A dessecação pré-colheita da soja é uma ferramenta estratégica que pode fazer a diferença no seu resultado final. Quando bem executada, ela ajuda a controlar plantas daninhas, uniformiza a maturação da lavoura e permite antecipar a colheita dos grãos. Essa antecipação abre uma janela valiosa para o plantio da segunda safra, como o milho safrinha.
Contudo, o manejo exige precisão. Uma aplicação feita no momento errado pode custar caro, com perdas de produtividade que chegam a 12 sacas por hectare. Você tem certeza de que sabe como realizar a dessecação da soja para colheita da forma mais eficiente e sem colocar sua produção em risco?
Neste artigo, vamos detalhar tudo o que você precisa saber para tomar a decisão correta, desde o ponto ideal de aplicação até a escolha do herbicida mais adequado para a sua realidade.
O que é a Dessecação Pré-Colheita e Quais as Suas Vantagens?
A dessecação pré-colheita é a aplicação de um herbicida, geralmente de ação por contato, realizada quando o grão de soja atinge seu ponto de maturação fisiológica.
Em outras palavras: O ponto de maturação fisiológica é o momento em que o grão para de acumular peso e nutrientes, atingindo sua máxima qualidade e potencial produtivo.
A aplicação do produto provoca a morte da planta e a secagem de suas folhas e hastes. Isso resulta em uma lavoura com maturação mais homogênea, o que permite antecipar a entrada das máquinas no talhão.
Este manejo é especialmente útil em situações onde o clima instável, com muita umidade ou calor excessivo no final do ciclo, pode causar um alto percentual de grãos verdes na colheita.
Os principais benefícios da dessecação são:
- Proteção da Qualidade dos Grãos: Quanto mais tempo o grão maduro fica no campo, maior é sua exposição a chuvas, pragas e doenças, o que aumenta a taxa de deterioração. A dessecação reduz esse tempo de exposição, garantindo a sanidade e a qualidade das sementes.
- Colheita Mais Limpa: Ao secar folhas e pecíolos (os “cabinhos” das folhas), o processo de dessecação diminui a quantidade de impurezas e massa verde que entram na colheitadeira, facilitando a operação e a limpeza dos grãos.
- Manejo Fitossanitário: A eliminação rápida da parte verde da planta pode interromper o ciclo de doenças da soja e o ataque de pragas de final de ciclo.
- Controle de Plantas Daninhas: A dessecação é uma ótima oportunidade para controlar focos de plantas daninhas que escaparam dos manejos anteriores. Isso evita que elas atrapalhem a operação de colheita e infestem a área para a próxima cultura.
- Antecipação da Safrinha: Em regiões que cultivam milho safrinha ou algodão após a soja, antecipar a colheita em alguns dias pode significar plantar a próxima cultura dentro da janela ideal, reduzindo riscos climáticos como geadas tardias.
Resumindo, a dessecação da soja é uma ferramenta de planejamento que permite otimizar e antecipar a colheita, trazendo ganhos operacionais e de qualidade.
(Fonte: A Voz do Campo)
Qual o Momento Certo para Dessecar a Soja?
O ponto ideal para a dessecação é a chave para o sucesso da operação. A partir do momento em que o grão atinge a maturidade fisiológica, a planta para de enviar nutrientes para ele, pois ele já acumulou o máximo de matéria seca possível. É neste ponto que o grão possui suas melhores características de peso, óleo e proteína.
No entanto, nesse estágio, a planta ainda tem muita umidade, com folhas e hastes verdes, o que impede a colheita mecânica. Para colher os grãos com máxima qualidade, a dessecação deve ser feita logo após o ponto de maturação fisiológica, que ocorre no estádio fenológico R7.
O estádio R7 começa quando se observa pelo menos uma vagem com a cor de maturação na haste principal da planta. Ele é dividido em subestágios conforme o amarelecimento das folhas e vagens.
A melhor época para aplicar o herbicida é no estádio R7.2, quando cerca de 70% das vagens na lavoura já apresentam coloração amarronzada ou bronzeada.
É importante notar que, em anos ou regiões com clima muito seco e quente durante os estádios R6 e R7, a própria natureza já se encarrega de secar a planta. Nesses casos, a dessecação só se justifica se houver necessidade de controle de plantas daninhas para facilitar a colheita.
(Fonte: Coopertradição)
Posso Dessecar no Estádio R6 para Antecipar Ainda Mais a Colheita?
A resposta curta é não, e o prejuízo pode ser grande.
No estádio R6, os grãos já atingiram seu tamanho máximo dentro da vagem, mas ainda não estão fisiologicamente prontos. Eles ainda estão no processo de “enchimento”, acumulando peso e nutrientes.
