Guia de Fungicidas para Trigo: Como Escolher e Aplicar Corretamente

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.
Guia de Fungicidas para Trigo: Como Escolher e Aplicar Corretamente

As doenças causadas por fungos estão se tornando um desafio cada vez maior na cultura do trigo. Em variedades mais sensíveis, a ocorrência de doenças no trigo pode causar perdas significativas na sua produtividade.

Se você lida com esse problema na sua lavoura, é fundamental conhecer os melhores fungicidas disponíveis e como usá-los da forma certa.

Neste artigo, vamos explicar quando começar a aplicação, como escolher o produto ideal e quais cuidados tomar para garantir o melhor resultado. Vamos lá!

Qual é a importância dos fungicidas em trigo?

Fungicidas são defensivos agrícolas essenciais para controlar doenças causadas por fungos, bactérias e algas. No cultivo do trigo, eles são especialmente importantes.

As doenças fúngicas estão entre os principais fatores que limitam a produção do cereal. Elas afetam o desenvolvimento das plantas, comprometem a qualidade dos grãos e, consequentemente, derrubam a produtividade da lavoura.

Por isso, usar fungicidas de forma estratégica é uma ferramenta crucial para proteger sua produção e garantir a qualidade do trigo.

Quando iniciar a aplicação?

A regra de ouro é: quanto mais cedo você controlar a doença, maior a chance de sucesso do seu manejo fitossanitário: significa o conjunto de práticas para manter as plantas sadias.

Na cultura do trigo, a decisão do momento certo para aplicar depende de uma análise cuidadosa da lavoura e das condições do ambiente.

Aplicação Preventiva vs. Curativa

  • Preventiva: Muitos fungicidas funcionam melhor quando aplicados antes do surgimento da doença. A aplicação ocorre quando o clima está favorável à infecção (alta umidade, temperaturas específicas), reduzindo as chances de o fungo se instalar.
  • Curativa (ou Erradicante): Após a doença já estar presente na lavoura, utilizam-se fungicidas com efeito curativo para tratar as plantas já doentes. Embora eficaz, o controle pode ser mais difícil e caro.

Fatores Decisivos para a Aplicação

Para escolher a hora certa de entrar com o pulverizador, você precisa considerar alguns pontos-chave:

  1. Conheça o histórico da área: Avalie quais pragas no trigo e doenças ocorreram nas safras passadas. Anote também os produtos químicos utilizados, as adubações e o sistema de cultivo adotado.
  2. Monitore a lavoura constantemente: Apenas com vistorias regulares é possível identificar os primeiros focos de doenças, entender como elas estão se espalhando, medir o nível de infestação e ver em qual estágio a infecção se encontra.
  3. Fique atento ao clima: Sob condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de fungos (como alta umidade e temperaturas amenas), a atenção deve ser redobrada.
  4. Considere a cultivar: Verifique o grau de suscetibilidade da variedade de trigo que você plantou. Cultivares mais resistentes oferecem uma janela maior para o controle.
  5. Entenda o comportamento do patógeno: Saber quais condições favorecem cada tipo de doença ajuda a antecipar os problemas e a tomar a decisão de aplicar o fungicida no momento certo.

Melhores fungicidas para oídio, mancha-amarela, ferrugem e outras doenças

As principais doenças fúngicas que afetam o trigo e causam dores de cabeça ao produtor incluem:

Pesquisas indicam que, para o controle da ferrugem e da mancha-amarela, a combinação de epoxiconazol + fluxapiroxade + piraclostrobina apresenta uma eficiência de aproximadamente 85%.

Grupos Químicos e Recomendações de Uso

O manejo dessas doenças geralmente se baseia em dois grupos principais de fungicidas: estrobilurinas e triazóis.

  • Estrobilurinas: Devem ser sempre utilizadas em associação com os triazóis. Nunca aplique uma estrobilurina de forma isolada, pois isso aumenta o risco de resistência do fungo.
  • Triazóis: Devem ser combinados com fungicidas de mecanismos de ação diferentes, como as estrobilurinas e os fungicidas multissítio. As aplicações devem ser feitas preferencialmente de maneira preventiva.

