Magnésio na Soja: Do Sintoma de Deficiência ao Manejo Correto

Redatora parceira Aegro.
Magnésio na Soja: Do Sintoma de Deficiência ao Manejo Correto

Para garantir uma lavoura de soja produtiva, é fundamental ter plantas bem nutridas desde o início. Um dos nutrientes essenciais nesse processo é o magnésio (Mg). Ele é o componente central da clorofila, a molécula que dá a cor verde às folhas e é responsável pela fotossíntese.

No entanto, em muitos solos brasileiros, especialmente os mais arenosos, ácidos e com baixo teor de matéria orgânica, a disponibilidade de magnésio pode ser um desafio.

Este artigo vai mostrar a importância do magnésio para a soja, como identificar a falta dele e as melhores formas de fazer o manejo correto para garantir a máxima eficiência.

Por que o Magnésio é tão Importante para a Soja?

O magnésio é classificado como um macronutriente secundário. Isso significa que a planta precisa dele em quantidades menores que nitrogênio, fósforo e potássio, mas ainda assim é essencial para seu desenvolvimento. Ele é o terceiro cátion (nutriente de carga positiva) mais abundante no solo, ficando atrás apenas do cálcio e do hidrogênio.

Sua função mais conhecida é ser o átomo central da molécula de clorofila, o pigmento verde que capta a luz solar para a fotossíntese. Sem magnésio, não há clorofila, e a planta não consegue produzir sua própria energia.

as estruturas químicas moleculares da Clorofila a e da Clorofila b, os principais pigmentos responsáveis pela Estrutura das clorofilas a e b (Fonte: Scielo)

Além disso, o magnésio desempenha outras funções vitais na planta:

  • Ativação de enzimas: Funciona como um “interruptor” para diversas enzimas, que são proteínas que aceleram reações químicas vitais para a planta.
  • Produção de energia: Ele ajuda na formação de ATP (Adenosina Trifosfato), que é a “moeda de energia” da planta, usada em praticamente todos os processos, desde a absorção de outros nutrientes até a produção de grãos.
  • Fixação de carbono: Ele ativa enzimas importantes, como a RuBP carboxilase, que são cruciais para transformar o gás carbônico (CO2) do ar em açúcares e amido.
  • Síntese de moléculas: Participa da produção de proteínas, carboidratos e gorduras, que formam a estrutura da planta e enchem os grãos.

A tabela abaixo mostra como o magnésio é o sétimo nutriente mais presente na composição da soja, destacando sua relevância para a cultura.

uma tabela detalhada que quantifica a composição ou a extração de elementos químicos essenciais para o desenvo Composição elementar de uma cultura de soja (31 de grãos e 51 de restos, matéria seca) (Fonte: Prof. Faquin – Nutrição Mineral de Plantas)

Sinais Visuais: Como Identificar a Deficiência de Magnésio na Soja

O magnésio é um nutriente móvel na planta. Isso significa que, quando falta, a planta o “rouba” das folhas mais velhas para enviá-lo às folhas novas, que estão em crescimento. Por isso, os primeiros sintomas sempre aparecem nas folhas de baixo (basais).

Fique atento aos seguintes sinais:

  1. Clorose em Folhas Velhas: O primeiro sintoma é um amarelecimento (clorose) que começa nas bordas das folhas mais velhas. A cor verde-pálida avança para o centro da folha, mas as nervuras geralmente permanecem verdes, criando um aspecto listrado ou marmorizado.

  2. Avanço dos Sintomas: Se a deficiência continuar, a clorose se espalha por toda a folha e começa a afetar também as folhas mais novas, pois a produção geral de clorofila da planta fica comprometida.

composição de duas fotografias que ilustram sintomas de deficiência nutricional em plantas de soja. A foto à e (Fonte: Geagra – UFG)

  1. Manchas e Aspecto de Ferrugem: Em alguns casos, podem surgir pequenas pintas que lembram ferrugem ou manchas escuras e irregulares (necróticas) entre as nervuras, tanto nas folhas do meio quanto nas do topo da planta.

  2. Maturação Precoce e Deformações: A deficiência severa pode causar um enrugamento das folhas, com as bordas se curvando para baixo. A lavoura pode apresentar uma aparência de maturação precoce, com as folhas amarelando e secando antes da hora.

