Dormência de Sementes: O que É e Como Superar na Lavoura

Redatora parceira Aegro.
Dormência de Sementes: O que É e Como Superar na Lavoura

Você já preparou o solo, comprou sementes de qualidade e esperou pela germinação, mas o resultado foi uma lavoura rala e desuniforme? A causa pode não ser a semente ou o manejo, mas um mecanismo natural de proteção chamado dormência.

Em muitas espécies vegetais, as sementes são o principal meio de propagação. Para que possam germinar, emergir e se transformar em uma planta produtiva, elas dependem de estímulos específicos do ambiente, como água e temperatura.

No entanto, algumas sementes possuem bloqueios internos ou externos que as impedem de germinar, mesmo quando as condições parecem ideais. Entender o que é a dormência e como superá-la é fundamental para garantir um estande uniforme e maximizar o potencial produtivo da sua lavoura.

Continue lendo para descobrir como a dormência funciona e o que você pode fazer para manejá-la de forma eficaz.

O que é exatamente a dormência em sementes?

Após atingirem a maturidade, a maioria das sementes inicia o processo de germinação assim que encontra condições favoráveis de água, temperatura, oxigênio e luz.

Contudo, sementes de certas espécies não germinam mesmo com tudo a seu favor. Esse fenômeno é comum em:

  • Alguns cereais (como aveia e cevada);
  • Frutíferas;
  • Espécies arbóreas;
  • Hortaliças;
  • Forrageiras;
  • Plantas ornamentais, entre outras.

Isso acontece porque essas sementes desenvolvem mecanismos de resistência, seja durante sua formação na planta-mãe ou depois, como resposta a condições ambientais. A dormência funciona como um “freio de segurança” biológico.

Quais são os tipos de dormência?

A dormência pode ser classificada em dois tipos principais, dependendo de quando ela se manifesta:

  • Dormência Primária: Ocorre quando os mecanismos que bloqueiam a germinação são adquiridos durante o processo de maturação das sementes, ainda na planta-mãe.
  • Dormência Secundária: Acontece quando a dormência é induzida após a dispersão das sementes, geralmente como uma resposta a condições ambientais desfavoráveis, como seca prolongada ou frio intenso.

Sementes que entram em dormência após serem dispersas geralmente sobrevivem por mais tempo no solo. Elas ganham maior longevidade e resistência, esperando o momento certo para germinar.

infográfico educativo que explica o fenômeno da dormência em sementes de forma lúdica e visual. Dividida em dua A dormência aumenta a longevidade da semente no solo. (Fonte: Revistaneoo)

Pense na dormência como uma estratégia de proteção. A semente só irá “acordar” e germinar quando os bloqueios forem removidos (naturalmente ou por tratamento) e as condições ambientais forem perfeitas para o desenvolvimento daquela espécie.

O Impacto da Dormência na Produção Agrícola

A dormência tem dois lados: pode ser uma aliada ou um obstáculo para o produtor.

Vantagens:

  • Evita a germinação precoce: Impede que a semente germine enquanto ainda está ligada à planta-mãe, o que seria desastroso.
  • Conservação prolongada: Permite que as sementes sejam armazenadas por longos períodos, sendo fundamental para bancos de sementes e para a indústria.

Desvantagens:

  • Atraso na avaliação de lotes: A superação natural da dormência pode levar meses ou até anos, o que dificulta a avaliação da qualidade das sementes recém-colhidas em testes de germinação.
  • Perpetuação de plantas daninhas: Muitas plantas daninhas usam a dormência para sobreviver no solo por várias safras, dificultando seu controle.
  • Germinação desuniforme: Sementes dormentes no campo germinam de forma lenta e irregular. Isso resulta em um estande falho, com plantas em diferentes estágios de desenvolvimento, o que compromete a produtividade e dificulta o manejo. Por isso, o tratamento para quebra de dormência é essencial em muitas culturas.

teste de germinação de sementes realizado em um ambiente controlado, provavelmente um laboratório. Várias s A dormência pode causar uma germinação desuniforme, como visto neste teste com Brachiaria. (Fonte: Conceito Agronômico)

Como a Dormência Acontece: Causas Internas e Externas

A dormência, seja ela primária ou secundária, é causada por fatores endógenos (internos) e exógenos (externos) à semente.