Interromper esse processo com a dessecação em R6 pode causar uma redução de até 27% na produtividade em lavouras comerciais.
Além da perda de peso, a dessecação precoce também diminui o teor de extrato etéreo (o óleo do grão), que é um componente fundamental para a indústria de ração animal, principal destino da soja.
Planta da soja em estádio R6
(Fonte: Embrapa)
Como Garantir a Eficiência da Dessecação: Dicas Práticas
Para que o manejo funcione como o esperado, alguns cuidados são essenciais:
Monitore o Clima: Fique sempre atento às condições climáticas antes, durante e após a aplicação. Herbicidas como o paraquate agem rápido (chuvas após 30 minutos já não afetam tanto), mas o ideal é não ter chuva logo após a dessecação. Se chover, a antecipação da colheita pode não ser tão grande, embora a área dessecada perca umidade mais rapidamente quando o tempo abrir.
Capriche na Tecnologia de Aplicação: A maioria dos dessecantes são herbicidas de contato. Isso significa que eles só agem onde tocam. Portanto, uma boa cobertura de toda a planta é fundamental para uma secagem uniforme e eficiente.
Conheça a Sua Cultivar: A eficiência da dessecação e o potencial de fitotoxidade podem variar entre os diferentes cultivares de soja. Procure informações sobre como a variedade que você plantou responde aos herbicidas que pretende usar.
Respeite as Recomendações de Bula: É fundamental que os herbicidas utilizados tenham registro e recomendação para a cultura da soja. Além disso, respeite rigorosamente o período de carência – o tempo mínimo entre a aplicação e a colheita – para garantir a segurança alimentar.
Quais Herbicidas Usar na Dessecação da Soja?
O herbicida historicamente mais utilizado para a dessecação da soja foi o paraquate. Sua popularidade se devia à ação rápida e ao fato de não deixar resíduos no grão que prejudicassem a qualidade da semente.
No entanto, devido às suas características toxicológicas, a Resolução 177 da Anvisa proibiu seu uso a partir de 2020. Por isso, é fundamental que o produtor conheça e teste novas ferramentas para substituir este herbicida. Planejar e se antecipar a problemas é a chave para a lucratividade.
Mesmo que a proibição fosse revertida, outro problema já existe no campo: a resistência. Já existem áreas com populações de buva resistentes ao paraquate, onde a dessecação com este produto já não controla mais os escapes de forma eficiente.
(Fonte: Peluzio et al., 2008 em Geagra)
Alternativas ao Paraquate e Soluções para Plantas Daninhas Resistentes
Felizmente, existem outras opções eficazes no mercado. As alternativas mais comuns ao paraquate incluem os herbicidas diquat, flumioxazin, glifosato, glufosinato de amônio e saflufenacil.
A escolha dependerá da situação específica de cada talhão:
- Para áreas com buva resistente: As opções mais indicadas são o
Saflufenacil
(doses de 70 g/ha a 140 g/ha + adjuvante não iônico) ou oglufosinato de amônio
(dose de 2 L/ha + óleo mineral). - Outras opções de contato: O
diquat
(2 L/ha) e oflumioxazin
(50 g/ha) também podem ser utilizados. Atenção: após a aplicação do flumioxazin, é preciso esperar no mínimo 14 dias para plantar o milho, para evitar problemas de efeito residual na cultura sucessora. - Glifosato: Pode ser usado para dessecar soja convencional, mas não é eficaz no controle de buva e amargoso resistentes. Além disso, por ser um herbicida sistêmico, seu uso em áreas de produção de sementes não é recomendado, pois pode prejudicar a qualidade fisiológica das sementes.
Lembre-se que o manejo ideal de plantas daninhas resistentes, como buva e amargoso, deve ser feito no período de entressafra. Nessa época, há mais opções de produtos e a aplicação é mais eficiente, sem o “efeito guarda-chuva” da cultura da soja já estabelecida.
A buva é uma das principais daninhas resistentes; o manejo ideal começa na entressafra.
(Foto: Fernando Adegas/Embrapa)
Importante: A recomendação de produtos fitossanitários deve ser sempre feita por um engenheiro agrônomo. No entanto, estar bem informado sobre as opções disponíveis ajuda você a discutir as melhores estratégias para a sua fazenda.
Conclusão
A dessecação da soja para colheita é uma prática com muitas vantagens, mas que exige um manejo técnico e cuidadoso para entregar bons resultados.
O ponto mais crítico é o momento da aplicação: realize a operação logo após o ponto de maturação fisiológica (estádio R7). Aplicar antes disso pode causar perdas significativas de produtividade e reduzir a qualidade dos grãos.
