Para alcançar altas produtividades, é fundamental que você conheça em detalhes o ciclo da soja. Ao entender cada fase, você pode aplicar as práticas de manejo certas, atendendo às necessidades específicas da planta em cada momento do seu desenvolvimento.
Você sabe, por exemplo, que a falta de água entre o florescimento e o enchimento completo dos grãos pode comprometer seriamente o rendimento final? Ou quando exatamente a soja precisa de cada nutriente? E quais são as pragas e doenças mais perigosas que atacam justamente na fase de enchimento?
Neste artigo, vamos detalhar o ciclo fenológico da soja e focar nos cuidados essenciais durante a fase de enchimento de grãos, um dos períodos mais críticos para garantir uma colheita cheia.
Entendendo os Estádios Fenológicos da Soja
A escala fenológica da soja é uma ferramenta indispensável para o bom manejo da lavoura. Com ela, você consegue relacionar cada fase de desenvolvimento com as necessidades exatas da cultura, aplicando insumos e realizando manejos no momento certo.
O ciclo da soja se divide em duas grandes fases:
- Fase Vegetativa (V): Começa com a emergência da plântula (VE) e vai até o surgimento dos primeiros botões florais. Neste período, a planta está focada em construir sua estrutura: folhas, ramos, caule e raízes. É a base para a produção futura.
- Fase Reprodutiva (R): Inicia com o florescimento (R1) e vai até a maturação completa (R8). É nesta fase que a mágica acontece: a planta floresce, desenvolve as vagens, realiza o enchimento dos grãos e amadurece para a colheita.
A imagem abaixo ilustra de forma clara os estágios vegetativos e reprodutivos.
Descrição dos estádios vegetativos e reprodutivos da soja
(Fonte: adaptado de Embrapa Soja e Fehr & Caviness, 1977)
Para entender melhor: No estádio V(n), a letra “n” representa o número de nós no caule principal que possuem uma folha totalmente desenvolvida. Uma folha é considerada “totalmente desenvolvida” quando as bordas de seus folíolos (as pequenas folhas que formam a folha composta da soja) não se tocam mais.
O que Acontece na Fase de Enchimento de Grãos (R5)?
A fase de enchimento de grãos da soja, conhecida como R5, é um período de altíssima atividade para a planta. É aqui que ocorre um rápido acúmulo de matéria seca e nutrientes nos grãos. A planta basicamente “transporta” a energia e os nutrientes que acumulou nas folhas, ramos e caule diretamente para as sementes em formação.
Tecnicamente, este período começa quando você encontra vagens com grãos de pelo menos 3 mm de comprimento em um dos quatro nós superiores do caule principal.
Neste estágio R5, a planta atinge seu potencial máximo em vários aspectos:
- Índice de Área Foliar (IAF): A quantidade de folhas chega ao seu pico, maximizando a capacidade de fazer fotossíntese.
- Desenvolvimento de Raízes: O sistema radicular está completamente estabelecido para buscar água e nutrientes.
- Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): As bactérias nos nódulos das raízes trabalham a todo vapor, fornecendo o nitrogênio essencial para a formação de proteínas nos grãos.
Este é também um período extremamente sensível à falta de água. Um estresse hídrico agora pode causar a queda de flores e vagens e o chochamento dos grãos: significa que os grãos ficam vazios, pequenos ou malformados. Isso impacta diretamente o peso e a qualidade final, derrubando a produtividade.
O estádio de enchimento de grãos (R5) é subdividido em cinco etapas, como mostra a tabela abaixo:
Divisão do estádio R5 (enchimento de grãos) em cinco subestádios
(Fonte: adaptado de Stoller e Ritchie et al., 1977)
Cuidados Essenciais na Fase do Enchimento de Grãos
Vamos ver em detalhes as necessidades de água e nutrientes da soja no estádio R5 e quais são as pragas e doenças que exigem sua atenção máxima neste período.
Exigência de Água
Existem dois momentos no ciclo da soja em que a água é absolutamente crítica:
- Germinação-Emergência: Para um bom estabelecimento inicial da lavoura.
