A maioria dos solos brasileiros, especialmente os de Cerrado, apresenta baixa fertilidade natural. Então, como conseguimos transformar essa realidade e nos tornar uma potência agrícola mundial? A resposta está na combinação de muita pesquisa sobre fertilidade do solo, técnicas de correção, adubação e, claro, a coragem do produtor que encarou o desafio de desbravar o Brasil.
Contudo, quem pensa que este assunto está resolvido, se engana. Ainda há um longo caminho a percorrer para melhorar a eficiência no uso de nutrientes. Muitas vezes, boas práticas acabam sendo esquecidas na correria do dia a dia.
Neste artigo, vamos revisar conceitos fundamentais sobre a fertilidade do solo e a adubação, mostrando como um manejo bem-feito pode impactar diretamente a sua produção. Vamos lá!
O que determina a fertilidade do solo?
A fertilidade do solo é a sua capacidade de fornecer os nutrientes essenciais para que as plantas cresçam saudáveis e completem seu ciclo produtivo. Isso também significa que elementos tóxicos, como o alumínio, devem estar em níveis baixos, que não prejudiquem o desenvolvimento da lavoura.
A partir dessa definição, podemos destacar três pontos cruciais sobre a fertilidade:
- Disponibilidade de Nutrientes: A fertilidade depende diretamente da quantidade de nutrientes que o solo consegue oferecer à planta.
- Exigência da Cultura: A fertilidade é relativa. Um solo pode ser fértil para uma cultura menos exigente, mas pobre para outra que demanda mais nutrientes.
- Análise Química: Ao realizar uma análise química, conseguimos ter um diagnóstico preciso da fertilidade do solo.
Isso significa que, se as necessidades de uma cultura para completar seu ciclo são menores, ela vai precisar de um solo com menor fertilidade. Por outro lado, culturas mais exigentes, como milho e soja de alto potencial produtivo, demandam solos com maior disponibilidade de nutrientes.
É fundamental lembrar que um solo fértil não é, necessariamente, um solo produtivo. A produtividade final da lavoura também depende de outros fatores, como as condições climáticas (chuva, temperatura), a física do solo (compactação, aeração) e a biologia (microrganismos).
Qual a relação entre fertilidade do solo e adubação?
A adubação é a prática de fornecer ao solo os nutrientes que estão faltando para atender às necessidades da planta. De forma ideal, ela deve ser calculada com base no balanço entre o que a cultura precisa e o que o solo já oferece.
Podemos simplificar essa relação com a seguinte fórmula:
Adubação = (Exigência da planta – Disponibilidade no solo)
(Fonte:
)
Fica claro, portanto, que existe uma relação direta entre três áreas do conhecimento:
- Nutrição de plantas: Estuda o que a planta precisa para se desenvolver.
- Fertilidade do solo: Mede o que o solo já tem para oferecer.
- Adubos e adubação: Define como e quanto nutriente aplicar para suprir a diferença.
Quanto maior for a fertilidade natural do seu solo, menor será a necessidade de adubação para uma determinada cultura.
3 dicas para melhorar a fertilidade do solo com adubação
1. Pergunte ao solo
Não há como falar em fertilidade e adubação sem começar pela análise de solo. Ela é o ponto de partida para qualquer planejamento.
O padrão para a maioria das culturas anuais é coletar amostras na camada de 0 a 20 cm do solo, pois é com base nela que as recomendações de adubação são calculadas.
Com base em anos de pesquisa, que correlacionam a produtividade das culturas com os níveis de nutrientes no solo, as instituições definiram classes de teores (muito baixo, baixo, médio, alto, etc.).
Embora as classificações possam variar um pouco entre laboratórios e regiões, a lógica é a mesma: se um nutriente está em nível “baixo”, ele vai limitar a sua produção. Nestes casos, é preciso:
- Adubação de correção: Elevar os teores desse nutriente até um nível adequado.
- Adubação de manutenção: Repor a quantidade de nutrientes que a cultura irá extrair e exportar na colheita.
Se a análise mostra que o nutriente já está em um nível “adequado” ou “alto”, a resposta à adubação de correção tende a ser pequena ou nula. Assim, o foco passa a ser apenas a adubação de manutenção para não esgotar a reserva do solo.
Limites de interpretação de teores de potássio e de fósforo em solos
(Fonte: adaptado IAC)
Essa lógica de teores no solo vale para Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg), Enxofre (S) e os micronutrientes. Mas e o Nitrogênio (N)?
