A presença de fungos de solo que causam doenças nas plantas é, muitas vezes, uma grande dor de cabeça para o produtor rural. O motivo é claro: eles trazem prejuízos diretos à lavoura, reduzindo consideravelmente a produtividade e, consequentemente, o lucro.
Por isso, é fundamental tanto evitar a entrada desses patógenos na sua propriedade quanto realizar um manejo adequado quando eles já estão presentes.
Neste artigo, organizamos as informações que você precisa para se prevenir contra os fungos de solo e proteger seu investimento. Continue a leitura!
O que são fungos de solo?
Os fungos são habitantes naturais do solo. Dependendo da espécie, eles podem atuar de forma benéfica ou prejudicial para o seu cultivo.
Alguns fungos são essenciais para o ecossistema agrícola. Eles decompõem a matéria orgânica, ajudam no desenvolvimento das culturas e podem até aumentar a produtividade. Esses fungos benéficos podem estar naturalmente presentes na área ou ser adicionados por meio de inoculação.
No entanto, outras espécies são patogênicas, ou seja, causam doenças nas plantas. Elas podem provocar diversos tipos de danos, desde a redução da produtividade até a morte completa das plantas. Dois exemplos bem conhecidos são o Fusarium sp. e a Scleriotinia sclerotiorum, responsáveis, respectivamente, pela podridão da raiz e pelo mofo branco.
Esses fungos patogênicos normalmente sobrevivem em restos de culturas anteriores ou em plantas hospedeiras. O grande problema é sua alta capacidade de sobrevivência: mesmo sem um local para se abrigar, eles podem permanecer livres no solo por muito tempo.
Por essa razão, uma vez que os fungos fitopatogênicos (aqueles que causam doenças em plantas) são introduzidos em uma lavoura, eles se tornam uma fonte constante de problemas para o produtor.
A seguir, vamos detalhar os principais fungos de solo que podem ameaçar sua lavoura.
Conheça os principais fungos de solo
Separamos aqui alguns dos fungos de solo mais comuns e prejudiciais para culturas de grande importância, como soja, milho, feijão e trigo.
Observe as características de cada um para identificar corretamente o problema em sua lavoura e aplicar o manejo mais eficaz.
Macrophomina phaseolina (Podridão da raiz e do colmo)
Este fungo é capaz de infectar as culturas em qualquer estágio de crescimento, do plantio à colheita. Seu controle é difícil porque ele produz microescleródios, que são estruturas de sobrevivência minúsculas e muito resistentes, que permanecem no solo por longos períodos.
- Impacto na Lavoura: Causa perda direta de rentabilidade. A doença pode induzir a maturação precoce, reduzir o número de plantas por hectare (estande) e, em casos mais graves, levar as plantas à morte.
- Como Identificar: A identificação nos estágios iniciais é complicada, pois os sintomas não são visíveis. Conforme a doença avança, procure por uma coloração preta, com aparência de pó, nos tecidos internos do colmo e das raízes.
Sintomas da podridão do colmo ocasionada pela Macrophomina phaseolina em milho
(Fonte: Embrapa, foto de Nicésio F. F. A. Pinto)
Fusarium sp. (Podridão radicular e murcha)
Assim como o anterior, este patógeno pode infectar as plantas em diferentes fases de desenvolvimento. O manejo é desafiador porque o Fusarium produz clamidósporos, que são estruturas de resistência que garantem sua sobrevivência no solo por várias safras.
- Impacto na Lavoura: Ocasiona perdas consideráveis na produção. As plantas infectadas podem apresentar baixo crescimento (nanismo) e, em infecções severas, murcham e morrem.
- Como Identificar: Fique atento aos seguintes sinais: descoloração dos vasos internos da planta, amarelecimento das folhas mais velhas e, o sintoma mais característico, a murcha repentina da cultura, mesmo com umidade no solo.
Fusarium solani f. sp. phaseoli (podridão radicular seca) em feijoeiro
(Fonte: Embrapa)
Sclerotinia sclerotiorum (Mofo branco)
Este é um dos fungos mais agressivos, capaz de infectar mais de 400 espécies de plantas, atacando principalmente o caule, as folhas e as flores. Sua principal estrutura de sobrevivência são os escleródios, que parecem pequenas “pedrinhas” pretas e podem sobreviver por anos no solo.
- Alerta Importante: As sementes contaminadas são a principal fonte de inóculo, ou seja, o principal meio de entrada do fungo na área.