Nas tabelas a seguir, confira algumas recomendações de fungicidas para o controle de doenças foliares e para o tratamento de sementes.

uma tabela detalhada e comparativa de fungicidas utilizados na agricultura. As colunas organizam as informaçõeFungicidas para controle de oídio, manchas foliares, ferrugem da folha e do colmo (Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale)

Os fungicidas também são uma ferramenta poderosa no tratamento das sementes de trigo, protegendo a planta em seus estágios iniciais. Veja abaixo alguns produtos indicados para essa finalidade.

uma tabela informativa que compara diferentes produtos químicos agrícolas, provavelmente fungicidas, utilizadoFungicidas indicados para o tratamento de sementes de trigo e triticale (Fonte: Informações Técnicas para Trigo e Triticale)

Manejo Integrado é a Chave do Sucesso

Lembre-se: o uso de fungicidas é apenas uma das ferramentas para garantir uma lavoura produtiva de trigo. O controle eficiente envolve a adoção de outras práticas integradas, como:

  • Realizar o plantio na época recomendada para sua região.
  • Utilizar sementes certificadas e de boa qualidade.
  • Escolher cultivares de trigo com maior grau de resistência às principais doenças.
  • Praticar a rotação de culturas para quebrar o ciclo dos patógenos.

É importante destacar que os custos com fungicidas representam uma parcela significativa do custo total de produção do trigo. Por isso, é essencial aliar o conhecimento técnico com a análise econômica para definir as melhores estratégias para a sua realidade.

Cuidados na aplicação de fungicidas no trigo

O uso de qualquer defensivo agrícola exige cautela e responsabilidade. Para a aplicação de fungicidas, siga rigorosamente as instruções da bula do produto. Preste atenção especial aos seguintes pontos:

  • Instruções da Bula: Respeite a dosagem, o intervalo de segurança (tempo entre a aplicação e a colheita), o número máximo de aplicações e a época correta de uso.
  • Evite Superdosagem: Exceder a dose recomendada não melhora o controle. Pelo contrário, pode causar fitotoxicidade: significa que o produto em excesso pode queimar ou intoxicar as plantas, prejudicando o desenvolvimento delas, além de aumentar desnecessariamente seus custos.
  • Rotação de Mecanismos de Ação: Alterne o uso de fungicidas com diferentes modos de ação. Isso é fundamental para evitar a seleção de patógenos resistentes: significa que os fungos se tornam “imunes” ao produto, que perde a eficácia.
  • Condições Climáticas Ideais: Monitore o clima no momento da aplicação para garantir a qualidade da pulverização e evitar a deriva: quando o vento carrega o produto para fora da área desejada. Os principais fatores a serem observados são:
    • Umidade relativa do ar: Idealmente acima de 55%.
    • Temperatura: Abaixo de 30°C.
    • Vento: Velocidade entre 3 e 10 km/h.
  • Tecnologia de Aplicação: Utilize equipamentos e tecnologias de aplicação bem regulados. Isso garante o tamanho ideal de gota, uma boa cobertura das folhas e uma deposição uniforme do produto sobre o alvo.
  • Segurança: O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é obrigatório e protege a saúde do aplicador. O descarte correto das embalagens protege o meio ambiente.

planilha pulverização de defensivos agrícolas

Conclusão

Os fungicidas são ferramentas essenciais no manejo de doenças provocadas por fungos na cultura do trigo. As principais doenças podem ser controladas com o uso correto desses produtos.

O manejo eficiente combina o uso de fungicidas químicos, especialmente dos grupos triazóis e estrobilurinas, com outras boas práticas agrícolas, como rotação de culturas e escolha de variedades resistentes.

Considerando a importância econômica do trigo, é fundamental ter um plano de manejo bem estruturado. Em caso de dúvida, consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) de sua confiança.


Glossário

  • Cultivar: Refere-se a uma variedade específica de planta que foi desenvolvida por meio de melhoramento genético para apresentar características desejadas, como resistência a doenças ou maior produtividade. A escolha da cultivar correta é um passo fundamental no planejamento da safra.

  • Deriva: Fenômeno que ocorre quando o produto pulverizado (como um fungicida) é carregado pelo vento para fora da área de aplicação desejada. A deriva reduz a eficácia do tratamento e pode contaminar áreas vizinhas, sendo controlada com a aplicação em condições climáticas ideais (vento entre 3 e 10 km/h).

  • Estrobilurinas: Grupo químico de fungicidas que age inibindo a respiração dos fungos, com forte ação preventiva. Para evitar o desenvolvimento de resistência, devem ser sempre aplicados em mistura com fungicidas de outros grupos, como os triazóis.

  • Fitotoxicidade: Efeito tóxico que um defensivo agrícola, aplicado em excesso ou em condições erradas, pode causar na planta. Manifesta-se como queimaduras nas folhas, deformações ou redução no crescimento, prejudicando a produtividade.