Ainda não existe um teste de rotina na análise de solo que consiga prever com precisão a disponibilidade de N. Para isso, precisamos de outra ferramenta: perguntar às plantas.
2. Pergunte às plantas
As plantas são ótimos indicadores. A falta ou o excesso de nutrientes costuma se manifestar através de sintomas visuais nas folhas, como amarelamento ou mudança de coloração. Isso é o que chamamos de diagnose visual da fertilidade do solo.
Porém, essa avaliação exige muito conhecimento e experiência, o que pode levar a interpretações erradas. Um método mais preciso para avaliar o estado nutricional da planta é a análise foliar.
Para cada cultura, existe uma época correta para a coleta, uma folha específica a ser amostrada e um número mínimo de amostras para garantir um resultado confiável. Você pode encontrar essas informações detalhadas aqui, no material da Esalq/USP.
Com o resultado em mãos, comparamos os teores de nutrientes das folhas com tabelas de referência para aquela cultura e verificamos se a nutrição está adequada. A diagnose foliar complementa a análise de solo, mostrando se os nutrientes presentes no solo estão sendo realmente absorvidos pela planta. Ela ajuda a decidir se é preciso intervir com adubações complementares, por exemplo.
Além disso, a análise foliar, junto com a produtividade esperada, ajuda a calcular a demanda total e a exportação de nutrientes pela cultura, o que é fundamental para definir a adubação de manutenção, especialmente no caso do Nitrogênio (N).
Concentração de nutrientes nas partes exportadas das culturas
(Fonte: Informações Agronômicas Nº130 – IPNI)
3. A adubação
Como vimos, existem basicamente dois tipos de adubação.
A adubação de correção é feita com base na análise de solo, com o objetivo de elevar os teores de nutrientes que estão abaixo do ideal para a cultura. Idealmente, essa correção deve ser feita antes do plantio, para que os nutrientes já estejam disponíveis quando a planta precisar. A fórmula para o cálculo pode ser representada assim:
Adubação = (Exigência da planta – disponibilidade no solo) x f
É importante notar que a eficiência de uma adubação nunca é de 100%. Parte do fertilizante pode ser perdida ou não ficar disponível. Por isso, usamos um fator de correção (f) no cálculo. Esse fator geralmente é maior para solos argilosos, que possuem maior capacidade de reter (fixar) certos nutrientes, como o fósforo.
Já a adubação de manutenção visa repor os nutrientes que serão removidos da área com a colheita dos grãos, frutos ou outras partes da planta.
É crucial entender que a demanda da planta por nutrientes não é a mesma durante todo o seu ciclo. Existem picos de absorção em estádios específicos (como no florescimento e enchimento de grãos). O nutriente precisa estar disponível no solo antes desses picos de demanda.
Porcentagem do N total na planta, absorvido antes e após o florescimento; e porcentagem do N no grão absorvido pós-florescimento (VT-R1) e remobilizado de outras partes da planta
(Fonte: Pioneer)
Por isso, de forma simplificada, fornecemos uma parte dos nutrientes no plantio e o restante em cobertura, sincronizando a oferta de nutrientes com a marcha de absorção da cultura. Essa prática aumenta significativamente a eficiência da adubação.
Conclusão
Neste artigo, vimos a relação direta que existe entre a fertilidade do solo, a adubação e a nutrição de plantas. Um conceito não funciona sem o outro.
Ficou claro que a fertilidade de uma área depende não só da disponibilidade de nutrientes e da ausência de elementos tóxicos, mas também da cultura que será plantada.
Para garantir a máxima eficiência no uso de fertilizantes e alcançar altas produtividades, é essencial basear as decisões em diagnósticos precisos, como a análise de solo e foliar, e aplicar os nutrientes na hora e na quantidade certa.
Glossário
Adubação de correção: Prática de aplicar fertilizantes para elevar os teores de nutrientes que estão em níveis baixos no solo, conforme indicado pela análise. O objetivo é construir uma reserva de fertilidade antes do plantio da cultura.
Adubação de manutenção: Aplicação de fertilizantes para repor a quantidade de nutrientes que a cultura extrai do solo e exporta com a colheita. Esta prática evita o esgotamento da fertilidade do solo ao longo do tempo.
Análise de solo: Diagnóstico laboratorial que mede os níveis de nutrientes, pH e outros indicadores químicos de uma amostra de solo. É a principal ferramenta para recomendar a calagem e a adubação de forma precisa.