- Impacto na Lavoura: A fase de maior vulnerabilidade da cultura é durante a floração e a formação de vagens. Assim como os outros fungos, o mofo branco impacta diretamente a produtividade e pode causar a morte das plantas.
- Como Identificar: O sintoma mais claro é a presença de um micélio branco com aparência de algodão no caule e em outras partes da planta. Você também pode observar lesões encharcadas (úmidas) e, por fim, a murcha e a seca da planta.
Sintomas Sclerotinia sclerotiorum
(Fonte: Revista Cultivar)
Agora que você conhece os inimigos, vamos ver como impedir que eles entrem e se espalhem pela sua lavoura.
Fungos de solo: principais causas e como evitá-los
Muitas vezes, os fungos patogênicos aparecem na lavoura por um pequeno descuido. Conhecer as portas de entrada é o primeiro passo para se proteger.
As principais causas da contaminação são:
- Entrada de máquinas e implementos agrícolas sujos com terra de áreas contaminadas.
- Uso de sementes não certificadas ou de origem duvidosa.
- Irrigação realizada com água de fontes contaminadas.
Para evitar a entrada e a proliferação desses fungos, é essencial ter alguns cuidados no planejamento e na execução do manejo. Lembre-se: o sucesso no controle de qualquer doença de solo está diretamente ligado à rapidez com que as medidas são tomadas.
Cuidados essenciais para a sua lavoura
- Limpeza de Maquinário: Realize a limpeza completa de máquinas e implementos agrícolas com frequência, especialmente ao movê-los entre diferentes talhões ou propriedades.
- Sementes de Qualidade: Utilize sempre sementes certificadas e de procedência conhecida.
- Tratamento de Sementes: Realize o tratamento de sementes com fungicidas específicos para proteger as plântulas nos estágios iniciais.
- Cultivares Resistentes: Quando possível, opte por variedades de plantas que sejam resistentes ou tolerantes às principais doenças fúngicas da sua região.
- Rotação de Culturas: Pratique a rotação de culturas com plantas não hospedeiras (como gramíneas no caso do mofo branco) para quebrar o ciclo de vida dos fungos.
- Adubação Equilibrada: Mantenha o solo bem nutrido e com a adubação equilibrada, pois plantas saudáveis são mais resistentes a doenças.
- Época de Plantio: Escolha a época de plantio para evitar períodos de alta umidade e temperaturas favoráveis ao desenvolvimento dos fungos.
- Manejo Integrado de Doenças (MID): Adote um conjunto de práticas, combinando controle cultural, biológico e químico de forma estratégica.
- Eliminação de Plantas Hospedeiras: Controle plantas daninhas e voluntárias que podem servir de abrigo para os patógenos.
- Análise de Solo: Realize análises de solo periodicamente para monitorar a saúde e a fertilidade da sua área.
Além de tudo isso, o monitoramento constante da sua propriedade é fundamental. Identificar um foco inicial pode fazer toda a diferença, impedindo que o fungo se espalhe por toda a lavoura.
E lembre-se: sempre que tiver dúvidas sobre qual fungicida usar ou qual a melhor estratégia de manejo, consulte um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) de sua confiança!
Conclusão
Depois de todo o investimento e esforço dedicados à sua lavoura, você não pode deixar que um fungo de solo coloque tudo a perder. A prevenção e o manejo correto são suas melhores ferramentas.
Neste artigo, você aprendeu:
- O que são fungos de solo e a diferença entre os benéficos e os patogênicos.
- Como identificar os principais fungos que atacam as grandes culturas, como Macrophomina, Fusarium e Sclerotinia.
- Quais são as principais portas de entrada para esses patógenos na sua fazenda.
- Uma lista de ações práticas para evitar a contaminação e controlar as doenças.
Esperamos que estas informações ajudem você a proteger sua lavoura e a garantir uma safra mais produtiva e rentável.
Glossário
Clamidósporos: Estruturas de resistência produzidas por alguns fungos, como o Fusarium. Funcionam como “cápsulas de sobrevivência” que permitem ao fungo permanecer dormente no solo por longos períodos, mesmo em condições desfavoráveis.
Escleródios: Massa compacta e endurecida de micélio que serve como estrutura de sobrevivência para fungos, como a Sclerotinia sclerotiorum. Parecem pequenas “pedras” escuras e podem permanecer viáveis no solo por vários anos, dificultando o controle.
Estande: Termo utilizado na agronomia para se referir à população final de plantas em uma determinada área, geralmente expressa em plantas por hectare. Uma redução no estande devido a doenças impacta diretamente a produtividade da lavoura.
