Tecnologias em Defensivos Agrícolas: Inovações para Controle na Lavoura

Engenheira agrônoma, mestre e doutora na linha de pesquisa de plantas daninhas. Atualmente professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina).
Tecnologias em Defensivos Agrícolas: Inovações para Controle na Lavoura

O controle de pragas e doenças com defensivos químicos parece se tornar mais complexo a cada safra. A boa notícia é que novas tecnologias estão surgindo para enfrentar esses desafios de frente.

Mais do que simples ferramentas, essas inovações ajudam a aprimorar o controle, reduzir desperdícios de defensivos agrícolas e aumentar a eficiência da sua operação.

Neste artigo, vamos explorar algumas das principais tecnologias que estão transformando o manejo na lavoura e ajudando produtores a alcançar altas produtividades com mais sustentabilidade e precisão.

1. Defensivos Agrícolas Naturais: O Poder do Controle Biológico

Uma das frentes tecnológicas mais importantes no controle de pragas é o uso de Biopesticidas, também conhecidos como inseticidas biológicos. Eles utilizam organismos vivos ou seus derivados para combater pragas e doenças de forma direcionada.

Vamos conhecer os principais tipos:

Trichogramma

Popularmente chamada de vespinha, o Trichogramma é um inseto benéfico que age como um parasitoide. Sua grande eficácia está em depositar seus próprios ovos dentro dos ovos das pragas, impedindo que as lagartas cheguem a nascer e a causar danos na lavoura.

infográfico comparativo que ilustra o mecanismo de controle biológico de pragas utilizando a vespa parasitoide (Fonte: Koppert)

Baculovírus

Este é um tipo de bioinseticida formulado à base de vírus específicos que atacam lagartas. O Baculovírus é altamente eficaz para o controle de lagartas em seus estágios iniciais, especialmente quando são pequenas, com até 1 cm de comprimento.

Bacillus thuringiensis

O Bacillus thuringiensis, ou simplesmente Bt, é uma bactéria que pode ser usada de duas formas: como um bioinseticida aplicado diretamente na lavoura ou tendo seus genes incorporados às plantas.

Você já ouviu falar da tecnologia Bt nas sementes de milho e soja, certo? A sigla “Bt” vem exatamente dos genes dessa bactéria, que fazem a própria planta produzir proteínas tóxicas para certas lagartas.

Como bioinseticida, o produto à base de Bt é uma excelente opção para o manejo de lagartas mais novas, com até 0,5 cm de comprimento.

Atenção: Se você já utiliza uma cultura com tecnologia Bt, não é recomendado aplicar um bioinseticida à base de Bacillus thuringiensis. Usar a mesma tecnologia de duas formas diferentes aumenta a pressão de seleção e acelera o surgimento de resistência das pragas.

Extrato de Nim

O óleo extraído da planta de nim possui comprovada atividade inseticida contra diversas pragas agrícolas, incluindo a temida lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). Saiba mais sobre o nim aqui.

MIP (Manejo Integrado de Pragas)

Embora não seja uma tecnologia nova, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a base para o sucesso de qualquer estratégia de controle. Ele combina diferentes táticas — biológicas, químicas e culturais — para um manejo eficiente e sustentável a curto e longo prazo.

banner planilha manejo integrado de pragas

Paecilomyces lilacinus

Recentemente, produtos à base de fungos também ganharam espaço no controle de nematoides. Um exemplo é o fungo Paecilomyces lilacinus, que apresenta boa eficiência no controle do nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita) nas culturas de soja e alface.

close-up detalhado do sistema radicular de uma planta leguminosa, provavelmente soja, destacando a presença Sintomas do nematoide Meloidogyne spp. (nematoide-das-galhas) em raízes de soja. (Fonte: Marcelo Madalosso em Phytus Club)

Pochonia chlamydosporia

Outro fungo importante para o controle de nematoides é o Pochonia chlamydosporia. Produtos à base deste fungo são posicionados para culturas como soja, milho, algodão, além de olerícolas e frutíferas.