Quando o Risco de Deficiência é Maior?

A falta de magnésio é mais comum em certas condições de solo. A análise de solo é a ferramenta ideal para confirmar o problema. Fique atento a estes cenários:

  • Solos naturalmente pobres: Solos arenosos, ácidos (com pH baixo) e com pouca matéria orgânica geralmente têm baixa disponibilidade de magnésio.
  • Baixos teores na análise de solo: A deficiência é comum em solos com:
    • Mg < 8 mmolc dm-3: significa que há baixa concentração de magnésio no solo.
    • Mg/CTC < 13%: indica que a participação do magnésio na Capacidade de Troca Catiônica (CTC) está abaixo do ideal.
    • Relação Mg/K menor que 3,0: mostra um desequilíbrio, onde o potássio em excesso pode atrapalhar a absorção de magnésio.

Como Fornecer Magnésio para a Lavoura de Soja

A Principal Ferramenta: Calagem

A principal e mais econômica forma de fornecer magnésio ao solo é através da calagem, ou seja, a aplicação de calcário para corrigir a acidez. Utilizar calcário dolomítico (com mais de 7% de Mg) ou magnesiano (entre 3% e 7% de Mg) não só eleva o pH, mas também fornece cálcio e magnésio de forma equilibrada.

Outras Fontes de Magnésio para o Solo

Quando a análise de solo indica que apenas o calcário não será suficiente, ou quando não há necessidade de corrigir o pH, podem ser utilizados outros fertilizantes ricos em magnésio na adubação.

Confira algumas opções disponíveis no mercado:

Fonte% de Mg (aproximado)
Calcário calcítico2
Calcário magnesiano3-7
Calcário dolomítico>7
Sulfato de magnésio9-16
K-Mag18
Termofosfato19
Hidróxido de magnésio69,1
Multifosfato magnesiano (Fosmag)5-3,5
Óxido de magnésio (Magnesita)50-90
Silicato de magnésio40,2
Sulfato duplo de potássio e magnésio11
Nitrato de magnésio9,3

(Fonte: do autor – compilado da Microquímica com Agrolink)

E a Adubação Foliar com Magnésio?

A aplicação de magnésio via adubação foliar, geralmente com sulfato de magnésio, é uma opção para correções rápidas durante o ciclo da cultura. No entanto, é importante entender que ela funciona como um tratamento complementar e não substitui a adubação de base no solo.

Estudos, como o da Fundação MS, mostram que a aplicação foliar pode trazer ganhos de produtividade, especialmente em estágios críticos da planta.

uma tabela detalhando um protocolo de experimento agrícola, provavelmente para a cultura da soja. A tabela est Descrição dos tratamentos para avaliação de doses de magnésio aplicado foliar em três estádios na cultura da soja (Fonte: Fundação MS)

O gráfico abaixo mostra uma correlação positiva: quanto maior a dose de magnésio aplicada via foliar, maior a produtividade de grãos.

gráfico de dispersão com uma linha de tendência que ilustra a correlação positiva entre a aplicação de um f (Fonte: Fundação MS)

3 Fatores para Aumentar a Eficiência do Magnésio

Para garantir que a soja aproveite ao máximo o magnésio disponível, três pontos são cruciais:

1. pH do Solo

O magnésio fica mais disponível para as plantas em solos com pH acima de 5,4. A calagem é fundamental não apenas para fornecer o nutriente, mas também para criar o ambiente ideal para sua absorção.

2. Saturação Ideal na CTC

A CTC (Capacidade de Troca Catiônica) é como se fosse o “depósito” de nutrientes do solo. É importante que o magnésio ocupe uma porcentagem adequada desse depósito. Para a soja, a recomendação é:

  • Solos com CTC < 80 mmolc dm-3: o magnésio deve ocupar entre 13% e 18% da CTC.
  • Solos com CTC > 80 mmolc dm-3: o magnésio deve ocupar entre 13% e 20% da CTC.