- Florescimento-Enchimento de Grãos: Para garantir que a planta consiga encher as vagens e produzir grãos pesados.
A necessidade de água aumenta conforme a planta cresce. O pico de consumo acontece justamente na fase de florescimento até o completo enchimento dos grãos (R1 a R6). Segundo a Embrapa, neste período, a soja precisa de 7 a 8 mm de água por dia. Qualquer falta de chuva ou irrigação inadequada aqui pode custar muito caro.
Exigência Nutricional
Cada nutriente tem um papel fundamental durante o enchimento dos grãos:
- Nitrogênio (N): É o nutriente mais exigido pela soja. A maior parte vem da fixação biológica, realizada por bactérias do gênero Bradyrhizobium nas raízes. É o principal componente das proteínas do grão.
- Fósforo (P): Atua diretamente na fotossíntese e no crescimento geral da planta. É a “energia” para todos os processos. Você pode saber mais sobre fertilizantes fosfatados aqui.
- Potássio (K): Fundamental para o transporte de carboidratos (açúcares) para os grãos. Sem potássio suficiente, os grãos não ganham peso. Ele também ajuda a planta a regular a perda de água. Veja mais sobre adubação potássica.
- Cálcio (Ca) e Boro (B): A falta desses nutrientes pode causar má formação dos grãos. O boro, em especial, é crucial para a formação das estruturas reprodutivas. Saiba como identificar a deficiência de boro.
- Magnésio (Mg): É o átomo central da molécula de clorofila, o pigmento verde responsável pela fotossíntese. Como a atividade fotossintética está no auge durante o enchimento dos grãos, a presença de magnésio é vital nesse período.
Pragas na Fase de Enchimento de Grãos
Durante o R5, as principais pragas que atacam a soja e causam perdas diretas na produção são percevejos, nematoides e lagartas.
Percevejos
Os percevejos são, de longe, os inimigos número um nesta fase. O impacto econômico deles é altíssimo devido aos prejuízos diretos na qualidade e peso dos grãos.
Os principais tipos que atacam a soja são:
- Percevejo-marrom (Euschistus heros);
- Percevejo-verde (Nezara viridula);
- Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii).
Esses insetos sugadores perfuram as vagens com seu aparelho bucal para se alimentar dos grãos em desenvolvimento. Os danos são severos:
- Grãos ficam menores, murchos, enrugados e com a cor escura.
- Ataques intensos podem levar ao abortamento de vagens.
- Redução do teor de proteína e óleo da semente.
- Indução da “soja louca” ou retenção foliar, um distúrbio onde a planta não amadurece uniformemente, dificultando a colheita.
- Transmissão de doenças, como a mancha-fermento, causada pelo fungo Nematospora coryli.
Outras Pragas
- Nematoides de galhas (Meloidogyne spp.): Esses vermes microscópicos atacam as raízes, prejudicando a absorção de água e nutrientes. Na fase reprodutiva, isso pode causar o abortamento de vagens e o amadurecimento prematuro das plantas. Saiba mais sobre o nematoide-das-galhas.
- Helicoverpa armigera: É uma lagarta muito agressiva que se alimenta de folhas, hastes, flores e, principalmente, das vagens, causando danos diretos aos grãos. Veja como controlar a Helicoverpa.
Desenvolvimento de pragas seguindo o estádio fenológico da soja
(Fonte: Brasmax)
Doenças na Fase de Enchimento de Grãos
As doenças da soja são outro fator que pode limitar drasticamente a sua produção, especialmente no final do ciclo.
A antracnose e a temida ferrugem asiática podem afetar a planta em qualquer fase, mas seus danos durante o enchimento de grãos são devastadores, causando queda de vagens e problemas na formação dos grãos.
As Doenças de Final de Ciclo (DFC), como o crestamento foliar de cercóspora (mancha púrpura) e a mancha-parda (septoriose), aparecem com mais força justamente na fase final do enchimento de grãos. Saiba mais sobre DFCs aqui.
Outras doenças importantes neste período incluem:
- Mancha olho-de-rã: Ocorre com mais frequência no período reprodutivo.