Cuidados na aplicação de fungos biológicos:

  • Período de Carência: O intervalo entre a aplicação e a colheita é de aproximadamente 30 dias.
  • Condições de Aplicação: Evite aplicar em períodos de seca (estiagem). Dê preferência às horas mais amenas do dia, como o início da manhã.
  • Armazenamento: Guarde o produto protegido da luz solar direta, em local sombreado e fresco. Veja mais sobre armazenamento de defensivos aqui.

Lembre-se: ao combinar produtos químicos com biopesticidas, é fundamental avaliar a seletividade dos químicos para garantir que eles não prejudiquem os inimigos naturais e os agentes biológicos que você está aplicando.

infográfico em formato de fluxograma que classifica diferentes grupos de inseticidas com base em seu mo (Fonte: Embrapa)

2. Tecnologias de Pulverização: Atingindo o Alvo com Mais Eficiência

A Embrapa Meio Ambiente desenvolveu, em 2016, um aprimoramento importante na tecnologia de pulverização eletrostática.

Essa técnica funciona dando uma carga elétrica às gotas do defensivo durante a pulverização. Com isso, as gotas são atraídas pelas plantas, melhorando a cobertura e atingindo tanto a parte de cima quanto a de baixo das folhas.

As vantagens são significativas:

  • Redução de produto: Menos defensivo é necessário para obter o mesmo resultado.
  • Versatilidade: Pode ser usada em aplicações em culturas de pequeno, médio e grande porte.
  • Baixo custo: A tecnologia é acessível e oferece um ótimo retorno.
  • Economia de calda: Capacidade de reduzir de 50% a 90% do volume de calda aplicado por área.

homem, visto de costas, utilizando um pulverizador costal de cor laranja da marca JETBRAS. Ele está em uma (Fonte: Marcos Alexandre em Embrapa)

Você pode conferir mais detalhes e vídeos sobre essa tecnologia neste link da Embrapa.

3. Agricultura de Precisão na Aplicação de Defensivos

A aplicação localizada e inteligente é outra fronteira tecnológica que gera grande economia e eficiência.

Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs ou Drones)

Os VANTs, ou drones, já são conhecidos por mapear lavouras e identificar doenças. Agora, eles também são usados como complemento às pulverizações convencionais.

Funciona assim: os drones identificam falhas de aplicação ou “reboleiras” de plantas daninhas, doenças e pragas. Com essa informação, eles realizam uma aplicação de defensivo de forma localizada, apenas onde é necessário.

Essa abordagem impede que os problemas se alastrem e pode reduzir a aplicação de defensivos em até 60%.

Aproveite para se preparar na pré-safra: Como combater as principais doenças de milho, feijão e sorgo

Sensores Ópticos

Os sensores ópticos são utilizados para avaliar a variabilidade do solo e otimizar as operações agrícolas. No Brasil, são amplamente usados na aplicação de fertilizantes nitrogenados e, mais recentemente, na pulverização de defensivos.

Um excelente exemplo é o WeedSeeker® da Trimble. Este equipamento possui sensores que identificam a coloração verde das plantas daninhas no meio da palhada ou solo exposto. Ao detectar uma invasora, ele aciona o bico de pulverização e aplica o herbicida somente naquele ponto.

Leia mais sobre o tema em: “8 maneiras de deixar sua lavoura mais inteligente utilizando sensores no campo”.

4. Aplicação em Taxa Variada: Fim da Dose Única

A aplicação homogênea — ou seja, usar a mesma quantidade de insumo em toda a área — raramente é a melhor opção. As lavouras possuem variabilidade natural, com áreas mais e menos produtivas.

A Agricultura de Precisão (AP) surgiu para identificar essa variabilidade, permitindo interpretar mapas e realizar a aplicação em taxa variável, ajustando a dose de insumo para cada mancha da lavoura.

