Drones na Pulverização do Cafeeiro: Guia Completo de Vantagens e Desafios

Jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e Ciência de Dados
Drones na Pulverização do Cafeeiro: Guia Completo de Vantagens e Desafios

Você já viu um drone sobrevoando um cafezal e se perguntou como essa tecnologia funciona na prática? Esses equipamentos estão mudando a forma como o manejo da lavoura é feito, realizando de maneira autônoma um trabalho que, muitas vezes, só era possível manualmente.

A pulverização com drones já mostra resultados promissores no controle de doenças importantes do café, como a ferrugem e a cercosporiose. E embora a regulamentação para a aplicação de insumos agrícolas via drone ainda precise de validação oficial completa, os benefícios já observados no campo são enormes.

Neste guia, vamos detalhar como os drones estão sendo usados na pulverização do cafeeiro, quais são as vantagens reais, os desafios e o que as pesquisas mais recentes dizem sobre o assunto.

O Cenário Atual dos Drones na Cafeicultura

O uso de drones para pulverização agrícola no Brasil é uma realidade recente, mas que está crescendo rapidamente, especialmente na produção de café. O mercado global de drones agrícolas deve movimentar cerca de US$ 4,8 bilhões até 2024, mostrando a força dessa tendência.

No Brasil, já temos quase 70 mil proprietários de drones registrados na ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), com uma parte significativa dedicada a serviços no agronegócio. É fundamental lembrar que o uso de drones na agricultura exige o cumprimento de regras rigorosas, então é sempre importante estar atualizado sobre a legislação.

Principais Usos e Regulamentação

Os drones agrícolas, também conhecidos como RPA (aeronaves remotamente pilotadas), são utilizados para aplicar uma variedade de produtos, como defensivos agrícolas, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e até sementes.

Os modelos mais comuns para esses serviços se enquadram em duas categorias:

  • Classe 3: Drones com peso de decolagem de até 25 kg.
  • Classe 2: Drones maiores, com peso máximo de decolagem entre 25 kg e 150 kg.

Atualmente, o Ministério da Agricultura está desenvolvendo uma legislação específica para regulamentar a aplicação com drones, definindo padrões técnicos de operação e segurança. Enquanto isso não acontece, as operações devem seguir as regras gerais da ANAC para operação com drones.

drone agrícola de pulverização de grande porte, apresentado em um fundo branco e neutro que destaca seu des Drone de pulverização agrícola da linha Agra T20 (Foto: DJI)

As Vantagens da Pulverização com Drones no Cafeeiro

Além da pulverização, os drones são ferramentas valiosas para outras atividades, como mapeamento aéreo, monitoramento da produção, análise de índice vegetativo e sensoriamento remoto.

No entanto, é na pulverização que os experimentos têm chamado mais atenção, principalmente em regiões cafeeiras com topografia irregular, como o sul de Minas Gerais. Nessas áreas de morros e difícil acesso, os drones se tornam uma solução estratégica. Alguns experimentos já apontam uma redução de até 80% nos gastos com insumos.

Confira as principais vantagens da pulverização com drones:

  • Aplicação Precisa: O voo baixo, entre 3 e 5 metros de altura, garante que o produto chegue ao alvo.
  • Economia de Insumos: Permite o uso de caldas mais concentradas, gerando grande economia de água e produtos químicos.
  • Maior Eficiência: Os bicos de pulverização localizados abaixo das hélices empurram as gotas para baixo, melhorando a penetração nas folhas.
  • Redução da Deriva: A aplicação é mais controlada, reduzindo a deriva de defensivos e permitindo operações com ventos de até 30 km/h.
  • Custo-Benefício: O custo operacional varia de R$ 40 a R$ 150 por hectare, um valor competitivo pela eficiência entregue.
  • Agilidade: A operação é de 20 a 100 vezes mais rápida que o trabalho manual, otimizando o tempo e a mão de obra.
  • Acesso a Áreas Difíceis: Opera com facilidade em morros, ribanceiras e locais onde tratores e pulverizadores costais não chegam.

drone agrícola de grande porte em pleno voo, realizando a pulverização sobre uma área de vegetação densa. O Operação com drone pulverizador do tipo pelicano (Foto: Daniel Bandeira Estima/Skydrones)

Um experimento recente da Embrapa em parceria com a empresa AP Agrícola em uma área de café em Minas Gerais confirmou a eficiência dos drones em locais de difícil acesso. A qualidade da aplicação e a cobertura das gotas foram consideradas excepcionais. A Embrapa também avaliou que é possível usar uma calda concentrada que reduz em cinco vezes a quantidade de produto que se perde e não atinge o alvo. O uso para adubação foliar também está sendo testado.

