O Paraquat é um dos herbicidas mais conhecidos e utilizados no Brasil, presente em lavouras de diversas culturas para controlar plantas daninhas e preparar o campo para a colheita. Sua eficiência é inegável, mas seu uso sempre esteve cercado de polêmicas e, mais recentemente, de restrições legais.
Embora apresente ótimos resultados na lavoura, o Paraquat oferece um risco elevado para a saúde de quem o aplica. Essa preocupação levou à sua proibição no país.
Se você quer entender a situação atual deste produto, por que ele foi proibido para dessecar soja e quais são as suas opções daqui para frente, continue a leitura. Vamos explicar tudo de forma clara e direta.
O Que é o Paraquat e Como Ele Funciona?
O Paraquat é um herbicida que age diretamente na fotossíntese da planta. De forma simples, ele interrompe o processo pelo qual a planta converte luz solar em energia. Ao fazer isso, ele gera radicais livres, que são substâncias extremamente tóxicas para as células vegetais, causando a morte rápida dos tecidos (necrose).
Suas principais características são:
- Ação não seletiva: Significa que ele atinge praticamente todas as plantas com as quais entra em contato, sem distinguir entre a cultura principal e a planta daninha.
- Ação de contato: Ele age apenas onde é aplicado e não se move (transloca) pelo interior da planta.
É indicado principalmente para o controle de plantas daninhas em pós-emergência, ou seja, quando elas já germinaram. Ele é eficaz contra folhas largas (com até 4 folhas) e gramíneas (com até 3 perfilhos, originadas de sementes).
Além disso, sua principal função em muitas culturas é como dessecante.
Dessecante: é um produto aplicado na pré-colheita para secar a planta de forma rápida e uniforme, removendo folhas e ramos verdes. Essa prática é fundamental para facilitar a operação das colheitadeiras.
Como dessecante, o Paraquat é muito eficiente e rápido — os sintomas aparecem em até 30 minutos após a aplicação. Por não se translocar pela planta, apresenta baixo risco de contaminar os grãos ou causar fitotoxicidade nas sementes.
Nos cloroplastos, o Paraquat atrapalha a fotossíntese (Fonte: Paraquat Information Center)
Por que o Paraquat Foi Proibido no Brasil?
A discussão sobre a proibição do Paraquat não é recente. Em 2008, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou um processo para reavaliar a segurança de 14 defensivos agrícolas utilizados no país, e o Paraquat estava entre eles.
Após uma longa série de estudos, a Anvisa publicou um relatório em 2017 apontando que o produto pode causar danos graves e irreversíveis à saúde do aplicador. As principais conclusões foram:
- Aumento do risco de desenvolver a doença de Parkinson: Estudos associaram a exposição ao herbicida a danos neurológicos.
- Potencial de causar mutações em células: O produto demonstrou potencial de alterar o material genético das células.
- Alta toxicidade aguda: A exposição direta, seja por inalação, ingestão ou contato com a pele, é extremamente perigosa.
Com base nessas evidências, a Anvisa publicou a RDC Nº 177, de 21 de Setembro de 2017. Essa resolução determinou a proibição da produção, importação, comercialização e utilização de todos os produtos à base de Paraquat no Brasil.
O Período de Transição e as Regras
A proibição não foi imediata. A Anvisa estabeleceu um prazo de três anos para que as empresas pudessem apresentar novos estudos que contestassem a decisão e para que o setor produtivo tivesse tempo de encontrar e se adaptar a novas alternativas.
No entanto, durante esse período de transição, algumas modalidades de uso já foram imediatamente proibidas:
- Produção e importação de embalagens com volume inferior a cinco litros.
- Utilização em culturas como abacate, abacaxi, cacau, pastagens, seringueira, sorgo, uva, entre outras.
- O uso na modalidade de dessecante.
- Aplicações do tipo costal, manual, aérea e por trator de cabine aberta.
Durante esses três anos, as empresas do setor se organizaram em uma “Força Tarefa do Paraquat” para implementar programas de treinamento e capacitação, visando diminuir os riscos. Além disso, todo produtor que utilizasse o produto precisava assinar um termo de responsabilidade, reconhecendo e assumindo os riscos associados.
O prazo final se encerrou em 22 de setembro de 2020. Como não foram apresentados estudos capazes de reverter a decisão, a proibição total e definitiva entrou em vigor.
