A desfolha precoce, causada por doenças do milho de origem fúngica, pode derrubar a produtividade da sua lavoura em até 40%.
Por isso, saber o momento certo de aplicar o fungicida é crucial. Além da época ideal, você precisa conhecer os cuidados na aplicação e quais produtos são mais eficientes para sua lavoura.
Neste artigo, vamos detalhar as principais doenças fúngicas do milho, os fungicidas mais indicados e os cuidados essenciais durante a aplicação. Boa leitura!
As Principais Doenças do Milho Causadas por Fungos
Existem diversas doenças causadas por fungos que podem atacar o milho, mas algumas se destacam na maioria das regiões produtoras. As principais são a mancha-branca, a cercosporiose, a helmintosporiose e o complexo de enfezamentos pálidos e vermelhos.
Complexo mancha-branca
A mancha-branca no milho não é causada por um único agente, mas sim por um complexo de microrganismos: uma combinação de agentes. Os principais envolvidos são a bactéria Pantoea ananatis e o fungo Phaeosphaeria maydis. Por isso, a doença também é conhecida como mancha de Phaeosphaeria.
As perdas de produtividade podem ultrapassar 60%, especialmente quando se utilizam híbridos suscetíveis em áreas com alto histórico da doença.
Os sintomas da mancha-branca são:
- Início: Formação de lesões de cor branca com formato circular.
- Evolução: As manchas se tornam cor de palha, com formato elíptico a circular, medindo entre
0,3 a 1 cm
de diâmetro. - Localização: As lesões aparecem primeiro nas folhas de baixo da planta e sobem rapidamente.
A fase de desenvolvimento mais crítica para a cultura é o pendoamento, momento em que as lesões também podem surgir na palha da espiga. A doença se desenvolve melhor em temperaturas amenas, entre 15°C e 20°C
, e com alta umidade do ar (acima de 60%).
Cercosporiose
A cercosporiose é causada pelo fungo Cercospora zeae-maydis e está presente em grande parte das lavouras brasileiras. Ela é favorecida por temperaturas mais altas, entre 22°C e 30°C, e longos períodos de molhamento foliar.
Essa doença é bastante beneficiada pelo sistema de plantio direto. O cultivo sucessivo de milho com híbridos muito suscetíveis aumenta a quantidade do inóculo: que é o material do fungo (como esporos) que sobrevive no solo e pode infectar a nova safra.
A cercosporiose costuma se manifestar na fase de floração, causando danos nas folhas do baixeiro da planta.
Os sintomas se apresentam como lesões necróticas (áreas de tecido morto na folha) que correm paralelas às nervuras. Uma característica marcante é que as pontas das lesões têm um formato quadrado, como se tivessem sido raspadas com a unha.
Helmintosporiose
A helmintosporiose pode ser confundida com a cercosporiose, mas existem diferenças claras: na helmintosporiose, as lesões têm pontas mais afinadas. A distinção mais importante é que a cercosporiose ocorre entre as nervuras, enquanto a helmintosporiose avança sobre e além das nervuras.
Essa doença é causada pelo fungo Exserohilum turcicum. Ele se desenvolve bem em locais com alta umidade do ar (acima de 90%) e temperaturas entre 18°C e 27°C
.
Um grande desafio no controle é que o fungo se espalha pelo vento, o que dificulta evitar sua chegada na lavoura. Por isso, o uso de sementes sadias e cultivares resistentes é uma medida fundamental.
Quando Aplicar Fungicida no Milho?
Acertar o momento da aplicação do fungicida é fundamental para evitar a desfolha precoce e a perda de produtividade.
O primeiro passo é analisar o histórico de doenças da sua área. Com base nisso, planeje o tratamento de sementes. Esse tratamento é essencial para proteger as sementes e plântulas dos fungos que já vivem nos restos culturais do solo de uma safra para outra.
Após o tratamento de sementes, a entrada dos fungicidas na lavoura deve ser programada para ocorrer:
- Entre os estádios V8 e VT: Sendo V8 quando a oitava folha está completamente desenvolvida.
- Durante o pré-pendoamento da cultura (VT): A fase que antecede a emissão do pendão.
Essas são as fases mais críticas para o ataque de doenças, principalmente as manchas foliares. Aplicar nesse período garante que as doenças ainda não estejam em um nível severo, tornando o controle muito mais efetivo.
Estudos mostram que aplicações antecipadas resultam em maiores produtividades. Atrasar as aplicações para os estádios R1 (embonecamento) e R2 (grão bolha) geralmente significa menor controle e perdas na produtividade do milho, pois as doenças já estarão mais avançadas.
Estádios vegetativos (V) e reprodutivos (R) do milho ajudam a identificar o momento ideal de aplicação. VT corresponde ao início do pendoamento.
