Evapotranspiração: Como Otimizar Irrigação e Produtividade Agrícola

Redatora parceira Aegro.
Evapotranspiração: Como Otimizar Irrigação e Produtividade Agrícola

Entender como a água se movimenta no planeta e, principalmente, na sua lavoura, é um conhecimento que ajuda a tomar decisões mais inteligentes e lucrativas.

Um dos fatores mais importantes nesse processo é a evapotranspiração. Ela está diretamente ligada à disponibilidade de água para as suas plantas e é a chave para planejar uma irrigação mais sustentável e econômica.

Dominar esse conceito permite que você explore o potencial máximo da sua produção, já que a falta de água no momento certo do desenvolvimento da cultura quase sempre resulta em queda de produtividade.

Quer entender melhor o que é a evapotranspiração e por que medir esse parâmetro é tão importante na agricultura? Continue a leitura!

O que é evapotranspiração?

A evapotranspiração, como o nome já diz, é a soma de dois processos que acontecem ao mesmo tempo: a evaporação da água do solo e a transpiração das plantas.

  • Evaporação: É o processo natural em que um líquido se transforma em vapor. Na fazenda, isso acontece quando a água da superfície do solo, de rios ou de açudes é aquecida pelo sol e sobe para a atmosfera.
  • Transpiração: Acontece quando a água que as plantas absorvem pelas raízes é liberada para o ar na forma de vapor. Essa liberação ocorre através de pequenas aberturas nas folhas, chamadas estômatos.

De forma simples, a evapotranspiração é todo o processo que leva a água da sua lavoura de volta para a atmosfera, tanto a que evapora diretamente do solo quanto a que passa pelas plantas.

infográfico educacional que explica de forma visual e simplificada o conceito de evapotranspiração. Ela demonst Exemplificação de evapotranspiração (Fonte: Árvore, ser tecnológico)

Qual a relação com o ciclo da água?

A água do nosso planeta está sempre em movimento, mudando entre os estados líquido, sólido e gasoso. Essa movimentação constante é o que chamamos de ciclo hidrológico, ou o ciclo da água.

Como você pode ver na imagem abaixo, esse ciclo envolve vários processos que movimentam a água entre o subsolo, a superfície da terra e o ar.

Este é um diagrama detalhado e ilustrativo do ciclo da água, produzido pelo USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos). A im Ciclo hidrológico (Fonte: USGS)

A evapotranspiração tem um papel central no ciclo hidrológico. É através dela que a água que estava no estado líquido na sua propriedade retorna para a atmosfera como vapor.

Estudos mostram que aproximadamente 70% de toda a chuva que cai é devolvida para a atmosfera por meio da evapotranspiração.

Por isso, conhecer a taxa de evapotranspiração é fundamental para diversas áreas, como:

  • Verificar o rendimento de bacias hidrográficas.
  • Acompanhar a capacidade de reservatórios ou aquíferos.
  • Planejar o manejo da irrigação na agricultura, que é a aplicação mais importante para nós.

A influência da evapotranspiração na sua lavoura

Para o produtor rural, entender a evapotranspiração é essencial, pois ela representa exatamente a saída de água do sistema solo-planta.

O solo e a planta são os pilares da sua produção. Sem a quantidade de água mínima que cada cultura exige, não é possível alcançar bons resultados.

É por meio da evapotranspiração que estimamos a necessidade de água das culturas. Com essa informação em mãos, é possível definir com muito mais precisão quando e quanto irrigar.

Saber a demanda hídrica de cada cultura é o que permite explorar o potencial máximo de produção. Isso acontece porque a falta de água durante o desenvolvimento, na maioria dos casos, causa quedas diretas na produtividade.

uma tabela comparativa intitulada ‘Necessidade Hídrica (mm)’, que detalha a quantidade de água necessária para Demanda hídrica aproximada de algumas culturas (Fonte: adaptado de Carvalho et al., 2013)

Portanto, ao conhecer a demanda hídrica da sua cultura e acompanhar dados como chuva, temperatura e umidade do ar, sua irrigação se torna muito mais eficiente.

A irrigação tem um peso enorme no consumo de água. No Brasil, cerca de 67% de toda a água consumida é utilizada em sistemas de irrigação.

