feijão-caupi.
Murcha-de-Fusarium: Como Identificar os Sintomas
Os sintomas visíveis na parte de cima da planta são, na verdade, um reflexo do que está acontecendo no sistema radicular. Para um diagnóstico preciso, é importante observar tanto as folhas quanto as raízes e o caule.
Os sinais mais comuns que você deve observar no campo são:
- Amarelecimento e Murcha das Folhas: As folhas ficam amarelas e a planta inteira parece murcha, especialmente nas horas mais quentes do dia. Em casos severos, isso pode levar à morte da planta.
- Sintomas em Reboleiras: Inicialmente, é comum que os sintomas apareçam em manchas isoladas na lavoura, conhecidas como reboleiras: significa que a doença está concentrada em algumas áreas.
- Perda de Rigidez: A planta perde a firmeza dos tecidos, principalmente durante períodos de falta de água ou em dias mais secos.
- Crescimento Reduzido: Quando a doença ataca no período vegetativo, as plantas não se desenvolvem normalmente, ficando menores e raquíticas.
- Danos às Vagens: Nas vagens, podem surgir lesões com aparência úmida (aspecto aquoso). O fungo pode contaminar as sementes, um problema grave se elas forem usadas para um novo plantio, pois isso espalha a doença para outras áreas.
Sinais Internos da Doença
- Escurecimento Vascular: Ao fazer um corte no caule, é possível notar um escurecimento dos vasos internos da planta (sistema vascular: os “canos” que transportam água e nutrientes). Atenção: a ausência desse sintoma não descarta a presença da doença.
- Estruturas do Fungo: Em períodos de alta umidade, você pode ver estruturas de cor cinza a rosada nas raízes e na base do caule, que são o próprio fungo se desenvolvendo.
Fatores que Agravam o Problema
A doença se torna ainda mais severa em áreas infestadas com nematoides, como o nematoide-das-galhas. Esses vermes microscópicos causam ferimentos nas raízes, que se tornam portas de entrada para o fungo Fusarium.
É fundamental investigar qualquer irregularidade na lavoura, pois a murcha pode ser confundida com outras doenças ou com simples estresse hídrico.
Sinais de murcha-de-Fusarium nas raízes de feijão
Fonte: (Esalq-USP)
Condições Favoráveis para o Fungo Fusarium sp. no Feijão
Embora a doença possa se manifestar a qualquer momento, os danos mais severos ocorrem a partir do florescimento. Nessa fase, a planta precisa de um fluxo maior de água e nutrientes para o enchimento dos grãos, e o sistema vascular danificado não consegue suprir essa demanda.
As seguintes condições favorecem o desenvolvimento do fungo:
- Temperatura e Umidade: Temperaturas amenas, entre
24°C
e28°C
, combinadas com alta umidade do solo, criam o ambiente ideal. - Tipo de Solo: Solos compactados, arenosos, ácidos e com baixo teor de matéria orgânica são mais propensos ao problema.
Apesar disso, outros tipos de solo também podem ser severamente impactados. Por isso, a doença não deve ser negligenciada em nenhuma situação.
O impacto na produtividade depende da severidade da doença e da suscetibilidade da cultivar utilizada. Em variedades mais sensíveis, os danos podem ultrapassar 50% da produção, chegando até à perda total da lavoura.
Sinais de murcha-de-fusarium em folhas de feijão
Fonte: (TopCropManager)
Como Fazer o Controle de Fusarium no Feijão?
O controle da murcha-de-Fusarium apenas com fungicidas aplicados na lavoura não é uma medida eficiente. Como o fungo vive no solo e sobrevive por longos períodos, é preciso adotar uma estratégia integrada.
Controle Genético: A Principal Ferramenta
A forma mais eficaz de controle é o uso de cultivares resistentes. Ao escolher a semente, dê preferência para variedades que tenham resistência genética comprovada à fusariose. Essa é a sua principal linha de defesa.
Controle Cultural: Rotação de Culturas
Em áreas com histórico da doença, a rotação de culturas é uma prática obrigatória. Ela funciona como uma medida preventiva que quebra o ciclo de vida do fungo.
