Deficiência de Potássio na Soja: Sinais, Causas e Quando Fazer a Adubação

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Deficiência de Potássio na Soja: Sinais, Causas e Quando Fazer a Adubação

A nutrição adequada das plantas é um fator decisivo para maximizar o retorno econômico da cultura da soja.

Investir corretamente em fertilizantes não só aumenta a produtividade da lavoura, mas também ajuda a diminuir outros custos de produção por saca. Uma adubação bem planejada otimiza o uso de máquinas e implementos, mão de obra, defensivos e até os processos de secagem e armazenamento, diluindo os custos fixos.

Mas como identificar a deficiência de potássio na soja e decidir o momento certo de fazer a adubação? Confira a seguir os principais pontos para dominar esse manejo.

Principais Sinais da Deficiência de Potássio na Soja

O primeiro sinal da deficiência de potássio na soja é a redução no ritmo de crescimento das plantas. Este é um sintoma “invisível” que acontece antes mesmo das folhas mostrarem qualquer problema. Os sinais visuais só aparecem quando a carência do nutriente já está mais grave.

Quando os sintomas se tornam visíveis, eles incluem:

  • Manchas amarelas (clorose): A clorose, que significa o amarelamento das folhas por falta de clorofila, começa nas bordas das folhas mais velhas. Com o tempo, essa área pode evoluir para necrose, que é a morte do tecido da folha.
  • Maturação desuniforme: A lavoura não amadurece por igual, criando dificuldades na colheita.
  • Retenção foliar: As plantas seguram as folhas verdes mesmo após a maturação das vagens.
  • Vagens e grãos de má qualidade: Aparecem vagens verdes e chochas, com grãos pequenos, enrugados ou deformados.

visão de cima de plantas jovens de soja em seu estágio inicial de desenvolvimento. O foco está em uma plaPlantas de soja com sintomas de deficiência de potássio: clorose na borda dos folíolos (Foto: Anderson Vedelago)

uma vasta lavoura de soja em estágio avançado de maturação, aproximando-se do ponto de colheita. As plantas apPlantas de soja com sintomas de deficiência de potássio: retenção foliar (Foto: Anderson Vedelago)

Para entender a importância do potássio, pense nisto: a soja é uma cultura que “exporta” muito este nutriente. Cada tonelada de grãos colhida leva embora cerca de 20 kg de K2O do solo. Isso significa que lavouras de alta produtividade esgotam o potássio do solo rapidamente se o manejo da adubação não for bem-feito.

Impacto no Potencial Produtivo e em Cultivares Indeterminadas

A perda de produtividade por falta de potássio é ainda maior em anos de boas condições, especialmente quando não falta água. Nessas condições, as plantas conseguem fixar muitas vagens, que por sua vez exigem uma grande quantidade de potássio para encher os grãos.

As consequências da limitação nutricional de potássio se manifestam principalmente no terço superior das plantas.

Isso fica mais visível em cultivares de soja de crescimento indeterminado. Crescimento indeterminado: significa que a planta continua a crescer e a desenvolver folhas mesmo após o início do florescimento. Nessas variedades, a planta prioriza o enchimento dos grãos na parte de baixo e no meio. Como o potássio é móvel dentro da planta, ela o “puxa” das partes mais novas (o topo) para suprir a demanda das partes mais antigas, causando os sintomas de deficiência no terço superior.

close-up detalhado de um ramo de soja, destacando as vagens em diferentes estágios de sanidade sobre um funPlantas de soja com sintomas de deficiência de potássio: legumes secos no terço superior (Foto: Cláudia Lange)

banner promocional com uma fotografia de uma extensa lavoura de soja como plano de fundo. As fileiras verdes e

Adubação Potássica em Terras Baixas Gaúchas: Um Estudo de Caso

Ainda há muitas dúvidas sobre como a soja responde à adubação com potássio nos solos de terras baixas do Rio Grande do Sul. A maioria das recomendações de adubação que usamos hoje foi baseada em estudos feitos em terras altas, cujos solos são distintos daqueles das terras baixas (CQFS RS/SC, 2004).

As terras baixas do Rio Grande do Sul apresentam grandes variações na disponibilidade de potássio (K). As regiões arrozeiras da fronteira oeste e as planícies costeiras, por exemplo, frequentemente têm solos com disponibilidade de potássio baixa ou muito baixa, segundo a Comissão de Química e Fertilidade do Solo (CQFS RS/SC, 2004).

Nesses locais, a soja apresenta alta resposta à adição de potássio na semeadura, como mostram os gráficos abaixo:

gráfico de dispersão com uma curva de tendência que ilustra a relação entre a aplicação de fertilizante e agráfico técnico de dispersão com uma curva de regressão quadrática, ilustrando a relação entre a aplicaçãográfico de dispersão com uma linha de tendência que ilustra a relação entre a aplicação de fertilizante pot

Antes de olhar a tabela, é crucial entender dois conceitos:

  • Dose de Máxima Eficiência Técnica (DMET): A quantidade de fertilizante que gera a maior produtividade possível, sem considerar o custo.
  • Dose de Máxima Eficiência Econômica (DMEE): A dose que oferece o melhor retorno financeiro, onde o ganho com a produção extra paga o custo do fertilizante e ainda gera lucro.

