Pior do que aplicar um produto e não ver resultado, é perceber que a pulverização prejudicou as culturas sensíveis de uma área vizinha. Esse é um dos maiores problemas causados pela deriva, além da perda de produto, dinheiro e da aplicação de doses erradas no seu próprio talhão.
O fato da deriva ser tão comum mostra que não é simples controlar todos os fatores na tecnologia de aplicação de defensivos.
Neste artigo, reunimos as principais maneiras de reduzir a deriva para você não prejudicar suas culturas nem as do vizinho. Confira!
O que é deriva de defensivos agrícolas?
De forma simples, a deriva acontece quando a aplicação do defensivo agrícola não chega ao alvo.
Deriva: significa que o defensivo agrícola aplicado se desvia do seu alvo, seja pelo vento ou por evaporação, atingindo áreas não desejadas.
Sabemos que é fundamental que o defensivo atinja o local correto. Quando isso não ocorre, estamos perdendo dinheiro, tempo e, como resultado, diminuindo a produtividade da lavoura.
Comportamento dos defensivos agrícolas no ambiente. A deriva é um dos caminhos que o produto pode seguir, em vez de atingir a planta-alvo.
(Fonte: Campos Moraes (2012))
Mesmo com muita informação sobre tecnologia de aplicação, podemos ficar em dúvida na hora de decidir os melhores critérios para pulverizar.
Pensando nisso, o pesquisador Ferrer (2014) criou um modelo que ajuda a organizar as decisões na hora de aplicar defensivos.
Modelo conceitual de decisões em tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários, mostrando todos os fatores envolvidos.
(Fonte: Ferrer (2014))
Um estudo realizado por Marasca et al. (2018) analisou a distância que a deriva pode alcançar dependendo do método de aplicação e das condições climáticas. Os resultados mostram que a porcentagem de deriva pode aumentar em até 128% quando a aplicação é feita em condições adversas, como vento forte ou temperatura alta.
Distância máxima de deriva e o quanto ela aumenta quando as aplicações são feitas em condições climáticas ideais versus adversas.
(Fonte: Marasca et al. (2018))
Agora, vamos às dicas práticas para evitar que isso aconteça na sua fazenda.
1. Controle o Tamanho e o Peso das Gotas
O diâmetro e o peso das gotas são os fatores que mais influenciam a deriva. Gotas muito pequenas, com tamanho entre 50 e 100 μm (micrômetros: uma unidade de medida mil vezes menor que o milímetro), são classificadas como muito finas e são as mais fáceis de serem carregadas pelo vento.
Manual de tecnologia de aplicação, mostrando a relação entre tamanho de gota, risco de deriva e evaporação.
(Fonte: Andef)
Classificação das gotas e o risco de deriva associado a cada tipo de bico de pulverização.
(Fonte: Jacto)
Por outro lado, gotas grandes são mais pesadas. Por isso, sua trajetória é mais vertical, o que as torna mais resistentes à deriva.
É importante lembrar da troca: gotas maiores resultam em menor cobertura da planta. Por isso, são mais indicadas para defensivos sistêmicos, que são absorvidos pela planta e se movem dentro dela. Já as gotas pequenas (finas) são recomendadas para produtos que precisam de boa cobertura, como os defensivos de contato, que agem apenas onde tocam.
Portanto, sempre que o produto e as condições climáticas permitirem, prefira usar gotas médias a grossas.
Comparativo de cobertura em plantas de soja usando diferentes bicos de pulverização.
(Fonte: Jacto)
2. Monitore as Condições Climáticas Durante a Aplicação
Para evitar a deriva, a aplicação deve ser feita em condições climáticas ideais. A recomendação geral é:
- Temperatura: abaixo de 30°C.
- Umidade relativa do ar: acima de 55%.
- Velocidade do vento: entre 3 e 10 km/h.
Manual de tecnologia de aplicação com recomendações sobre a velocidade do vento.
(Fonte: Andef)
Ventos com velocidade acima de 10 km/h aumentam muito o risco de deriva, principalmente se as gotas forem finas ou muito finas. Isso pode levar o produto para áreas onde ele não deveria ser aplicado.
Por outro lado, ventos com velocidade menor que 3 km/h também podem ser um problema, pois podem ocorrer inversões térmicas e a falta de vento pode reduzir a penetração do produto nas partes mais baixas das plantas.
Para garantir a aplicação nas melhores condições, é fundamental monitorar o tempo com uma estação meteorológica ou anemômetro.
3. Utilize Adjuvantes para Reduzir a Deriva
Adjuvantes: são produtos adicionados à calda de pulverização para melhorar a eficiência da aplicação, podendo aumentar a aderência, espalhamento ou reduzir a deriva.
