Guia Completo: As 8 Principais Doenças do Trigo e Como Fazer o Manejo Correto

Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Fitopatologia.
Guia Completo: As 8 Principais Doenças do Trigo e Como Fazer o Manejo Correto

O trigo é uma das culturas de inverno mais importantes do Brasil. Para garantir uma lavoura produtiva e de alta qualidade, é essencial atender a todas as necessidades do grão. No entanto, diversas doenças podem surgir e colocar toda a sua produção em risco.

Saber identificar os primeiros sintomas e conhecer as estratégias de manejo mais eficientes para controlar cada problema é um passo fundamental para proteger seu investimento.

Por isso, preparamos este guia detalhado com as principais doenças do trigo e as melhores práticas para manejá-las corretamente em sua fazenda. Continue a leitura e saiba como proteger sua safra!

1. Giberela (Fusarium graminearum)

A giberela, causada pelo fungo Fusarium graminearum, é uma doença especialmente preocupante durante o período de floração do trigo. Sua ocorrência é mais comum em regiões de cultivo com temperaturas mais quentes.

O fungo infecta diretamente a flor da planta. Em ataques severos, a flor pode ser totalmente destruída, impedindo a formação do grão.

Se a infecção evoluir de forma mais lenta, o grão pode até se desenvolver, mas apresentará características anormais, como:

  • Coloração rósea, resultado do desenvolvimento do fungo (formação de macroconídeos).
  • Aspecto enrugado e chocho.

close-up detalhado de uma espiga de trigo afetada por uma doença, provavelmente a Giberela (Fusarium gramin (Fonte: Paulo Kurtz em Embrapa)

Um sintoma muito característico e de fácil reconhecimento no campo são as aristas arrepiadas em espiguetas que ficam esbranquiçadas ou mortas.

As principais fontes de inóculo (material do fungo que inicia a doença) são as sementes contaminadas e os restos culturais de plantas hospedeiras, como trigo, milho, centeio, triticale e cevada.

Além dos danos diretos às espigas, o fungo contamina os grãos com micotoxinas: substâncias tóxicas que prejudicam a qualidade e a segurança do produto final. A doença se desenvolve melhor com temperaturas próximas a 30°C e alta umidade (molhamento foliar prolongado).

Medidas de manejo da giberela

  • Semeadura antecipada: Planeje o plantio para que o florescimento não coincida com os períodos de clima mais favorável ao fungo.
  • Controle químico preventivo: Realize a aplicação de fungicidas logo no início da floração para proteger as espigas.

Para um aprofundamento completo sobre esta doença, leia nosso artigo específico: Como identificar e controlar a giberela no trigo”.

2. Estria Bacteriana (Xanthomonas campestris)

Causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. ondulosa, a estria bacteriana é uma doença séria que pode reduzir o rendimento da lavoura de trigo em até 40%.

A bactéria sobrevive em restos culturais e sementes, sendo as sementes a principal forma de disseminação da doença para novas áreas.

Os sintomas iniciais são lesões de aparência aquosa e alongadas nas folhas. Com o avanço da doença, essas lesões se tornam pardas. Em períodos de chuva prolongada, as manchas podem se unir (coalescer), cobrindo grandes áreas da folha e comprometendo a fotossíntese.

Medidas de manejo para a estria bacteriana

  • Uso de sementes sadias: Adquira sementes certificadas e de procedência confiável para evitar a introdução da bactéria na lavoura.
  • Rotação de culturas: Evite o plantio sucessivo de trigo e outras gramíneas suscetíveis na mesma área.

3. Podridão Comum das Raízes

A podridão comum das raízes pode ser causada por dois fungos principais: Bipolaris sorokiniana e Fusarium graminearum. Esta doença está presente em todas as regiões produtoras de trigo no Brasil.

Como o nome sugere, a doença ataca o sistema radicular da planta. As raízes infectadas apresentam tecidos de coloração parda, o que compromete a absorção de água e nutrientes, podendo levar à morte precoce das plantas. A semente é considerada a principal fonte de inóculo (material que inicia a doença).

Medidas de manejo da podridão comum das raízes

  • Tratamento de sementes: Utilize fungicidas específicos no tratamento das sementes para protegê-las na fase inicial de desenvolvimento.
  • Rotação de culturas: Intercale o cultivo do trigo com plantas não hospedeiras para reduzir a presença dos fungos no solo.

4. Ferrugem da Folha do Trigo (Puccinia triticina)

Causada pelo fungo Puccinia triticina, a ferrugem da folha é considerada a doença mais comum na cultura do trigo. Ela pode se desenvolver em qualquer fase da planta, desde a formação das primeiras folhas até a maturação.

