Engenharia Agronômica: Desafios Atuais e o Futuro da Profissão

Engenheira agrônoma, mestre e especialista em agronegócio. Coordenadora de marketing na Aegro.
Engenharia Agronômica: Desafios Atuais e o Futuro da Profissão

A engenharia agronômica sempre foi vista como uma profissão essencial, mas hoje, em um mundo de rápidas transformações, seu papel se tornou ainda mais central e desafiador. Se o futuro da produção de alimentos já chegou, os engenheiros agrônomos estão na linha de frente para garantir que ele seja produtivo e sustentável.

Para celebrar a importância desses profissionais, conversamos com engenheiros e engenheiras de diversas áreas de atuação. Reunimos suas perspectivas sobre os motivos que os levaram à profissão, seus propósitos diários e os desafios que o futuro reserva. O resultado é um panorama rico que, apesar das diferentes visões, compartilha um sentimento comum: o compromisso de produzir mais e melhor para alimentar e mover o mundo.

A Vocação para o Campo: Por Que Escolher a Engenharia Agronômica?

O dia 12 de outubro marca a comemoração do dia do engenheiro agrônomo, data em que a profissão foi regulamentada no Brasil pelo Decreto Presidencial 23.196, no ano de 1933. Mas o que leva uma pessoa a escolher essa carreira hoje?

Muitos imaginam que a escolha é uma consequência natural para quem vem de famílias do campo, sendo uma etapa estratégica para a sucessão familiar. Embora isso seja verdade para muitos, a agronomia é uma área vasta que atrai pessoas por diversos outros motivos.

Pedro Luiz de Freitas, por exemplo, decidiu cursar engenharia agronômica inspirado por um extensionista da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral). Ele observou a satisfação e o carinho com que o profissional tratava os pequenos produtores de hortaliças na região periurbana de São Paulo, o que despertou sua vocação.

Arnaldo Bortoletto se interessou pela agronomia ainda na infância, quando morava na zona rural e acompanhava professores e estagiários da Esalq/USP realizando ensaios de campo e prestando assistência técnica.

As razões para entrar na profissão são muitas, mas o que mantém os profissionais na área é quase sempre o mesmo: um profundo amor pelo campo e o desejo de aprimorar constantemente as formas de produzir alimentos.

Para entender a diversidade de atuações, conheça os profissionais que compartilharam suas experiências conosco:

  • Fernanda Dezani: Líder de qualidade das operações agrícolas na Usina São Manoel, interior de São Paulo. Formada em 2016.
  • Pedro Luiz de Freitas: Atua no Rio de Janeiro, com foco em práticas e técnicas de recuperação, conservação e manejo de solos. Formado em 1975.
  • Francisco Giudice Azevedo: Gerente de produção agropecuária na Estância do Jarau (Quaraí/RS) e gerente de produção de arroz e soja em Palmares do Sul/RS. Formado em 2018.
  • Juliano Valenga: Atua na área comercial da Mosaic Fertilizantes, na região de Ponta Grossa/PR. Formado em 2015.
  • Maria Izabel Alves: Doutoranda em bioinformática pela Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Formada em 2015.
  • Arnaldo Bortoletto: Presidente da Coplacana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Estado de São Paulo). Formado em 1983.

Sustentabilidade e Rentabilidade: Os Propósitos que Movem o Engenheiro Agrônomo

Propósito é a intenção por trás de uma ação. Ao perguntarmos aos nossos entrevistados sobre seus propósitos na profissão, a palavra sustentabilidade apareceu como um pilar central.

Fernanda, Maria Izabel e Francisco destacam que seu objetivo fundamental é ajudar a produzir mais alimentos de forma sustentável, equilibrando os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Fernanda aplica isso em sua rotina na usina, enquanto Maria Izabel pesquisa estirpes mais eficientes de rhizobium para reduzir o uso de fertilizantes nitrogenados, buscando uma agricultura mais orgânica.