Existem adjuvantes com diversas funções, e uma delas é justamente a função antideriva.
Funções dos diferentes tipos de adjuvantes que podem ser adicionados à calda.
(Fonte: R-TEC AGRO)
Um estudo realizado por Costa et al. (2014) concluiu que o uso de óleo mineral e um agente antideriva reduziu significativamente a suscetibilidade à deriva em uma aplicação de glifosato + 2,4-D.
Efeito de adjuvantes na deposição de gotas de 2,4-D + glifosato em condições de campo.
(Fonte: Costa et al., 2014)
4. Escolha Corretamente a Ponta de Pulverização
Para escolher a ponta certa, primeiro precisamos conhecer as partes que compõem um bico de pulverização. São elas:
- Corpo
- Peneira (ou filtro)
- Ponta (ou bico)
- Capa
Componentes do bico de pulverização.
(Fonte: Santos e Cesar)
A escolha correta do bico de pulverização ajuda a reduzir as perdas por deriva e garante uma aplicação mais uniforme.
O fator mais importante para essa decisão é o alvo que você deseja atingir. Existem diferentes produtos para controlar plantas daninhas, pragas e doenças, e cada um tem um alvo específico.
Primeiro, defina seu alvo. Ele está no solo ou na planta? É um inseto na parte de cima da folha ou um fungo na parte de baixo? A figura abaixo ajuda a direcionar a escolha.
Tipos de bicos e seus principais alvos e funções.
(Fonte: Agrozapp)
5. Ajuste a Pressão, a Altura da Barra e a Cobertura
Para uma aplicação correta e sem deriva, a altura da barra do pulverizador deve ser ajustada em relação ao alvo. A recomendação geral é manter a barra a aproximadamente 50 cm de altura do alvo. Essa altura pode variar conforme o tipo de bico e o espaçamento entre eles para garantir a sobreposição correta dos jatos.
Altura ideal da barra de pulverização para garantir cobertura uniforme sem excesso de deriva.
(Fonte: Santos (2013))
Depois de ajustar a altura, verifique se a cobertura está ideal, ou seja, se a quantidade de gotas do produto depositada sobre o alvo é suficiente. Uma boa cobertura depende de vários fatores:
- Tipo de produto: a formulação (pó, granulado, líquido) e suas características.
- Tamanho de gota: como já vimos, gotas menores cobrem mais, mas derivam mais.
- Uso de surfactantes/adjuvantes: podem melhorar o espalhamento das gotas.
- Volume de calda aplicado: medido em litros por hectare.
Relação entre cobertura, pressão, deriva e vida útil para diferentes tipos de bicos.
(Fonte: Adegas (Embrapa Soja))
Além da formulação, outras características do produto precisam ser observadas:
- Modo de absorção: se é aplicado em pré ou pós-emergência.
- Degradação pela luz: se o produto perde eficácia com a exposição solar.
- Tempo de absorção: quanto tempo a planta leva para absorver o produto.
- Modo de ação: se é sistêmico ou de contato.
- Volatilidade: se o produto evapora facilmente. Esta é uma das principais características ligadas ao alto risco de deriva.
Guia de tipos de bicos, pressão de trabalho, características das gotas e indicações de uso.
(Fonte: Embrapa Uva e Vinho)
Conclusão
Neste artigo, vimos o que é a deriva e apresentamos cinco dicas importantes para reduzir o risco de ela acontecer na sua lavoura.
Você viu como controlar o tamanho das gotas, monitorar o clima, usar adjuvantes, escolher o bico correto e ajustar a altura da barra pode ajudar a garantir que o defensivo atinja o alvo desejado, sem causar danos a outras culturas.
Com a redução da deriva, mais produto chega ao alvo, melhorando o controle de plantas daninhas, pragas e doenças. Consequentemente, isso ajuda a proteger o potencial produtivo da sua safra.
Ao planejar sua aplicação, consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) e siga todas as instruções e precauções da bula do produto.
Agora que você entende melhor como evitar a deriva de defensivos, que tal começar a aplicar essas dicas na próxima pulverização?
Glossário
Adjuvantes: Substâncias adicionadas à calda de pulverização para melhorar a eficácia da aplicação. Podem ter função antideriva, aumentando o peso das gotas, ou melhorar a aderência do produto às folhas.
Defensivos de contato: Produtos que agem apenas na área da planta onde são depositados. Exigem uma cobertura completa e uniforme, geralmente obtida com gotas menores, o que aumenta o risco de deriva.