Como começar de forma simples? Uma forma prática de iniciar é dividir a fazenda em talhões e analisar o histórico de atividades e, principalmente, a produtividade de cada um. O monitoramento do MIP também ajuda a identificar quais áreas precisam de mais ou menos aplicações.

a tela de ‘Colheita’ do software de gestão agrícola Aegro. A interface apresenta um painel de controle detalha

Ao registrar e analisar esses dados, você começa a enxergar as diferenças dentro da sua lavoura, o que é o primeiro passo para uma gestão agrícola mais eficiente.

Para se aprofundar, veja nossos artigos sobre o tema:

5. Gestão de Defensivos com Ferramentas Digitais

Rotacionar mecanismos de ação, controlar o estoque para não deixar produtos vencerem e registrar tudo o que foi aplicado são tarefas cruciais. Elas garantem a eficácia das aplicações e mantêm os custos de produção sob controle.

No entanto, com tantas operações, planilhas e cadernos podem se tornar confusos e ineficientes.

Um software de gestão agrícola centraliza todas essas informações, deixando-as organizadas, seguras e fáceis de visualizar. No AEGRO, por exemplo, você pode planejar as atividades da safra, acompanhar a execução e manter todos os seus dados seguros, sem risco de perdê-los.

Baixe o aplicativo gratuito do AEGRO:

Saiba mais sobre como a tecnologia de gestão pode ajudar:

Conclusão: Tecnologia é uma Aliada, mas a Base é Essencial

Como vimos, a tecnologia oferece um leque de opções para otimizar as aplicações de defensivos, desde soluções biológicas até ferramentas de precisão e gestão. A evolução nas operações agrícolas é constante e traz inúmeras vantagens em economia e eficiência.

Contudo, é fundamental lembrar que a melhor tecnologia do mundo não substitui os bons princípios da tecnologia de aplicação. Calibragem de equipamentos, escolha correta de bicos, atenção às condições climáticas e monitoramento constante continuam sendo a base para o sucesso.

As inovações são ferramentas poderosas para aprimorar o que já fazemos bem. E você, qual será o primeiro passo para integrar essas tecnologias na gestão e aplicação de defensivos da sua lavoura?


Glossário

  • Agricultura de Precisão (AP): Estratégia de gestão que usa tecnologia para identificar a variabilidade na lavoura e aplicar insumos (como defensivos e fertilizantes) em taxas variáveis. O objetivo é otimizar o uso de recursos, aplicando a dose certa no local certo.

  • Bacillus thuringiensis (Bt): Uma bactéria natural do solo usada como bioinseticida para controlar lagartas. Seus genes também são inseridos em plantas (como milho e soja), criando a “Tecnologia Bt”, que faz a própria planta produzir uma proteína tóxica para certas pragas.

  • Biopesticidas: Defensivos agrícolas desenvolvidos a partir de organismos vivos (como bactérias, fungos e vírus) ou seus derivados. Agem de forma mais específica sobre as pragas, sendo uma ferramenta chave no Manejo Integrado de Pragas (MIP).

  • Manejo Integrado de Pragas (MIP): Um sistema que combina diversas táticas de controle (biológico, químico, cultural) de forma sustentável. O objetivo é manter as pragas abaixo do nível de dano econômico, em vez de simplesmente erradicá-las.

  • Parasitoide: Um organismo que se desenvolve dentro ou sobre um hospedeiro, eventualmente matando-o. No artigo, a vespa Trichogramma é um parasitoide que deposita seus ovos nos ovos das pragas, impedindo que as lagartas nasçam.

  • Pulverização eletrostática: Tecnologia de aplicação que confere uma carga elétrica às gotas do defensivo. Isso faz com que as gotas sejam atraídas pelas plantas, melhorando a cobertura das folhas e reduzindo o desperdício de produto por deriva.