Além do timing, fique atento ao clima, escolha o herbicida correto para a sua situação — considerando as plantas daninhas presentes e a variedade de soja — e capriche na tecnologia de aplicação.
Seguindo essas recomendações, você transforma a dessecação em uma aliada para otimizar sua colheita e preparar o terreno para uma safrinha de sucesso. Boa safra
Glossário
Dessecação pré-colheita: Aplicação de herbicida no final do ciclo da cultura para acelerar a secagem das plantas. Essa prática uniformiza a maturação da lavoura e permite antecipar a colheita mecânica.
Estádios Fenológicos (R6/R7): Fases do desenvolvimento reprodutivo da soja. O estádio R6 é quando os grãos estão cheios na vagem, mas ainda ganhando peso (muito cedo para dessecar), enquanto o R7 marca o início da maturidade fisiológica, ponto ideal para a aplicação do dessecante.
Extrato Etéreo: Termo técnico para o teor de óleo ou gordura presente nos grãos de soja. É um importante parâmetro de qualidade para a indústria, que pode ser negativamente afetado por uma dessecação precoce.
Herbicida de Contato: Produto que age apenas na parte da planta em que é aplicado, sem se mover internamente. Por isso, uma boa cobertura de toda a folhagem durante a pulverização é essencial para sua eficácia.
Matéria Seca: O peso total de um grão ou planta após a remoção completa da água. O ponto de maturação fisiológica é definido como o momento em que o grão atinge seu acúmulo máximo de matéria seca.
Período de Carência: Intervalo de tempo mínimo que deve ser respeitado entre a aplicação de um agrotóxico e a colheita. Seguir essa recomendação da bula é obrigatório para garantir a segurança alimentar do produto final.
Ponto de Maturação Fisiológica: Momento exato em que o grão para de acumular peso e nutrientes, atingindo seu máximo potencial produtivo e qualidade. É o gatilho que indica o momento ideal para realizar a dessecação.
Safrinha: Segunda safra plantada no mesmo ano agrícola, tipicamente milho ou algodão após a colheita da soja. A antecipação da colheita da soja via dessecação ajuda a plantar a safrinha dentro da janela climática ideal.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
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Perguntas Frequentes
Qual é o principal objetivo da dessecação pré-colheita na cultura da soja?
O objetivo principal é uniformizar a maturação da lavoura, antecipar a colheita e facilitar a operação das máquinas. Isso permite abrir a janela de plantio para a safrinha, além de ajudar no controle de plantas daninhas de final de ciclo e proteger a qualidade dos grãos que ficariam mais tempo expostos no campo.
Como identificar o momento exato para aplicar o dessecante na soja sem perder produtividade?
O momento ideal é no estádio fenológico R7, especificamente no subestágio R7.2. Na prática, isso ocorre quando cerca de 70% das vagens na lavoura já apresentam uma coloração amarronzada. Nesse ponto, o grão atingiu a maturação fisiológica, ou seja, seu peso máximo, garantindo que não haverá perdas de produtividade.
Quais são os riscos de realizar a dessecação da soja antes da hora, no estádio R6?
Dessecar no estádio R6 é muito arriscado e pode causar perdas de produtividade de até 27%. Isso ocorre porque o grão ainda está em fase de enchimento, acumulando peso e nutrientes. A dessecação precoce interrompe esse processo, resultando em grãos mais leves e com menor teor de óleo (extrato etéreo).
Com a proibição do paraquate, quais herbicidas são as melhores alternativas para a dessecação da soja?
Existem diversas alternativas eficazes, como diquat, flumioxazin, glufosinato de amônio e saflufenacil. A escolha ideal depende da situação, especialmente da presença de plantas daninhas resistentes. Para áreas com buva, por exemplo, o glufosinato de amônio e o saflufenacil são as opções mais recomendadas.
Em anos muito secos no final do ciclo, ainda é necessário fazer a dessecação da soja?
Não necessariamente. Em condições de clima seco e quente, a própria natureza pode se encarregar de secar as plantas de forma uniforme. Nesses cenários, a dessecação se justifica apenas se houver uma infestação de plantas daninhas que precise ser controlada para não atrapalhar a operação da colheitadeira.
Qual a diferença de ação entre um herbicida de contato e um sistêmico na dessecação da soja?
Um herbicida de contato, como o diquat, age apenas onde toca na planta, promovendo uma secagem rápida e exigindo boa cobertura na aplicação. Já um herbicida sistêmico, como o glifosato, é absorvido e se move pela planta, mas seu uso não é recomendado para lavouras de produção de sementes, pois pode afetar a qualidade fisiológica delas.
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