Com certeza você já ouviu alguém falar “esse ano é de La Niña” ou que “estamos em ano de El Niño”, não é mesmo? Esses comentários são comuns no campo, e com razão.
O La Niña é um evento climático que envolve o resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Embora aconteça longe, essas pequenas mudanças de temperatura têm efeitos mundiais, alterando o regime de chuvas e as temperaturas em diversas regiões do Brasil.
Saber o que esperar desses fenômenos é fundamental para quem produz.
Você sabe quais são as expectativas climáticas para a safra 2021/2022? Entende como pode se preparar para proteger sua produção? Continue lendo para descobrir.
Entenda o Fenômeno Enos: A Origem de La Niña e El Niño
Para compreender o La Niña, primeiro precisamos falar sobre um fenômeno maior. Tanto o La Niña quanto o El Niño são duas faces da mesma moeda, um evento atmosférico-oceânico chamado Enos.
Enos (El Niño Oscilação Sul): é o nome técnico para o ciclo de aquecimento e resfriamento anormal das águas do Oceano Pacífico, na altura da linha do Equador.
A interação entre o oceano e a atmosfera nessa região segue um padrão conhecido. Quando as variações de temperatura da água estão dentro do esperado, dizemos que estamos em um “ano neutro”.
No entanto, quando as águas dessas áreas monitoradas ficam mais quentes que o normal, temos o El Niño. E quando ficam mais frias, temos o fenômeno La Niña.
As regiões destacadas no mapa abaixo são as mais importantes e permanecem sob constante monitoramento para identificar esses fenômenos e prever seus impactos.
O Que é o La Niña e Como Ele Acontece?
O La Niña é caracterizado pelo resfriamento anormal das águas na superfície do Oceano Pacífico Equatorial.
O processo se inicia com a intensificação dos ventos alísios.
- Ventos Alísios: são ventos que sopram de forma constante na região equatorial, no sentido leste para oeste (da América do Sul em direção à Ásia e Austrália).
Com esses ventos mais fortes, uma quantidade maior de água quente da superfície do oceano é “empurrada” e se acumula no Pacífico Oeste, perto da Oceania.
Relações oceano-atmosféricas de Walker normais (acima) e sob a influência do La Niña (abaixo).
(Fonte: UFBA Conquista)
Esse acúmulo de água quente do outro lado do oceano provoca chuvas abundantes por lá, devido à maior evaporação. Enquanto isso, na costa da América do Sul, acontece o contrário.
A saída da água quente da superfície permite a subida de águas mais frias do fundo do oceano, um fenômeno chamado ressurgência.
- Ressurgência: é a subida de águas frias e ricas em nutrientes do fundo do oceano para a superfície.
Essa grande área de água fria na costa sul-americana altera os padrões de evaporação, mudando o regime de chuvas e a temperatura média de diversas regiões do continente, incluindo o Brasil.
Alterações Climáticas e Efeitos do La Niña na Agricultura Brasileira
Os impactos do La Niña variam bastante dependendo da região do Brasil e da época do ano. Veja os principais riscos e efeitos esperados:
(Fonte: Canal Rural)
Durante o verão (dezembro, janeiro e fevereiro), os efeitos mais comuns são:
- Chuvas acima da média no Nordeste brasileiro.
- Condições de frio mais acentuado na Região Sul.
- O clima na Região Central do Brasil tende a ficar bastante instável e de difícil previsibilidade, com chuvas irregulares.
Durante o inverno (junho, julho e agosto), os padrões mudam:
- Toda a costa Oeste da América do Sul sente temperaturas mais baixas.
- A Região Sul do Brasil tende a ter um inverno bastante seco, com pouca chuva.
Efeitos globais do La Niña
(Fonte: Enos – Cptec)
Previsão do La Niña para a Safra 2021/2022
Oficialmente, um evento La Niña é declarado quando as alterações na temperatura das águas do Oceano Pacífico se mantêm abaixo de -0,5 °C por cinco trimestres consecutivos.
A intensidade é medida pelo ONI (Oceanic Niño Index), o principal indicador monitorado pelos centros de meteorologia.