  • Reboleiras: Termo de campo usado para descrever áreas concentradas ou “manchas” de infestação de plantas daninhas, pragas ou doenças. A identificação de reboleiras com drones (VANTs) permite uma aplicação de defensivos localizada.

  • VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados): Mais conhecidos como drones, são aeronaves controladas remotamente. Na agricultura, são usados para mapear lavouras, identificar problemas (como reboleiras) e realizar a pulverização localizada de defensivos.

Veja como o Aegro pode ajudar a superar esses desafios

Adotar tecnologias como o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e a aplicação em taxa variável exige um controle rigoroso das operações e dos insumos. Registrar cada aplicação, monitorar o estoque de defensivos para evitar perdas e, ao mesmo tempo, controlar os custos de produção são tarefas complexas que se tornam inviáveis em planilhas ou cadernos.

É aqui que um software de gestão agrícola como o Aegro faz a diferença. Ele centraliza o planejamento das atividades no campo e o controle de estoque em tempo real, garantindo que você use o produto certo, na hora certa, e evitando desperdícios. Além disso, ao vincular as aplicações aos custos, a plataforma gera relatórios precisos que mostram o impacto de cada decisão na rentabilidade da lavoura.

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Perguntas Frequentes

Qual a diferença entre usar Bacillus thuringiensis (Bt) como bioinseticida e a tecnologia Bt nas sementes?

O bioinseticida à base de Bt é um produto pulverizado sobre a lavoura que precisa ser ingerido pela praga para fazer efeito. Já a tecnologia Bt consiste na inserção de um gene da bactéria na própria planta, fazendo com que ela produza proteínas tóxicas para as lagartas. O artigo alerta que usar os dois métodos simultaneamente na mesma área pode acelerar o desenvolvimento de resistência nas pragas.

É possível misturar defensivos biológicos e químicos na mesma aplicação?

Sim, é possível, mas exige planejamento. É fundamental verificar a seletividade do produto químico para garantir que ele não prejudique a ação dos agentes biológicos, como fungos e bactérias. Essa prática deve ser orientada por um plano de Manejo Integrado de Pragas (MIP) para assegurar a compatibilidade e a eficácia de ambos os produtos.

Na prática, como os drones (VANTs) ajudam a reduzir o uso de defensivos?

Os drones identificam pontos específicos de infestação na lavoura, conhecidos como ‘reboleiras’ de pragas, doenças ou plantas daninhas. Com base nesse mapeamento, eles realizam uma pulverização localizada, aplicando o defensivo apenas onde é necessário, em vez de cobrir a área inteira. Essa precisão pode reduzir a quantidade total de produto aplicado em até 60%.

Qual a principal vantagem da pulverização eletrostática sobre a convencional?

A principal vantagem é a maior eficiência na cobertura da planta. A tecnologia eletrostática confere uma carga elétrica às gotas do defensivo, que são ativamente atraídas pelas plantas, aderindo melhor à superfície superior e inferior das folhas. Isso reduz drasticamente a perda de produto por deriva e escorrimento, permitindo economizar de 50% a 90% do volume de calda.

Como um produtor pode começar a fazer aplicação em taxa variada de forma simples?

Uma forma simples de começar é analisar o histórico da fazenda. Utilize mapas de produtividade de safras anteriores e os dados de monitoramento do MIP para identificar talhões ou zonas que são consistentemente mais ou menos problemáticos. Com base nisso, é possível ajustar manualmente as doses de defensivos para cada área, dando o primeiro passo para uma gestão mais precisa.

O controle biológico com biopesticidas substitui completamente o uso de defensivos químicos?

Não necessariamente. A abordagem mais eficaz é o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina diversas táticas de controle. Os biopesticidas são uma ferramenta crucial para reduzir a dependência de químicos, mas o objetivo é usar todas as estratégias disponíveis de forma racional para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico, e não eliminar totalmente um tipo de controle em detrimento de outro.

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