3. Equilíbrio com Outros Nutrientes

A Parceria entre Fósforo e Magnésio (Sinergismo)

Aqui ocorre um sinergismo: um nutriente ajuda o outro. O magnésio atua como um “transportador” que ajuda a planta a absorver o fósforo de forma mais eficiente, pois participa da ativação das bombas de energia nas membranas das raízes. Solos com níveis adequados de magnésio permitem a máxima absorção de fósforo.

Este gráfico científico ilustra a relação entre a concentração de Fósforo (P) e a taxa de sua absorção (v) por uma planta, so Velocidade de absorção de fósforo em função da concentração de Mg na solução nutritiva (Fonte: AgroMag)

O Equilíbrio Delicado: Magnésio, Cálcio e Potássio

Esses três nutrientes competem pelos mesmos pontos de absorção na raiz. O excesso de um pode atrapalhar a entrada do outro. Manter a relação correta entre eles é vital. As relações ideais para a soja variam com a CTC do solo:

  • Em solos com CTC menor que 80 mmolc dm-3:

    • Relação Ca/Mg: entre 1 e 2
    • Relação Mg/K: entre 5 e 10
  • Em solos com CTC maior que 80 mmolc dm-3:

    • Relação Ca/Mg: entre 1,5 e 3,5
    • Relação Mg/K: entre 3 e 6

Cuidado: O Excesso de Magnésio Também é um Problema

Embora seja raro, o excesso de magnésio pode acontecer. O uso contínuo de calcário dolomítico (com alta concentração de Mg) sem um acompanhamento por análise de solo pode levar a um acúmulo excessivo do nutriente.

A principal consequência é o desequilíbrio nutricional, especialmente a deficiência induzida de potássio (K). O excesso de magnésio pode dificultar a absorção de potássio, prejudicando o enchimento dos grãos e comprometendo a produtividade.

E como evitar isso?

  • Faça análises de solo regulares: Monitore os níveis de Ca, Mg e K e suas relações.
  • Escolha o calcário correto: Com base na análise, decida entre calcário calcítico, magnesiano ou dolomítico para fornecer apenas o que o solo realmente precisa.

planilha de produtividade da soja

Conclusão

O magnésio pode parecer um nutriente secundário, mas seu papel na cultura da soja é fundamental para garantir a fotossíntese, a produção de energia e, consequentemente, uma boa produtividade.

Neste artigo, vimos a importância do Mg, como identificar sua deficiência nas folhas e as diversas fontes para adubação.

A chave para o sucesso está no equilíbrio. É preciso saber identificar os sintomas, mas, acima de tudo, trabalhar de forma preventiva com uma boa análise de solo. Corrigir o pH, escolher o calcário certo e manter as relações entre Mg, Ca e K equilibradas são os passos essenciais para que este nutriente trabalhe a favor da sua lavoura.


Glossário

  • ATP (Adenosina Trifosfato): Principal molécula de armazenamento e transporte de energia nas células das plantas. O magnésio é fundamental para sua formação, atuando como uma “bateria” que alimenta todos os processos vitais da planta, desde a absorção de nutrientes até a produção de grãos.

  • Calagem: Prática agrícola de aplicação de calcário no solo para corrigir a acidez (aumentar o pH). No caso da soja, o uso de calcário dolomítico ou magnesiano na calagem é a principal forma de fornecer magnésio à lavoura.

  • Calcário dolomítico: Tipo de calcário utilizado na calagem que é rico tanto em cálcio quanto em magnésio (com teor de Mg superior a 7%). É a fonte mais comum e econômica para fornecer magnésio e corrigir a acidez do solo simultaneamente.

  • Clorose: Amarelecimento das folhas causado pela redução ou falta de clorofila. No caso da deficiência de magnésio, a clorose tipicamente começa nas folhas mais velhas, pois o nutriente é móvel e a planta o desloca para as partes mais novas.

  • CTC (Capacidade de Troca Catiônica): Medida da capacidade do solo de reter nutrientes de carga positiva (cátions), como o Magnésio (Mg²⁺), Cálcio (Ca²⁺) e Potássio (K⁺). Funciona como um “depósito de nutrientes” do solo; quanto maior a CTC, maior sua capacidade de reter esses elementos essenciais.