Pedro Luiz também reforça a importância de um agro sustentável:

“Como engenheiro agrônomo, pela [visão holística]: significa entender o sistema como um todo, não apenas partes isoladas, que adquiri na graduação (Esalq/USP), e pela especialização a que me dediquei no estudo do comportamento de solos tropicais, busco formas de integrar as diferentes especialidades da agronomia no atingimento do objetivo comum de produzir mais e melhor, sem derrubar uma árvore sequer.”

homem de meia-idade, com barba e cabelo curto, durante uma apresentação em um evento profissional, possivPedro Luiz atua como engenheiro agrônomo desde 1975

Ele acrescenta que seu trabalho visa contribuir para que o Brasil cumpra sua vocação de celeiro do mundo, produzindo alimentos, fibras e biocombustíveis para uma população global que deve chegar a 10 bilhões de pessoas nos próximos 10 anos. Para Pedro, isso só será possível com a integração de diferentes especialidades, garantindo a intensificação sustentável do uso da terra.

Em outra frente, Juliano Valenga aponta um propósito igualmente nobre: levar conhecimento ao produtor rural para que ele alcance não apenas maior produtividade, mas também maior rentabilidade.

jovem em primeiro plano, posando para uma foto em um ponto de observação elevado. Ele veste uma jaqueta vJuliano diz que mercado saturado é um problema para o setor

Arnaldo compartilha dessa meta, buscando sempre adquirir conhecimento técnico para levar mais tecnologia ao campo e elevar a produtividade dos cooperados. Essa visão conecta diretamente a ciência desenvolvida nas universidades com a aplicação prática na fazenda, sempre com foco no uso inteligente e sustentável dos recursos.

Os Desafios do Presente: O Dia a Dia do Profissional de Agronomia

Quando questionados sobre como é ser engenheiro agrônomo hoje, a palavra “desafiador” foi unânime.

Fernanda Dezani destaca que a profissão exige uma gama variada de habilidades, que vão muito além da técnica. Juliano Valenga aponta o mercado de trabalho saturado como um dos principais desafios para os profissionais que buscam se posicionar.

Maria Izabel Alves traz uma perspectiva importante sobre o espaço das mulheres na área, um campo que até duas décadas atrás era predominantemente masculino:

“Estamos conquistando nosso respeito e conseguindo mudar o estereótipo da profissão.”

mulher de costas, apoiada em uma grade, contemplando a silhueta de uma grande metrópole ao pôr do sol. AMaria Izabel se formou engenheira agrônoma em 2015

O avanço feminino é inegável, e as mulheres são cada vez mais determinantes no setor, como você pode ver nesta matéria.

Para Pedro Luiz, ser agrônomo hoje significa compreender profundamente as relações da natureza para aplicar o conhecimento agronômico ao melhor uso da terra, o que inclui solo, água, paisagem e biodiversidade. Já Francisco Giudice Azevedo ressalta que a profissão exige um alto nível de responsabilidade, verdade e profissionalismo.

As diferentes visões mostram que os desafios atuais da agronomia refletem não apenas as complexidades do meio ambiente, mas também as transformações da sociedade como um todo.

O Futuro da Agronomia: Tecnologia, Sustentabilidade e a Missão de Alimentar o Mundo

Se o presente já é dinâmico, o que os profissionais esperam do futuro?

Maria Izabel acredita que o agrônomo do futuro precisará ir além da monocultura e explorar novas formas de agricultura. Ela faz uma análise crítica do modelo atual:

“Apesar da modificação genética ter possibilitado grandes incrementos na produtividade de alimentos do mundo, a resposta de plantas transgênicas atualmente é apenas cabível com o elevado uso de fertilizantes e herbicidas. Muitas plantas modificadas se tornam resistentes a herbicidas pelo simples fato da elevada [pressão de seleção]: quando o uso contínuo de um produto (como um herbicida) elimina os indivíduos suscetíveis e favorece a sobrevivência dos resistentes, oriunda de um modelo simplista ou uso inadequado da tecnologia.”

A pesquisadora defende a necessidade de integrar a agricultura com a [rizosfera]: a região do solo que fica em contato direto com as raízes das plantas, cheia de microrganismos, adotando um modelo mais completo para garantir a sustentabilidade a longo prazo.