Como o patógeno ataca feijão-comum e feijão-caupi, essas culturas não devem ser plantadas na área por um determinado período. O ideal é inserir espécies não hospedeiras (como milho, sorgo ou gramíneas forrageiras) para reduzir a população do fungo no solo.
Qual o Melhor Fungicida para Fusarium?
O uso de fungicidas é mais eficaz como uma medida protetora, principalmente no tratamento de sementes. Essa prática protege as plântulas nos estágios iniciais, quando são mais vulneráveis.
Atualmente, existem produtos registrados no Agrofit para o controle da doença no feijão. Os principais grupos químicos utilizados combinam:
- Estrobilurina + Benzimidazóis
- Fenilpirrol + Acilalaninato + Benzimidazol + Neonicotinoide
Importante: a escolha do melhor fungicida para Fusarium deve ser baseada na análise da sua lavoura e feita com o acompanhamento de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).
Como Combater a Murcha-de-Fusarium Antes Dela Chegar na Lavoura?
A prevenção é sempre a estratégia mais barata e eficiente. Adotar boas práticas agrícolas é crucial para manter a doença longe da sua propriedade.
- Use Sementes Certificadas: É indispensável utilizar sementes de qualidade, livres de patógenos. Elas são produzidas sob fiscalização rigorosa, garantindo sanidade.
- Manejo de Solo: Invista em práticas que melhorem a saúde do solo. Ações como descompactação, calagem para corrigir a acidez e aumento da matéria orgânica tornam o ambiente menos favorável ao fungo.
- Limpeza de Maquinário: Se você trabalha em áreas com suspeita da doença, tome cuidado com o trânsito de máquinas. Opere primeiro nos talhões sadios e deixe os talhões suspeitos por último. Lave bem os implementos para não transportar solo contaminado para áreas limpas.
Conclusão
A murcha-de-Fusarium, também chamada de amarelecimento-de-Fusarium, é uma doença séria que pode reduzir drasticamente a produtividade do feijão-comum e do feijão-caupi.
Como seus sintomas são parecidos com os de outros problemas, um diagnóstico correto é fundamental para aplicar as medidas de controle adequadas e evitar gastos desnecessários.
A estratégia mais eficiente combina o controle genético (uso de cultivares resistentes) e o tratamento de sementes, junto com boas práticas agrícolas que promovam a saúde do solo. Adotando essas medidas de forma integrada, você protege seu investimento e garante a sustentabilidade da sua produção.
Glossário
Cultivares resistentes: Variedades de plantas, neste caso de feijão, que foram desenvolvidas geneticamente para ter defesas naturais contra doenças específicas, como a murcha-de-Fusarium. A escolha dessas cultivares é a principal forma de controle preventivo.
Estresse hídrico: Condição em que uma planta sofre com a falta de água, resultando em sintomas como murcha e amarelamento das folhas. Esses sinais podem ser facilmente confundidos com os da murcha-de-Fusarium.
Fusarium oxysporum f. sp. phaseoli: Nome científico completo do fungo que causa a murcha-de-Fusarium no feijoeiro. A sigla “f. sp.” (forma specialis) indica que esta é uma forma do fungo especializada em atacar plantas do gênero Phaseolus (feijão).
Habitante de solo: Refere-se a microrganismos, como o fungo Fusarium, que sobrevivem por longos períodos no solo, mesmo sem a presença de uma planta hospedeira. Essa característica torna seu controle e erradicação muito difíceis.
Patógeno: Termo geral para qualquer microrganismo (fungo, bactéria, vírus) capaz de causar uma doença em um organismo vivo. No artigo, o Fusarium é o patógeno que ataca o feijoeiro.
Reboleiras: Termo de campo usado para descrever a ocorrência de uma doença ou praga em manchas ou áreas isoladas dentro da lavoura. É um sintoma inicial comum da murcha-de-Fusarium.
Rotação de culturas: Prática agrícola que consiste em alternar o plantio de diferentes espécies vegetais em uma mesma área ao longo do tempo. É usada para quebrar o ciclo de vida de patógenos de solo, como o Fusarium, reduzindo sua população.
