Feijão Guandu: O Guia Completo para Produção, Consórcio e Benefícios

Redator parceiro Aegro.
Feijão Guandu: O Guia Completo para Produção, Consórcio e Benefícios

Nos últimos anos, o interesse pelo cultivo de feijão guandu cresceu mais de 50% em todo o mundo. E não é para menos: esta planta rústica, que aguenta bem a seca e solos mais pobres, tem um enorme potencial tanto para a alimentação humana quanto para a nutrição animal.

Essas qualidades tornam o guandu uma escolha estratégica para sistemas de produção, especialmente em áreas que sofrem com a falta de água em algum período do ano.

Além de alimentar, o guandu também nutre a terra. Ele funciona como um excelente adubo verde, pode ser plantado junto com outras culturas em consórcio e ainda serve como um reforço de proteína na ração do gado.

Neste artigo, vamos detalhar tudo sobre o feijão guandu: suas características, como integrá-lo ao seu sistema de produção e os benefícios práticos que essa cultura pode trazer para a realidade da sua fazenda.

Características do Feijão Guandu: O que Você Precisa Saber

O feijão guandu (Cajanus cajan) é uma leguminosa do tipo arbustiva, que pertence à família das fabáceas. Ele tem um crescimento ereto, é semiperene e tem a grande vantagem de rebrotar após o corte.

O seu ciclo de produção varia bastante, podendo ir de 90 a 180 dias. Essa variação acontece porque o guandu é uma planta sensível ao fotoperíodo: que é a resposta da planta à duração da luz do dia.

Por ser uma “planta de dias curtos”, assim como a soja, sua fase de crescimento (vegetativa) é diretamente influenciada pelo comprimento do dia. Na prática, isso significa que:

  • Quanto mais cedo você fizer o plantio (no início da primavera), maior será o ciclo vegetativo da planta.
  • Um ciclo vegetativo mais longo resulta em uma maior produção de biomassa (matéria verde).

gráfico de linha que ilustra a relação entre a época de semeadura do Guandu e a sua produção de fitomassa sRelação entre biomassa seca e época de semeadura do Feijão Guandu (Fonte: Modificado de Amabile et al (1996))

O Poder da Fixação de Nitrogênio

Como toda leguminosa, o feijão guandu tem a capacidade de fixar nitrogênio diretamente do ar. Isso acontece por meio de uma parceria (simbiose) com microrganismos presentes no solo.

Graças a esse processo, conhecido como Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), o guandu acumula altos níveis desse nutriente em seus grãos e folhas, com teores que variam de 15% a 20%.

Adaptação e Produtividade

O guandu não é exigente com o clima, o que permite seu cultivo em regiões tropicais, subtropicais e até no semiárido brasileiro. Para completar seu ciclo, a planta precisa de 500 a 1200 mm de chuva.

A fertilidade do solo tem pouca influência na sua produtividade. O fator principal é a presença dos microrganismos corretos no solo para que a FBN aconteça de forma eficiente.

Com as condições ideais, os resultados são impressionantes:

  • Produção de matéria seca: de 5 a 15 toneladas por hectare.
  • Fixação de nitrogênio no solo: de 90 a 150 kg por hectare.
  • Melhores resultados: ocorrem em solos com pH entre 5 e 6.

Como Usar o Feijão Guandu no Sistema de Produção

O feijão guandu é extremamente versátil e pode ser integrado à sua propriedade de três maneiras principais:

  1. Alimentação humana: como cultura de grãos na segunda safra.
  2. Melhoria do solo: como adubo verde para enriquecer a terra.
  3. Alimentação animal: como suplemento rico em proteína para o rebanho.

Para Alimentação Humana

O consumo de guandu tem crescido no Brasil, principalmente pela rusticidade da planta e seu alto valor proteico. A produção de grãos é considerável, podendo chegar a uma tonelada por hectare.

Como Adubo Verde

Quando usado como adubo verde, o guandu se destaca por dois motivos: a alta fixação de nitrogênio e a rápida decomposição de sua biomassa. Essa decomposição acelerada está ligada à sua baixa relação C/N (Carbono/Nitrogênio).

Para entender melhor: A relação C/N indica a proporção de carbono para nitrogênio na matéria vegetal. Uma relação baixa, como a do guandu, significa que os microrganismos do solo decompõem a palhada rapidamente, liberando nitrogênio para a próxima cultura de forma mais veloz.

Já vimos aqui no Lavoura 10 como a relação C/N afeta a decomposição da palha. Por isso, se o objetivo principal é formar uma cobertura de solo duradoura (palhada), o guandu sozinho não é a melhor opção.

O grande benefício do guandu está na adubação verde e na rotação de culturas, onde ele enriquece o solo com nitrogênio de forma rápida e eficiente.

Para Alimentação Animal

O uso do guandu na alimentação animal é outra aplicação em forte crescimento. Seu alto teor de nitrogênio se traduz em um alto teor de proteína, tornando-o um excelente complemento para a dieta do gado.