(Fonte: Ciampitti)
Cuidados Essenciais na Aplicação de Fungicidas
Além de aplicar na época correta, outros fatores são decisivos para o sucesso: a cobertura da planta, a tecnologia usada, o volume de calda e as condições do tempo.
Boa cobertura da cultura
A aplicação deve garantir a maior cobertura possível das folhas dos terços médio e superior da planta. Essas folhas são as “fábricas de energia” da planta e impactam diretamente no enchimento dos grãos e, consequentemente, na produtividade.
Tecnologia de aplicação
Use a tecnologia de aplicação adequada para o tipo de fungicida. É importante saber se você está usando um:
- Fungicida sistêmico: que é absorvido e se move dentro da planta.
- Fungicidas multissítios: que agem em vários pontos do fungo, mas não conseguem entrar nos tecidos da folha. Por isso, sua aplicação deve ser preventiva, ou seja, antes do aparecimento dos sintomas.
Quando os primeiros sintomas aparecem, os multissítios devem ser combinados com um fungicida sítio-específico: que atua em um único ponto do fungo e tem a capacidade de entrar nos tecidos da planta para curar infecções já iniciadas.
Lembre-se que a rotação de ingredientes ativos é indispensável para evitar que os fungos criem resistência aos produtos.
Volume da calda, escolha das pontas e tipo de aplicação
- Pontas de pulverização: Pontas de jato plano defletor com indução de ar diminuem as chances de deriva de defensivos pelo vento, são menos afetadas por altas temperaturas e melhoram a cobertura dos alvos.
- Densidade de gotas: Quanto menor o volume de calda, mais atenção você precisa dar à densidade das gotas para garantir uma boa cobertura. O recomendado para o milho é um mínimo de 50 gotas por cm².
- Aplicação aérea: Em aplicações com avião, um volume de calda de 30 L/hectare pode entregar uma produtividade semelhante à aplicação terrestre. Esta é uma ótima alternativa para aplicar sem causar danos por amassamento das plantas pelas máquinas.
Observação das condições climáticas
Fique atento ao clima. Evite aplicar poucas horas antes de uma chuva, pois ela pode “lavar” o produto da folha. A velocidade do vento também é importante: não aplique com vento zero (pode ocorrer inversão térmica) nem com ventos fortes.
Quais os Principais Fungicidas para Tratamento de Milho?
De acordo com o Agrofit (Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários do MAPA), existem atualmente 220 fungicidas registrados para a cultura do milho. Os principais grupos químicos utilizados são:
- Estrobilurinas (C2) + Triazóis (G1): Essa combinação de fungicidas sítio-específicos corresponde a mais de 22% das opções disponíveis.
- Triazóis (isolados): Representam 20% dos produtos registrados. No entanto, a aplicação isolada de triazóis não é recomendada, pois eles atuam em um único ponto do fungo, o que aumenta muito o risco de as doenças desenvolverem resistência.
- Mancozebe (M): É um fungicida multissítio do grupo dos ditiocarbamatos, representando quase 9% do total de produtos registrados.
A lista de opções é grande. Além de consultar os produtos, verifique os percentuais de eficiência de cada molécula, pois eles podem variar conforme o híbrido utilizado e a sua região.
Atenção: O uso do fungicida Carbendazim no milho e em outras culturas está suspenso em todo o território nacional.
Melhores tratamentos para controle de doenças no milho
Resultados de pesquisas mostram quais combinações trouxeram os maiores ganhos de produtividade em comparação com áreas não tratadas:
- Tratamento 4: Piraclostrobina (estrobilurina) + Mefentrifluconazol (triazol) + Fluxapiroxade (carboxamida). Composição semelhante ao Belyan®.
- Resultado: 83% de controle das manchas foliares e 19% de ganho de produtividade.
- Tratamento 8: Difenoconazol (triazol) + Pydiflumetofen (carboxamida). Composição semelhante ao Miravis® Duo.
- Resultado: 77% de controle e 18% de ganho de produtividade.
- Tratamento 6: Trifloxistrobina (estrobilurina) + Protioconazol (triazol) + Bixafen (carboxamida) – Fox® Xpro.
- Resultado: 77% de controle e 17% de ganho de produtividade.
A eficiência de outras moléculas e mais detalhes podem ser vistos na tabela abaixo:
(Fonte: Custódio)
Conclusão
A escolha do melhor fungicida para milho deve ser planejada com base no histórico de doenças da sua lavoura. O sucesso do controle depende de vários fatores, mas principalmente da época em que a aplicação é feita.
É fundamental controlar as doenças enquanto a sua severidade ainda é baixa.
Para um manejo eficaz na sua propriedade, consulte sempre um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a). As recomendações podem variar muito dependendo das características específicas da sua lavoura.
Glossário
Deriva: Fenômeno em que as gotas de defensivo pulverizadas são carregadas pelo vento para fora da área alvo. É um dos principais desafios na aplicação, pois causa desperdício de produto e pode contaminar áreas vizinhas.