Sistema vascular: Rede interna de “vasos” (xilema e floema) da planta, responsável por transportar água e nutrientes das raízes para o resto da planta. O fungo Fusarium ataca e obstrui esse sistema, causando a murcha e o escurecimento interno do caule.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Gerenciar o controle integrado da murcha-de-Fusarium, que envolve rotação de culturas, monitoramento de áreas afetadas e limpeza de maquinário, exige uma organização precisa. Além do desafio operacional, é fundamental controlar os custos com sementes tratadas e fungicidas para garantir que o manejo não comprometa a rentabilidade da safra.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações. Ele permite planejar e acompanhar todas as atividades no campo em tempo real, criando um histórico preciso por talhão. Isso não só organiza o manejo para evitar a disseminação da doença, mas também fornece dados claros sobre os custos de produção, ajudando a tomar decisões mais seguras para proteger a lavoura e o seu lucro.
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Perguntas Frequentes
Por que a murcha-de-Fusarium é considerada uma doença de difícil controle no feijão?
O grande desafio está no fato de o fungo, Fusarium oxysporum, ser um ‘habitante de solo’. Isso significa que ele sobrevive na terra por longos períodos, mesmo sem a presença do feijoeiro, tornando sua erradicação muito difícil. Por isso, o controle exige uma abordagem integrada e contínua, não apenas uma única ação.
Qual a principal diferença entre os sintomas da murcha-de-Fusarium e os de estresse hídrico (falta de água)?
Embora ambos causem murcha, a fusariose geralmente aparece em manchas isoladas (reboleiras) e pode causar um amarelamento progressivo das folhas. O sinal de diagnóstico mais claro é o escurecimento do sistema vascular, visível ao cortar o caule da planta. O estresse hídrico tende a afetar a lavoura de forma mais uniforme e não causa este escurecimento interno.
A aplicação de fungicidas nas folhas é eficaz para combater a murcha-de-Fusarium?
Não, a aplicação foliar de fungicidas tem baixa eficácia contra esta doença. O fungo ataca a planta a partir do solo, infectando as raízes e colonizando os vasos internos. Portanto, o uso de fungicidas é mais eficiente quando aplicado via tratamento de sementes, protegendo as plântulas em seus estágios iniciais de desenvolvimento.
Qual a importância da rotação de culturas para o manejo do Fusarium e quais culturas são recomendadas?
A rotação de culturas é uma prática preventiva crucial para quebrar o ciclo de vida do fungo no solo, reduzindo sua população. Recomenda-se alternar o plantio com espécies não hospedeiras, como milho, sorgo ou gramíneas forrageiras. Evitar o plantio sucessivo de feijão-comum ou feijão-caupi na mesma área é essencial para um manejo sustentável.
O tratamento de sementes com fungicida protege a planta de feijão durante todo o seu ciclo?
Não completamente. O tratamento de sementes oferece uma proteção fundamental nos estágios iniciais da cultura, um período de alta vulnerabilidade. Contudo, sua eficácia diminui com o tempo. Para garantir a sanidade da lavoura durante todo o ciclo, é indispensável combinar o tratamento com outras estratégias, como o uso de cultivares resistentes e a rotação de culturas.
Posso usar sementes salvas de uma área com histórico de Fusarium para o próximo plantio?
Não, isso é altamente arriscado. O fungo Fusarium pode ser transmitido pelas sementes, mesmo que elas não apresentem sintomas visíveis. Reutilizar sementes de uma área contaminada é uma das principais formas de disseminar a doença para novos talhões, comprometendo safras futuras. A recomendação é sempre utilizar sementes certificadas e livres de patógenos.
Como os nematoides podem agravar os problemas com a fusariose na lavoura?
Os nematoides, especialmente o nematoide-das-galhas, causam ferimentos nas raízes das plantas ao se alimentarem. Essas lesões funcionam como portas de entrada perfeitas para o fungo Fusarium, facilitando a infecção. A presença de ambos os patógenos no solo cria uma interação que potencializa os danos e torna a doença ainda mais severa.
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