Produtores têm utilizado o guandu de diversas formas:

  • Como forrageira de inverno, fornecida fresca e picada.
  • Ensilado junto com o milho.
  • Em pastejo direto no campo.
  • Na forma de feno.

Vamos explorar a alimentação animal com mais detalhes adiante. Antes, vamos ver como resolver a limitação da rápida decomposição da palha do guandu: o consórcio.

Consórcios com Feijão Guandu: Somando Forças

Para aproveitar os benefícios do guandu como cultura de cobertura e, ao mesmo tempo, resolver o problema da rápida decomposição da sua palha, a solução é o consórcio com gramíneas.

O guandu pode ser plantado junto com milho ou sorgo, com o objetivo de melhorar a qualidade da silagem ou simplesmente para beneficiar o solo.

uma tabela de dados agronômicos que compara o desempenho da cultura do milho sob diferentes sistemas de manejoMilho (BRS 1035) solteiro e consorciado com guandu com e sem nitrogênio (Fonte: Modificado de Oliveira et al (2010))

Outra opção excelente é o consórcio com forrageiras tropicais, como a braquiária. A Embrapa, por exemplo, desenvolveu o “Sistema Santa Brígida”, que une milho, guandu e braquiária em uma mesma área.

uma tabela de dados comparativos, resultado de um estudo agrícola, que analisa o desempenho do milho sob diferMilho (BRS 1035) solteiro e em diferentes consórcios (Fonte: Modificado de Oliveira et al (2010))

Seja plantado sozinho, com milho ou com braquiária, a recomendação de população de guandu é de cerca de 10 plantas por metro, com espaçamento entre linhas de 40 cm a 1,2 m. A taxa de semeadura pode chegar a 40 kg de sementes por hectare.

O consórcio altera uma característica fundamental da palhada: a relação C/N.

uma tabela comparativa que analisa a composição química de diferentes tipos de palhada utilizados na agricultuRelação de Carbono e Nitrogênio na palha das culturas (Fonte: Modificado de Oliveira et al (2010))

Como a tabela mostra, ao consorciar o guandu, a relação C/N da palha sobe de aproximadamente 25 para mais de 40. Isso faz com que a palha dure muito mais tempo sobre o solo, trazendo benefícios como:

  • Maior proteção contra a erosão causada pela chuva.
  • Melhor conservação da umidade do solo.
  • Regulação da temperatura da terra.

Feijão Guandu na Alimentação Animal: Proteína de Qualidade

Um dos grandes trunfos do guandu é sua aplicação na alimentação animal. Ao contrário de outras leguminosas usadas como adubo verde (como as crotalárias), o feijão guandu não é tóxico para o gado.

Isso o torna uma ferramenta valiosa para aumentar o teor de proteína na dieta do rebanho, seja na forma de silagem ou em pastejo direto.

Guandu na Silagem

Na produção de silagem, o guandu pode ser plantado em consórcio com o milho. As duas culturas são colhidas e ensiladas juntas. Esse processo simples pode elevar os níveis de proteína bruta da dieta em até 6%, enriquecendo o alimento dos animais.

uma tabela de dados detalhada que apresenta uma análise bromatológica comparativa de diferentes tipos de silagValor nutritivo das silagens de milho com níveis crescentes de guandu (Fonte: Quintino et al (2013))

Guandu no Pastejo

O feijão guandu também pode ser semeado junto com pastagens, como a braquiária, para ser consumido diretamente pelos animais no campo.

Uma característica interessante é que os animais pastejam pouco o guandu antes do seu florescimento. Isso permite que a planta cresça e acumule bastante biomassa. Ela se torna mais palatável (saborosa para o animal) justamente no início da seca, após florescer, servindo como uma reserva estratégica de alimento.

No período chuvoso seguinte, o que sobrou do guandu deve ser roçado a uma altura de 50 cm. Isso estimula a rebrota e o início de um novo ciclo de crescimento para o próximo pastejo.

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Conclusão

O feijão guandu é muito mais do que apenas um grão. Ele é uma ferramenta poderosa para a rotação de culturas, adubação verde e, principalmente, para a alimentação animal.

Essa leguminosa pode aumentar a produtividade geral do seu sistema de produção e, ao mesmo tempo, melhorar a saúde do solo.

Depois de muitos anos da tradicional “dobradinha” soja-milho, é comum que a produtividade comece a cair e a necessidade de insumos aumente. O guandu surge como uma alternativa inteligente para quebrar esse ciclo, diversificar a produção e manter a lucratividade da fazenda.


Glossário

  • Adubo verde: Prática de cultivar plantas, como o guandu, com o objetivo principal de melhorar a saúde e a fertilidade do solo. Essas plantas são cortadas e deixadas sobre a terra ou incorporadas a ela, fornecendo nutrientes de forma natural.

  • Biomassa: Refere-se à quantidade total de matéria orgânica (folhas, caules, raízes) produzida por uma planta ou cultura em uma determinada área. No contexto do artigo, uma alta produção de biomassa pelo guandu significa mais material para cobrir o solo ou alimentar o gado.