- Podridão parda da haste e Podridão por fitóftora: Também podem surgir em diferentes momentos da fase reprodutiva.
Em resumo, as principais doenças para monitorar durante o enchimento de grãos são:
- Antracnose (Colletotrichum truncatum)
- Ferrugem asiática (Phakopso-ra pachyrhizi)
- Crestamento foliar de cercóspora (Cercospora kikuchii)
- Mancha-parda (Septoria glycines)
- Mancha olho-de-rã (Cercospora sojina)
- Podridão parda da haste (Cadophora gregata)
- Podridão por fitóftora (Phytophthora sojae)
Desenvolvimento de doenças seguindo o estágio fenológico da soja
(Fonte: Brasmax)
Como Garantir um Bom Período de Enchimento de Grãos?
Lembre-se sempre: a colheita é o reflexo direto das práticas de manejo que você adotou ao longo de todo o desenvolvimento da lavoura. Não existem milagres de última hora.
Para assegurar um excelente período de enchimento de grãos e buscar altas produtividades, siga estes pontos-chave:
- Adubação Baseada em Análise: Todas as recomendações de adubação devem partir de uma boa análise de solo. Assim você fornece exatamente o que a planta precisa, sem desperdício.
- Nutrição no Momento Certo: Conheça o ciclo da cultura para disponibilizar os nutrientes nas fases de maior demanda. A adubação de cobertura e as aplicações foliares devem ser sincronizadas com as necessidades da planta.
- Manejo Integrado Contínuo: O manejo de pragas e doenças deve ser feito durante todo o ciclo. Porém, na fase de enchimento de grãos, a atenção deve ser redobrada com os percevejos e as doenças de final de ciclo.
- Controle de Plantas Daninhas: Não se descuide da matocompetição. As plantas daninhas roubam água, luz, nutrientes e espaço, recursos preciosos que deveriam ir para o enchimento dos seus grãos.
Conclusão
O estádio de enchimento de grãos (R5) é o sprint final da soja, onde ela acumula rapidamente matéria seca e nutrientes para definir sua produtividade. Nutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio, boro, cálcio e magnésio são essenciais para o sucesso dessa fase.
Fique atento aos percevejos, pois eles são os insetos com maior potencial de dano econômico neste período.
Monitore de perto o aparecimento de doenças como antracnose, ferrugem asiática, e as doenças de final de ciclo (DFCs), pois elas podem impactar severamente a qualidade e o peso dos grãos.
Por fim, não se esqueça que um manejo bem-feito de pragas, doenças e plantas daninhas ao longo de todo o ciclo é o que garante uma lavoura saudável e pronta para atingir altas produtividades.
Glossário
Chochamento de grãos: Falha no desenvolvimento completo dos grãos, que se tornam vazios, pequenos ou malformados. É frequentemente causado por estresse hídrico ou nutricional durante a fase de enchimento, impactando diretamente o peso final da colheita.
Doenças de Final de Ciclo (DFC): Conjunto de doenças, principalmente fúngicas, que se manifestam com mais intensidade na fase final de desenvolvimento da soja (enchimento de grãos e maturação). Elas reduzem a área foliar fotossintetizante, prejudicando o peso e a qualidade dos grãos.
Enchimento de grãos (R5): Estádio fenológico reprodutivo da soja em que a planta mobiliza energia e nutrientes para preencher as vagens e formar os grãos. É um período crítico que define grande parte do potencial produtivo da lavoura.
Estádios Fenológicos: Fases sequenciais e observáveis do desenvolvimento de uma planta, desde a germinação até a colheita. Na soja, são divididos em Vegetativos (V), focados no crescimento da planta, e Reprodutivos (R), focados na produção de grãos.
Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN): Processo realizado por bactérias do gênero Bradyrhizobium que vivem em simbiose com as raízes da soja. Elas capturam o nitrogênio da atmosfera e o transformam em uma forma que a planta pode absorver, sendo a principal fonte desse nutriente para a cultura.
Índice de Área Foliar (IAF): Medida que relaciona a área total de folhas de uma lavoura com a área de solo que ela ocupa (m² de folha por m² de solo). O IAF atinge seu pico durante o enchimento de grãos, indicando a capacidade máxima da planta de realizar fotossíntese.