Na safra passada, 2020/2021, o Brasil enfrentou um La Niña de intensidade moderada. Os valores do ONI variaram entre -0,5
e -1,5
, como mostra a tabela.
Variações do ONI (Oceanic Niño Index) nos anos de 2020 e 2021 (até setembro)
(Fonte: Noaa)
Para a safra 2021/2022, o resfriamento das águas continuou sendo um fator de influência. Entre julho e setembro de 2021, a temperatura da superfície do mar esteve em -0,5 °C
.
Portanto, é fundamental se preparar para os efeitos do fenômeno e acompanhar de perto as atualizações sobre a situação climática da sua região.
Como Preparar a Lavoura para os Efeitos do La Niña
1. Saiba o que Esperar do Clima na sua Região
O primeiro e mais importante passo é conhecer as particularidades da sua região. Para isso, utilize ferramentas como o Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático).
O Zarc é um programa do governo que ajuda a reduzir os riscos climáticos na produção. Ele fornece informações valiosas, como:
- Datas e períodos ideais para a semeadura de cada cultura em cada município.
- Análises que consideram o clima local, o tipo de solo e o ciclo das cultivares.
Seguir as recomendações do Zarc ajuda a evitar que as fases mais críticas da cultura, como a floração e o enchimento de grãos, coincidam com períodos de adversidade climática (como secas ou geadas), minimizando as perdas. É uma ferramenta essencial para a gestão agrícola e para a tomada de decisões.
2. Planeje-se e Proteja a sua Lavoura
Com base nas previsões climáticas, alguns ajustes no planejamento agrícola podem fazer toda a diferença. Considere as seguintes estratégias:
- Avalie a compra de defensivos: O clima mais seco, comum em anos de La Niña em certas regiões, desfavorece o surgimento de algumas doenças fúngicas. Analise a real necessidade antes de antecipar a compra de fungicidas.
- Invista em sementes estratégicas: Dê preferência a cultivares mais resistentes ou tolerantes à seca, caso essa seja a previsão para a sua área.
- Prepare-se para o plantio: Adquira os insumos com antecedência e garanta que o maquinário esteja revisado e pronto para a semeadura. O objetivo é aproveitar ao máximo as janelas de umidade para o plantio.
- Aumente a janela de plantio: Se possível, flexibilize seu cronograma para ter mais tempo para encontrar a condição ideal de umidade no solo.
- Analise o histórico da fazenda: Estude os dados da safra passada para entender quais insetos, plantas daninhas e doenças foram mais problemáticos. Use essas informações para se prevenir e manter o manejo integrado de doenças e pragas sempre atualizado.
Conclusão
O fenômeno La Niña pode afetar significativamente as diferentes regiões produtoras do Brasil, trazendo tanto riscos quanto oportunidades.
Para a safra 2021/2022, embora a confirmação oficial dependa do monitoramento contínuo, a tendência de resfriamento das águas do Pacífico indicava uma alta probabilidade de sua ocorrência.
Nesse cenário, o mais importante é ficar atento às notícias e previsões meteorológicas específicas para a sua região. Um bom monitoramento climático é o que vai definir o momento certo para realizar os principais manejos e tratos culturais na lavoura, garantindo a melhor produtividade possível.
Glossário
El Niño: Fenômeno climático oposto ao La Niña, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Geralmente, causa alterações inversas, como excesso de chuvas no Sul e secas no Nordeste do Brasil.
Enos (El Niño Oscilação Sul): Nome técnico do ciclo completo de aquecimento (El Niño) e resfriamento (La Niña) das águas superficiais do Oceano Pacífico. É um dos principais fenômenos que influenciam os padrões de clima em escala global.
La Niña: Fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento anormal e persistente das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Esse evento altera os padrões de chuva e temperatura em diversas partes do mundo, tendendo a causar secas no Sul do Brasil.
ONI (Oceanic Niño Index): Principal índice utilizado para monitorar e classificar a intensidade dos eventos El Niño e La Niña. Mede a anomalia de temperatura da superfície do mar; valores abaixo de -0,5 °C por um período prolongado caracterizam um evento La Niña.