No campo, os sintomas são facilmente identificáveis: pequenas pústulas (pequenas bolhas) de coloração alaranjada, que aparecem principalmente na parte superior das folhas. Essas pústulas reduzem a área de fotossíntese e, em casos severos, podem causar a queda precoce das folhas, impactando diretamente o enchimento dos grãos.

close-up de uma folha de uma planta de cereal, provavelmente trigo ou cevada, afetada por uma doença fúngic (Fonte: Embrapa trigo)

Medidas de manejo da ferrugem da folha do trigo

  • Uso de cultivares resistentes: A forma mais eficaz de controle é a escolha de variedades de trigo que possuam resistência genética à doença.
  • Aplicação de fungicidas: Caso opte por cultivares suscetíveis, o monitoramento constante e a aplicação de fungicidas são necessários para controlar a doença.

5. Mancha Amarela (Drechslera tritici-repentis)

A mancha amarela, causada pelo fungo Drechslera tritici-repentis, é a mancha foliar de maior importância para o trigo, com potencial para causar perdas de até 50% na produtividade.

Esta é uma das principais doenças do trigo na Região Sul do Brasil, sendo favorecida pelo sistema de plantio direto, pois a palhada sobre o solo serve como fonte de alimento para o fungo entre os cultivos.

Os sintomas iniciais são pequenas manchas cloróticas (amarelas) nas folhas. Com o avanço da doença, essas manchas se expandem, desenvolvendo uma região central necrosada (morta) e um halo amarelo característico ao redor.

close-up detalhado de uma folha de uma planta de cereal, provavelmente trigo ou cevada, acometida por uma d (Fonte: Flávio Santana em Embrapa)

As condições ideais para o desenvolvimento da mancha amarela são temperaturas amenas e longos períodos de molhamento foliar.

Medidas de manejo da mancha amarela

  • Tratamento de sementes: Protege as plântulas nas fases iniciais.
  • Rotação de culturas: Ajuda a quebrar o ciclo do fungo.
  • Aplicação de fungicidas: O controle químico na parte aérea é fundamental em áreas com histórico da doença.

6. Helmintosporiose (Bipolaris sorokiniana)

A helmintosporiose, também conhecida como mancha marrom, é causada pelo fungo Bipolaris sorokiniana. Esta doença é extremamente agressiva e pode provocar danos de até 80% na produção.

Os sintomas variam com o clima:

  • Em regiões quentes: Observam-se lesões elípticas de coloração cinza nas folhas.
  • Em regiões mais frias: A doença causa lesões retangulares e escuras.

Além das folhas, a helmintosporiose pode infectar outros órgãos da planta, como as glumas (estruturas que protegem o grão), onde surgem lesões elípticas com centro claro e bordas escuras (cor de bordô).

Medidas de manejo da Helmintosporiose

  • Rotação de culturas: Essencial para reduzir o inóculo no solo.
  • Uso de sementes sadias: Evita a introdução da doença na área.
  • Controle químico: Utilize fungicidas para aplicação na parte aérea, como os dos grupos triazóis e estrobilurinas, conforme recomendação técnica.

Além das doenças causadas por fungos e bactérias, existem também as viroses no trigo, que discutiremos a seguir.

7. Mosaico Comum do Trigo

O mosaico do trigo é causado pelo vírus Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV). Ele representa um problema maior em regiões mais frias do país, que são as condições ideais para seu desenvolvimento.

Este vírus é transmitido por um protozoário chamado Polymyza graminis, que vive no solo. O vírus que causa o mosaico comum do trigo também infecta outras culturas, como centeio, cevada e triticale.

O principal sintoma visual são estrias amarelas que correm paralelas às nervuras da folha. A doença é mais prejudicial quando ataca a cultura em seus estágios iniciais.

close-up de folhas de uma cultura de cereal, provavelmente trigo ou cevada, exibindo sintomas característi (Fonte: Douglas Lau em Embrapa)

Medidas de manejo para o mosaico comum do trigo

A medida mais eficiente e recomendada para controlar esta doença é o uso de cultivares resistentes, que não permitem a multiplicação do vírus.

8. Nanismo Amarelo da Cevada

Apesar do nome, esta doença causada pelo vírus Barley yellow dwarf virus (BYDV) também afeta o trigo e outras culturas como arroz, aveia, centeio, milho e sorgo. A transmissão é feita por afídeos (pulgões) de forma persistente.

Os sintomas mais claros são:

  • Tamanho reduzido da planta (nanismo).
  • Amarelecimento geral, com a folha bandeira ficando ereta e com uma coloração amarela brilhante.
  • Os grãos de plantas infectadas ficam enrugados e chochos.