Causas Endógenas (Internas)

As causas endógenas estão relacionadas ao embrião da semente, que é a parte que dará origem à nova planta. Elas se dividem em três tipos:

Fisiológica

Acontece por um desequilíbrio hormonal dentro da semente. Pode haver um excesso de substâncias que inibem a germinação ou a falta de substâncias que a promovem. Também pode ser causada por tecidos que envolvem o embrião e restringem seu desenvolvimento.

Morfológica

Ocorre quando as sementes são liberadas da planta-mãe, mas o embrião ainda não está totalmente desenvolvido. A dormência é superada com o tempo, à medida que a semente passa por um período de pós-maturação para que o embrião fique pronto para germinar.

Morfofisiológica

É a combinação das duas causas anteriores: o embrião está imaturo e, ao mesmo tempo, existe um desequilíbrio hormonal que impede a germinação.

Causas Exógenas (Externas)

As causas exógenas estão ligadas a barreiras físicas ou químicas impostas pela casca da semente, que impedem o início da germinação (a protrusão da raiz primária).

Esses impedimentos são causados pelo pericarpo (parede do fruto que envolve a semente) e pelo tegumento (a “casca” protetora da semente). Elas se dividem em:

Dormência Química

Ocorre pela presença de inibidores químicos no pericarpo da semente, que bloqueiam a germinação. Essa causa é adquirida enquanto as sementes ainda estão ligadas à planta-mãe.

Dormência Física

Neste caso, o pericarpo ou o tegumento são impermeáveis e impedem a passagem de água e gases para o interior da semente. Sem água e oxigênio, o processo de germinação não pode começar.

Mecânica

Acontece quando a casca da semente (mesocarpo ou endocarpo) é tão rígida que impede fisicamente o crescimento e a expansão do embrião.

Principais Causas de Dormência por Cultura

Na prática, a dormência em uma semente pode ser resultado da combinação de várias dessas causas. Veja quais são as mais comuns em espécies de importância agrícola:

  • Impermeabilidade a trocas gasosas: A casca (tegumento) impede a entrada de oxigênio e a saída de gás carbônico. Sem oxigênio, a semente não respira para gerar energia para a germinação.

    • Afeta: alface, trigo, maçã, beterraba, abóbora, cevada e arroz.
  • Embrião imaturo: O embrião precisa de um tempo para amadurecer após a semente se desprender da planta-mãe.

    • Afeta: cenoura, aveia, castanha-do-brasil, gramíneas forrageiras, manga e pêssego.
  • Resistência mecânica da casca: Componentes como pericarpo, tegumento ou endosperma são tão duros que funcionam como uma barreira física, impedindo o embrião de crescer.

    • Afeta: pepino, pimenta, tabaco e tomate.
  • Impermeabilidade do tegumento à água: A casca não deixa a água entrar, o que impede a ativação do metabolismo da semente. É uma das causas mais comuns e as sementes são chamadas de “sementes duras”.

    • Afeta: quiabo, alfafa, leucena, mucuna-preta e soja perene.
  • Presença de substâncias inibidoras: Compostos como o ácido abscísico, presentes dentro ou fora da semente, bloqueiam a germinação. A semente só germina quando o equilíbrio hormonal favorece os promotores de crescimento.

O que Fazer para Superar a Dormência em Sementes?

Para garantir um bom estande e evitar falhas na lavoura, é preciso realizar tratamentos para a superação da dormência. Cada causa exige um método específico para remover o bloqueio da germinação.

Confira os principais tratamentos:

infográfico educacional que detalha seis processos distintos para superar a dormência em sementes, um estado fi Tratamentos para superar as diferentes causas de dormência. (Fonte: G1)

Armazenamento

Para sementes com embrião imaturo ou com alta concentração de inibidores, o armazenamento controlado é o método ideal. Após alguns meses guardadas, o embrião completa seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, a concentração de inibidores diminui, enquanto os hormônios que promovem a germinação, como as giberelinas, aumentam.

Escarificação Química

Utilizada em sementes com casca impermeável à água, gases ou com inibidores químicos. O tratamento com ácidos (como o ácido sulfúrico) corrói a superfície da semente, permitindo as trocas necessárias com o ambiente para iniciar a germinação.

comparação visual clara entre sementes que passaram pelo processo de escarificação e as que não passar Comparativo de sementes de Brachiaria antes e depois da escarificação química. (Fonte: Matsuda)

Uso de Água Quente

O calor pode ser muito eficiente para quebrar a dormência, especialmente aquela causada por inibidores químicos. Um choque térmico com água quente pode desativar esses compostos e amaciar a casca da semente.

