Fertirrigação: O Guia Completo para Adubar e Irrigar ao Mesmo Tempo

Redatora parceira Aegro.
Fertirrigação: O Guia Completo para Adubar e Irrigar ao Mesmo Tempo

A adubação é um dos pilares para garantir uma lavoura saudável e produtiva. Afinal, é por meio dela que as plantas recebem os nutrientes necessários para atingir seu máximo potencial de produção.

Agora, imagine se fosse possível realizar uma adubação mais eficiente, que reduz a necessidade de maquinário pesado e economiza horas de mão de obra. Parece uma boa ideia para a sua fazenda, não é?

Neste artigo, vamos explicar em detalhes a fertirrigação, um método prático que combina a adubação com a irrigação da lavoura. Continue a leitura para entender as vantagens, as desvantagens e os cuidados necessários para decidir se essa técnica é a melhor escolha para a sua propriedade.

O que é fertirrigação?

De forma direta, fertirrigação é a técnica de aplicar fertilizantes diluídos diretamente na água da irrigação. Com isso, você nutre o solo e as plantas ao mesmo tempo em que irriga a área, em uma única operação.

Essa prática aumenta a eficiência e pode até gerar economia no uso de fertilizantes. O motivo é simples: os nutrientes são fornecidos de forma gradual e contínua, já com a presença de água. Isso melhora a absorção pelas raízes e reduz as perdas por lixiviação (quando a água “lava” os nutrientes para o fundo do solo) ou volatilização (quando se perdem para a atmosfera), problemas comuns no método convencional.

A fertirrigação funciona melhor em sistemas de irrigação localizada e de alta frequência, como:

Embora existam relatos de seu uso em sistemas de irrigação convencional, a aplicação dos fertilizantes pode não ser uniforme, o que limita sua eficácia.

Vantagens da fertirrigação

Além de melhorar a eficiência no uso de fertilizantes, a fertirrigação oferece uma série de outros benefícios importantes para a operação agrícola.

  1. Aproveitamento total do sistema de irrigação: Seu equipamento passa a ter uma dupla função, otimizando o investimento já realizado.
  2. Nutrição na hora certa: O fertilizante é aplicado na quantidade e no momento exatos em que a planta mais precisa.
  3. Redução de mão de obra: Elimina a necessidade de operadores e tratores para aplicar o adubo de forma separada.
  4. Menor compactação do solo: Com menos tráfego de máquinas pesadas na área, o solo se mantém mais saudável e aerado.
  5. Distribuição uniforme de micronutrientes: Garante que nutrientes como Boro, Zinco e Manganês cheguem de forma homogênea a todas as plantas, algo difícil de alcançar no sistema convencional.
  6. Melhora na qualidade e produtividade: A nutrição constante e equilibrada tende a gerar produtos de maior qualidade e colheitas mais produtivas.
  7. Estabilidade nutricional no solo: Como a aplicação é gradual, evitam-se picos e quedas na concentração de nutrientes, o que reduz o estresse para as plantas.
  8. Aplicação de outros produtos: O sistema pode ser usado para aplicar outros insumos, como fungicidas e nematicidas, de forma controlada.
  9. Sustentabilidade e eficiência: Os fertilizantes e a água são aplicados diretamente na zona das raízes, o que aumenta a eficiência de absorção e reduz os impactos ambientais.

Agora que você já conhece os pontos positivos, é fundamental analisar os desafios que esse método pode trazer.

Desvantagens de aplicar fertilizantes por irrigação

Uma das principais barreiras para a adoção da fertirrigação é o custo inicial relativamente alto para montar a infraestrutura necessária. Esse é um fator que pesa bastante na hora da decisão.

Além do investimento, existem outros pontos que exigem atenção:

  • Necessidade de conhecimento técnico: É preciso ter uma equipe bem treinada para realizar o manejo correto, escolher os adubos adequados e calcular as dosagens com precisão.
  • Risco de entupimento: A mistura de fertilizantes pode causar o entupimento de gotejadores e microaspersores se não for bem gerenciada.
  • Manejo incorreto pode prejudicar o solo: Se o sistema for mal planejado, pode provocar acidificação (aumento da acidez), lavagem de nutrientes ou salinização (acúmulo de sais) no solo.
  • Corrosão do sistema: Alguns tipos de fertilizantes podem ser corrosivos e, com o tempo, danificar os componentes do sistema de irrigação.

Como você pode ver, embora as desvantagens existam, as vantagens são bastante expressivas, especialmente quando o sistema é bem planejado e executado.

Como implantar a fertirrigação na lavoura

Para implementar a fertirrigação com sucesso, é preciso analisar cuidadosamente três fatores principais: os fertilizantes, o tipo de solo e a qualidade da água.