Nó: Ponto no caule principal da soja de onde se origina uma folha. A contagem de nós com folhas completamente desenvolvidas é o método utilizado para classificar os estágios da fase vegetativa da cultura (ex: V3, V4).
Retenção foliar: Anomalia fisiológica, também conhecida como “soja louca”, em que a planta não completa seu ciclo de maturação, permanecendo com caules e folhas verdes na época da colheita. O ataque severo de percevejos é uma de suas principais causas.
Como o Aegro ajuda a proteger sua produtividade no enchimento de grãos
Monitorar pragas, doenças e a nutrição da lavoura durante a fase de enchimento de grãos é uma tarefa complexa que exige precisão. Perder o timing de uma aplicação contra percevejos ou não registrar corretamente os custos de cada operação pode comprometer a rentabilidade da safra. Gerenciar tudo isso em planilhas ou cadernos aumenta o risco de erros e dificulta uma análise clara do desempenho.
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Perguntas Frequentes
Qual é o sinal prático que marca o início da fase de enchimento de grãos (R5) na soja?
O início do estádio R5 é identificado quando se encontra uma vagem em um dos quatro nós superiores do caule principal contendo um grão com pelo menos 3 mm de comprimento. Este é um marco crucial, pois sinaliza que a planta está entrando no pico de demanda por água e nutrientes, sendo o momento ideal para intensificar o monitoramento de pragas e doenças.
Por que os percevejos são tão prejudiciais especificamente durante o enchimento de grãos?
Os percevejos causam danos diretos e severos nesta fase porque se alimentam dos grãos em formação. Ao perfurarem as vagens, eles injetam toxinas e sugam nutrientes, o que resulta em grãos chochos (vazios), enrugados e de baixo peso. Além disso, podem causar o abortamento de vagens e induzir a retenção foliar (‘soja louca’), comprometendo drasticamente a produtividade e a qualidade da colheita.
Ainda é possível corrigir deficiências nutricionais com fertilizantes na fase R5?
Correções de macronutrientes como Fósforo e Potássio via solo são pouco eficientes na fase R5, pois a maior parte da absorção já deveria ter ocorrido. No entanto, aplicações foliares de certos nutrientes, como Potássio, Boro ou Magnésio, podem ter um efeito corretivo pontual para suprir a alta demanda do enchimento de grãos. O ideal é garantir a nutrição adequada desde o início do ciclo, com base na análise de solo.
Além da falta de água, o que mais pode causar o ‘chochamento’ ou má formação dos grãos de soja?
O chochamento dos grãos não é causado apenas pelo estresse hídrico. Outros fatores importantes incluem o ataque severo de pragas sugadoras como os percevejos, deficiências nutricionais de nutrientes essenciais como Boro e Cálcio, e a ocorrência de doenças de final de ciclo (DFCs) ou da ferrugem asiática, que reduzem a capacidade fotossintética da planta e a energia disponível para encher os grãos.
Qual a principal diferença no manejo das Doenças de Final de Ciclo (DFCs) em comparação com a ferrugem asiática?
A principal diferença está na agressividade e na estratégia de controle. A ferrugem asiática tem um ciclo muito rápido e destrutivo, exigindo um manejo estritamente preventivo com fungicidas específicos assim que as condições se tornam favoráveis. Já as DFCs, embora também reduzam a produtividade, têm um desenvolvimento mais lento, e seu controle, embora importante, costuma ser feito com aplicações de fungicidas de amplo espectro na fase reprodutiva.
Como a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) atua durante o enchimento de grãos?
Durante o enchimento de grãos, a FBN atinge sua atividade máxima. As bactérias nos nódulos das raízes trabalham intensamente para capturar o nitrogênio do ar e fornecê-lo à planta. Este nitrogênio é fundamental para a formação de proteínas nos grãos, que respondem por grande parte do seu peso e qualidade nutricional. Uma FBN deficiente nesta fase resulta em grãos com menor teor de proteína e menor peso.
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