Defensivos sistêmicos: Produtos absorvidos pela planta que se movem por seus tecidos internos. Não necessitam de cobertura total, permitindo o uso de gotas maiores e mais pesadas, que são menos suscetíveis à deriva.
Deriva: Fenômeno em que as gotas de defensivo pulverizadas são desviadas do alvo original pela ação do vento ou evaporação. Causa perda de produto, contaminação ambiental e pode danificar culturas vizinhas.
Inversão térmica: Condição climática em que uma camada de ar quente fica sobre uma camada de ar frio próxima ao solo, geralmente com ventos muito fracos. Essa situação pode fazer com que gotas finas fiquem suspensas no ar e se desloquem por longas distâncias.
Micrômetro (μm): Unidade de medida que equivale à milésima parte de um milímetro. É usada para classificar o tamanho das gotas de pulverização, um fator crucial para o controle da deriva.
Volume de calda: Quantidade total da mistura de água e defensivo aplicada por área, geralmente expressa em litros por hectare (L/ha). O volume correto é essencial para garantir a cobertura adequada do alvo.
Volatilidade: Característica de uma substância de se transformar facilmente em gás ou vapor à temperatura ambiente. Defensivos com alta volatilidade têm maior risco de deriva, pois podem evaporar após a aplicação e ser transportados pelo vento.
Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios
Controlar a deriva é um desafio que une a gestão agronômica e a financeira. Perder produto significa desperdiçar dinheiro e comprometer a eficiência do manejo. Um software de gestão agrícola como o Aegro ajuda a mitigar esse problema ao permitir o planejamento e registro detalhado de cada pulverização. Nele, é possível anotar as condições climáticas no momento da aplicação, o equipamento utilizado e os insumos, criando um histórico que auxilia na tomada de decisões futuras para evitar a deriva. Além disso, ao vincular essa operação ao controle de estoque e custos, o sistema mostra o impacto financeiro real de cada aplicação, ajudando a otimizar o uso de defensivos e a proteger a rentabilidade da safra.
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Perguntas Frequentes
Qual a melhor forma de equilibrar a boa cobertura da planta com a redução da deriva?
O equilíbrio ideal depende do tipo de defensivo. Para produtos sistêmicos, que se movem dentro da planta, priorize gotas médias a grossas para minimizar a deriva. Já para defensivos de contato, que exigem máxima cobertura, o uso de gotas finas pode ser necessário, mas deve ser feito estritamente sob condições climáticas ideais (vento baixo, umidade alta) e, se possível, com o auxílio de adjuvantes.
Por que pulverizar com ventos muito fracos (abaixo de 3 km/h) também pode causar deriva?
A ausência de vento pode indicar uma condição de inversão térmica, onde o ar frio fica preso perto do solo por uma camada de ar quente. Nessa situação, as gotas finas podem ficar suspensas, formando uma névoa que se desloca por longas distâncias de forma imprevisível, causando deriva severa em áreas não-alvo.
Além do vento, quais outros fatores climáticos são críticos para controlar a deriva de defensivos?
Dois fatores essenciais são a temperatura e a umidade relativa do ar. O ideal é pulverizar com temperaturas abaixo de 30°C e umidade acima de 55%. Temperaturas altas e baixa umidade aceleram a evaporação das gotas, diminuindo seu tamanho e peso, o que as torna muito mais suscetíveis a serem carregadas pelo vento.
O uso de um adjuvante antideriva me permite pulverizar em condições climáticas desfavoráveis?
Não. Os adjuvantes são ferramentas para otimizar a aplicação em condições ideais ou limítrofes, mas não anulam os riscos de pulverizar em clima inadequado. Aplicar com vento forte ou temperatura alta continua sendo uma prática de alto risco que deve ser evitada, mesmo utilizando os melhores adjuvantes.
Como a escolha do bico de pulverização impacta diretamente na prevenção da deriva?
A escolha do bico é fundamental, pois ele determina o tamanho das gotas e o padrão do jato. Bicos com tecnologia de indução de ar, por exemplo, são projetados para produzir gotas maiores e com menor propensão à deriva, sendo ideais para herbicidas. Usar o bico correto para cada alvo e produto é uma das decisões mais importantes para uma aplicação segura e eficiente.
Qual a relação entre a pressão do pulverizador e o risco de deriva?
Geralmente, há uma relação direta: aumentar a pressão de trabalho tende a produzir gotas menores e mais finas, o que eleva o risco de deriva. Reduzir a pressão resulta em gotas maiores. É crucial operar dentro da faixa de pressão recomendada pelo fabricante do bico para garantir o tamanho de gota desejado e evitar tanto a deriva quanto uma cobertura inadequada.
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