  • Fungicida Multissítio: Tipo de fungicida que atua em vários pontos do metabolismo do fungo ao mesmo tempo. Essa característica torna muito mais difícil que o patógeno desenvolva resistência ao produto.

  • Intervalo de Segurança: Período de tempo, em dias, que deve ser respeitado entre a última aplicação do defensivo e a colheita do produto agrícola. Seguir este intervalo garante que o alimento chegue ao consumidor sem resíduos químicos acima dos limites permitidos por lei.

  • Manejo Fitossanitário: Conjunto integrado de práticas para manter as plantas saudáveis e livres de pragas e doenças. Envolve ações como monitoramento da lavoura, escolha de cultivares resistentes e uso correto e estratégico de defensivos.

  • Patógeno: Organismo microscópico, como um fungo ou uma bactéria, capaz de causar doenças em plantas. No contexto do trigo, os fungos que causam a ferrugem da folha e a giberela são exemplos de patógenos importantes.

  • Triazóis: Um dos principais grupos químicos de fungicidas, conhecidos por sua capacidade de se mover dentro da planta (sistêmicos) e por sua ação tanto curativa quanto preventiva. São a base para o controle de muitas doenças no trigo, como ferrugens e manchas foliares.

Veja como o Aegro pode otimizar o manejo e os custos

Gerenciar o custo com defensivos e, ao mesmo tempo, manter um histórico detalhado de aplicações e monitoramentos para decidir o momento certo de agir é um grande desafio. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas informações, permitindo registrar cada vistoria no campo e planejar as pulverizações de forma mais estratégica, com base em dados reais da sua lavoura.

Além do controle agronômico, a ferramenta organiza os custos de produção, mostrando exatamente o quanto está sendo investido em fungicidas e outros insumos. Com relatórios visuais, fica mais fácil analisar o retorno sobre o investimento de cada aplicação e tomar decisões que protegem tanto a lavoura quanto a rentabilidade do negócio.

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Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre a aplicação preventiva e a curativa de fungicidas no trigo?

A aplicação preventiva é realizada antes do surgimento dos sintomas da doença, com base em condições climáticas favoráveis à infecção, visando proteger a planta. Já a aplicação curativa ocorre quando a doença já está instalada na lavoura, buscando controlar a infecção. A abordagem preventiva é geralmente mais eficaz e econômica, pois evita perdas iniciais de produtividade.

Por que é tão importante não aplicar fungicidas do grupo das estrobilurinas de forma isolada?

Aplicar estrobilurinas sozinhas acelera o processo de seleção de fungos resistentes, fazendo com que o produto perca a eficácia rapidamente. A combinação com fungicidas de outros grupos, como os triazóis, cria múltiplos mecanismos de ação, dificultando o desenvolvimento de resistência e garantindo um controle mais duradouro e eficiente.

O uso de cultivares de trigo resistentes a doenças elimina a necessidade de aplicar fungicidas?

Não elimina, mas reduz a dependência. Cultivares resistentes são uma ferramenta fundamental do manejo integrado, oferecendo uma maior tolerância às doenças. No entanto, sob condições de alta pressão do patógeno e clima muito favorável, a aplicação de fungicidas pode ser necessária para complementar a proteção e garantir o potencial produtivo da lavoura.

O que é fitotoxicidade e como posso evitá-la ao usar fungicidas no trigo?

Fitotoxicidade é o dano químico causado à planta pelo defensivo, manifestando-se como queimaduras nas folhas ou atraso no desenvolvimento. Para evitá-la, é crucial seguir rigorosamente a dosagem recomendada na bula do produto, evitar aplicações nas horas mais quentes do dia e não misturar produtos incompatíveis no tanque de pulverização.

Além do monitoramento da lavoura, qual outra prática de manejo integrado é crucial para o controle de doenças no trigo?

A rotação de culturas é uma prática essencial. Alternar o plantio de trigo com culturas não hospedeiras, como a soja ou o milho, ajuda a quebrar o ciclo de vida dos patógenos presentes no solo e nos restos culturais. Isso diminui a quantidade de inóculo inicial na safra seguinte, reduzindo a pressão de doenças e a necessidade de pulverizações.

Quais as condições climáticas ideais para garantir uma aplicação de fungicida eficaz e segura?

As condições ideais para a pulverização são: umidade relativa do ar acima de 55%, temperatura abaixo de 30°C e ventos com velocidade entre 3 e 10 km/h. Essas condições minimizam a evaporação das gotas e o risco de deriva, garantindo que o produto atinja o alvo corretamente e tenha máxima eficácia.

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