Atenção: Após essa data, as empresas se tornaram responsáveis por recolher todos os estoques do herbicida em poder de revendas ou produtores, em um prazo máximo de 30 dias. Desde então, os órgãos de fiscalização podem realizar inspeções em fazendas e, caso encontrem estoques do produto, aplicar multas ao responsável.
Por que o Paraquat Fará Falta para Dessecar Soja?
Para entender a importância do Paraquat, precisamos olhar para o final do ciclo da soja. Quando a planta atinge a maturidade fisiológica (estádio R7 da cultura), o grão para de acumular matéria seca. Em outras palavras, ele não vai mais crescer nem ganhar peso.
No entanto, nesse ponto, a planta ainda está com muitas folhas e ramos verdes, e os grãos têm um teor de umidade elevado. Colher a soja nessas condições é um grande problema, pois:
- Dificulta e atrasa a operação da colheitadeira.
- Aumenta o custo com a secagem dos grãos no armazém.
- Pode comprometer a qualidade e a capacidade de armazenamento.
É aqui que o dessecante entra. A aplicação de um herbicida de ação rápida, como o Paraquat, seca a planta de forma homogênea, permitindo antecipar e otimizar a colheita, aproveitando as melhores condições climáticas.
Este manejo é ainda mais fundamental em regiões com histórico de excesso de chuvas na época da colheita. Nessas áreas, a janela para colher sem ter prejuízos com a elevada umidade nos grãos é muito curta.
A dessecação pré-colheita é uma etapa chave no manejo da soja (Fonte: Rehagro)
Herbicidas Alternativos ao Paraquat para Dessecar Soja
A verdade é que, até o momento, não temos um produto disponível no mercado com a mesma eficiência e velocidade do Paraquat para realizar a dessecação da soja.
Por isso, muitas vezes será necessário associar mais de um produto, o que geralmente eleva os custos da operação.
Outro ponto importante é que, com a perda dessa ferramenta, o produtor precisa fazer um planejamento muito melhor do manejo de plantas daninhas ao longo do ciclo. Escapes de daninhas no momento da dessecação prejudicam a cobertura das plantas de soja e a ação do produto. As plantas daninhas que não morrem com a aplicação vão atrapalhar a colheita e aumentar a umidade dos grãos colhidos.
As principais alternativas disponíveis no mercado hoje são:
- Diquat: na dose de
2 L/ha
. - Saflufenacil: na dose de
70 g/ha
a140 g/ha
+ adjuvante não iônico. - Glufosinato: na dose de
2 L/ha
+ óleo. - Flumioxazin: na dose de
50 g/ha
.
Além dos herbicidas já presentes no mercado, as empresas estão pesquisando novas moléculas com características interessantes. A expectativa é que, no futuro, possam surgir produtos com melhor desempenho para a dessecação da soja para colheita.
Escapes de buva na soja dessecada podem comprometer a colheita (Fonte: Cooperalfa)
Conclusão
A proibição do Paraquat representou uma mudança significativa no manejo da dessecação da soja no Brasil. Embora a decisão da Anvisa tenha sido baseada em riscos comprovados à saúde, ela deixou um desafio técnico e operacional para o produtor rural.
Para resumir os pontos mais importantes:
- O Paraquat está proibido: Manter estoques do produto na fazenda é ilegal e pode resultar em multas pesadas.
- A decisão visa a segurança: A proibição tem como principal objetivo proteger a saúde dos trabalhadores rurais e aplicadores.
- Existem alternativas, mas com ressalvas: Produtos como Diquat, Saflufenacil, Glufosinato e Flumioxazin são as opções atuais, mas podem exigir associações, ter um custo maior e uma ação mais lenta.
- O planejamento é a chave: Um bom controle de plantas daninhas durante todo o ciclo da cultura se tornou ainda mais essencial para garantir uma dessecação eficiente e uma colheita sem problemas.
Glossário
Ação de contato: Característica de um herbicida que age apenas nas partes da planta onde é aplicado. Diferente de herbicidas sistêmicos, ele não se move (transloca) para outras partes da planta, como raízes ou grãos.
Adjuvante: Substância adicionada à calda de pulverização para melhorar a eficiência do defensivo agrícola. Pode ajudar o produto a aderir melhor às folhas, aumentar a absorção ou reduzir a deriva.
Dessecante: Produto químico, geralmente um herbicida, aplicado antes da colheita para acelerar e uniformizar a secagem das plantas. Essa prática facilita a colheita mecanizada e ajuda a padronizar a umidade dos grãos.