Nos experimentos, a máxima eficiência técnica foi alcançada com uma média de 132 kg de K2O por hectare. No entanto, a máxima eficiência econômica ficou em torno de 122 kg de K2O por hectare.

Portanto, a decisão sobre quanto potássio aplicar deve levar em conta um bom planejamento agrícola e considerar:

  • A gestão financeira da propriedade;
  • O domínio do manejo da cultura;
  • A expectativa de colheita;
  • O preço do fertilizante;
  • O preço da soja.
LocalDMETRend. DMETDMEEAumento do rendimento de grãos
kg ha-1Mg ha-1kg ha-1Mg ha-1
Cachoeirinha1274,851191,23
Capivari do Sul1384,501311,68
Cachoeira do Sul1353,901261,36
São Gabriel1303,501110,56
MÉDIA1324,191221,21

(Fonte: Vedelago, 2014)

Atenção aos Diferentes Genótipos de Soja

É fundamental saber que nem todas as variedades de soja respondem da mesma forma à adubação potássica.

Os melhores resultados, com maior aumento de produtividade, costumam ocorrer em genótipos de porte baixo, com entrenós curtos e que não produzem um excesso de folhas (baixo índice de área foliar).

Em variedades de porte alto, adubar com mais potássio pode não aumentar a produção de grãos. Pelo contrário, pode causar problemas como o acamamento (quando as plantas tombam) e o excesso de sombreamento pelas folhas, o que prejudica o índice de colheita.

Entendendo o Balanço de Potássio no Solo

O potássio (K) é um nutriente muito móvel no solo. Isso significa que ele pode ser facilmente perdido por lixiviação (quando a água da chuva “lava” o nutriente para as camadas mais fundas do solo) ou por escorrimento superficial.

O risco de perda é ainda maior em solos com baixa ou média CTC (Capacidade de Troca de Cátions). CTC: é a capacidade do solo de reter nutrientes importantes, funcionando como uma “caixa d’água” de nutrientes para as plantas.

Para um manejo eficiente da adubação potássica, é essencial:

  1. Analisar os estoques de potássio no solo através de análise de solo.
  2. Quantificar a suplementação necessária via fertilizantes.
  3. Definir as épocas de aplicação e gerenciar o nutriente no sistema, usando culturas de sucessão para capturar e reciclar o potássio, reduzindo as perdas.

O quadro abaixo mostra o balanço de potássio no solo após a colheita da soja em diferentes doses de adubação.

uma tabela de dados técnicos que relaciona a aplicação de fertilizante potássico (K2O) com os níveis resultantEstoque inicial e final de K no solo (camada 0 – 20 cm) após cultivo de soja em função de doses de potássio na adubação de semeadura nos diferentes locais – safra 2012/13. (Fonte: Vedelago, 2014)

Os dados da tabela mostram que, mesmo com a adubação, ocorre perda de potássio do solo durante o ciclo da soja. As principais causas são: a baixa CTC da maioria dos solos do estudo, a drenagem da água da chuva (que leva o potássio embora) e a ausência de uma cultura de cobertura após a soja para “reciclar” o nutriente.

Conclusão: Estratégias para um Manejo Eficiente do Potássio

Para evitar as perdas de potássio, duas estratégias são fundamentais: o parcelamento da adubação e a adoção de sistemas conservacionistas que aumentem a matéria orgânica (carbono) e, consequentemente, a CTC do solo.

O parcelamento da aplicação de potássio é uma tática eficiente para reduzir perdas, especialmente em solos de baixa e média CTC. Uma recomendação prática é aplicar 30% a 40% próximo da semeadura (logo antes ou depois) e os 60% a 70% restantes antes do início da floração.

Em anos de maior volume de chuva, como os influenciados pelo fenômeno El Niño, o parcelamento da adubação potássica tende a trazer um grande aumento na produtividade.

Já em anos de La Niña, é preciso ter cuidado e garantir que chova após a aplicação da segunda dose de potássio. Essa chuva é essencial para dissolver e incorporar o nutriente no solo, permitindo que as plantas o absorvam eficientemente.


Glossário

  • Acamamento: Fenômeno em que as plantas de soja tombam ou se dobram, geralmente devido ao crescimento excessivo ou caules fracos. A adubação desequilibrada em certas variedades pode aumentar o risco de acamamento, prejudicando a colheita mecânica.

  • Clorose: Amarelamento das folhas causado pela perda ou produção insuficiente de clorofila. Na deficiência de potássio em soja, a clorose tipicamente começa nas bordas das folhas mais velhas da planta.

  • Crescimento Indeterminado: Característica de cultivares de soja que continuam o crescimento vegetativo (produção de folhas e hastes) mesmo após o início da floração. Nessas variedades, a competição por nutrientes como o potássio entre as partes novas e os grãos em formação é mais intensa.