  • Consórcio: Técnica agrícola que consiste em plantar duas ou mais culturas diferentes na mesma área e ao mesmo tempo. Um exemplo é o plantio de guandu junto com o milho para enriquecer o solo e a qualidade da silagem.

  • Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Processo natural realizado por leguminosas, como o guandu, em parceria com bactérias do solo. Elas capturam o nitrogênio do ar e o transformam em um nutriente essencial para o desenvolvimento das plantas, funcionando como uma adubação natural.

  • Fotoperíodo: A resposta de uma planta à duração da luz do dia. O guandu é uma “planta de dias curtos”, o que significa que seu ciclo de crescimento e florescimento é diretamente influenciado pelo número de horas de luz que recebe por dia.

  • Palatável: Termo que descreve o quão saboroso ou aceitável um alimento é para o animal. No artigo, indica que o guandu se torna mais atrativo para o pastejo do gado após o florescimento.

  • Relação C/N (Carbono/Nitrogênio): Proporção entre a quantidade de carbono (C) e nitrogênio (N) na matéria vegetal. Uma relação C/N baixa, como a do guandu, indica que a palhada se decompõe rapidamente, liberando nutrientes para a próxima cultura de forma mais veloz.

  • Semiperene: Característica de uma planta que vive por mais de dois anos, mas tem um ciclo de vida mais curto que as plantas perenes. O guandu é semiperene e tem a capacidade de rebrotar após o corte, permitindo múltiplos usos.

Como gerenciar a diversificação com guandu e garantir a lucratividade?

Integrar o feijão guandu em sistemas de consórcio ou rotação de culturas é uma estratégia excelente, mas também traz um novo desafio: como medir o real impacto financeiro dessa mudança? Controlar os custos de múltiplas culturas na mesma área e entender se a economia gerada – seja em adubação ou na alimentação animal – compensa o investimento pode ser complexo sem as ferramentas certas.

É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença.

Ele permite registrar todas as atividades e acompanhar os custos de forma separada para cada cultura, mesmo em áreas consorciadas. Assim, fica fácil analisar com precisão o desempenho e a lucratividade do seu sistema produtivo, garantindo que a diversificação está realmente aumentando seus resultados.

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Perguntas Frequentes

Por que o feijão guandu é ideal para solos pobres e regiões com pouca chuva?

O guandu é uma planta rústica e altamente adaptável, capaz de prosperar em solos de baixa fertilidade e suportar períodos de seca. Sua principal vantagem é a capacidade de realizar a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), capturando nitrogênio do ar e enriquecendo o solo naturalmente, o que reduz a necessidade de fertilizantes.

Qual a principal vantagem de consorciar o guandu com milho ou braquiária?

O guandu sozinho possui uma palhada que se decompõe muito rápido. Ao consorciá-lo com gramíneas como milho ou braquiária, a relação Carbono/Nitrogênio (C/N) da palhada aumenta, tornando-a mais duradoura. Isso melhora a proteção do solo contra erosão e ajuda a conservar a umidade por mais tempo.

O feijão guandu é seguro para a alimentação do gado?

Sim, ao contrário de outras leguminosas usadas como adubo verde, o feijão guandu não é tóxico para os animais. Ele é uma excelente fonte de proteína, podendo ser usado na formulação de silagem junto com o milho, em pastejo direto ou na forma de feno para enriquecer a dieta do rebanho.

Como o guandu melhora a qualidade da silagem para o gado?

Quando o guandu é ensilado junto com o milho, seu alto teor de nitrogênio eleva significativamente o nível de proteína bruta da dieta, podendo aumentar em até 6%. Isso resulta em uma silagem mais nutritiva e balanceada, que combina a energia do milho com a proteína do guandu, melhorando o desempenho do rebanho.

Qual a melhor época para plantar guandu se o objetivo for produzir mais matéria verde?

Para maximizar a produção de biomassa (matéria verde), o ideal é plantar o guandu no início da primavera. Por ser uma planta de dias curtos, o plantio precoce prolonga seu ciclo vegetativo antes do florescimento, resultando em plantas maiores e com mais folhas e caules, ideais para adubação verde ou forragem.

O que significa a ‘baixa relação C/N’ do guandu e qual seu impacto prático?

A baixa relação Carbono/Nitrogênio (C/N) significa que a matéria vegetal do guandu tem uma alta concentração de nitrogênio em relação ao carbono. Na prática, isso faz com que sua palhada se decomponha muito rapidamente no solo, liberando nitrogênio de forma ágil para a cultura seguinte. É uma ótima característica para adubação verde, mas não para criar uma cobertura de solo duradoura.

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  • Inoculante para feijão caupi: por que e como utilizar: O artigo principal destaca a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) como um benefício chave do guandu. Este artigo complementar é o passo prático essencial, explicando detalhadamente a tecnologia da inoculação para garantir que a FBN ocorra eficientemente. Ele transforma o benefício teórico em uma ação concreta e de baixo custo para o produtor.
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