Todos nós já passamos por situações de estresse em algum momento da vida, não é mesmo? O que talvez nem todo mundo saiba é que as plantas também podem passar por isso. É claro que o estresse em uma planta não é como o nosso, mas a ideia principal e os efeitos negativos são bastante parecidos.
Quando estamos estressados, muitas vezes não conseguimos pensar ou agir com clareza, o que afeta diretamente nosso rendimento nas atividades do dia a dia.
O mesmo acontece com as plantas. Quando elas são submetidas a condições de estresse, principalmente por longos períodos, as plantas perdem seu potencial de rendimento. Isso se reflete diretamente na sua produtividade final.
Um dos principais desafios que as plantas enfrentam é o estresse térmico. Continue lendo para entender melhor o que é, como ele afeta sua lavoura e o que você pode fazer para diminuir seus impactos.
O que é estresse térmico em plantas?
De forma simples, estresses são fatores externos que causam influências negativas sobre as plantas.
O estresse térmico, portanto, nada mais é do que o efeito prejudicial das condições de temperatura do ambiente sobre o desenvolvimento da lavoura.
É natural pensarmos primeiro nas altas temperaturas e em como o calor excessivo pode prejudicar as plantas – e isso realmente acontece.
No entanto, as baixas temperaturas também podem ser uma forma de estresse térmico, embora isso seja menos comum nos climas tropicais e subtropicais do Brasil.
Seja por calor ou por frio, a duração do estresse também é um fator crítico. Quando o período de estresse é muito longo, a lavoura certamente sentirá os efeitos, e isso vai aparecer nos resultados da colheita e na produtividade geral.
Como o estresse térmico afeta a lavoura?
Os efeitos negativos do estresse térmico nas plantas podem variar bastante, dependendo do estágio de desenvolvimento em que elas se encontram no momento da ocorrência.
Confira na tabela abaixo os principais danos em cada fase:
Possíveis danos causados pelo estresse térmico nas plantas nos estágios de desenvolvimento.
(Fonte: Tabela elaborada pelo autor, baseada em Ali et al., 2020)
Como podemos ver, não importa o estágio em que as plantas estejam, o estresse térmico sempre traz grandes prejuízos para a produção.
Além dos efeitos diretos citados na tabela, plantas sob condições de estresse se tornam mais suscetíveis a doenças, o que pode reduzir ainda mais a produtividade da sua lavoura.
A influência do estresse na incidência de doenças
Para entender a relação entre estresse e doenças, precisamos lembrar do famoso triângulo da doença.
Esse conceito fundamental nos mostra que uma doença só acontece quando três fatores interagem ao mesmo tempo: o ambiente favorável, o hospedeiro (a planta) suscetível e o patógeno (o agente causador da doença) presente.
O triângulo da doença.
Assim, fica claro que mudanças no ambiente, como as causadas pelo estresse, vão influenciar a forma como as plantas lidam com as doenças. E não é só o estresse térmico que faz isso; o estresse hídrico também tem um papel muito importante.
Estresse Hídrico: O impacto da falta e do excesso de água
O estresse hídrico pode ocorrer de duas maneiras: pela falta de água ou pelo excesso de água disponível para as plantas.
1. Falta de água (déficit hídrico): Quando falta água, as plantas crescem menos e ficam subdesenvolvidas. Isso acontece porque suas funções vitais são prejudicadas, resultando em menores taxas de fotossíntese, de produção de proteínas e de atividade metabólica geral.
Muitas das enzimas e proteínas afetadas têm função essencial no sistema de defesa das plantas contra patógenos. Dessa forma, uma planta com sede se torna um alvo mais fácil para doenças.
Comparativo entre área com irrigação e área de sequeiro com plantas submetidas a estresse hídrico.
(Fonte: Café Point)
2. Excesso de água (encharcamento): Da mesma forma, o excesso de água no solo também deixa as plantas mais vulneráveis. Quando o solo fica encharcado:
- Os tecidos das raízes se tornam mais macios e suculentos, o que facilita a entrada de patógenos.
- Se o encharcamento for prolongado, as raízes ficam sem oxigênio, afetando a respiração celular (aeróbica).
Essa falta de oxigênio causa uma série de problemas:
- Redução do metabolismo da planta;
- Perda da integridade das membranas das células;
- Acúmulo de gases tóxicos, como dióxido de carbono e etileno, na zona da raiz.