Fertilizantes

A escolha dos fertilizantes é crucial. Eles devem ser avaliados com base nos seguintes critérios:

  • Solubilidade: A capacidade de se dissolver completamente em água.
  • Pureza: A ausência de impurezas que podem entupir o sistema.
  • Índice de salinidade: O potencial de aumentar a concentração de sais no solo.
  • Acidez (pH): Como o fertilizante afeta a acidez da solução.
  • Condutividade Elétrica (CE): A medida da quantidade de sais na solução.
  • Concentração dos nutrientes: A quantidade de cada nutriente no produto.
  • Densidade: O peso do fertilizante por unidade de volume.
  • Compatibilidade: A capacidade de ser misturado com outros fertilizantes sem causar reações indesejadas.

Na fertirrigação, a recomendação é usar fontes altamente solúveis em água, com resíduos insolúveis abaixo de 0,5%. Em relação à pureza, opte sempre por fontes mais puras para minimizar o risco de entupimentos.

A acidez da solução de fertilizantes, assim como a do solo, deve ficar na faixa de pH entre 5,5 e 6,0 para a maioria das culturas. Soluções com pH acima de 6,3 podem causar a precipitação (formação de sólidos) de cálcio e fósforo, entupindo o sistema. Se a água de irrigação tiver um pH maior que 7,5, o cálcio e o magnésio podem se acumular nos filtros e emissores.

A Condutividade Elétrica (CE) da água, após a adição dos fertilizantes, não deve ultrapassar 2,0 dS m-1. A pressão osmótica ideal deve ficar entre 70 kPa e 100 kPa.

Finalmente, a compatibilidade entre os fertilizantes e os íons presentes na água é fundamental. Algumas misturas podem criar precipitados que causam entupimentos e reduzem drasticamente a eficiência do sistema.

uma tabela de compatibilidade de fertilizantes e compostos químicos comumente utilizados na agricultura. Estru Orientação para mistura de alguns fertilizantes com base na compatibilidade (Fonte: Embrapa)

Tipo de solo

Em geral, um solo com textura arenosa precisa de mais nutrientes para que as plantas se desenvolvam bem. No entanto, na adubação convencional, há um grande risco de perdas de nutrientes por lixiviação (a “lavagem” do solo pela água).

A fertirrigação resolve esse problema. A técnica supre a planta de forma gradual e já associada à irrigação, garantindo que os nutrientes sejam absorvidos antes de se perderem no perfil do solo.

Qualidade da água

Como a água é o veículo que transporta os nutrientes, sua qualidade é um fator crítico para o sucesso da fertirrigação.

A primeira preocupação é com a presença de resíduos sólidos, que podem causar entupimento dos emissores. Em sistemas de irrigação localizada, a presença de íons de ferro e manganês também é um grande problema, assim como o excesso de sólidos solúveis.

Além de entupir os emissores, esses elementos podem obstruir a tubulação, causando perda de carga e de pressão no sistema. O resultado é uma distribuição irregular de água e nutrientes, comprometendo o cálculo inicial.

E como avaliar a qualidade da água?

É essencial realizar análises para garantir que ela é adequada para a fertirrigação. Duas medições são fundamentais:

  1. Condutividade Elétrica (CE): Mede a quantidade total de sais presentes na água.
  2. Análise química e física: Fornece um detalhamento completo dos sais e outros elementos presentes, permitindo um planejamento mais seguro.

uma tabela técnica que classifica a qualidade da água para irrigação com base em diferentes análises químicas Características químicas e físicas que devem ser consideradas na água utilizada via fertirrigação (Fonte: Embrapa)

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Conclusão

A fertirrigação é uma técnica poderosa que permite otimizar o uso de água e fertilizantes, entregando nutrientes de forma precisa e eficiente diretamente às plantas.

Vimos que ela oferece inúmeras vantagens, como economia de mão de obra, redução da compactação do solo e maior produtividade. No entanto, exige um investimento inicial significativo e conhecimento técnico para ser bem implementada.

Para garantir o sucesso da fertirrigação, é fundamental planejar cuidadosamente, analisando o tipo de solo, a qualidade da água e a compatibilidade dos fertilizantes. Com o manejo correto, essa técnica pode se tornar um grande diferencial competitivo para a sua propriedade.


Glossário

  • Condutividade Elétrica (CE): Medida que indica a quantidade total de sais dissolvidos na água de irrigação. Na fertirrigação, um valor de CE muito alto pode prejudicar a absorção de água pelas raízes e indicar risco de salinização do solo.

  • Fertirrigação: Técnica que consiste em aplicar fertilizantes diluídos diretamente na água da irrigação. Este método permite nutrir as plantas de forma gradual e localizada, aumentando a eficiência e reduzindo perdas.

  • Lixiviação: Processo em que a água da chuva ou da irrigação “lava” os nutrientes do solo, movendo-os para camadas mais profundas e fora do alcance das raízes. A fertirrigação, ao aplicar nutrientes de forma parcelada, minimiza este problema.