Ressurgência: Processo no qual as águas mais frias e ricas em nutrientes do fundo do oceano sobem para a superfície. Durante o La Niña, a intensificação dos ventos alísios promove a ressurgência na costa da América do Sul, contribuindo para o resfriamento do oceano.
Ventos Alísios: Ventos constantes que sopram na região equatorial no sentido leste para oeste (da América do Sul em direção à Ásia). A intensificação desses ventos é o gatilho para o desenvolvimento do fenômeno La Niña.
Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático): Ferramenta governamental que indica as datas de plantio ideais e os riscos climáticos para diferentes culturas em cada município do Brasil. Ajuda o produtor a posicionar as fases mais sensíveis da lavoura em períodos de menor risco de seca ou geada.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Lidar com a instabilidade climática causada pelo La Niña exige um planejamento agrícola preciso e a capacidade de tomar decisões rápidas. Ferramentas de gestão como o Aegro são essenciais para transformar as previsões meteorológicas em um plano de ação concreto, permitindo o acompanhamento das atividades em tempo real, seja no escritório ou direto do campo pelo celular. Ao centralizar o planejamento e o registro das operações, fica mais fácil ajustar o cronograma de plantio e pulverizações para minimizar os riscos e proteger a produtividade da lavoura.
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Perguntas Frequentes
Qual é a principal diferença entre os fenômenos La Niña e El Niño?
A principal diferença está na temperatura das águas do Oceano Pacífico Equatorial. O La Niña é caracterizado pelo resfriamento anormal dessas águas, geralmente causando secas no Sul e chuvas acima da média no Nordeste do Brasil. Já o El Niño é o oposto, ocorrendo quando há um aquecimento anormal das águas, o que tende a provocar excesso de chuvas no Sul e secas severas no Nordeste.
Como o La Niña afeta as principais regiões agrícolas do Brasil?
Os efeitos variam muito. Na Região Sul, o La Niña costuma causar estiagem e temperaturas mais baixas, com risco de geadas. No Nordeste, o fenômeno geralmente aumenta o volume de chuvas, o que pode ser benéfico. Já na Região Central, o clima tende a ficar mais instável e com chuvas irregulares, dificultando o planejamento do plantio.
Além da alteração nas chuvas, quais outros riscos o La Niña pode trazer para a lavoura?
Além da irregularidade das chuvas, que é o principal risco, o La Niña pode trazer frentes frias mais intensas para a Região Sul, aumentando o risco de geadas tardias que prejudicam culturas sensíveis. A instabilidade climática no Centro-Oeste também pode encurtar as janelas de plantio ideais e afetar fases críticas como a floração e o enchimento de grãos.
Qual a primeira medida prática que um produtor deve tomar ao saber da previsão de La Niña?
A primeira medida é consultar ferramentas de gestão de risco como o Zarc (Zoneamento Agrícola de Risco Climático). Ele indica as melhores datas para o plantio de cada cultura em seu município, considerando o histórico climático e as previsões. Com base nisso, o produtor pode ajustar seu planejamento, escolher cultivares mais tolerantes à seca e preparar o maquinário para aproveitar as janelas de umidade.
Todo evento de La Niña tem a mesma intensidade e causa os mesmos efeitos?
Não. A intensidade do La Niña varia a cada ocorrência, podendo ser classificada como fraca, moderada ou forte, conforme medido pelo Índice ONI. Um evento fraco pode ter impactos quase imperceptíveis, enquanto um evento forte pode causar secas ou chuvas extremas. Por isso, é fundamental acompanhar as atualizações meteorológicas para entender a magnitude do fenômeno e seus efeitos esperados para a sua região específica.
Como é confirmado oficialmente que estamos em um ano de La Niña?
A confirmação oficial ocorre quando a temperatura da superfície do Oceano Pacífico Equatorial se mantém 0,5°C abaixo da média por um período prolongado, geralmente por cinco trimestres consecutivos. Esse monitoramento é feito por centros de meteorologia globais através do ONI (Oceanic Niño Index), o principal indicador para declarar o início e a intensidade do fenômeno.
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