Fernanda Dezani aponta para um desafio global: alimentar 9 bilhões de pessoas com alimentos de qualidade.

o retrato de uma mulher jovem, de cabelos escuros e longos, usando óculos de sol e sorrindo para a câmera. ElaFernanda: “Profissão exige diferentes habilidades”

Arnaldo Bortoletto segue a mesma linha, reforçando que o crescimento populacional, somado à disponibilidade limitada de terra e água, exigirá que os agrônomos supram essa demanda com altíssima produtividade.

Para Juliano Valenga, as dificuldades futuras do setor não serão exclusivas da agronomia, incluindo o mercado de trabalho competitivo, a adaptação à transformação digital e a necessidade de desenvolver tecnologias para atender à crescente demanda por alimentos.

Pedro Luiz vê um futuro colaborativo, onde agrônomos de diferentes especialidades (florestais, ambientais, agrícolas), biólogos e geógrafos precisarão trabalhar juntos, utilizando ferramentas modernas para ajudar os agricultores a produzir mais e melhor. O objetivo é usar os insumos com máxima eficiência, agregando valor à produção e gerando riqueza para o país.

o retrato de um homem de meia-idade, posicionado em um ambiente urbano. Ele veste uma camisa social de cor claArnaldo: interesse pela agronomia começou ainda criança

Nesse cenário, Pedro acredita que os engenheiros agrônomos terão um papel de liderança, usando sua formação eclética para coordenar equipes multidisciplinares. A missão será garantir a produção de alimentos, fibras e biocombustíveis de forma sustentável.

Francisco finaliza com uma reflexão sobre a responsabilidade profissional:

“Os engenheiros agrônomos do futuro terão que justificar cada vez mais suas ações e convicções perante o meio e a sociedade. Não haverá mais espaço para profissionais sem responsabilidade e conhecimento sobre os fatos e manejos.”

selfie tirada por um homem dentro de um veículo, provavelmente um carro ou uma caminhonete. Ele veste uma boinFrancisco ressalta que profissão requer muita responsabilidade e verdade

Conclusão

Mesmo em um cenário de mercado competitivo e grandes desafios globais, os engenheiros e engenheiras agrônomas têm muitos motivos para comemorar. O setor agropecuário no Brasil continua crescendo, as tecnologias são cada vez mais aplicadas no campo e novas soluções para velhos problemas surgem a todo momento.

O engenheiro agrônomo é uma peça-chave em todo esse desenvolvimento. Desde a pesquisa para criar uma semente mais tecnológica até a negociação de commodities na bolsa de valores, e principalmente na busca por um mundo mais sustentável, lá está o engenheiro agrônomo, cumprindo seu papel fundamental na sociedade.


Glossário

  • Assistência Técnica: Serviço de orientação oferecido ao produtor rural por profissionais qualificados, como engenheiros agrônomos. O objetivo é transferir conhecimento e tecnologia para melhorar a produtividade e a gestão da propriedade.

  • Biocombustíveis: Combustíveis produzidos a partir de matéria orgânica de origem vegetal ou animal, como o etanol da cana-de-açúcar e o biodiesel da soja. São uma alternativa renovável aos combustíveis fósseis.

  • Ensaios de Campo: Experimentos conduzidos diretamente na lavoura para testar e validar novas tecnologias, como sementes, fertilizantes ou defensivos. Permitem avaliar o desempenho de uma solução em condições reais de produção.

  • Extensionista: Profissional que atua como elo entre a pesquisa científica e o produtor rural. Sua função é levar conhecimento técnico e inovações para o campo, prestando assistência e capacitação.

  • Intensificação Sustentável: Modelo de produção agrícola que visa aumentar a produtividade em uma mesma área, sem expandir para novas terras. Para isso, utiliza tecnologias e boas práticas que otimizam o uso de recursos como água, solo e insumos.

  • Pressão de Seleção: Fenômeno que ocorre quando o uso contínuo de um produto, como um herbicida, elimina os indivíduos suscetíveis e favorece a sobrevivência e multiplicação daqueles naturalmente resistentes. Com o tempo, a população de pragas ou plantas daninhas se torna resistente ao controle.

  • Rhizobium: Gênero de bactérias que se associam às raízes de plantas leguminosas (como a soja) e convertem o nitrogênio do ar em uma forma que a planta pode absorver. A inoculação com rhizobium é uma prática que reduz a necessidade de fertilizantes nitrogenados.