Fonte de inóculo: Qualquer parte de um patógeno (como esporos, escleródios ou micélio) capaz de iniciar uma nova infecção. Restos de cultura, sementes contaminadas e o próprio solo são as principais fontes de inóculo para fungos de solo.
Fungos fitopatogênicos: Termo técnico para fungos que causam doenças em plantas (do grego phyto = planta; pathos = doença). São os agentes causadores de problemas como podridões de raiz, murchas e mofos.
Manejo Integrado de Doenças (MID): Uma estratégia que combina diferentes métodos de controle (cultural, biológico e químico) de forma planejada e sustentável. O objetivo é manter as doenças abaixo de um nível que cause prejuízo econômico, em vez de tentar eliminá-las completamente.
Micélio: A parte vegetativa de um fungo, composta por um emaranhado de filamentos (hifas). No caso do mofo branco, é a massa branca com aparência de algodão que cresce sobre a planta infectada.
sp.: Abreviação da palavra latina species (espécie). Utilizada após o nome de um gênero, como em Fusarium sp., indica que o texto se refere a uma ou mais espécies dentro daquele gênero, sem especificar exatamente qual.
Simplifique o manejo de doenças e proteja seu lucro
O monitoramento constante e a aplicação de todas as práticas de manejo descritas, como a rotação de culturas e a limpeza de maquinário, exigem uma organização impecável. Registrar todas essas informações no papel ou em planilhas separadas pode levar a falhas que comprometem o controle das doenças e, consequentemente, o lucro da safra.
É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. Com ele, você pode registrar os focos de fungos diretamente no mapa da sua fazenda pelo celular e planejar as aplicações de defensivos com precisão. Esse histórico detalhado não só facilita o manejo integrado, mas também conecta cada operação ao seu custo real, permitindo analisar a eficácia de cada tratamento e otimizar os investimentos para proteger a rentabilidade da lavoura.
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Perguntas Frequentes
Todos os fungos de solo são prejudiciais para a lavoura?
Não, de forma alguma. O solo é um ambiente rico que abriga tanto fungos patogênicos (que causam doenças) quanto fungos benéficos. Os benéficos são vitais para a saúde do ecossistema, pois decompõem matéria orgânica, ajudam as plantas a absorver nutrientes e podem até suprimir a ação dos patógenos.
Por que é tão difícil eliminar completamente os fungos de solo de uma área contaminada?
A dificuldade reside na incrível capacidade de sobrevivência desses fungos. Muitos deles, como o Fusarium e a Sclerotinia, produzem estruturas de resistência chamadas clamidósporos e escleródios. Essas estruturas podem permanecer dormentes, mas viáveis, no solo por várias safras, aguardando condições favoráveis para atacar novamente.
Qual a medida preventiva mais importante para evitar a entrada de fungos de solo na minha fazenda?
Embora a combinação de práticas seja ideal, duas medidas são cruciais: o uso de sementes certificadas e de procedência conhecida e a limpeza rigorosa de máquinas e implementos. Sementes contaminadas são uma das principais portas de entrada de doenças como o mofo branco, e maquinário sujo pode transportar solo infestado entre talhões e propriedades.
A rotação de culturas funciona contra todos os tipos de fungos de solo?
A rotação de culturas é uma das ferramentas mais eficazes, mas sua eficiência depende do fungo. Ela funciona muito bem contra patógenos que têm um número limitado de hospedeiros, como a Sclerotinia sclerotiorum (mofo branco), ao introduzir uma cultura não hospedeira (ex: milho). No entanto, para fungos que atacam muitas espécies diferentes, como a Macrophomina phaseolina, a rotação precisa ser planejada com mais critério para quebrar o ciclo da doença.
É possível controlar uma infestação de fungos de solo apenas com produtos químicos?
O controle químico isolado raramente é a solução completa e sustentável. A abordagem mais recomendada é o Manejo Integrado de Doenças (MID), que combina o uso estratégico de fungicidas com outras práticas culturais e biológicas, como o uso de variedades resistentes, adubação equilibrada e a própria rotação de culturas. Essa integração oferece um controle mais robusto e duradouro.
Se eu usar sementes tratadas com fungicida, estou totalmente protegido contra fungos de solo?
O tratamento de sementes é uma prática fundamental e oferece uma excelente proteção para as plântulas em seus estágios iniciais, que são os mais vulneráveis. No entanto, ele não garante proteção durante todo o ciclo da cultura. Por isso, deve ser visto como a primeira linha de defesa dentro de um programa de manejo integrado que inclui outras práticas preventivas ao longo do desenvolvimento da lavoura.
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