Medidas de manejo para o nanismo amarelo da cevada

  • Controle do vetor (pulgão): Utilize controle biológico ou químico para manejar as populações de pulgões na lavoura.
  • Tratamento de sementes: O uso de inseticidas do grupo dos neonicotinoides no tratamento de sementes protege as plantas contra o ataque inicial do vetor.

Atenção à Legislação

Para todas as doenças do trigo que exigem controle químico, é fundamental verificar quais produtos estão registrados para a cultura no Agrofit, o sistema oficial do MAPA. Para garantir a recomendação correta e o manejo seguro, procure sempre a orientação de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).

e-book culturas de inverno Aegro

Conclusão

O trigo é uma cultura de inverno de grande valor para o agronegócio brasileiro, e o manejo fitossanitário é decisivo para evitar perdas e garantir a rentabilidade.

Neste artigo, você viu em detalhes 8 das principais doenças da cultura do trigo, causadas por fungos, bactérias e vírus. Apresentamos os principais sintomas para facilitar a identificação no campo e as medidas de manejo mais eficientes para cada uma delas.

Com monitoramento constante e as estratégias corretas, você pode proteger sua lavoura e não colocar sua produção em risco


Glossário

  • Aristas: Estruturas semelhantes a pelos ou barbas longas que se projetam da espiga de trigo. Um sintoma da Giberela é a aparência “arrepiada” das aristas em espiguetas mortas.

  • Coalescer: Ato de várias manchas ou lesões se unirem para formar uma área doente maior em uma folha. Isso reduz drasticamente a capacidade de fotossíntese da planta.

  • Cultivares: Variações de uma espécie de planta (neste caso, trigo) desenvolvidas por melhoramento genético para apresentar características desejáveis, como alta produtividade ou resistência a doenças.

  • Inóculo: Qualquer parte de um patógeno (esporos de fungos, células bacterianas) ou material vegetal contaminado que pode iniciar uma nova infecção. Restos culturais e sementes são fontes comuns de inóculo.

  • Micotoxinas: Substâncias tóxicas produzidas por fungos que contaminam os grãos, como no caso da Giberela. Elas representam um risco para a saúde humana e animal e desvalorizam a produção.

  • Pústulas: Pequenas elevações na superfície da folha, semelhantes a bolhas, que contêm os esporos do fungo. São o sintoma característico da Ferrugem da Folha, onde as pústulas alaranjadas liberam os esporos que espalham a doença.

  • Vetor: Organismo vivo, como um inseto, que transporta e transmite um agente causador de doença (vírus, bactéria) de uma planta infectada para uma planta sadia. No artigo, os pulgões são vetores do vírus do nanismo amarelo.

Como a tecnologia pode simplificar o manejo de doenças no trigo

O controle eficaz das doenças do trigo, como vimos, exige monitoramento constante e ações no tempo certo. Organizar o calendário de aplicações de fungicidas, registrar observações de campo e acompanhar cada etapa do manejo pode se tornar complexo, especialmente em grandes áreas. Ferramentas de gestão agrícola, como o Aegro, ajudam a centralizar essas informações, permitindo que você planeje e registre todas as atividades agronômicas, desde o tratamento de sementes até as pulverizações, garantindo que nenhuma recomendação técnica seja esquecida.

Além do desafio operacional, cada decisão de manejo tem um impacto direto nos custos de produção. O investimento em sementes tratadas, fungicidas e mão de obra precisa ser cuidadosamente gerenciado para garantir a rentabilidade da safra. Com um software como o Aegro, é possível registrar todos os custos associados ao controle de doenças e vinculá-los diretamente à sua lavoura de trigo. Isso oferece uma visão clara sobre o retorno do seu investimento e ajuda a tomar decisões mais seguras para as próximas safras.

Que tal ter mais controle sobre o manejo fitossanitário e financeiro da sua lavoura?

Experimente o Aegro gratuitamente e descubra como a gestão integrada pode proteger sua produtividade e seu lucro.

Perguntas Frequentes

Qual é a diferença no manejo de doenças do trigo causadas por fungos, bactérias e vírus?

A principal diferença está nas ferramentas de controle. Doenças fúngicas podem ser manejadas com fungicidas e práticas culturais. Doenças bacterianas, como a Estria Bacteriana, dependem de medidas preventivas como sementes sadias e rotação de culturas. Já as viroses não têm controle químico direto, e o manejo foca no uso de cultivares resistentes ou no controle dos insetos vetores que transmitem o vírus.

Por que a rotação de culturas é tão importante para a sanidade da lavoura de trigo?