Todos esses fatores juntos tornam a planta um ambiente muito mais atrativo para os agentes causadores de doenças. É importante lembrar que cada patógeno é favorecido por um cenário diferente. Alguns se desenvolvem melhor no excesso de umidade, enquanto outros preferem a seca.
Estresse Térmico: Como a temperatura abre portas para doenças
O estresse térmico, tanto por temperaturas muito altas quanto muito baixas, também favorece a ocorrência de doenças, de maneira semelhante ao estresse hídrico.
De modo geral, plantas que crescem sob estresse térmico têm um desenvolvimento mais fraco e debilitado.
Além disso, a temperatura extrema afeta diretamente a expressão gênica da planta. Isso significa que alguns genes responsáveis pela resistência a patógenos podem ser “desligados”, enquanto outros, que podem favorecer a infecção, são “ligados”.
O estresse térmico também pode influenciar o ciclo de vida dos próprios patógenos, muitas vezes acelerando sua reprodução e disseminação. Isso significa que as infestações podem se tornar mais severas e rápidas que o normal, tornando o controle muito mais difícil.
Como amenizar os efeitos do estresse térmico nas plantas?
É impossível controlar totalmente os causadores do estresse térmico, afinal, não podemos controlar o clima.
No entanto, existem algumas estratégias de manejo que podemos adotar na lavoura para reduzir os efeitos negativos ou a frequência desses eventos.
Escolha de Cultivares Tolerantes: Se a sua região de plantio tem um histórico de temperaturas elevadas, o primeiro passo é buscar por cultivares com maior tolerância ao calor. Programas de melhoramento genético já desenvolveram materiais mais resistentes para diversas culturas.
Aplicação de Substâncias Protetoras: Estudos recentes têm mostrado resultados positivos com a aplicação de osmólitos. Osmólitos: são substâncias que ajudam a planta a manter o equilíbrio de água em suas células, protegendo-as do estresse. Exemplos incluem o ácido abscísico, jasmonatos e o ácido ascórbico. É importante notar que essas substâncias ajudam, mas não fazem milagres em condições extremas.
Manejo Adequado do Solo: Um solo bem manejado é a base para uma planta mais forte. Práticas que melhoram a saúde do solo também ajudam a reduzir os impactos do estresse térmico.
- Aplicação de compostos orgânicos e corretivos de solo.
- Uso de culturas de cobertura para proteger o solo e manter a umidade.
- Prática de mulching (cobertura morta) para regular a temperatura do solo.
- Implementação da rotação de culturas para melhorar a estrutura e a vida no solo.
Conclusão
Como vimos ao longo deste artigo, os estresses nas plantas podem causar danos que muitas vezes são irreversíveis e, como consequência, levam a perdas significativas de produtividade.
O estresse térmico é um dos mais comuns em todo o Brasil e tem um grande potencial para impactar o sucesso da sua safra. Além dos prejuízos diretos que ele causa, o estresse por temperatura também pode servir como uma porta de entrada para a incidência de doenças na lavoura.
Por isso, é fundamental conhecer como ele afeta suas plantas para que você possa adotar as melhores estratégias de manejo e proteger seu investimento da melhor forma possível.
Glossário
Cultivares: Variedades de uma planta que foram desenvolvidas por meio do melhoramento genético para apresentar características específicas. Por exemplo, um cultivar de milho pode ser selecionado por sua alta tolerância ao calor.
Estresse Hídrico: Condição negativa para a planta causada pela quantidade de água disponível. Ocorre tanto pela falta de água (seca), que prejudica a fotossíntese, quanto pelo excesso (encharcamento), que afeta a saúde das raízes.
Estresse Térmico: Efeito prejudicial causado por temperaturas (muito altas ou muito baixas) que estão fora da faixa ideal para o desenvolvimento de uma planta. Esse estresse pode reduzir o crescimento e a produtividade da lavoura.
Expressão Gênica: Processo pelo qual a informação de um gene é usada para criar uma função na planta, como produzir uma proteína de defesa. O estresse pode “desligar” genes de resistência, tornando a planta mais vulnerável a doenças.
Melhoramento Genético: Ciência que busca aprimorar as características das plantas por meio de cruzamentos e seleção. É o processo usado para criar cultivares mais produtivos ou resistentes a estresses e doenças.