Para fazer um manejo de irrigação que seja ao mesmo tempo sustentável e econômico, calcular a evapotranspiração é um passo fundamental. Diversos fatores podem influenciar essa taxa, como:

  • Tipo e manejo do solo
  • Tamanho e densidade das plantas (dossel)
  • Velocidade do vento
  • Temperatura e umidade do ar

Por isso, a evapotranspiração pode variar bastante dependendo da sua área, da época do ano e do clima da sua região.

infográfico detalhado que ilustra a distribuição do consumo de água por diferentes setores no Brasil. No centro Total de água consumida no Brasil (média anual) (Fonte: ANA)

Como determinar a evapotranspiração

Como vimos, vários fatores interferem na evapotranspiração, principalmente as condições climáticas.

Na agricultura, utilizamos 4 tipos diferentes de cálculo, dependendo das condições que queremos analisar. Vamos entender cada um deles.

1. Evapotranspiração de Referência (ETo) ou Potencial (ETp)

Os termos “de referência” (ETo) e “potencial” (ETp) são praticamente a mesma coisa. Antigamente, usava-se mais o termo “potencial”, mas hoje “de referência” é o mais comum.

Este cálculo considera uma condição ideal:

  • Uma cultura de referência (geralmente uma grama ou alfafa) que não tem falta de água.
  • Essa cultura cobre totalmente o solo e tem uma área grande ao redor (bordadura) para evitar influências externas.
  • Leva em conta apenas as condições climáticas do momento: radiação solar, temperatura, umidade do ar e velocidade do vento.

Em outras palavras: A ETo mede o poder de evaporação da atmosfera em um determinado local e dia, sem se preocupar com a cultura que você está plantando ou se há água disponível no solo. É um valor de referência.

diagrama esquemático que ilustra o conceito de evapotranspiração potencial. Na base, uma superfície ver Representação da evapotranspiração de referência (ETo) (Fonte: Decivil)

2. Evapotranspiração Real (ETR)

A ETR mede o que realmente está acontecendo no campo sob as mesmas condições climáticas da ETo.

A grande diferença é que, para calcular a ETR, a cultura de referência pode ou não estar com falta de água, refletindo uma condição mais próxima da realidade. A área de medição também é grande e com bordadura, assim como na ETo.

Em outras palavras: A ETR mostra quanta água está evaporando e transpirando de fato, considerando a disponibilidade real de água para a vegetação de referência.

diagrama esquemático que ilustra o conceito de ‘Evapotranspiração real’. Ela exibe uma superfície verde, repres Representação da evapotranspiração real (ETR) (Fonte: Decivil)

3. Evapotranspiração da Cultura (ETc)

Este cálculo é mais específico para a sua lavoura. Ele considera a evapotranspiração de uma cultura específica (soja, milho, café, etc.) em condições ideais de crescimento, ou seja, sem falta de água.

A fórmula para calcular a ETc é: ETc = ETo x Kc.

  • Kc (Coeficiente de Cultura): É um valor que varia de acordo com o estágio de desenvolvimento da planta. No início e no final do ciclo, quando a planta tem poucas folhas, o Kc é menor. No pico de desenvolvimento vegetativo, o Kc é maior.

Em outras palavras: A ETc ajusta a evapotranspiração de referência (ETo) para a realidade da sua cultura, mostrando quanta água ela usaria se tivesse toda a água de que precisa.

diagrama científico simplificado que ilustra o conceito de ‘Evapotranspiração potencial de uma cultura de refer Representação da evapotranspiração da cultura (ETc) (Fonte: Decivil)

4. Evapotranspiração Real da Cultura (ETr)

Como o nome sugere, este é o cálculo mais completo, pois considera a condição real do campo.

Neste caso:

  • A cultura pode estar com ou sem falta de água.
  • Não há uma área de bordadura, o que significa que a influência do solo ao redor (que pode estar seco) é considerada.

A fórmula utilizada é: ETr = ETo x Kc x Ks.

  • Ks (Coeficiente de Solo): É um valor que representa a disponibilidade de água no solo. Se o solo está seco, o Ks diminui, reduzindo a evapotranspiração real.

Em outras palavras: A ETr é o valor mais preciso para saber quanta água sua lavoura está realmente perdendo para a atmosfera, considerando o clima, o estágio da cultura e a umidade do solo.