  • Rizosfera: Região do solo que fica em contato direto e sob influência das raízes das plantas. É uma área de intensa atividade microbiológica, fundamental para a nutrição e saúde vegetal.

  • Sucessão Familiar: Processo planejado de transferência da gestão e do patrimônio de uma empresa rural para a próxima geração da família. Envolve aspectos financeiros, legais e de governança para garantir a continuidade do negócio.

  • Visão Holística: Abordagem que analisa o sistema de produção agrícola como um todo, considerando as interações entre seus diversos componentes (solo, clima, plantas, mercado, pessoas). Permite tomar decisões mais integradas e eficazes.

Veja como a tecnologia pode ajudar a superar esses desafios

Os desafios destacados pelos profissionais, como equilibrar alta produtividade com rentabilidade e a necessidade de justificar cada manejo com dados, mostram que o conhecimento técnico precisa andar de mãos dadas com uma gestão eficiente. A missão de produzir mais e melhor, otimizando o uso de insumos e garantindo a sustentabilidade do negócio, depende de decisões rápidas e bem informadas.

Nesse cenário, ferramentas de gestão agrícola como o Aegro são essenciais para transformar dados em resultados práticos. A plataforma centraliza todas as informações da fazenda, conectando as atividades do campo ao controle financeiro. Isso permite que engenheiros agrônomos e produtores analisem o custo de produção em tempo real, comparem o desempenho de cada talhão e tomem decisões mais seguras para aumentar a lucratividade, sem abrir mão da sustentabilidade.

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Perguntas Frequentes

Quais são as principais áreas de atuação de um engenheiro agrônomo?

A engenharia agronômica é uma profissão muito versátil. Um agrônomo pode atuar diretamente na gestão da produção de lavouras, em consultoria para recuperação de solos, na área comercial vendendo insumos, em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias como bioinformática, ou na liderança de operações agrícolas em grandes empresas, como os exemplos citados no artigo.

É preciso vir de uma família do agronegócio para se tornar engenheiro agrônomo?

Não, de forma alguma. Embora a sucessão familiar seja um caminho comum, muitos profissionais são atraídos para a agronomia por outras razões, como a inspiração em outros profissionais ou o desejo de trabalhar com ciência e sustentabilidade. O fator mais importante é a paixão pelo campo e o compromisso em aprimorar a produção de alimentos.

Como a sustentabilidade e a rentabilidade se conectam na agronomia moderna?

Elas são inseparáveis no dia a dia do agrônomo. A busca por maior rentabilidade passa diretamente por práticas sustentáveis, como o uso eficiente de insumos, a conservação do solo e da água, e o uso de tecnologias que reduzem o desperdício. Uma gestão sustentável resulta em menores custos operacionais e maior produtividade a longo prazo, garantindo a viabilidade do negócio.

Quais são os maiores desafios para o futuro da engenharia agronômica?

O principal desafio é atender à crescente demanda mundial por alimentos, fibras e biocombustíveis de forma sustentável, com recursos naturais limitados. Isso exige que os profissionais se adaptem à transformação digital, desenvolvam novas tecnologias e trabalhem em equipes multidisciplinares para aumentar a produtividade sem degradar o meio ambiente.

De que forma a tecnologia está transformando a profissão do engenheiro agrônomo?

A tecnologia é uma aliada fundamental para superar os desafios atuais. Ferramentas de gestão agrícola, sensores e softwares de análise de dados permitem que o agrônomo tome decisões mais precisas e baseadas em informações concretas. Isso otimiza o uso de insumos, reduz custos, aumenta a produtividade e ajuda a justificar cada manejo, tornando a gestão mais eficiente.

O que significa ter uma ‘visão holística’ na agronomia, mencionada no artigo?

Ter uma visão holística significa entender a propriedade rural como um sistema integrado, onde solo, clima, plantas, mercado e pessoas estão interligados. Em vez de focar em um problema isolado, o agrônomo com essa visão analisa como suas decisões impactam o todo, buscando um equilíbrio que promova a saúde do ecossistema e a rentabilidade do negócio.

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