Escarificação Mecânica

Ideal para sementes com casca dura e impermeável. Esse tratamento consiste em danificar fisicamente uma parte do tegumento (a casca) para permitir a entrada de água. Pode ser feito lixando, cortando ou perfurando a semente cuidadosamente para não danificar o embrião. Com a entrada de água, a semente ativa seu metabolismo e germina.

close-up de uma pessoa realizando a escarificação de uma semente de girassol. A mão segura a semente, que t A escarificação mecânica pode ser feita com uma lixa para facilitar a entrada de água. (Fonte: Horta em casa)

Para saber qual o tratamento mais indicado para cada espécie, consulte as Regras para Análise de Sementes (RAS), que detalham os procedimentos recomendados.

Conclusão

A dormência em sementes é um processo natural e complexo, fortemente influenciado pelas condições climáticas durante a fase de maturação na planta-mãe.

O bloqueio da germinação pode ser causado por um ou mais fatores combinados, que impedem a semente de se desenvolver adequadamente no campo. Embora seja um mecanismo de proteção, na agricultura moderna ela pode representar um grande desafio.

O melhoramento genético já eliminou essa característica de muitas espécies de grande importância econômica. No entanto, onde ela persiste, é fundamental conhecer suas causas para aplicar o tratamento correto.

Para garantir o sucesso da sua lavoura, o primeiro passo é identificar o tipo de dormência que suas sementes apresentam. A partir daí, você poderá escolher o método mais eficaz para “acordá-las”, assegurando um estande vigoroso e uniforme.


Glossário

  • Dormência: Estado em que uma semente viável não consegue germinar, mesmo em condições favoráveis de água, luz e temperatura. Funciona como um mecanismo biológico de proteção para garantir a sobrevivência da espécie.

  • Embrião: A parte interna da semente que dará origem à nova planta. A dormência pode ser causada por um embrião que ainda não amadureceu completamente (imaturidade) ou por desequilíbrios hormonais que o afetam.

  • Escarificação: Tratamento utilizado para superar a dormência física, que consiste em danificar ou desgastar a casca (tegumento) da semente. Pode ser feita de forma mecânica (lixando) ou química (usando ácidos) para permitir a entrada de água.

  • Estande: Termo técnico para a população de plantas germinadas e estabelecidas em uma área. Um “estande desuniforme” ou “ralo” significa que poucas sementes germinaram ou o fizeram em tempos diferentes, prejudicando a produtividade.

  • Forrageiras: Plantas, como gramíneas e leguminosas, cultivadas especificamente para a alimentação de rebanhos. Muitas espécies forrageiras, como as do gênero Brachiaria, possuem sementes com dormência acentuada.

  • RAS (Regras para Análise de Sementes): Documento oficial do Ministério da Agricultura que padroniza os métodos para testar a qualidade das sementes no Brasil. Ele especifica os tratamentos corretos para quebrar a dormência de cada espécie durante os testes de germinação.

  • Tegumento: A camada protetora externa da semente, também conhecida como casca. A dormência física ocorre quando o tegumento é muito duro ou impermeável, impedindo a entrada de água e oxigênio necessários para a germinação.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Lidar com as consequências da dormência, como a germinação desuniforme e a maior dificuldade no controle de plantas daninhas, exige um planejamento cuidadoso. Para medir o impacto real desses problemas na sua lucratividade, um software de gestão agrícola como o Aegro é um grande aliado. Ele permite registrar todas as atividades de manejo em cada talhão e, ao final da safra, analisar a produtividade e o custo por área. Dessa forma, você consegue ver claramente como um estande irregular afeta o resultado financeiro e pode tomar decisões mais assertivas para as próximas safras.

Que tal transformar os dados da sua lavoura em decisões mais lucrativas?

Comece a usar o Aegro gratuitamente e tenha o controle total da sua produtividade, do plantio à colheita.

Perguntas Frequentes

Qual a principal diferença entre dormência primária e secundária em sementes?

A dormência primária é um bloqueio que a semente já desenvolve durante sua maturação na planta-mãe. Já a dormência secundária é induzida após a dispersão da semente, como uma resposta a condições ambientais adversas, como seca ou frio intenso, servindo como um mecanismo de sobrevivência extra.