Na Prática: Como Drones Combatem Doenças como Ferrugem e Cercosporiose

Em Muzambinho, no sul de Minas Gerais, o cafeicultor Marcelo Salomão já utiliza a pulverização com drones há dois anos para controlar doenças do cafeeiro, principalmente a ferrugem e a cercosporiose. Ele aplica 15 litros de calda por hectare, com um custo de R$ 150 por hectare.

“As aplicações são feitas em duas áreas, uma de 5 hectares e outra de 11 hectares”, explica Salomão. Para ele, a principal vantagem é a enorme economia de tempo.

“Com drone, fazemos a aplicação de 11 hectares em 2 horas e meia. Se fosse manual, seria um dia para cada hectare. Além disso, economiza muito mais água”, afirmou.

O cafeicultor ainda destaca outros benefícios importantes:

  • Segurança: O operador não tem contato direto com os agrotóxicos.
  • Economia de Recursos: Reduz o gasto com água e com o combustível usado para transportar a água até a lavoura.

Infográfico técnico dividido em duas partes que ilustra a tecnologia de pulverização de um drone agrícola. Na parte superior, Esquema de operação do drone (Foto: Agras)

Ajuste Fino: Parâmetros Técnicos para Máxima Eficiência

O trabalho nas lavouras de Marcelo Salomão é realizado por Davi Elias, operador de drones da Drones Solutions Brasil. Além de prestar serviços, Elias colabora com pesquisas da Fundação Procafé, utilizando drones da linha Agras.

As pesquisas e a experiência prática já trouxeram alguns parâmetros importantes para garantir a eficiência da aplicação:

  • Volume de Calda Ideal: Para a maioria dos produtos, a recomendação é aplicar 24 litros por hectare (24 L/ha).
  • Altura de Voo Correta: O drone deve voar a uma altura de 3 a 4 metros acima da copa do cafeeiro.
  • Condições de Vento: A aplicação deve ser feita com ventos de no máximo 30 km/h.

Marcelo Jordão, pesquisador da Fundação Procafé, adianta que resultados mais concretos e detalhados sobre esses estudos devem ser divulgados em breve, o que ajudará a refinar ainda mais o uso da tecnologia.

Desafios e Limitações: O Que Ainda Precisa ser Observado

Apesar das vantagens, é preciso entender que o drone não é uma solução para todos os problemas. O agrônomo e pesquisador José Braz Matiello alerta que o cafeeiro tem características específicas que representam um desafio.

Uma delas é a grande área foliar da planta. “Se formos observar, há muitos cafezais com 5 mil plantas por hectare, e cada planta pode chegar a 20 m² de área foliar”, explica Matiello. Cobrir toda essa superfície de maneira uniforme é um dos principais desafios.

Isso se torna crítico no combate a pragas como a broca-do-café. Como o inseto fica “escondido” nos frutos, uma pulverização que não penetra densamente na planta pode não ser eficaz.

“No controle do bicho-mineiro, por exemplo, creio que o drone terá eficiência, pois ele entra pela copa da árvore, então a pulverização já vai em cima”, comenta o pesquisador.

Isso mostra que a eficácia do drone depende muito do alvo (doença ou praga) e de seu comportamento na planta.

drone agrícola de grande porte em pleno voo, pairando sobre uma extensa plantação de café. A lavoura, com s Drone em operação no cafeeiro (Foto: Drosol)

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Conclusão: Drone no Cafeeiro Vale a Pena?

A pulverização com drones na produção de café já se mostra uma ferramenta valiosa, especialmente para o controle de doenças como a ferrugem e a cercosporiose.

Como vimos, os principais benefícios são a economia de custos, a agilidade na operação e uma aplicação mais eficiente e segura.

No entanto, é crucial lembrar que esta é uma tecnologia que ainda está em processo de validação para diferentes alvos no cafezal.

  • Pontos Positivos: Excelente para doenças de topo de planta e para operar em áreas de difícil acesso, com grande economia de tempo e recursos.
  • Pontos de Atenção: A eficácia contra pragas que se abrigam no interior da planta, como a broca-do-café, ainda é um desafio. O uso para manejo nutricional também está em fase de testes.

A melhor abordagem é observar as experiências de outros produtores, conversar com prestadores de serviço e, se possível, realizar testes em uma área menor para avaliar se os drones são a solução certa para os desafios do seu cafezal.


Glossário

  • Área Foliar: Refere-se à superfície total das folhas de uma planta ou de uma cultura por unidade de área de solo. No cafeeiro, uma grande área foliar representa um desafio para a pulverização, pois dificulta que o produto atinja todas as partes da planta de forma uniforme.

  • Cercosporiose: Doença fúngica comum no cafeeiro, que causa manchas circulares escuras nas folhas e pode levar à desfolha precoce da planta. A pulverização com drones é uma das estratégias para aplicar fungicidas e controlar sua disseminação.