Osmólitos: Substâncias que ajudam a planta a manter o equilíbrio de água dentro de suas células, protegendo-as contra a desidratação causada por estresse. Exemplos incluem o ácido ascórbico e os jasmonatos.
Patógeno: Um organismo microscópico, como um fungo, bactéria ou vírus, capaz de causar doenças em plantas. É um dos três elementos essenciais do “Triângulo da Doença”.
Triângulo da Doença: Modelo que ilustra as três condições necessárias para que uma doença ocorra em uma lavoura. São elas: a presença de um hospedeiro suscetível (a planta), um patógeno (o agente causador) e um ambiente favorável para a infecção.
Como a tecnologia ajuda a proteger sua lavoura do estresse
Embora não seja possível controlar o clima, a tecnologia oferece ferramentas para monitorar as condições e planejar ações de manejo com mais precisão. Antecipar períodos de estresse térmico ou hídrico é o primeiro passo para proteger o potencial produtivo da lavoura.
Um software de gestão agrícola, como o Aegro, centraliza essas informações. Ele permite integrar dados climáticos da sua região para que você se prepare para ondas de calor ou períodos de seca. Além disso, como o estresse aumenta a vulnerabilidade a doenças, o sistema facilita o registro de monitoramentos no campo e o planejamento de pulverizações, garantindo uma resposta rápida e eficiente para proteger seu investimento.
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Perguntas Frequentes
Qual a principal diferença entre estresse térmico e estresse hídrico em plantas?
O estresse térmico é causado por temperaturas extremas (muito altas ou muito baixas) que afetam o metabolismo da planta. Já o estresse hídrico refere-se à disponibilidade de água, seja pela falta (seca) ou pelo excesso (encharcamento). Embora ambos enfraqueçam a planta e aumentem a suscetibilidade a doenças, suas causas e os mecanismos fisiológicos afetados são distintos.
Uma planta consegue se recuperar totalmente após um período de estresse térmico severo?
A capacidade de recuperação depende da intensidade, da duração do estresse e, principalmente, do estágio de desenvolvimento da cultura. Estresses leves podem ser superados, mas períodos prolongados de temperaturas extremas, especialmente em fases críticas como a floração e o enchimento de grãos, podem causar danos irreversíveis e perdas significativas de produtividade.
De que forma um bom manejo do solo ajuda a proteger a lavoura do estresse térmico?
Um solo bem manejado, com boa cobertura vegetal (palhada) e altos níveis de matéria orgânica, atua como um isolante térmico, mantendo a temperatura na zona das raízes mais estável. Além disso, melhora a retenção de umidade, o que ajuda a planta a se manter hidratada e mais resistente durante ondas de calor, mitigando os efeitos combinados dos estresses térmico e hídrico.
O estresse por calor é sempre mais prejudicial que o estresse por frio?
Não necessariamente. O dano depende da cultura e da sua adaptação climática. No Brasil, o estresse por calor é mais frequente e impacta uma vasta gama de culturas. No entanto, o estresse por frio, como geadas, pode ser devastador para culturas sensíveis como café e cana-de-açúcar, causando a morte de tecidos e perdas totais em áreas específicas.
Como o ‘Triângulo da Doença’ se conecta com o estresse térmico na prática?
O estresse térmico atua diretamente sobre dois dos três pilares do triângulo: o hospedeiro e o ambiente. Ele enfraquece as defesas naturais da planta (hospedeiro suscetível) e pode criar condições ambientais que favorecem a multiplicação e infecção de certos patógenos. Assim, um período de calor intenso pode ser o gatilho que faltava para uma epidemia de doença na lavoura.
O que são os osmólitos e como eles funcionam para proteger as plantas do calor?
Osmólitos são compostos orgânicos que a planta acumula em suas células para se proteger. Eles funcionam ajustando o potencial osmótico celular, o que ajuda a manter a hidratação e a estabilidade das membranas e proteínas mesmo sob condições de estresse. A aplicação exógena de substâncias como ácido ascórbico funciona como um reforço a esse mecanismo de defesa natural.
Além de reduzir o crescimento, o estresse térmico afeta a qualidade dos grãos e frutos?
Sim, definitivamente. O estresse térmico não só diminui a quantidade, mas também a qualidade da produção. Ele pode levar à formação de grãos menores, mais leves e com menor valor nutricional, além de causar maturação desuniforme, manchas ou deformidades em frutos, comprometendo diretamente o valor de mercado da colheita.
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