Como posso saber qual tratamento para quebra de dormência é o mais indicado para a minha cultura?

A escolha do tratamento depende da causa da dormência. A melhor fonte de informação são as Regras para Análise de Sementes (RAS) e as recomendações do fornecedor da semente. De forma geral, sementes com casca impermeável (dormência física) respondem bem à escarificação, enquanto aquelas com embrião imaturo precisam de um período de armazenamento.

Por que a dormência das sementes de plantas daninhas dificulta tanto o controle na lavoura?

A dormência permite que as sementes de plantas daninhas permaneçam viáveis no solo por vários anos, criando um “banco de sementes”. Elas germinam em fluxos irregulares ao longo das safras, escapando das janelas de aplicação de herbicidas e dificultando a erradicação, pois sempre haverá novas plantas emergindo.

Sementes compradas de fornecedores confiáveis, como as de forrageiras, já vêm tratadas contra a dormência?

Sim, em muitos casos. Sementes de forrageiras, que naturalmente possuem alta dormência, são frequentemente comercializadas após passarem por um processo de escarificação para garantir uma germinação mais rápida e uniforme. É fundamental verificar a especificação do lote e a taxa de germinação informada pelo fornecedor.

O que são as “sementes duras” mencionadas no artigo?

“Sementes duras” é um termo usado para descrever sementes que apresentam dormência física, causada por um tegumento (casca) impermeável à água. Mesmo em solo úmido, elas não conseguem absorver a água necessária para iniciar o processo de germinação, sendo um problema comum em leguminosas como alfafa e soja perene.

É possível quebrar a dormência de forma natural, sem precisar de tratamentos?

Sim, na natureza a dormência é superada gradualmente. A ação de microrganismos no solo, a variação de temperatura, a passagem pelo trato digestivo de animais e a abrasão natural podem desgastar a casca da semente. No entanto, para fins agrícolas, esse processo é muito lento e irregular, sendo necessário o uso de tratamentos para garantir um estande uniforme.

O melhoramento genético pode eliminar a dormência das sementes?

Sim, o melhoramento genético tem sido fundamental para eliminar ou reduzir drasticamente a dormência em muitas culturas de grande importância econômica, como soja, milho e trigo. O objetivo é selecionar plantas que produzam sementes com alta taxa de germinação e uniformidade, características essenciais para a agricultura moderna.

Artigos Relevantes

  • Saiba como ocorre a germinação das sementes e conheça 11 fatores que influenciam o processo: Este artigo é o complemento fundamental, pois detalha o processo de germinação que a dormência, tema principal, interrompe. Ele aprofunda a distinção entre dormência e quiescência e explica os fatores essenciais (água, temperatura) que o artigo principal pressupõe, preenchendo uma lacuna de conhecimento prévio para o leitor.
  • Tudo o que você precisa saber sobre qualidade de sementes: O artigo principal parte do pressuposto de se usar “sementes de qualidade”. Este candidato define precisamente esse conceito, detalhando os quatro atributos essenciais (genético, físico, sanitário e fisiológico). Ele oferece a base teórica para que o leitor entenda por que a dormência é apenas um dos muitos fatores que impactam o sucesso da lavoura.
  • Como fazer o armazenamento de sementes de soja e assegurar a germinação: Enquanto o artigo principal menciona o armazenamento como um método para superar a dormência, este artigo transforma essa sugestão em um guia prático e aprofundado. Ele detalha a importância crítica da temperatura e umidade para preservar não apenas a viabilidade, mas também o vigor das sementes, tornando-se uma expansão direta e acionável de uma das soluções propostas.
  • Tratamento de sementes: on farm ou industrial: Este artigo amplia a perspectiva do leitor para além da dormência, conectando o tema a outras práticas de preparo de sementes. Ele posiciona a superação da dormência dentro de um contexto mais amplo de proteção inicial da lavoura, que inclui o controle de pragas e doenças, oferecendo uma visão integrada do manejo para garantir um estande de alta performance.
  • Como o tratamento de plasma em sementes pode impulsionar a germinação: Este artigo serve como uma continuação avançada, apresentando uma solução tecnológica inovadora para o problema da dormência discutido no texto principal. Ele mostra ao leitor as fronteiras da tecnologia agrícola, complementando os métodos tradicionais (escarificação, armazenamento) com uma abordagem de ponta (plasma frio), o que agrega enorme valor e mostra uma visão de futuro.