Fitotoxicidade: Efeito tóxico de um produto químico sobre uma planta, causando danos como manchas, queima das folhas ou redução do crescimento. No caso do Paraquat, por ser de contato, o risco de fitotoxicidade nos grãos é baixo.
Fotossíntese: Processo pelo qual as plantas utilizam a luz solar para converter dióxido de carbono e água em energia (açúcares). O Paraquat age interrompendo este processo, o que leva à morte rápida da planta.
Maturidade fisiológica (R7): Estádio de desenvolvimento da soja em que o grão atinge seu máximo acúmulo de matéria seca e para de crescer. É o momento ideal para iniciar o manejo de dessecação para a colheita.
Radicais livres: Moléculas instáveis e altamente reativas que danificam as células vegetais. A ação do Paraquat na fotossíntese gera uma superprodução de radicais livres, causando a morte rápida dos tecidos da planta.
RDC Nº 177/2017: Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa que determinou a proibição gradual e, posteriormente, definitiva do herbicida Paraquat no Brasil. A decisão foi baseada em estudos que apontaram riscos à saúde humana.
Como a tecnologia pode ajudar nesse novo cenário?
A proibição do Paraquat força uma adaptação que vai além da escolha de novos produtos: ela impacta diretamente os custos de produção e a complexidade do planejamento. Com a necessidade de associar herbicidas, o controle financeiro se torna ainda mais crítico.
Um software de gestão agrícola como o Aegro permite registrar cada aplicação e analisar o custo por talhão em tempo real. Assim, fica mais fácil entender qual combinação de insumos traz o melhor retorno financeiro e tomar decisões baseadas em dados concretos, não apenas em estimativas.
Além disso, o planejamento do manejo se torna a peça-chave para uma colheita bem-sucedida. Ferramentas digitais ajudam a organizar o calendário de atividades, garantindo que a dessecação ocorra no momento ideal.
Manter um controle de estoque preciso também evita problemas legais, como a posse de produtos proibidos, e assegura que os insumos corretos estejam disponíveis quando necessários. Que tal simplificar essa transição и otimizar a gestão da sua lavoura?
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Perguntas Frequentes
Por que o Paraquat foi proibido no Brasil se era um herbicida tão eficiente?
A proibição do Paraquat, determinada pela Anvisa em 2017, foi baseada em fortes evidências de riscos graves e irreversíveis à saúde humana. Estudos associaram a exposição ao produto a um aumento no risco de desenvolver a doença de Parkinson, além de seu potencial para causar mutações genéticas, priorizando a segurança do aplicador sobre a eficiência agronômica.
Ainda é permitido usar ou armazenar Paraquat em alguma situação específica no Brasil?
Não. Desde 22 de setembro de 2020, a produção, importação, comercialização e utilização de Paraquat são totalmente proibidas no território nacional. Manter estoques do produto na propriedade é ilegal e o produtor pode ser multado em caso de fiscalização.
As alternativas ao Paraquat, como o Diquat, são igualmente eficazes para a dessecação da soja?
Atualmente, não há um produto no mercado que ofereça a mesma velocidade e eficiência do Paraquat para a dessecação. Alternativas como Diquat, Saflufenacil e Glufosinato são eficazes, mas geralmente possuem uma ação mais lenta e, em muitos casos, exigem a associação de produtos, o que pode aumentar o custo da operação.
O que significa a ‘ação de contato’ do Paraquat e por que isso era uma vantagem?
A ‘ação de contato’ significa que o herbicida age apenas nas partes da planta onde é diretamente aplicado, sem se mover para outras áreas como raízes ou grãos. Essa era uma grande vantagem, pois reduzia drasticamente o risco de contaminação dos grãos, garantindo a segurança do produto colhido para consumo.
Qual a principal mudança no manejo da lavoura de soja após a proibição do Paraquat?
A principal mudança é a necessidade de um planejamento de manejo de plantas daninhas muito mais rigoroso ao longo de todo o ciclo da cultura. Como as alternativas são menos eficientes em áreas com alta infestação, garantir que a lavoura chegue limpa ao final do ciclo é fundamental para que a dessecação funcione bem e não prejudique a colheita.
O que é um dessecante e por que ele é importante para a colheita da soja?
Um dessecante é um produto aplicado na fase de pré-colheita para acelerar e uniformizar a secagem da planta. Na soja, ele é crucial para antecipar e facilitar a operação das colheitadeiras, reduzir a umidade dos grãos e aproveitar janelas climáticas ideais, evitando perdas por excesso de chuva.
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