  • Macronutriente secundário: Nutriente que a planta necessita em quantidades significativas, porém menores que os macronutrientes primários (Nitrogênio, Fósforo e Potássio). O magnésio, o cálcio e o enxofre pertencem a esta categoria.

  • mmolc dm⁻³ (milimol de carga por decímetro cúbico): Unidade de medida padrão utilizada nos laudos de análise de solo para expressar a concentração de cátions. Um decímetro cúbico (dm³) equivale a um litro, então a unidade mede a quantidade de nutrientes disponíveis em um litro de solo.

  • Sinergismo: Efeito positivo e mútuo entre dois nutrientes, onde a presença de um aumenta a eficiência ou a absorção do outro. O artigo cita o sinergismo entre magnésio e fósforo, no qual o Mg ajuda a planta a absorver o fósforo de forma mais eficaz.

Otimize o manejo de nutrientes com a gestão certa

Garantir o equilíbrio nutricional da soja, como o manejo correto do magnésio, é um desafio que vai além da análise de solo. Envolve planejar a aplicação de calcário, controlar os custos com fertilizantes e registrar cada operação para evitar excessos ou deficiências que comprometem a produtividade. Fazer esse controle em planilhas ou cadernos pode ser complexo e levar a erros.

Para simplificar essa tarefa, um software de gestão agrícola como o Aegro centraliza todas essas informações. Nele, você pode registrar os resultados da análise de solo, planejar a calagem e a adubação com base nas recomendações técnicas e acompanhar os custos de cada insumo em tempo real. Isso transforma dados em ações precisas, garantindo que sua lavoura receba exatamente o que precisa e que cada real investido traga o máximo retorno.

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Perguntas Frequentes

Por que os sintomas de deficiência de magnésio na soja aparecem primeiro nas folhas mais velhas?

Isso ocorre porque o magnésio é um nutriente móvel dentro da planta. Quando há falta de Mg, a planta o transfere das folhas mais velhas e menos produtivas para as partes novas em crescimento, que são prioritárias. Como resultado, o amarelecimento (clorose) e outros sinais de deficiência se manifestam primeiro na base da planta.

Meu solo tem deficiência de magnésio, mas o pH já está corrigido. Devo usar calcário dolomítico?

Não. Se o pH do solo já está na faixa ideal para a soja, o uso de calcário não é recomendado, pois o elevaria excessivamente. Nesse caso, você deve optar por outras fontes de magnésio que não alterem a acidez, como o sulfato de magnésio, K-Mag ou óxido de magnésio, aplicando a dose recomendada pela análise de solo.

Qual a diferença entre a adubação com magnésio via solo e a aplicação foliar?

A adubação via solo, principalmente através da calagem, é uma correção de base que fornece magnésio de forma gradual e duradoura para todo o ciclo da cultura. Já a aplicação foliar é uma medida corretiva de efeito rápido, ideal para solucionar uma deficiência pontual identificada durante o desenvolvimento da lavoura, mas não substitui a adubação de solo.

É verdade que o excesso de magnésio pode prejudicar a lavoura de soja?

Sim, o excesso de magnésio é prejudicial. Ele causa um desequilíbrio nutricional no solo, pois o Mg em alta concentração compete com o potássio (K) e o cálcio (Ca) pela absorção nas raízes. Isso pode levar a uma deficiência induzida de potássio, afetando negativamente o enchimento dos grãos e a produtividade final.

O que significa a relação ideal entre Magnésio (Mg) e Potássio (K) no solo?

A relação Mg/K indica o equilíbrio entre esses dois nutrientes no solo. Como eles competem pelos mesmos locais de absorção na raiz, uma proporção inadequada (geralmente um excesso de K) pode impedir que a planta absorva magnésio suficiente, mesmo que ele esteja presente no solo. Manter essa relação dentro da faixa ideal (entre 3 e 10, dependendo da CTC) é fundamental para uma nutrição balanceada.

Além da fotossíntese, quais são as outras funções importantes do magnésio na soja?

O magnésio atua como um ativador para centenas de enzimas essenciais ao metabolismo da planta. Ele é fundamental na produção de ATP, a principal molécula de energia da planta, e participa diretamente na síntese de proteínas, carboidratos e óleos, que são componentes cruciais para o desenvolvimento da planta e a qualidade dos grãos.

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