  • Deriva de Defensivos: O deslocamento indesejado do produto pulverizado para fora da área-alvo, causado por fatores como o vento. Drones minimizam a deriva ao voar baixo (3-5 metros) e usar o fluxo de ar das hélices para empurrar as gotas para baixo, sobre a lavoura.

  • Índice Vegetativo: Um indicador calculado a partir de imagens de sensores (como os de drones) que mede a saúde e a densidade da vegetação. É usado para identificar rapidamente áreas da lavoura que podem estar sofrendo com estresse hídrico, pragas ou deficiências nutricionais.

  • L/ha (Litros por Hectare): Unidade de medida que define o volume de calda (mistura de água e defensivo) aplicado em uma área de um hectare (10.000 m²). Drones frequentemente trabalham com volumes baixos, como 24 L/ha, por usarem caldas mais concentradas.

  • RPA (Aeronave Remotamente Pilotada): Termo técnico oficial para drones utilizados em atividades profissionais, como na agricultura. Diferencia-se dos aeromodelos de uso recreativo e exige regulamentação específica para sua operação.

  • Sensoriamento Remoto: Técnica de obter informações sobre a lavoura sem contato físico direto, usando sensores embarcados em drones ou satélites. Permite monitorar a saúde das plantas, a umidade do solo e outros fatores importantes para o manejo agrícola.

Integre a tecnologia dos drones à gestão da sua fazenda

A tecnologia de pulverização com drones otimiza o tempo e reduz o uso de insumos, mas o verdadeiro ganho de eficiência acontece quando essas operações são integradas à gestão da fazenda. Afinal, como comprovar o retorno sobre o investimento e planejar as próximas aplicações sem um registro detalhado?

É aqui que um software de gestão agrícola se torna um aliado estratégico. Ferramentas como o Aegro permitem registrar cada aplicação feita com o drone, associando os custos de defensivos e serviços diretamente ao talhão.

Isso não só cria um histórico completo do manejo de pragas e doenças, mas também gera relatórios precisos sobre o custo de produção, ajudando a tomar decisões mais seguras e lucrativas. Quer transformar os dados do campo em resultados para o seu negócio?

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Perguntas Frequentes

Qual o custo médio para pulverizar um hectare de café com drone?

O custo operacional da pulverização com drones em cafezais varia entre R$ 40 e R$ 150 por hectare. Esse valor é competitivo pois, além da aplicação em si, gera economia significativa de água e insumos, além de otimizar o tempo e a mão de obra, especialmente em áreas de difícil acesso.

A pulverização com drone é eficaz contra todas as pragas e doenças do cafeeiro?

A tecnologia tem se mostrado muito eficaz para doenças como a ferrugem e a cercosporiose, que afetam a parte superior e externa da planta. No entanto, o controle de pragas que se abrigam no interior da planta, como a broca-do-café, ainda é um desafio, pois a pulverização precisa de uma penetração muito densa na folhagem, o que nem sempre é garantido.

Quais as principais vantagens de usar drones em lavouras de café com topografia irregular?

Em áreas de morros e terrenos acidentados, onde tratores e pulverizadores costais têm dificuldade de acesso, os drones são uma solução estratégica. Eles garantem uma aplicação uniforme em toda a lavoura, evitam falhas no tratamento, reduzem os riscos de acidentes com operadores e otimizam o tempo de aplicação de forma incomparável.

É preciso ter alguma licença ou registro para operar um drone de pulverização?

Sim. É obrigatório que o drone (RPA - Aeronave Remotamente Pilotada) seja registrado na ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). Além disso, o Ministério da Agricultura está desenvolvendo uma legislação específica para a aplicação de insumos com drones, então é fundamental que o produtor ou prestador de serviço esteja sempre atualizado sobre as normas vigentes para operar de forma legal e segura.

Quantos litros de calda um drone utiliza por hectare e por que esse volume é menor?

Geralmente, o volume de calda ideal fica em torno de 24 litros por hectare (L/ha). Esse volume é drasticamente menor que o de métodos tradicionais porque os drones utilizam uma calda mais concentrada e a aplicação é extremamente precisa. O fluxo de ar das hélices também ajuda a empurrar as gotas para baixo, melhorando a cobertura foliar e reduzindo o desperdício de produto.

Além de pulverizar defensivos, para que mais servem os drones na cafeicultura?

Além da pulverização de defensivos e fertilizantes foliares, os drones são ferramentas valiosas para o mapeamento aéreo da lavoura, monitoramento da saúde das plantas através de índices de vegetação (NDVI), identificação de falhas no plantio e análise de estresse hídrico. Essas informações permitem um manejo muito mais preciso e uma tomada de decisão baseada em dados.

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