Resumo dos Tipos de Evapotranspiração

Para facilitar, aqui está um resumo rápido:

  • Evapotranspiração de Referência (ETo): Mede apenas o efeito do clima em condições ideais de água.
  • Evapotranspiração Real (ETR): Mede o efeito do clima considerando a água realmente disponível no solo.
  • Evapotranspiração da Cultura (ETc): Considera o clima e as condições da cultura (em qual estágio ela está), em condições ideais de água.
  • Evapotranspiração Real da Cultura (ETr): Considera o clima, a cultura e o manejo do solo (água disponível), refletindo a situação real da lavoura.

diagrama técnico que ilustra o conceito de evapotranspiração (ET) na agricultura. Do lado esquerdo, mostra plan Representação dos tipos de evapotranspiração (Fonte: UTFPR)

Conclusão

Como você viu ao longo do texto, a evapotranspiração é a combinação da transpiração das plantas com a evaporação da água do solo.

Entender e medir esse processo é fundamental para tomar decisões mais rentáveis e sustentáveis na hora de irrigar. Esse fenômeno acontece a todo momento na sua lavoura e depende diretamente da quantidade de folhas da sua cultura e das condições do clima.

Existem diferentes formas de calcular a evapotranspiração, cada uma com um objetivo específico, desde uma referência geral até o valor real da sua área.

Espero que estas informações ajudem você a entender melhor a importância da evapotranspiração e a usar esse conhecimento para aumentar a produtividade da sua lavoura.


Glossário

  • Ciclo Hidrológico: O movimento contínuo da água na Terra, envolvendo processos como evaporação, condensação e precipitação. Para o agricultor, entender este ciclo é crucial, pois a evapotranspiração é a principal via de retorno da água da lavoura para a atmosfera.

  • Coeficiente de Cultura (Kc): Um valor adimensional que ajusta a evapotranspiração de referência (ETo) para uma cultura específica em um determinado estágio de desenvolvimento. O Kc é baixo no início do ciclo e aumenta à medida que a planta desenvolve mais folhas, atingindo um pico antes de diminuir perto da colheita.

  • Coeficiente de Solo (Ks): Um fator que representa o efeito da disponibilidade de água no solo sobre a evapotranspiração. Quando o solo está seco, o valor de Ks diminui (varia de 0 a 1), reduzindo a taxa de evapotranspiração real da cultura.

  • Demanda Hídrica: A quantidade total de água que uma cultura necessita ao longo de seu ciclo para atingir o máximo potencial produtivo. É geralmente expressa em milímetros (mm) e é a base para o planejamento de um manejo de irrigação eficiente.

  • Estômatos: Pequenas aberturas, como poros, localizadas principalmente na superfície das folhas das plantas. São responsáveis pela troca de gases (CO2 e oxigênio) e pela liberação de água na forma de vapor durante o processo de transpiração.

  • Evapotranspiração (ET): A soma de dois processos: a evaporação da água diretamente da superfície do solo e a transpiração, que é a liberação de vapor de água pelas plantas. Representa a perda total de água de uma área cultivada para a atmosfera.

  • Evapotranspiração da Cultura (ETc): Estima a quantidade de água que uma cultura específica (como soja ou milho) utilizaria em condições ideais, ou seja, sem restrição de água no solo. É calculada multiplicando a ETo pelo Coeficiente de Cultura (Kc).

  • Evapotranspiração de Referência (ETo): Um valor padrão que mede o poder de evaporação da atmosfera em um local, com base em uma cultura de referência (geralmente grama) com água ilimitada. É um índice que depende exclusivamente das condições climáticas, como radiação solar, temperatura e vento.

  • Evapotranspiração Real da Cultura (ETr): A medida mais precisa da perda de água de uma lavoura, pois considera as condições reais do campo. Leva em conta o clima (via ETo), o estágio da cultura (via Kc) e a disponibilidade real de água no solo (via Ks).

Como a tecnologia otimiza o manejo da irrigação

Como vimos, calcular a evapotranspiração para ajustar o manejo da irrigação com base no clima, na cultura e no solo é fundamental, mas pode ser um desafio na prática. A boa notícia é que a tecnologia simplifica esse processo. Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza os dados agronômicos e integra informações climáticas, permitindo um planejamento de irrigação muito mais preciso. Em vez de anotações espalhadas, você tem um histórico organizado para tomar decisões baseadas em dados concretos.

Isso garante que cada gota de água contribua para o máximo potencial produtivo da lavoura. Quer ver como funciona?

Experimente o Aegro gratuitamente e descubra como otimizar o uso da água na sua fazenda.

Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre Evapotranspiração de Referência (ETo) e Evapotranspiração da Cultura (ETc)?

A ETo mede o poder de evaporação da atmosfera com base apenas nas condições climáticas (sol, vento, umidade), usando uma cultura padrão como a grama. Já a ETc ajusta esse valor para a realidade da sua lavoura, considerando o tipo de planta e seu estágio de desenvolvimento através do Coeficiente de Cultura (Kc). Basicamente, a ETo é um índice climático, enquanto a ETc é a necessidade de água da sua cultura específica.