Desfolha precoce: Queda antecipada das folhas da planta, geralmente causada por um ataque severo de doenças. Reduz a capacidade da planta de realizar fotossíntese, o que impacta diretamente o enchimento dos grãos e a produtividade final.
Fungicida multissítio: Tipo de fungicida que age em vários pontos no metabolismo do fungo ao mesmo tempo. Por ter múltiplos modos de ação, apresenta baixo risco de desenvolver resistência e é uma ferramenta importante no manejo preventivo.
Fungicida sistêmico: Produto que é absorvido pela planta e se move através de seus tecidos internos. Essa característica permite que ele controle infecções já estabelecidas e proteja partes da planta que não foram atingidas diretamente pela pulverização.
Inóculo: Qualquer parte de um patógeno (como esporos de fungos) que pode iniciar uma infecção em uma planta hospedeira. O inóculo pode sobreviver em restos de culturas no solo, como a palhada do milho, de uma safra para outra.
Lesões necróticas: Áreas de tecido vegetal morto, que aparecem como manchas secas e de cor escura nas folhas. São um sintoma comum de doenças fúngicas, indicando a morte das células da planta no local da infecção.
Pendoamento (Estádio VT): Fase reprodutiva do milho quando o pendão (flor masculina) emerge no topo da planta. É considerado um dos momentos mais críticos para a aplicação de fungicidas, pois a planta está definindo seu potencial produtivo.
Sítio-específico: Categoria de fungicida que atua em um único ponto vital do metabolismo do fungo. São muito eficazes, mas têm um risco maior de selecionar populações de fungos resistentes se não forem rotacionados com outros produtos.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Saber o momento exato de aplicar o fungicida e, ao mesmo tempo, controlar os custos dessa operação são dois dos maiores desafios no manejo de doenças do milho. Registrar o histórico de infestações, planejar as pulverizações para a janela ideal e acompanhar os gastos com defensivos pode se tornar uma tarefa complexa em meio à rotina da fazenda.
Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a organizar esse processo. Com ele, é possível planejar e registrar todas as atividades no campo, garantindo que as aplicações sejam feitas no momento certo para máxima eficiência. Além disso, a plataforma centraliza o controle de custos com insumos, permitindo tomar decisões mais seguras para proteger a produtividade e a rentabilidade do negócio.
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Perguntas Frequentes
Qual é o momento ideal para a primeira aplicação de fungicida foliar no milho e por quê?
O momento ideal é entre os estádios V8 (oitava folha desenvolvida) e VT (pré-pendoamento). Aplicar nesta janela é crucial porque as doenças ainda estão em um nível de severidade baixo, tornando o controle mais eficaz e protegendo as folhas que são essenciais para o enchimento dos grãos e a produtividade final da lavoura.
O que acontece se eu aplicar o fungicida tarde demais, após o pendoamento do milho?
Atrasar a aplicação para os estádios reprodutivos, como R1 (embonecamento), geralmente resulta em um controle menos eficiente e maiores perdas de produtividade. Nesse ponto, as doenças fúngicas provavelmente já causaram danos significativos às folhas, e o fungicida terá um efeito mais curativo do que preventivo, não conseguindo recuperar o potencial produtivo já perdido.
Como posso diferenciar visualmente a cercosporiose da helmintosporiose nas folhas de milho?
A principal diferença está no formato e na relação da lesão com as nervuras da folha. Na cercosporiose, as lesões são retangulares e ficam contidas entre as nervuras. Já na helmintosporiose, as lesões são mais alongadas, com pontas afinadas, e avançam sobre e além das nervuras da folha.
O tratamento de sementes com fungicida já não protege a lavoura contra as doenças foliares?
Não completamente. O tratamento de sementes é fundamental para proteger as sementes e as plântulas de fungos presentes no solo no início do ciclo. No entanto, ele não substitui a aplicação foliar, que é necessária para controlar as doenças que surgem mais tarde e atacam a parte aérea da planta, como as manchas foliares, responsáveis pela desfolha precoce.
Qual a importância de rotacionar os ingredientes ativos dos fungicidas no milho?
A rotação de ingredientes ativos, especialmente combinando produtos sítio-específicos (como triazóis) com multissítios (como mancozebe), é indispensável para evitar que os fungos desenvolvam resistência. O uso contínuo do mesmo produto seleciona populações de fungos resistentes, tornando o controle ineficaz nas safras futuras e comprometendo a sustentabilidade do manejo.
Aplicação aérea de fungicida no milho é tão eficiente quanto a aplicação terrestre?
Sim, a aplicação aérea pode ser uma alternativa muito eficiente. Pesquisas indicam que, com um volume de calda adequado (cerca de 30 L/hectare), ela pode entregar uma produtividade similar à aplicação terrestre. Sua grande vantagem é eliminar os danos por amassamento das plantas causados pelo trânsito de maquinário na lavoura.
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