Análise foliar: Técnica que avalia o estado nutricional da lavoura medindo a concentração de nutrientes nas folhas. Ela complementa a análise de solo, mostrando se a planta está conseguindo absorver os nutrientes disponíveis.
Fertilidade do solo: Capacidade do solo de fornecer os nutrientes essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Um solo fértil não possui apenas nutrientes, mas também baixos níveis de elementos tóxicos, como o alumínio.
Marcha de absorção: Refere-se ao ritmo e à quantidade de nutrientes que uma planta absorve em cada fase do seu ciclo de vida. O conhecimento dessa marcha ajuda a sincronizar a adubação com os momentos de maior demanda da cultura.
Micronutrientes: Nutrientes essenciais que as plantas precisam em quantidades muito pequenas, como Boro (B), Cobre (Cu) e Zinco (Zn). Apesar da baixa exigência, sua falta pode limitar severamente a produtividade.
Como o Aegro ajuda no manejo da fertilidade e adubação
Colocar em prática todas as recomendações deste artigo — da análise de solo ao parcelamento da adubação — exige um planejamento cuidadoso que pode se perder na correria da safra. Controlar os custos com fertilizantes e garantir que cada aplicação seja feita no momento certo são desafios constantes para o produtor.
Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza essas operações, permitindo registrar os resultados das análises, planejar o uso de insumos por talhão e acompanhar os custos de produção em tempo real. Isso transforma dados técnicos em um plano de ação claro, otimizando o investimento em adubação e garantindo que nada saia do controle.
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença entre um solo fértil e um solo produtivo?
Um solo fértil é aquele com alta capacidade de fornecer nutrientes essenciais às plantas e com baixa toxicidade. Já um solo produtivo é aquele que, além de ser fértil, possui boas condições físicas (sem compactação), biológicas e está sob um clima favorável, resultando em altas produtividades. Portanto, todo solo produtivo precisa ser fértil, mas nem todo solo fértil consegue ser produtivo por limitações de outros fatores.
Com que frequência devo realizar a análise de solo na minha propriedade?
A frequência ideal depende do sistema de cultivo. Para culturas anuais com rotação intensa, como soja e milho, recomenda-se realizar a análise de solo anualmente para ajustar o planejamento de adubação. Em sistemas mais estáveis, como pastagens ou culturas perenes, uma análise a cada 2 ou 3 anos pode ser suficiente para monitorar a fertilidade.
Por que a análise de solo comum não é eficaz para recomendar a adubação com Nitrogênio (N)?
O Nitrogênio (N) no solo está em formas muito dinâmicas e pode ser facilmente perdido para a atmosfera ou lixiviado pela chuva. Uma única análise de solo antes do plantio não consegue prever com precisão quanto N estará disponível para a planta ao longo de todo o seu ciclo. Por isso, a recomendação de N se baseia mais na análise foliar e na expectativa de produtividade da cultura.
Análise de solo ou análise foliar: qual é mais importante para o meu planejamento?
Ambas são importantes e se complementam. A análise de solo é fundamental para o planejamento pré-plantio, funcionando como um diagnóstico do ’estoque’ de nutrientes e orientando a adubação de correção. Já a análise foliar é um ‘check-up’ durante o ciclo da cultura, mostrando se a planta está conseguindo absorver os nutrientes e ajudando a ajustar adubações em cobertura.
O que acontece se eu aplicar fertilizante em excesso no solo?
A adubação em excesso pode ser prejudicial e cara. Ela pode causar um desequilíbrio nutricional, onde a alta concentração de um nutriente inibe a absorção de outro, além de poder salinizar o solo e contaminar lençóis freáticos. O resultado é o desperdício de insumos e, em casos graves, a redução da produtividade da lavoura.
Devo priorizar a adubação de correção ou a de manutenção?
A prioridade depende do estado atual do seu solo. Em solos com baixa fertilidade, a adubação de correção é a prioridade inicial para elevar os níveis de nutrientes a um patamar adequado. Uma vez que o solo atinge um nível satisfatório de fertilidade, a adubação de manutenção se torna crucial para repor os nutrientes exportados pela colheita e sustentar a produtividade a longo prazo.
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- Análise química do solo: o porquê da sua realização: Este artigo é o manual prático para a ação mais importante recomendada no guia principal: a análise de solo. Ele detalha o passo a passo da amostragem correta – da divisão em glebas à coleta – que é crucial para a precisão dos resultados e, consequentemente, para o sucesso de todo o plano de adubação.
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