  • CTC (Capacidade de Troca de Cátions): Medida da capacidade do solo de reter nutrientes com carga positiva, como o potássio (K+). Solos com baixa CTC, como os arenosos, seguram menos nutrientes e estão mais sujeitos a perdas por lixiviação.

  • DMEE (Dose de Máxima Eficiência Econômica): A quantidade de fertilizante que proporciona o maior lucro para o produtor, onde o valor do aumento da produção supera o custo do adubo. É a dose que otimiza o retorno financeiro, sendo geralmente um pouco menor que a DMET (Dose de Máxima Eficiência Técnica).

  • K2O (Óxido de Potássio): Unidade de medida padrão para expressar a concentração de potássio em fertilizantes e recomendações de adubação. Por exemplo, uma recomendação de “120 kg/ha de K2O” indica a quantidade deste composto a ser aplicada, não do elemento potássio puro.

  • Lixiviação: Processo pelo qual a água da chuva ou irrigação “lava” os nutrientes móveis do solo, como o potássio, para camadas mais profundas, tornando-os indisponíveis para as raízes das plantas. É uma das principais formas de perda de potássio.

  • Necrose: Morte do tecido vegetal, que aparece como manchas secas e escuras nas folhas. É um estágio avançado da deficiência de nutrientes, que pode ocorrer após a clorose severa.

Como a tecnologia pode otimizar a adubação potássica

Decidir a Dose de Máxima Eficiência Econômica (DMEE) e executar um parcelamento de adubação no momento certo são desafios complexos que impactam diretamente a lucratividade da lavoura. Sem um controle preciso, é fácil errar na dose e perder dinheiro, seja pelo custo do fertilizante ou pela quebra de produtividade.

Um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza o controle financeiro e operacional, tornando essas decisões mais seguras. A plataforma permite acompanhar os custos de produção em tempo real, ajudando a calcular a dose de adubo que trará o melhor retorno financeiro. Além disso, com a funcionalidade de planejamento de atividades, você pode programar as aplicações de potássio e garantir que sejam feitas no momento ideal, otimizando o aproveitamento do nutriente pela planta.

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Perguntas Frequentes

Por que os sintomas de deficiência de potássio na soja aparecem primeiro nas folhas mais velhas?

Isso ocorre porque o potássio é um nutriente móvel dentro da planta. Quando há falta no solo, a soja o transporta das folhas mais velhas para suprir a demanda das partes mais novas e em crescimento, como flores e vagens. Esse processo causa o amarelamento (clorose) e a necrose nas bordas das folhas mais antigas, que ficam na parte de baixo da planta.

Qual a diferença prática entre a Dose de Máxima Eficiência Técnica (DMET) e a Econômica (DMEE) na adubação com potássio?

A DMET é a quantidade de fertilizante que gera a maior produtividade possível, sem considerar o custo. Já a DMEE busca o maior retorno financeiro, ou seja, a dose em que o lucro obtido com o aumento da produção paga o investimento no adubo e ainda gera o máximo de lucro. Para o produtor, focar na DMEE é a decisão mais estratégica para a rentabilidade da lavoura.

Em que tipo de solo o parcelamento da adubação potássica é mais importante?

O parcelamento é crucial em solos com baixa Capacidade de Troca de Cátions (CTC), como os mais arenosos. Nesses solos, o potássio é facilmente perdido por lixiviação (lavagem pela chuva). Aplicar o nutriente em duas vezes garante que ele esteja disponível para a planta nos momentos de maior necessidade, como a floração, reduzindo perdas e aumentando a eficiência do fertilizante.

Aplicar uma dose extra de potássio ‘por segurança’ é uma boa ideia para aumentar a produtividade?

Não necessariamente. O excesso de potássio, especialmente em cultivares de soja de porte alto, pode ser prejudicial. Doses exageradas podem causar o acamamento (tombamento) das plantas e um excesso de folhas que gera auto-sombreamento, o que pode, na verdade, diminuir a produtividade. A adubação deve ser sempre baseada na análise de solo e na necessidade da cultura.

Por que as cultivares de soja de crescimento indeterminado são mais sensíveis à falta de potássio?

As cultivares de crescimento indeterminado continuam a desenvolver folhas e hastes mesmo após o florescimento. Isso cria uma forte competição interna pelo potássio entre as partes novas da planta (topo) e os grãos em formação (base e meio). A planta prioriza os grãos, retirando o potássio das folhas superiores, tornando os sintomas de deficiência mais evidentes no terço superior.

Além da adubação, que outra prática ajuda a melhorar o aproveitamento do potássio no solo?

A adoção de sistemas conservacionistas, como o plantio direto e o uso de culturas de cobertura, é fundamental. Essas práticas aumentam o teor de matéria orgânica, o que eleva a CTC do solo. Um solo com maior CTC funciona como uma ’esponja’ de nutrientes, retendo mais potássio e diminuindo as perdas por lixiviação, otimizando a fertilidade a longo prazo.

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