A rotação de culturas é essencial porque quebra o ciclo de vida de muitos patógenos que sobrevivem no solo e em restos culturais, como os agentes da Podridão Comum e da Mancha Amarela. Ao introduzir uma cultura não hospedeira, a população desses patógenos diminui drasticamente, reduzindo a pressão de doenças para a próxima safra de trigo e diminuindo a dependência de defensivos químicos.

Qual o momento mais crítico para aplicar fungicida contra a Giberela e por quê?

O momento mais crítico para o controle da Giberela é o início do florescimento do trigo. O fungo infecta a planta através das flores, então a aplicação de fungicidas preventivos nesta fase é crucial para proteger as espigas. Atrasar a aplicação pode resultar em falha no controle, perda de grãos e contaminação por micotoxinas.

Como o sistema de plantio direto pode influenciar a ocorrência de doenças no trigo?

O plantio direto, apesar de seus inúmeros benefícios, pode favorecer doenças cujo fungo sobrevive na palhada, como a Mancha Amarela. A palha serve como fonte de inóculo, aumentando o risco de infecção na safra seguinte. Por isso, em áreas de plantio direto com histórico da doença, a rotação de culturas e o uso de cultivares resistentes são práticas ainda mais importantes.

É possível controlar a Ferrugem da Folha apenas com cultivares resistentes?

Sim, o uso de cultivares com resistência genética é a forma mais eficaz e sustentável de controlar a Ferrugem da Folha. No entanto, é importante monitorar a lavoura, pois novas raças do fungo podem surgir e quebrar a resistência da cultivar. Em cultivares suscetíveis ou em anos de alta pressão da doença, o controle químico complementar com fungicidas pode ser necessário.

Quais são os principais prejuízos causados pela Giberela além da queda na produtividade?

Além de reduzir a produtividade ao destruir as flores e formar grãos chochos, a Giberela causa um dano ainda mais grave: a contaminação dos grãos com micotoxinas. Essas substâncias são tóxicas para humanos e animais, o que leva à desvalorização e até à recusa de lotes de grãos pela indústria, resultando em grande prejuízo financeiro para o produtor.

Como identificar a diferença entre a Mancha Amarela e a Helmintosporiose no campo?

Embora ambas sejam manchas foliares, elas têm características distintas. A Mancha Amarela tipicamente apresenta uma lesão com um centro necrosado (marrom) e um halo amarelo bem definido ao redor. Já a Helmintosporiose (mancha marrom) causa lesões elípticas de cor cinza em climas quentes ou retangulares e escuras em climas mais frios, geralmente sem o mesmo halo amarelo proeminente.

Artigos Relevantes

  • Como identificar e controlar a giberela no trigo: Este artigo aprofunda o conhecimento sobre a Giberela, uma das doenças mais críticas citadas no guia principal. Ele agrega um valor imenso ao detalhar o perigo das micotoxinas, incluindo os limites legais da Anvisa, um aspecto crucial para a comercialização que o artigo principal apenas menciona superficialmente.
  • Mancha-amarela no trigo: como reconhecer e manejar a doença: Enquanto o artigo principal apresenta a Mancha Amarela, este candidato oferece uma análise especializada e aprofundada, essencial para o manejo em plantio direto. Sua principal contribuição é a discussão sobre a resistência do fungo a fungicidas, com recomendações específicas do FRAC-BR, fornecendo um nível de detalhe técnico que o guia geral não comporta.
  • O que você precisa saber sobre manejo das viroses no trigo: Este artigo complementa perfeitamente a seção final do guia principal, que aborda as viroses. Ele expande o tema ao explicar o mecanismo de ação dos vírus e a importância do controle de vetores, uma estratégia de manejo fundamentalmente diferente das doenças fúngicas e bacterianas, agregando uma camada essencial de conhecimento.
  • Como escolher as melhores cultivares de trigo para sua lavoura em 3 passos: O artigo principal recomenda repetidamente o uso de cultivares resistentes como a principal forma de controle para doenças como a Ferrugem da Folha e o Mosaico. Este artigo é a aplicação prática dessa recomendação, oferecendo um guia passo a passo sobre como escolher a cultivar correta, transformando um conselho teórico em uma ação concreta para o produtor.
  • 5 dicas para uma lavoura de trigo mais produtiva: Este artigo oferece o contexto agronômico essencial que falta no guia principal, que é focado exclusivamente em doenças. Ele posiciona o manejo fitossanitário como uma peça de um sistema maior que inclui planejamento climático, nutrição do solo e colheita, mostrando ao leitor como integrar o controle de doenças em uma estratégia completa para maximizar a produtividade.