De forma prática, como o cálculo da evapotranspiração ajuda a economizar na irrigação?

Ao saber exatamente quanta água sua lavoura perdeu por evapotranspiração em um dia (ETr), você consegue repor apenas o volume necessário no solo. Isso evita tanto a irrigação em excesso, que desperdiça água, energia e lixivia nutrientes, quanto a irrigação insuficiente, que causa estresse hídrico e reduz a produtividade.

Por que o Coeficiente de Cultura (Kc) muda ao longo do ciclo da planta?

O Kc varia porque a necessidade de água e a área foliar da planta mudam conforme ela cresce. No início, com poucas folhas, a planta transpira menos e o Kc é baixo. No pico do desenvolvimento, com a máxima área foliar, a transpiração atinge seu auge e o Kc é maior. Próximo à colheita, a atividade da planta diminui, fazendo o Kc cair novamente.

Fatores como tipo de solo e vento realmente impactam muito a evapotranspiração?

Sim, o impacto é significativo. Solos argilosos, por exemplo, retêm mais água na superfície, podendo aumentar a evaporação em comparação com solos arenosos. Já ventos fortes e secos aceleram a remoção do vapor de água de perto das folhas, intensificando a transpiração e, consequentemente, a evapotranspiração total da lavoura.

É possível estimar a evapotranspiração para minha lavoura sem ter equipamentos caros?

Sim. Uma maneira acessível é utilizar dados de estações meteorológicas públicas ou de institutos de pesquisa da sua região. Com esses dados climáticos (temperatura, umidade, radiação solar e vento), é possível calcular a ETo usando fórmulas padrão e depois ajustá-la para sua cultura com os valores de Kc, que são tabelados e facilmente encontrados na literatura agronômica.

Toda a água da chuva que cai na lavoura é aproveitada pela planta?

Não necessariamente. Parte da chuva pode ser perdida por escoamento superficial se a intensidade for alta ou o solo estiver compactado. Além disso, a água que fica na superfície do solo e nas folhas evapora diretamente para a atmosfera. A evapotranspiração representa a principal via de ‘perda’ de água do sistema solo-planta, seja ela vinda da chuva ou da irrigação.

Artigos Relevantes

  • Como ocorre e quais os efeitos do estresse hídrico nas plantas: Este artigo é o complemento motivacional perfeito. Enquanto o artigo principal explica o cálculo da evapotranspiração para evitar a falta de água, este detalha as consequências fisiológicas e as perdas de produtividade causadas pelo estresse hídrico, reforçando a importância crítica de um manejo de irrigação preciso.
  • Irrigação da lavoura: métodos e benefícios do manejo da água: Este artigo serve como o passo prático seguinte ao conteúdo principal. Após entender a teoria da demanda hídrica (ETc), o leitor precisa conhecer as ferramentas para supri-la; este guia sobre os métodos de irrigação (pivô, gotejamento, etc.) preenche exatamente essa lacuna, conectando o ‘quanto’ irrigar com o ‘como’ irrigar.
  • Como a irrigação de precisão pode otimizar o uso da água e gerar economia na fazenda: Este artigo representa a aplicação tecnológica dos conceitos do artigo principal. Ele demonstra como os cálculos teóricos de evapotranspiração (ETo, ETc) são automatizados na prática através de sensores, IoT e algoritmos, transformando o manejo da irrigação em uma operação de precisão baseada em dados reais, o que responde à pergunta de como implementar essa gestão de forma eficiente.
  • Por que realizar a cobertura de solo no inverno: Este artigo oferece uma perspectiva complementar e proativa. Em vez de apenas focar em como repor a água perdida pela evapotranspiração (ET), ele aborda como reduzir a componente ‘E’ (evaporação do solo) da equação através de práticas de manejo, como a cobertura de solo. Isso agrega um valor único ao ensinar como conservar a água antes mesmo de precisar irrigar.
  • As melhores práticas para o reúso da água na agricultura: Este artigo expande o escopo para a gestão sustentável dos recursos hídricos, um tema contextualizado pelo alto consumo de água pela irrigação citado no texto principal. Enquanto o artigo principal foca na eficiência do uso da água (demanda), este aborda a resiliência hídrica (oferta), apresentando soluções práticas para aumentar a disponibilidade de água na propriedade.