  • Microaspersão: Sistema de irrigação localizada que distribui água em forma de pequenas gotas ou névoa, cobrindo uma área específica ao redor da planta. É um dos métodos mais recomendados para a prática da fertirrigação por sua eficiência e uniformidade.

  • Micronutrientes: Nutrientes essenciais para as plantas, porém necessários em pequenas quantidades, como Boro (B), Zinco (Zn) e Manganês (Mn). A fertirrigação facilita sua distribuição uniforme, o que é difícil de alcançar na adubação convencional a lanço.

  • Salinização: Acúmulo excessivo de sais no solo, que pode se tornar tóxico para as plantas e dificultar a absorção de água. É um risco potencial no manejo incorreto da fertirrigação, especialmente com água de alta condutividade elétrica.

  • Solubilidade: A capacidade de um fertilizante se dissolver completamente em água. Na fertirrigação, é uma característica fundamental, pois produtos de baixa solubilidade podem deixar resíduos e causar o entupimento de filtros e emissores.

  • Volatilização: Perda de nutrientes para a atmosfera em forma de gás, especialmente o nitrogênio amoniacal. A fertirrigação reduz essa perda, pois o fertilizante é incorporado diretamente na água e levado à zona das raízes.

Como garantir que a fertirrigação traga o retorno esperado?

A fertirrigação é uma técnica de alto investimento que exige um manejo técnico preciso para dar resultado. A grande questão é: como garantir que a economia com mão de obra e a maior produtividade realmente compensem os custos?

O controle rigoroso é a resposta. Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a centralizar o planejamento e o acompanhamento das atividades, permitindo registrar exatamente quais fertilizantes e dosagens foram aplicados em cada talhão.

Ao mesmo tempo, ele facilita o controle de custos dos insumos, tornando visível se o investimento na técnica está realmente se pagando e aumentando a lucratividade da safra. Que tal ter mais segurança e controle sobre seus investimentos em tecnologias como a fertirrigação?

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Perguntas Frequentes

Quais são os sistemas de irrigação mais indicados para a prática da fertirrigação e por quê?

Os sistemas mais indicados são os de irrigação localizada, como o gotejamento e a microaspersão. Isso ocorre porque eles aplicam água e nutrientes diretamente na zona das raízes das plantas, em alta frequência e de forma uniforme, o que maximiza a absorção e minimiza o desperdício por lixiviação ou evaporação.

Posso utilizar qualquer tipo de fertilizante na fertirrigação?

Não. É crucial utilizar fertilizantes de alta solubilidade em água e com baixo teor de impurezas. Fertilizantes comuns, que não se dissolvem completamente, podem causar o entupimento de filtros, tubulações e emissores (gotejadores e microaspersores), comprometendo todo o sistema. Verifique sempre as especificações do produto antes do uso.

Como posso prevenir o entupimento do sistema de fertirrigação?

A prevenção é feita com algumas práticas essenciais: utilize apenas fertilizantes altamente solúveis e puros, verifique a compatibilidade ao misturar diferentes produtos, instale um sistema de filtragem adequado e realize a manutenção periódica, como a ’lavagem’ da tubulação com água limpa após cada aplicação.

A fertirrigação é eficiente em solos arenosos?

Sim, a fertirrigação é especialmente vantajosa em solos arenosos. Esses solos têm baixa capacidade de reter nutrientes, e a adubação convencional sofre com grandes perdas por lixiviação. Com a fertirrigação, os nutrientes são aplicados em pequenas doses e de forma frequente, permitindo que a planta os absorva antes que sejam lavados para camadas mais profundas do solo.

Qual a diferença real de perdas de nutrientes entre a fertirrigação e a adubação convencional?

A diferença é significativa. Na adubação convencional a lanço, os nutrientes ficam expostos na superfície, sujeitos a perdas por lixiviação (lavagem pela chuva) e volatilização (evaporação para a atmosfera). A fertirrigação reduz drasticamente essas perdas ao entregar o nutriente já dissolvido diretamente na raiz da planta, aumentando a eficiência de aproveitamento para mais de 90%.

O manejo incorreto da fertirrigação pode realmente prejudicar o solo?

Sim, um manejo inadequado pode causar problemas sérios. O uso de doses excessivas de fertilizantes ou de água de má qualidade pode levar à salinização, que é o acúmulo de sais tóxicos no solo. Além disso, a escolha de fertilizantes com pH inadequado pode causar a acidificação do solo, afetando a disponibilidade de outros nutrientes para as plantas.

O investimento inicial em fertirrigação se paga para o pequeno produtor?

Apesar do custo inicial ser um desafio, o retorno sobre o investimento pode ser muito positivo, mesmo para pequenas propriedades. A economia gerada com a redução no uso de fertilizantes, água e mão de obra, somada ao aumento de produtividade e qualidade da colheita, geralmente compensa o investimento a médio e longo prazo. O segredo é um bom planejamento e dimensionamento do sistema.

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